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terça-feira, 26 de maio de 2009

2a.Comunicação sobre a enquete "Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil - 2009" a cidade do Recife (PE)

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O que é sujeira ou sujo para os habitantes da capital pernambucana - 2009


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Mauro Guilherme Pinheiro Koury


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Neste momento damos continuidade aos resultados da Enquete "Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil - 2009", aplicada em seis capitais de estados do Brasil entre março e abril de 2009. Como já se falou anteriormente na 1a Comunicação sobre esta enquete, ela é um subproduto de uma pesquisa maior em desenvolvimento no GREM, sob a coordenação do autor, intitulada "Medos Corriqueiros e Sociabilidade Urbana no Brasil". Para alguns resultados desta pesquisa ver Koury (2008, 2007, 2006 e 2005).

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Esta enquete surgiu como uma necessidade de averiguar o aparecimento da noção de sujeira usada por vários entrevistados na pesquisa Medos Corriqueiros, associada à noção de medo no urbano brasileiro contemporâneo.

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Assim, entrando na terceira fase da pesquisa Medos Corriqueiros, e na visita a várias capitais de estados brasileiros para o aprofundamento do questionário aplicado as 27 capitais de estados do país, em entrevistas personalizadas com pessoas que se dignaram a conversar com o pesquisador após terem respondido o questionário, se aproveitou a visita a estes estados e foi aplicada nas cidades de João Pessoa, Paraíba; Recife, Pernambuco; Belém, Pará; Brasília, Distrito Federal; São Paulo, São Paulo; e Curitiba, Paraná uma enquete sobre o que é sujo a 390 informantes das seis capitais assinaladas.

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Os resultados desta enquete estão em processo de tabulação, e este Blog ficou com a responsabilidade de divulgar os primeiros dados desta enquete. No dia 22 de maio de 2009 foram divulgados os primeiros dados da enquete para a cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba. Neste momento, se divulga os primeiros dados da tabulação para a cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco. Nas próximas semanas se divulgarão os dados para as demais cidades pesquisadas e culminará com um balanço comparativo entre as seis capitais onde a enquete foi aplicada.

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Como já se falou anteriormente, quando da divulgação dos dados iniciais para a cidade de João Pessoa neste Blog, não se tem intenção, neste momento, de uma análise mais aprofundada a nível teórico e metodológico da questão relacionada à noção de sujo ou de sujeira e sua vinculação com a noção de medo urbano, mas, de apresentar elementos que vislumbrem o alcance analítico e a riqueza dos dados conseguidos pela enquete para uma interpretação da cultura política no Brasil urbano de hoje. Uma análise mais acurada deverá em breve aparecer em forma de artigos a serem apresentados a revistas acadêmicas nacionais e internacionais, a partir do segundo semestre de 2009. O primeiro desta série de artigos deverá aparecer no número de dezembro de 2009 da RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção (v. 8, n. 24, dez. 2009) do GREM.



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Nesta série de comunicações para este Blog sobre cada cidade trabalhada na enquete haverá, apenas, um único cruzamento de dados. Tal como para a cidade de João Pessoa, para a cidade do Recife, bem como nas demais cidades onde a enquete foi aplicada, os informes para o Blog contarão, exclusivamente, com uma apresentação das categorias de respostas para a questão O que é sujo ou sujeira para você cruzada com a categoria sexo do entrevistado. As demais questões serão apresentadas no relatório final da pesquisa e na série de artigos acima mencionados.



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Portanto, para a cidade do Recife, como já o foi para a cidade de João Pessoa, será apresentado dois gráficos: o primeiro, apresentando as categorias para a questão O que é sujo ou sujeira sobre o total dos respondentes; e o segundo, cruzando as categorias sobre O que é sujo ou sujeira com a categoria sexo dos informantes.

