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domingo, 25 de outubro de 2009

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Será lançado, nos primeiros meses de 2010, o novo livro do Prof. Mauro Guilherme Pinheiro Koury, intitulado: Relações Delicadas: Ensaios sobre fotografia e sociedade, com o selo da Editora Universitária-UFPB.
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Esta coletânea de estudos críticos sobre fotografia e sociedade será lançada no ano em que o Grupo Interdisciplinar de Estudos da Imagem - GREI, completa 15 anos de atividades initerruptas como base de pesquisa CNPq-UFPB.
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O GREI é o irmão e parceiro do GREM. Os dois são grupos de pesquisa liderados pelo Prof. Mauro Koury (DCS/CCHLA/UFPB).
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Lançamento do Caderno CRH n. 56

O Caderno CRH n. 56, da Universidade Federal da Bahia, será lançado durante o coquetel de lançamentos do Encontro Anual da ANPOCS, em Caxambú, MG, às 21:00 do dia 26 de outubro de 2009.
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Vale a pena conferir!
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

RBSE - Revista Brasileira de Sociologia da Emoção

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A RBSE - Revista Brasileira de Sociologia da Emoção está recebendo artigos, resenhas, traduções para os próximos números de 2010 [v. 9 n. 25(abril/10); n. 26 (agosto/10) e n. 27 (dezembro/10)]
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Contribuições podem ser encaminhadas através do email grem@cchla.ufpb.br (aos cuidados de Letícia Knutt).
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As Normas para publicação podem ser visualisadas no site da revista http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html
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O editor
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dica do GREM: Assistam A Casa dos Mortos

Um grande filme de valor etnográfico que vale a pena conferir:
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Título: A CASA DOS MORTOS
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Direção: Débora Diniz.
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Débora Diniz é antropológa da Universidade de Brasília (UnB).
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O filme é uma etnografia sobre a loucura, a solidão e a morte em vida. Através de narrativas apresenta e discute a loucura e o papel das intituições na sociedade brasileira atual.
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O Filme A CASA DOS MORTOS pode ser visto na íntegra, no site: http://www.acasadosmortos.org.br/ .
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Rituais da Morte e Serviços Funerários
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(Entrevista para o jornal Correio da Bahia: perguntas elaboradas pelo jornalista Jean Wyllys, em 08 de junho de 2000). Ainda fazendo parte das comemorações dos 15 anos do GREM
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JW – Caro Professor Mauro Koury, gostaria de iniciar este diálogo agradecendo a forma extremamente gentil com que aceitou de imediato abrir um espaço do seu tempo para esta entrevista breve.
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MK – Eu que agradeço a oportunidade de falar sobre a minha pesquisa que discute a relação luto e sociedade urbana no Brasil.
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JW – Gostaria de imediato, que o senhor se apresentasse.
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MK – Sou professor e pesquisador vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba e ao seu programa de pós-graduação em sociologia. Coordeno dois grupos de pesquisas, que são bases consolidadas de pesquisa do CNPq na UFPB desde o ano de 1994. O primeiro Grupo chama-se GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções, onde a pesquisa ‘Luto e Sociedade’ encontra-se em desenvolvimento, com vários estudantes bolsistas e voluntários de graduação e pós-graduação. O outro grupo tem o nome de GREI – Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem.
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JW – Obrigado pela apresentação. Mas, por tempo jornalístico, vamos direto às questões que me trouxe ao senhor.
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MK – Ok!
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JW – Vamos, então a primeira pergunta: Por que as sociedades criaram e conservam rituais envolvendo seus mortos? Em geral, qual a função desses rituais para as mesmas?
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MK - O ritual dos mortos é uma prática social que tem como função, entre outras, a de dominar e integrar a morte no interior de uma sociabilidade dada. A morte passa a ser social através dos rituais a ela impostos. Em sociedades onde o espírito de coletividade era mais evidenciado, a morte trazia em evidência um corpo individualizado daquele que morreu criando uma espécie de tensão entre a composição biológica do sujeito e a composição social do mesmo, deixando as sociabilidades onde ocorreu a morte em crise. Os rituais da morte serviriam, assim, para repor o corpo morto (biológico) individualizado nas malhas do social. Servia como uma espécie de integração do morto (e da morte) ao social.
