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sexta-feira, 5 de junho de 2009

3a. Comunicação sobre a enquete "Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil" - A cidade de Belém (PA) - 2009

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O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital paraense - 2009
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Mauro Guilherme Pinheiro Koury

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Esta comunicação dá continuidade a uma informação parcial sobre os dados levantados para a enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil”, aplicada em seis capitais de estados brasileiros durante os meses de março e abril de 2009. Como já se comentou nas duas comunicações anteriores para esta enquete, relacionadas às cidades de João Pessoa (PB) e de Recife (PE), ambas publicadas neste Blog nos dias 22 e 26 de maio de 2009 (Koury, 2009 e 2009a), esta enquete faz parte de uma pesquisa maior intitulada ‘Medos Corriqueiros e Sociabilidade’ em andamento no GREM sob a coordenação do autor.

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Esta enquete foi aplicada na última semana do mês de março na cidade de Belém, capital do estado do Pará. Sua aplicação se deu na forma de abordagem direta dos possíveis entrevistados em locais públicos como os shoppings, tantos os maiores quanto os mais populares, o mercado ver-o-peso e seus arredores, em três das várias universidades e estabelecimentos de ensino superior da cidade de Belém. Foram aplicados 60 questionários. Deste total, 26 foram aplicados com mulheres e 34 com homens, com renda, estado civil, escolaridade, religião e atuação profissional diversas.

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Esta 3ª comunicação da enquete sobre sujeira e imaginário urbano no Brasil, como nas outras duas comunicações anteriores, tem o intuito apenas de informar os leitores do Blog sobre a riqueza de dados para a interpretação da cultura urbana brasileira e da cultura política e comportamental nacional, através da apresentação de dois gráficos oriundos da enquete: o primeiro, sobre o total das respostas da capital Belém sobre o que é sujeira, e o segundo gráfico, com a mesma questão cruzada com o sexo dos entrevistados.

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Os resultados finais da enquete serão divulgados em artigos acadêmicos e em Relatório Final de pesquisa, a partir de dezembro de 2009. As comunicações presentes não discutem questões teóricas ou metodológicas, é apenas mostrado um conjunto de respostas tabuladas através de categorias analíticas tiradas das próprias informações dos entrevistados. De forma mais aprofundada estes dados e categorias serão analisados no Relatório Final e nos artigos acadêmicos já indicados.

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O que é sujeira para você – Belém (PA), 2009

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O primeiro gráfico apresentado (Gráfico 1) demonstra as categorias de respostas indicadas pelos entrevistados da cidade de Belém à questão sobre o que é sujo ou sujeira para cada um deles. As categorias com maior concentração de respostas entre os entrevistados da cidade concentram-se na de Falta de Zelo com a Coisa Pública, com 16,7% do total de respostas; seguida pela questão da homossexualidade, com 13,3% do total dos respondentes; e a categoria Desrespeito ao Cidadão, com 11,7% das respostas.

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A categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública, como algo sujo ou como sujeira para os entrevistados, em Belém, como nas duas outras cidades já apresentadas nas comunicações anteriores, tem ganhado uma supremacia de indicações, o que surpreendeu o pesquisador, em um primeiro momento, como já indicados nas comunicações anteriores. Esta categoria revela o abuso do poder dos gestores e do legislativo, nacional, estaduais e locais, a corrupção, o governar e o legislar em causa própria, o desvio de verbas e o mau uso na administração de políticas públicas.

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O autor acredita que a evidência como sujo da categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública tenha se tornado presente ao cotidiano do homem comum brasileiro e de Belém, aqui em particular, devido aos diversos escândalos envolvendo políticos profissionais e gestores nos últimos vinte anos no Brasil e, principalmente, após o episódio do mensalão, com grande debate na opinião pública e na mídia nacional.

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O que assusta, nesta enquete, como tem sido vistos nas duas comunicações anteriores, também, é o alto nível alto de preconceito com os homossexuais, principalmente com os homossexuais masculinos. Na cidade de Belém, o índice de indicação da Homossexualidade como uma categoria ligada à sujeira é de 13,3% do total dos informantes, ou seja, quase 23 dos 60 entrevistados, indicaram a prática do homossexualismo como algo sujo. Muitos dos respondentes chegando a afirmar que deveria ter uma ação direta da polícia para aniquilar aqueles que optassem pela prática homossexual. Dois entrevistados chegando a afirmar que expulsaram filhos de casa e evitam parentes desviados.

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Fazendo uma rápida comparação entre as cidades de João Pessoa, Recife e Belém com relação à categoria Homossexualidade, esta categoria aparece com maior incidência em Belém, com 13,3% dos respondentes à enquete. Em João Pessoa e Recife, esta mesma categoria é associada ao sujo por 6,7% dos entrevistados de cada cidade.