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A enquete na cidade do Recife, Pernambuco

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Foram aplicados 60 questionários na cidade do Recife para a enquete "Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil – 2009". Estes questionários foram aplicados em locais de grande movimentação da cidade, como os shoppings, universidades, as estações de metrô, a praia de Boa Viagem e o centro da cidade, durante dois dias de intensa atividade. Dos 60 informantes, 26 eram do sexo feminino e 34 do sexo masculino, com idades que variaram de mais de quinze anos a mais de oitenta anos. A escolaridade também variou do analfabeto ao pós-graduado (especialização, mestrado e doutorado), e as profissões foram as mais diversas, de desempregado a dona de casa, de ambulante a empresários, de diversas profissões liberais, a professores de todos os graus, políticos profissionais, membros das forças armadas, da polícia civil e militar, entre outras.



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O elenco de religiões dos entrevistados, também, variou entre a maioria católica, e uma gama de evangélicos, passando por espíritas, umbandistas até ateus. Como já se falou um pouco acima, nesta comunicação apenas se abordará a categoria sexo com as categorias apresentadas à questão O que é sujo.


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O que é Sujo para os Recifenses

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Aqui se apresenta o Gráfico 1 com a totalidade dos respondentes à questão O que é sujo ou sujeira para você. Este Gráfico 1 dispõe sobre as categorias apontadas pelos 60 entrevistados, independente de qualquer variável, para a questão mencionada. Como para a cidade de João Pessoa, e para as demais cidades que responderam a esta enquete, as respostas dos entrevistados foram listadas e depois tabuladas a partir de um conjunto de categorias retiradas das próprias respostas dos informantes à questão. Assim, chegou-se a uma série de categorias com que foram submetidas as 390 respostas dos entrevistados, possíveis e passíveis de serem comparadas em uma análise posterior, nas seis cidades em que a enquete foi aplicada.



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Na cidade do Recife, os 60 entrevistados apresentaram respostas com relação ao que consideram sujo, comparáveis com as de João Pessoa e demais cidades que constaram da amostra da enquete. Em relação a João Pessoa, uma nova categoria apareceu: esta nova categoria relaciona sujo ou sujeira à Falta de Consciência Ecológica. Esta nova categoria vem aparecendo em algumas outras capitais estudadas, mas não em todas, e está ligada a questão do desmatamento das matas e florestas, da poluição dos rios e do ar, ao aterramento dos mangues, enfim, a uma política de desenvolvimento que não leva em conta uma visão de sustentabilidade e, sim, a "uma visão de progresso pela ganância e destruição", de acordo com as palavras de um entrevistado, professor de biologia da rede pública municipal da cidade do Recife.



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O Gráfico 1, como já dito, representa as respostas da totalidade dos respondentes da cidade do Recife à questão O que é sujo para você. As sessenta respostas foram agrupadas nas categorias Desrespeito ao Cidadão; Falta de Confiança; Falta de Consciência Ecológica; Falta de Higiene; Falta de Zelo com a Coisa Pública; Fluídos; Gente Fraca; Homossexualidade; Imoralidade; Mendicância e Violência Urbana, como categorias associadas à sujeira ou ao sujo pelos entrevistados. De acordo com o Gráfico 1, a categoria que foi mais indicada pelos entrevistados em recife foi a do Desrespeito ao Cidadão, com 23,3% das respostas.


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A categoria Desrespeito ao Cidadão é uma categoria que engloba respostas associadas à qualidade de vida dos habitantes da cidade, e onde se vê respostas ligadas desde aos problemas de saneamento básico, de esgotamento sanitário, de falta de infra-estrutura de transportes públicos, das condições das vias expressas (calçadas e ruas e avenidas), da iluminação pública e, principalmente, da condição de higiene da e na cidade. É sobre a indicação da sujeira associada à falta de higiene na cidade do Recife que as respostas dos entrevistados apontam com maior frequência.



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"Cidade imunda", com "lixo pelas ruas"; a "cidade do Recife é o esgoto de Pernambuco"; "a gente pula excrementos e lixo ao andar pela cidade", são algumas das respostas dos entrevistados que associam o viver na cidade de Recife com o viver na sujeira. Este é um problema que sempre marcou o imaginário recifense: o Recife como uma linda, porém, mal cuidada cidade. No entanto, no momento da aplicação do questionário, como até o momento atual, a cidade vive um problema conjuntural grave com o problema do lixo urbano. Desde que o atual prefeito da cidade assumiu a gestão da cidade, em janeiro de 2009, que o lixo urbano não tem sido recolhido regularmente, estando a cidade com um acúmulo grande de detritos e entulhos por toda à parte, principalmente, nos bairros mais periféricos e nos morros da cidade, onde moram a população mais pobre.



