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sexta-feira, 15 de maio de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM

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Ainda nas comemorações dos 15 anos do GREM, este Blog divulga algumas de uma série de apresentações de exposições fotográficas feitas pelo Professor Mauro Guilherme Pinheiro Koury para a Agencia Ensaio, que reune um excelente grupo de fotógrafos documentais na cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil.
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A primeira Apresentação aqui publicada, intitulada Cumplicidades do Olhar Compartilhado, abaixo, foi feita a pedido da Agencia para acompanhar a exposição documental do projeto Cidadãos do Mundo, que reflete o cotidiano de crianças nas ruas de João Pessoa. Esta exposição aconteceu na cidade de João Pessoa no ano 2000 e de lá seguiu para diversas capitais de estados brasileiros e ganhou um percurso internacional.
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Cumplicidades Do Olhar Compartilhado

Mauro Guilherme Pinheiro Koury


A realidade fotográfica é sempre uma construção estética, amparada nas configurações do real de vários olhares. Olhares que fundam ao mesmo tempo em que recriam, em um movimento sempre constante, a constituição final do produto fotografia no público. A realidade presente na fotografia exposta é, assim, uma construção em permanente redefinição pelos olhares dos diversos observadores que a apreendem, e sobre ela dedicam um processo de reflexão e tomada de posição sensível e objetiva, ligada à curva de vida e o ponto de vista de cada um.
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É sempre uma construção social, por embaralhar, nos diversos olhares que a compuseram, singularidades imaginárias da constituição de um povo. Apresenta os elementos necessários à compreensão comum de olhares singulares sobre o mesmo conjunto e, ao mesmo tempo, institui a diferença pela especificidade que cada olhar possui pelas experiências diversas que o alinham a um núcleo comum, mas o faz também único, singular, sujeito de suas experiências, criador.
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Essencialmente simbólico, o jogo no qual o fotográfico se apresenta enquanto construção social revela a polifonia de possibilidades na constituição de um mundo comum, na expressão de Hannah Arendt no seu livro The human condition (Chicago, University of Chicago Press, 1970). Revela a multiplicidade de cumplicidades que faz o olhar único ser compartilhado como olhares simultâneos e comuns necessários à prática de uma sociabilidade.
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Revela, enfim, a sensibilidade do olhar que captura ângulos e recortes da multifacetada face do cotidiano fazer dos homens, onde se debruçam outras sensibilidades em olhares que observam o produto capturado e o remete a novas singularidades expressivas da reflexão em que se estabelecem as bases da compreensão e do pensamento.
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A fotografia de um grupo de fotógrafos da Agencia Ensaio, na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, apresenta com sensibilidade e apuro técnico a arte de captação multifacetada das manifestações de singularidades de uma sociedade e de experiências individuais de criação e vida nela presentes. Estes fotógrafos trabalham a fotografia como arte documental, cientes que são das construções imagéticas dos registros e de sua realidade como real fotográfico.
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Ciente da ambigüidade que provoca no olhar e no próprio ato fotográfico a fotografia, este grupo de fotógrafos se debruça em um projeto ambicioso e importantíssimo de documentação fotográfica sem fronteiras, a partir da região Nordeste do Brasil. Desde 1995 este grupo desenvolve um projeto documental da vida ordinária dos homens e mulheres comuns das pequenas comunidades do mundo ou perdidas no emaranhado dos centros urbanos mais importantes.
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O atual projeto Cidadãos do Mundo, - agora com exposição nesta capital e com exposições marcadas em várias outras capitais de estados brasileiros e na Alemanha, França e Suécia, neste ano de 2000, início do século XXI, - reflete não apenas crianças pobres e crianças em situação de rua na visão importante, porém, simplista da denúncia e da carência social pura e simplesmente, mas, crianças de e na rua em situação de vida. O infantil espetáculo do transformar cotidiano o grande palco da rua em espaço de vivência: onde exercitam brincadeiras, folguedos, festas, trocas, anseios e, também, desamparo, solidão, dor, além de sonhos, sobretudo sonhos.
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O lazer nos intervalos da labuta, o comportamento infantil nos folguedos e na dor são evocados, seja no mergulho ousado nas águas do rio e do mar, seja no desamparo de crianças solitárias e contemplativas em espaços abertos de concreto armado da modernidade.
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A fotografia parece, assim, revelar e esconder simultaneamente. Joga na e com a mistura de arte e realidade, onde o olhar reflexivo é capturado, primeiramente, como estético absolutamente sentimental sobre o processo de visão de uma realidade – a fotográfica, - na qual se debruça. As brincadeiras na praça de um menino e sua sombra, as colagens de sombra e gente confundidas no exercício do branco e preto para o olhar, que se surpreende até compreender, são exemplares na demonstração desse jogo que, com maestria, faz a construção fotográfica.
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O real da foto parece ser singularmente a realidade que a foto apresenta e que se mistura ao olhar que vê e na realidade imaginária das relações que fundam esse olhar, como uma curva de vida ao mesmo tempo particular e social.
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Este jogo esta presente no projeto Cidadãos do Mundo. Está representado na captura do sempre singular e sugestivo gesto infantil de olhar pelas frestas de portas, ou no rosto de criança travessa que se sobressai no buraco de uma lona. Encontra-se evocado nos carrinhos de madeira expostos à venda como que povoando a imaginação infantil no bric à brac da rica transformação popular de caixotes abandonados em brinquedos, ou na solidão e na tristeza infantil de crianças aconchegando-se a umbrais de portas comerciais fechadas de uma cidade preparada para mais um final de dia, revelando a dor, o abandono e a melancolia de relações injustas que exclui.
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A polifonia de recortes, de símbolos, de valores, dos significados intrínsecos atribuídos ao não percebido por ser banal ou por não estar ao alcance, e a universalidade e a globalidade do particular distante como singular local, complexificam o olhar que captura e o olhar que vê o objeto presente em uma realidade fotográfica sempre impactante de humanidade. O projeto Cidadãos do Mundo demonstra, enfim, a arte do registro fotográfico e a sua importância para o social e para o pensar as estruturas elementares da constituição desse social, na sensibilidade estética que provoca e evoca.
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Exercício fundamental, necessário, em um país carente de memória e com excesso de clichês como o Brasil.
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