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Outra coisa que chama atenção em Belém, é que a categoria Homossexualidade, embora apareça com maior número de indicação entre os homens, com 14,7% dos respondentes, aparece, igualmente, com força, entre as mulheres, com a indicação da prática homossexual como sujeira para 11,6% das mulheres, conforme pode ser visto no Gráfico 2. Na cidade de João Pessoa, como pode ser vista na 1ª comunicação da enquete, neste Blog, postado no dia 22 de maio, a categoria homossexualidade aparece com 6,7% dos respondentes, sendo 11,5% do total dos homens, e, 2,9% do total das mulheres. No caso da cidade do Recife, como pode ser vista na 2ª Comunicação postada no dia 26 de maio, neste Blog, a totalidade de respostas indicando a categoria Homossexualidade como algo sujo, é de homens.

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A terceira categoria, com maior número de indicações na cidade de Belém, compara o Desrespeito ao Cidadão como algo sujo, à sujeira. Esta categoria corresponde a indicação de 11,7% dos entrevistados durante a enquete em Belém.

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Como já foi visto nas duas comunicações anteriores, a categoria Desrespeito ao Cidadão fala dos problemas da cidade: infra-estrutura, problemas ligados à saúde pública, problemas ligados a degradação da cidade, problemas relacionados à política habitacional, a política de transportes públicos, ao lixo urbano, entre outros. Na cidade de Belém, os respondentes tocam em assuntos ligados, essencialmente, a reorganização do espaço urbano, ao comércio ambulante, a degradação do centro urbano da cidade e a deteriorização dos imóveis, e ao alto índice de falta de moradias dignas para a população local.

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O segundo grupo de concentração de respostas recai nas categorias de Falta de Consciência Ecológica, com 10% dos respondentes; a Violência Urbana, também com 10% das respostas e a Falta de Higiene, com 10% dos entrevistados. Como na cidade do Recife, a Falta de Consciência Ecológica traz um discurso mais elaborado sobre os perigos de um progresso urbano que se volta contra a natureza. Na cidade de Belém, este discurso fala, sobretudo, para a cidade voltar às costas para o rio, e às consequências desta política de desenvolvimento, tido como rejeição pelos moradores que a indicaram. Falam ainda do problema do esgotamento sanitário, todo voltado para o deságüe nas encostas do rio, da falta de planejamento, aumentando o desordenamento urbano e o aumento da poluição. Por último falam da destruição da floresta, causando óbices intransponíveis, em curto prazo, à vida humana.
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A segunda categoria ligada a este segundo grupo, também com 10% das indicações, revelam a Violência Urbana como algo sujo. Apontam o crescimento acelerado nas últimas décadas da criminalidade na cidade de Belém e em seu entorno, e da falta de uma política eficiente de combate à onda de crime que se desenvolve na cidade. Apontam, também, a emergência do crime organizado, principalmente, indicando Belém como um entreposto para a indústria criminosa das drogas e sua distribuição, a nível local, nacional e internacional.
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A terceira categoria, por fim, fala da Falta de Limpeza. Esta categoria apontada por 10% dos entrevistados, como nas outras duas cidades em que este Blog já fez uma comunicação, João Pessoa, e Recife, é vista como falta de higiene doméstica, e diz respeito à organização da vida privada na cidade. As casas mal arrumadas, os banheiros pouco higienizados, as cozinhas com estoques de alimentos não adequados e com pouca limpeza, as pragas urbanas, são citados pelos entrevistados nesta categoria como equivalente à sujeira. Do mesmo modo como também indicam a falta higiene pessoal: cabelos gordurosos, pessoas com aspectos de pouca higiene corporal, entre outros, são indicados como algo sujo entre os respondentes desta categoria.
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O terceiro grupo de respostas concentra as categorias de Falta de Confiança, com 8,3% dos respondentes; a categoria de Imoralidade e de Mendicância ambas com 6,7% de respostas; e as categorias de Fluídos, com 5% dos entrevistados e Gente Fraca, com 1,6% dos que indicaram esta categoria como algo sujo.
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A categoria Falta de Confiança indica, principalmente, entre os respondentes da cidade de Belém, o medo da traição. O medo de ‘ser corno’, e o receio da deslealdade de sócios e de amigos foram indicados pela totalidade dos entrevistados que responderam indicando a categoria Falta de Confiança como algo sujo e difícil de aceitar.
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A categoria Imoralidade, por sua vez, na cidade de Belém, também como nas outras duas cidades que já tiveram informes para a enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil” corresponde à visão de pornografia e da licenciosidade do sexo e sua exposição na sociedade contemporânea. Em Belém, porém, aparece revestida, na maior parte das respostas, a uma crítica ao abuso de poder de gestores, políticos e profissionais ligados ao setor de segurança no estado do Pará.
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Muitos dos entrevistados relatam como sujeira o envolvimento de políticos profissionais com prostituição e com a pedofilia, outros tantos indicam o descaso com menores delinquentes, muitas vezes presos e colocados em celas de prisão com vários adultos. Onde são abusados sexualmente por presos, com a conivência, senão a participação de agentes penitenciários. Os casos retratados envolvem sempre a questão do abuso contra mulheres. Os entrevistados remetem esses casos, também, como um descaso das autoridades: juízes, delegados, prefeitos, e governo estadual, que jogam um para o outro a responsabilidade, sem resolverem o problema.
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A categoria Mendicância desenvolve um preconceito com a pobreza, como nas duas outras capitais já estudadas nas duas comunicações anteriores postadas neste Blog em 22 e 26 de maio de 2009. A pobreza é tida, pelos respondentes que a indicaram, como sujeira e como algo que degreda a cidade. A maior parte indicando a pobreza como causadora do aumento da violência contra o cidadão na cidade de Belém, e grande parte indicando que deveria se pensar um ‘jeito’ de se exterminar com os mendigos e pobres da cidade.
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A categoria Fluídos aparece na cidade de Belém como uma categoria associada à sujeira, de um lado, como responsável pela poluição, emissão de cases tóxicos pelo transito caótico da cidade; o chorume dos aterros sanitários mal cuidados e a insalubridade do ar, que, em um clima muito quente e úmido, provoca problemas de saúde pública, principalmente em crianças pobres. Por outro lado, é colocado em menor número, como consequência da falta de educação e higiene pessoal: escarros, cusparadas e lançamentos de outros líquidos corporais em público. Um menor número indica o sangue menstrual como sujeira.
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A categoria Gente Fraca, aparece na cidade de Belém com, apenas, 1,6% das respostas. Diferente das cidades de João Pessoa e Recife, esta categoria não diz respeito a usuários de drogas e ao álcool, mas fala da fraqueza de caráter em si. Esta associada mais a falta de perspectiva pessoal, a quase anomia durkheimiana, ao fracasso pessoal, e ao uso da expressão ‘Maria vai com as outras’, demonstrando uma dificuldade de opção pessoal e do seguir a vontade alheia. Esta falta de caráter, que torna a pessoa vulnerável, é indicada pela totalidade dos respondentes como sujeira, como algo que provoca nojo.
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Relação da categoria Sexo com a questão O que é sujo para você na cidade de Belém (PA).
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Aqui se fará, apenas, uma ligeira comparação entre os homens e mulheres entrevistados pela enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil” na cidade de Belém. Como já foi dito acima, foram entrevistados 26 pessoas do sexo feminino, 43,3% do total, e 34 do sexo masculino, 56,7% do total, perfazendo o total de 60 entrevistas.
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De acordo com o Gráfico 2, abaixo, o sexo feminino em Belém tem predominância nas respostas para as categorias de Violência Urbana, com 15,4% das indicações, contra 5,9% dos indivíduos do sexo masculino; a categoria Mendicância também é apontada como sujeira, principalmente, pelo sexo feminino: 15,4%, contra 2,9 dos homens. A categoria Fluídos é uma categoria, na cidade de Belém, apontada exclusivamente pelas mulheres, com 11,6% das respostas, contra zero dos homens; a Falta de Higiene, também, é apontada em maior número de indicações pelo sexo feminino: 11,6%, embora com um bom número de indicações masculinas, 8,9% das indicações. O mesmo acontecendo com a categoria Desrespeito ao Cidadão, com 15,4% de indicações das mulheres, contra 8,9% das indicações do sexo masculino.
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No mesmo Gráfico 2, pode-se notar que as categorias mais apontadas pelo sexo masculino foram as de Homossexualidade, com 14,7% das indicações, contra 11,6% das indicações das mulheres. O que mostra um alto grau de preconceito contra a homossexualidade na cidade, entre homens e mulheres. Diferente das outras duas cidades já trabalhadas, Recife e João pessoa, onde a categoria Homossexualidade era apontada, sobretudo, pelos homens.