A morte, através do corpo morto, deixava assim de representar uma ameaça a uma dissolução do social, ou a partes dele, e passava a integrar todo uma composição de re-socialização do sujeito morto (e os entes queridos que permanecem) à prática e a visão de mundo de uma sociabilidade específica.
Os rituais servem assim como uma espécie de domação da morte pelo social. Ela passa a fazer parte de regras sociais, ditadas pelo social e com uma função específica naquele social. Uma delas é a integração do sujeito morto e da dor dos que ficam ao cotidiano societário, outra delas é domar a natureza, integrando o corpo morto ao social e sentindo-se transformador da morte: a cultura dispondo a natureza às suas regras e controle, como forma de subsistência da própria sociedade. A outra, esta relacionada como o mundo sobrenatural. O corpo morto não entregue a prática ritual é um corpo morto em possível danação, que pode querer vingar-se dos vivos e da sociedade onde emergiu. Desta forma, os rituais também buscam domar o sobrenatural através da indicação da passagem do morto para o além. Desta forma, os rituais funerários, os rituais do luto são rituais integradores do sujeito morto e da dor dos que ficam a uma cotidianidade de uma sociabilidade qualquer, como forma de domesticação da morte à visão de mundo desta mesma sociabilidade.
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JW - Por que a pessoa, por mais pobre que seja, quer tratar seus mortos com dignidade e respeito?
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MK - Primeiro, porque a pessoa que perde alguém é uma pessoa ligada a uma prática social específica, tanto quanto a que morreu. Uma pessoa socializada dentro de uma perspectiva de mundo, onde uma ética, um conjunto de emoções, e uma espiritualidade específica, formam um olhar específico sobre si mesmo e os outros próximos e distantes. Esta forma de olhar (socialmente datado tempo e espacialmente) comanda noções de dignidade e respeito, que tem a ver com o acesso ao corpo e os exercícios do transpasse do morto pelos rituais funerários e pelos rituais religiosos onde também estão ligados. Pensar aqui que a Religião é uma construção social também, mas que remete a uma forma de sociabilidade onde o coletivo é superior aos atos individualizados. A crença na outra vida, uma forma de domar a morte pela vida eterna, faz com que não se deseje o espírito morto vagando. É necessário encaminhá-lo, através dos rituais a um destino específico.
Tratar os mortos com dignidade e respeito é uma forma de referenciar os mortos, através das práticas sociais a que os indivíduos estão submetidos enquanto pessoa; e é também uma forma de referenciar a si mesmo, enquanto cidadão e enquanto família, e enquanto religião, e enquanto laços de amizades e vizinhança. É uma forma também de se permitir saber que o corpo morto é um corpo domado. A ausência de um corpo na morte da insegurança aos entes queridos sobre a própria morte do sujeito, e não permite que os que ficam façam luto. O luto é uma forma de internalização do sujeito morto nos que ficam. Para a psicanálise, uma dor necessária para uma reintegração dos que sofrem à vida, para a antropologia e a sociologia, uma dor que precisa ser ritualizada para que os que a sofrem possam reintegrar-se a uma cotidianidade, ao dia a dia social.
Por outro lado, a crença nos rituais integradores, onde os funerários então inclusos, além da necessidade de visualização do corpo morto, do certificar-se de sua morte, precisam também de práticas outras que o permitam fazer o transpasse deste corpo morto para novas realidades, do sobrenatural, por exemplo. Cheio de regras e formas rituais de passagem. Além da questão de higiene pessoal, dos que ficam, e societárias. Um corpo morto necessita de um destino, senão contamina os vivos, pela putrefação do cadáver, etc. Também pode tornar-se um corpo animalesco, e os próprios entes queridos animais, se não há cuidado ritual com o corpo que se foi. De novo a relação natureza versus cultura.