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A construção de um boneco apelidado de "João Lixão", por uma comunidade de moradores de um bairro periférico, ligado ao nome do prefeito da cidade João da Costa, que faz visita periódica ao acumulo de lixo nas ruas da cidade, tem sido o elemento de humor (trágico) a esta questão. A mídia, por seu turno, não se cansa de especular em relação ao problema do lixo na cidade, que é assunto em todos os bares, esquinas, cafés, filas de banco e outras, metrô e ônibus, ou onde se encontre mais de um recifense reunido. O prefeito por seu lado pede mais um tempo para resolver a questão, mas esta é adiada e, na nas duas primeiras semanas do mês de maio de 2009 deu para faltar a compromissos com receio de ser cobrado por populares e jornalistas de plantão.



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O caso do problema do lixo que a cidade do Recife vivencia desde o início da gestão do atual prefeito é um indício, talvez, dos informantes a enquete apontar com uma frequência grande a falta de gerenciamento da cidade em relação ao lixo urbano como um grande desrespeito ao cidadão recifense. E 23,3% dos entrevistados o associarem diretamente ao que é sujeira para eles.



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Ainda como desrespeito ao cidadão encontra-se relacionado às respostas dos 5% dos entrevistados que ligaram o que é sujo à Falta de Consciência Ecológica. Embora com um discurso mais articulado ligando a questão com o conceito de desenvolvimento sustentável, e com uma crítica ao plano diretor da cidade, as respostas vinculadas a esta categoria apontam como sujeira a poluição dos rios e do ar, ao lixo acumulado nas encostas dos morros ou jogado diretamente nos rios e canais da cidade, a falta de saneamento, a destruição das matas e aos detritos jogados pelas indústrias nas cabeceiras dos rios. As duas categorias, em certa medida, encontram-se relacionadas e se completam. Ambas remetem para a questão do desrespeito ao cidadão, embora a segunda implique uma questão mais ampla ligada à problemática da ecologia e do desenvolvimento sustentável.


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Pode-se juntar a ela, também, a questão trazida pela categoria Fluídos, com 3,3% das respostas. Algumas das respostas que apontam os Fluídos à sujeira, a remetem para a questão da saúde pública. Os gases poluentes, o fedor da cidade, o chorume e os gases produzidos pelo lixo acumulado, a água contaminada causando epidemias, entre outros aspectos, são apontados como males à saúde pública na cidade do Recife e associados à sujeira e à falta de respeito ao cidadão.



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A categoria Fluídos, porém, também está associada a outros tipos de poluição, a principal delas liga sujeira ao sangue menstrual ou ao sangue derramado, outros tipos de respostas indicam Fluídos como sujeira dentro de uma prática comportamental que, se também encontra-se associada à saúde pública, tem aqui mais uma conotação moral, como uma ponte direta ao que muitos chamaram de 'falta de educação familiar'. Entre os Fluídos com conotação mais moral estão o cuspir nas calçadas, o escarrar, o soltar gases intestinais em público, entre outros.



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Esta segunda conotação da categoria Fluídos, no seu sentido moral, está mais associada, deste modo, a outra categoria, a Falta de Higiene apontada por 11,7% dos entrevistados como sujeira. A categoria Falta de Higiene, por sua vez, embora associada a questões morais e disciplinares ligadas a higiene pessoal, está relacionada, especificamente, nos respondentes, à questão da organização privada da vida.



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A vida doméstica é apontada como suja quando associada à falta de limpeza: banheiros, cozinhas, e seus utensílios cuidados displicentemente, pragas domésticas, aspecto pessoal malcuidado, são os elementos mais apontados como falta de higiene ou limpeza e associados com sujeira. O cuspir, o escarrar, os gases intestinais, são associados também à falta de higiene pessoal, e têm uma conotação como sujeira, principalmente, quando em público, ou quando deixados visíveis para o público. Então, nestes casos, são associados à sujeira enquanto expressão comportamental, isto é, de falta de educação doméstica, estando relacionados, assim, à base privada da vida social que se expressa no público como uma ação não educada ou não disciplinada.