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Outra categoria apontada pelos homens foi a de Gente Fraca: esta categoria obteve, na cidade de Belém, 2,9% das indicações dos homens e zero das mulheres.

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A categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública, quase obteve número igual de indicações entre homens e mulheres, com uma pequena predominância masculina, 17,6%, contra 15,4% dos homens. O que indica uma grande decepção com a política profissional: políticos e gestores, na cidade de Belém.

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A Falta de Consciência Ecológica como categoria associada à sujeira, por sua vez, na cidade de Belém, foi lembrada apenas pelo sexo masculino, com 17,6% das respostas, contra zero das mulheres.

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E, por fim, a categoria Falta de Confiança, também, foi uma categoria apontada, principalmente, pelo sexo masculino, com 11,7% das indicações, contra, apenas, 3,7% das mulheres.

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Notas Finais

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Esta terceira comunicação informou alguns dados da enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil”, tendo a cidade de Belém, capital do estado do Pará, como base. Esta terceira comunicação se junta às duas outras já publicadas neste Blog, nos dias 22 e 26 de maio de 2009, as cidades de João Pessoa (PB) e Recife (PE).

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Em breve os dados sobre as demais cidades que serviram como amostra para a realização desta enquete: Brasília, São Paulo e Curitiba, serão informados em comunicações para este Blog.

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Bibliografia

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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. “O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira”. 1ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 22 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/o-que-pensam-os-moradores-da-cidade-de.html

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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital pernambucana - 2009”. 2ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 26 de maio de 2009a. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/2acomunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html

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