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JW - Por que a maioria das sociedades enterra seus mortos? Houve alguma sociedade ou tempo em que isso não acontecia?
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MK - A prática de enterro dos mortos não é necessariamente a única prática ritual de despacho dos mortos. Existem sociedades que cremam os corpos, a hindu, por exemplo, e as cinzas do sujeito são jogadas nos rios para serem levadas para o mar, como um simbolismo de passagem para o além.
Várias sociedades, no entanto, caminham para a prática do enterro como uma forma de reintegração do sujeito a terra: uma espécie de simbolismo entre natureza/sociedade/sobrenatural. O sujeito se decompõe, e a decomposição acompanha, em muitas sociedades, a natureza dos rituais. Algumas sociedades africanas fazem mais de um enterramento do cadáver, entre o ato da morte e o ato final de retirada dos ossos. Cada ato ritual acompanha o desenterramento e o novo enterro e tem funções específicas do controle do espírito do que se foi e do luto dos que ficam até a liberação dos que ficam e do que se foi à restauração de suas vidas na cotidianidade social.
Na sociedade ocidental, os enterros tal como os nós os vemos no hoje é algo recente e diz respeito ao tipo de sociabilidade que emergiu onde o indivíduo tem uma supremacia relativa sobre o social. Podemos pensar nesse processo de individualização do social na sociedade ocidental a partir do século XII, mas as formas rituais ditas modernas têm sua configuração no final do século XVIII em diante.
Na idade média, os mortos importantes, clérigos e alguns reis e poderosos, eram enterrados na igreja, no interior da igreja. Os mortos comuns eram enterrados nas estradas, ou em covas comuns perto das igrejas. Os corpos eram jogados uns acima dos outros, num buraco constantemente aberto.
Posteriormente, com a higienização das cidades, os cemitérios foram afastados das cidades e os mortos começaram a ser depositados nele. Os cemitérios eram de ordens religiosos e eram tidos como uma espécie de "campo santo". Nele, os mortos tinham um destino mais perto do Senhor.
Tem histórias que relatam fatos tragicômicos: a maioria dos homens comuns não possuía renda suficiente para enterrar os seus mortos nos cemitérios. Era comum, então, que na calada da noite corpos mortos fossem arremessados de fora para dentro dos cemitérios, ou se penduravam corpos em árvores que tivessem galho para dentro do cemitério, como forma de proteger os seus mortos.
A briga de ter um corpo morto a salvo era assim premente.
Por outro lado os cemitérios não causavam medo ou receio, como agora, era um local onde sociabilidades emergiam: feiras livres, locais de namoro clandestino, ou de paquerar, trocas e encontros diversos eram realizados no interior dos seus muros. Só com a política de higienização do século XIX é que as regras de saneamento passam a reconfigurar os rituais fúnebres. Os sete palmos de terra mínimos, as covas individualizadas, os mausoléus indicando a importância dos mortos, a cova rasa com uma cruz, simbolizando entrega do morto para Cristo, etc.
É aí que em nossa sociabilidade, a ocidental, que emerge e revigora um comércio fúnebre...
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JW - Quando se iniciou o comércio fúnebre no Brasil, especificamente a instituição das funerárias?
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MK - O comércio fúnebre no Brasil tem início também nos finais do século XVIII e se desenvolve no XIX para cá. Antes existia o comércio religioso sobre os atos fúnebres. As famílias pagavam ou doavam casas, propriedades, dinheiro a Igreja como uma forma de conseguir um cantinho mais fácil no céu. Os enterros no interior das igrejas também eram coisas para poucos, e eram os de posse que conseguiam.
A pobreza enterrava os seus mortos em covas coletivas, pertos dos locais santos (Igrejas e conventos), os perto de suas casas e beiras de estrada. Com o disciplinamento dos cemitérios e a questão da higienização das cidades, as regras do enterro e a prática de uma forma de enterro específico fazem vigorar o comércio e instituições voltadas para o serviço fúnebre. Isso se dá principalmente no final do século XIX.