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Daí se confrontar também com outra categoria que responde por 11,7% dos entrevistados, que é a categoria que liga a pobreza à sujeira. A categoria Mendicância, Gente Pobre, Gente Suja, como os termos já delimitam por si o conteúdo, associam preconceituosamente a pobreza à sujeira. O ser pobre é associado a um ser sujo, que não tem higiene, que não tem educação, que não ter caráter, que não é digno de confiança, e com alguém que se deve olhar com receio, em seus diversos significados: receio de ser importunado com pedidos de esmolas; de ser roubado; de ser contaminado por doenças, entre vários outros receios.



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Muitos dos entrevistados exemplificam o grande número de mendigos e meninos de rua pela cidade como um caso típico da sujeira com que o cidadão é obrigado a conviver no cotidiano recifense. Ora pelo assédio a que são submetidos, ora pelo aspecto de repugnância que causam ao cidadão comum, ora pelo receio de contaminação, ora, ainda, pelo medo de assalto e outros tipos de violência urbana.



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Os homens pobres, assim, não são vistos como cidadãos, mas como um entulho que incomoda, como uma sujeira a mais na cidade. Daí muitos vincularem os pobres a outra categoria que também responde por 11,7% dos informantes da enquete sobre sujeira, aqui trabalhada, que é a categoria Violência Urbana.



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Recife é considerada como uma das cidades mais violentas do Brasil. O medo da violência é, portanto, visível entre os habitantes da cidade e, talvez, por motivos conjunturais que levaram os respondentes a indicar o problema do lixo como o desrespeito à cidadania mais gritante na cidade, no momento da aplicação dos questionários desta enquete, não tenha sido a principal categoria apontada como sujeira da cidade. Em todo caso, porém, a Violência foi a terceira categoria apontada pelos entrevistados como sujeira, junto com as categorias de Mendicância... e de Falta de Higiene, ambas também com 11,7%.



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Ao se juntar a categoria Violência Urbana com a Categoria Mendicância... as duas indicam que juntas, comportam 23,4% dos entrevistados que responderam a questão. Sob a ótica do imaginário dos respondentes, a pobreza é a principal causa e a causadora da violência da cidade. Uma mulher associando a os meninos de rua e a mendicância à sujeira informa que só sai à "rua porque é o jeito, mas morro de medo de ser assaltada pelas calçadas, pelos arrastões que fecham ruas inteiras quando o sinal (de trânsito) fica vermelho, e de ser agredida (moralmente e sexualmente) por um bandido desses que invadem a cidade". Outra indica a "escória humana se arrastando pelas ruas cheirando cola (de sapateiro), dormindo e fazendo suas necessidades nas calçadas, assediando as pessoas e agredindo principalmente as mulheres, as crianças de família e as pessoas mais velhas... eu mesma já fui roubada mais de uma vez por esses marginais... por mim iriam todos para a cadeia e, lá, deviam ser mortos... prá eles não tem jeito e prá nós é um problema sem fim... vivemos confinados e com medo. A cidade é dessa escória...". Outros indicam as Gangues que controlam as favelas da cidade como mais um problema da Violência Urbana associada à pobreza e a miséria da cidade.



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Uma questão apenas levemente indicada entre os respondentes, com 1,6% das respostas, associa sujeira a Gente Fraca. A categoria Gente Fraca está associada à fraqueza de caráter, a pessoas que se deixam levar facilmente pelo vício. São casos associados, principalmente, ao alcoolismo e ao uso das drogas. No único caso apontado na cidade do Recife, uma mulher fala do "lixo humano que são as pessoas fracas que se deixam levar pelo vício" e que estes "devem ser dignos de pena" e que são as "vítimas preferenciais" das gangues que invadem as favelas e os bairros da periferia da cidade e "controlam o tráfico de entorpecentes", acabando e "desfigurando famílias de bem" quando um dos seus membros é fraco e se deixa levar pelo vício.



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No caso presente, embora veja o vicio como uma fraqueza de caráter e como algo sujo, a entrevistada os vê como vítimas do tráfico. Estes, sim, são vistos como a principal causa da destruição das "famílias de bem" e são eles, em última instância, a sujeira que contamina e destrói os lares que se deixam tocar pelo vício de que são culpados de espalhar.



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Junto com a questão da fraqueza de caráter, ligada ao alcoolismo e ao uso de drogas, encontra-se a categoria Imoralidade, como uma categoria indicada por 6,7% dos entrevistados na enquete sobre o que é sujo na cidade do Recife. A categoria Imoralidade como algo sujo remete diretamente para a pornografia e a permissividade e instabilidade das relações entre as pessoas, que, segundo os informantes que a indicaram, são produtos de uma sociedade sem moral e bons costumes e muito presa a "lei do desejo e as coisas materiais", nas palavras de um respondente.



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A Imoralidade, deste modo, é vista pela maior parte dos entrevistados que a indicaram como sujeira, como problemática do comportamento humano e social contemporâneo, e ligado à dissolução dos costumes e da moral na cidade. Os casamentos se fragmentam com uma facilidade imensa, as mulheres e os homens já não reconhecem mais o seu lugar social, não há mais respeito à castidade, os jovens trocam de parceiros com muita facilidade, a poluição visual a que o sexo é exposto desde as bancas de revistas até a televisão "que invade nossas casas", segundo uma entrevistada, são explicações para a indicação do que acreditam ser Imoral como sujeira.



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Outra categoria presente entre os entrevistados recifenses é a da Falta de Confiança, que responde com 5% do total dos entrevistados. Esta categoria está associada, principalmente, por um lado, a categoria Imoralidade: a questão da traição, do ser corno, do não respeitar os parceiros (homens ou mulheres) dos outros, são indicados como comportamentos atuais e são vistos como sujos através da ótica da dissolução dos costumes e da fragmentação dos laços familiares e da perda de um lugar de reconhecimento dos papéis sexuais entre homens e mulheres no social. Por outro lado, porém, a categoria Falta de Confiança remete para a problemática da lealdade e da fidelidade nos laços sociais entre as pessoas envolvidas. O individualismo crescente na cidade vem quebrando laços de pessoalidade outrora existentes, baseados na reciprocidade e na confiança entre parceiros, isolando cadê vez mais os indivíduos e aumentando a concorrência entre eles.


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A categoria Homossexualidade, com 6,7% dos respondentes na cidade do Recife a enquete sobre 'Sujeira e imaginário urbano no Brasil – 2009' é uma categoria ligada à questão da dissolução dos costumes e a imoralidade nas relações sociais no Brasil e na cidade do recife, em particular. A questão da opção sexual e da sexualidade é vista como sujeira e como um dos males da modernidade, onde a falta de reconhecimento dos papéis atribuídos aos homens e às mulheres cria um fosso moral que deveria ser combatido pelas pessoas honestas.


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A categoria homossexualidade, portanto, indica o comportamento homossexual como sujo e como um dos vetores que levam a dissolução da moral e dos bons costumes. Expressa o preconceito a livre opção sexual e a sexualidade que não é regida pelos códigos da heterossexualidade.


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A última categoria indicada pelos informantes da enquete Sujeira, como já acontecido na cidade de João Pessoa, surpreendeu o pesquisador. Esta última categoria foi indicada por 15% dos entrevistados e têm como sujeira a Falta de Zelo com a Coisa Pública. Esta categoria indica como sujo o comportamento e a ação política nacional e local. Fala da politicagem como um dos males do Brasil contemporâneo e da corrupção, do mau uso dos gastos públicos, da falta de moral dos políticos e gestores brasileiros e da hipocrisia parlamentar e do poder executivo que vêem a política como um argumento para o enriquecimento ilícito e rápido pessoal: "e o povo que se lixe", como informou uma entrevistada que indicou esta categoria como o que considerava sujo no Recife e no Brasil.