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JW - Quais as implicações sociais de um comércio fúnebre? E psicológicas (se é possível que você responda a essa pergunta)?
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MK - Na sociabilidade moderna, ocidental, onde o Brasil faz parte como legado da colonização, o comércio fúnebre visa a facilitar o despacho e o transpasse do morto. Ninguém tem mais tempo de fazer sozinho o caixão, sair colhendo flores no campo, sair com ele (o caixão e o defunto dentro) nas costas, e não se pode por enterrar ou depositar o corpo em qualquer lugar, por quebrar normas de higiene, e normas de propriedade de uma sociabilidade.
O comércio fúnebre vem, assim, suprir uma prática cada vez mais individualista do ritual fúnebre. Serve também como elemento de status social, quanto mais rico e adonardo, quanto mais vistoso o velório e mais pomposo o enterro, mais status social o sujeito, e logicamente a família que fica possui.
No século vinte, os serviços funerários se especializam, ornamentos e enfeites: tipo flores, adornos, etc., ficam nas mãos de especialistas, caixões também, locais de velórios, cortejo, vaga nos cemitérios (que deixam de ser ligados à igreja e se secularizam, passando a ser administrados pelas prefeituras locais, e dos anos setenta para cá, por setores privados), bem como as ajudas psicológicas ao luto, psicólogos, psicanalistas, assistentes sociais, entre outros, passam a exercer uma função que antes era exercida pela sociedade como um todo, ou pela Igreja em particular. Os serviços de restauro da pessoa em dor passam a ser um serviço de acompanhamento individualizado. No Brasil, por exemplo, existem Núcleos de Apoio à Pessoa Enlutada, serviços que envolvem psicólogos, médicos, assistentes sociais, sociólogos e antropólogos, que tem como função amenizar a dor do luto nos que ficam e reintegrá-los a prática cotidiana social.
Isso sem falar nos cartórios e instâncias ligados a advocacia, para agendamento da herança dos sujeitos mortos, problemas deixados em vida, etc. Ajudando os que ficam a resituar-se no social, pela restauração e equilíbrio moral, ético, econômico e de dignidade do que se foi. É comum aflorar vários problemas após o transpasse da pessoa que é necessário ser resolvido para que os que ficam possam retornar a normalidade.
Sem falar na religião, onde ainda detém um papel importante: tanto psicológico, na restauração e amenização da dor dos que ficam; como na integração do morto na outra vida (ou pelo menos nas formas de vidas que cada religião particular invocada no hoje, constrói).
Sem falar ainda nos hospitais. O homem moderno deixou de morrer em casa e passou a morrer nos hospitais. O serviço médico tornou-se assim imprescindível para o serviço fúnebre. O atestado de óbito, por exemplo, só pode ser dado por um médico. Eles detêm o poder da vida e da morte social. Sem um atestado de óbito o sujeito não pode ser considerado morto, com todos os problemas que daí surge para os que ficam. Problemas psicológicos, econômicos, morais, etc. que dificultam os que ficam fazer o luto e retornar a uma cotidianidade específica.
A partir do século XX, a morte é comandada por uma enorme e diversificada e especializada indústria funerária.
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JW - Qual o papel do luto e das flores?
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MK - O luto, como eu já indiquei acima, tem o papel de reintegração dos que ficam na cotidianidade de suas vidas, e na cotidianidade de uma sociabilidade específica onde vivem. A dor do luto é assim uma dor necessária. A psicanálise diz que não é doença, mais uma forma de introjeção do morto nos que ficam. Uma forma de suprir o outro que se foi, o fazendo viver sentimentalmente no interior dos sujeitos que ficam e para quem o morto era querido.
As flores sempre tiveram um significado de ligação com o conceito de paraíso a um jardim, o jardim de éden. Por isso, nas práticas cristãs funerárias, a partir do século XIX, é incorporada a preparação do corpo morto e a homenagem para com ele, no Brasil
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JW - Bem, é só. Muito obrigado professor.
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MK - Não há de que. Eu que agradeço.
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