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A surpresa do pesquisador é que o mesmo não esperava uma tão maciça correlação da política como sujeira no país. Esta correlação tem a ver, por outro lado, com a desesperança com a política e com as instituições brasileiras e locais. Não é sentida, como na questão da categoria Desrespeito ao Cidadão, quando remetida explicitamente à problemática do lixo pelas ruas da cidade, como algo conjuntural. A categoria Falta de Zelo é sentida como algo estrutural no Brasil como um todo e os políticos e os gestores como preocupados "em encher os bolsos", segundo as palavras de um entrevistado, e "o povo que se exploda" (o exploda tendo o sentido de ser mais explorado, mais humilhado, mais desrespeitado no cotidiano brasileiro e da cidade), como disse outro informante.


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Uma rápida comparação entre a catgegoria Sexo e a categoria O que é Sujo na cidade do Recife
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O Gráfico 2, abaixo, faz uma comparação entre o que os homens e a mulheres da cidade do Recife indicam como sujo ou sujeira. Nesta comunicação apenas haverá uma indicação de como se situam homens e mulheres em relação às categorias apresentadas, sem entrar em nenhuma análise sobre os dados comparados. Estes dados serão posteriormente analisados no relatório final da pesquisa e na série de artigos que deverá aparecer nas revistas acadêmicas a partir de novembro de 2009.

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Como apresentação apenas das diferenças nas respostas dadas pelos homens e mulheres recifenses que responderam a enquete, se lembra ao leitor, aqui, que as mulheres respondem por 43,3% dos respondentes e os homens por 56,7% dos 60 entrevistados.
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As mulheres recifenses apontaram com evidencia maior o que consideravam sujeira junto às categorias de Desrespeito ao Cidadão, com 26, 8% das entrevistadas contra 20% dos homens; a Falta de Consciência Ecológica, com 6,7% das respostas contra 3,3% dos homens; a Falta de Higiene, com 13,3% de indicações contra 10% dos homens; a categoria Gente Fraca, com o total de 3,3% das respostas contra nenhuma resposta masculina; a categoria Imoralidade com 6,7% das respostas contra 3,3% dos homens, a categoria Mendicância, Gente Pobre, Gente Suja com 13,3% de indicações femininas contra 10% dos homens; e, finalmente, a categoria Violência Urbana, também com 13,3% de mulheres contra 10% dos homens.

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No caso dos homens, estes indicaram em maior número as categorias de Falta de Confiança, com 6,7% de indicações contra 3,3% das mulheres; a Homossexualidade com 13,3% de indicações contra nenhuma indicação feminina; e a Falta de Zelo com a coisa Pública: categoria indicada por 20% dos homens entrevistados, contra 10% das mulheres.


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Nota Final
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Tanto quanto já indicado pelos dados apresentados neste Blog em 22 de maio de 2009 na comunicação "O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira", os dados para a cidade do Recife mostram a riqueza analítica trazida pela categoria Sujo ou Sujeira para a compreensão da cultura política e comportamental dos habitantes urbanos no Brasil de hoje.



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Nos próximos dias serão apresentados os dados para a cidade de Belém, capital do estado do Pará, e em seguida para as diversas capitais restantes onde foram aplicados os questionários da enquete "Sujeira e imaginário urbano no Brasil – 2009". A última comunicação apresentada fará um balanço comparativo das respostas entre as diversas capitais onde a enquete foi desenvolvida.




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Lembra-se, apenas, que nestas primeiras notícias divulgadas neste Blog sobre a enquete Sujeira... não há intenção de uma análise mais aprofundada, o que será feita posteriormente, como indicado, mas uma indicação do imaginário urbano no Brasil sobre o que é sujo.


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Bibliografia


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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro Koury. "O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira". Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, comunicação publicada em 22 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/o-que-pensam-os-moradores-da-cidade-de.html



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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. De que João Pessoa tem Medo? João Pessoa, Editora Universitária UFPB, 2008.
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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Sofrimento Social. João Pessoa, editora Universitária UFPB, 2007.
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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. O Vínculo Ritual. João Pessoa, Editora Universitária UFPB, 2006.

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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro, (Org.). Medos Corriqueiros e Sociabilidade. João Pessoa, Editora Universitária UFPB, 2005.

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