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sexta-feira, 22 de maio de 2009

1a Comunicação da enquete "Sujeira e Imaginário no Brasil - 2009" - Cidade de João Pessoa (PB)

O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira
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Mauro Guilherme Pinheiro Koury
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Tem início, hoje, o primeiro informe sobre o que o brasileiro considera sujo ou sujeira. Esta primeira notícia mostra a tabulação para a cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, onde foram aplicados 60 questionários para a enquete sobre Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil.
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Esta enquete foi realizada, neste ano de 2009, durante os meses de março a abril, em seis capitais de estados do país: João Pessoa (PB), Recife (PE), Brasília (DF), Belém (PA), São Paulo (SP) e Curitiba (PR), sendo aplicado um total de 390 questionários.
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A sua realização se deu durante o trabalho de campo para a coleta de dados para uma pesquisa maior, em desenvolvimento no GREM, sob a coordenação do autor, intitulada “Medos Corriqueiros e Sociabilidade Urbana no Brasil”. A questão do que é sujo relacionado à do que é medo apareceram várias vezes em entrevistas realizadas na primeira e na segunda fase da pesquisa ‘Medos Corriqueiros’ chamando sua atenção. Daí ter aproveitado um momento de treinamento e aproximação com os locais onde a nova fase da pesquisa sobre medos corriqueiros se daria, neste ano de 2009, para trabalhar a questão do que é sujo ou sujeira para os habitantes das capitais dos estados brasileiros.
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Os resultados desta inquietação traduzida em uma enquete simples aplicada a seis capitais de estados do país estão sendo trabalhados em forma de artigos que deverão ser publicados, em breve, na RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, do GREM, e em outras revistas científicas ligadas às áreas de Sociologia e de Antropologia nacionais ou internacionais. Este Blog divulgará, em primeira mão, os gráficos iniciais da tabulação desta enquete, sem ainda uma análise aprofundada sobre o assunto; o que deverá ocorrer em breve com o amadurecimento e publicação dos artigos em andamento.
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A decisão de divulgar os primeiros dados tabulados neste Blog, em uma série de notícias e pequenos comentários, foi o de chamar atenção ao leitor para a importância da categoria Sujo ou Sujeira no Brasil urbano. Como se pode notar na tabela abaixo, através da idéia do que é sujo para o entrevistado, se passa em revista a questão nacional. Na categoria Sujo ou Sujeira encontra-se relacionados desde a questão da falta de ética na política e no trato da coisa pública, até o uso tradicional de falta de higiene.
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Uma análise do país em termos de cultura política, de medos e receios, e de costumes, através da idéia dos informantes sobre o que é Sujo, se torna possível e leva o leitor a um passeio no imaginário urbano nacional e nas vivências, reflexões e comparações emitidas pelos informantes que se dispuseram a responder a enquete.

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João Pessoa, Paraíba

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Como já foi informado acima, foram aplicados 60 questionários na cidade de João Pessoa, com a questão O que é Sujo ou Sujeira para Você? Os questionários foram aplicados nos Shoppings locais, nos centros de compras populares, no Parque Solon de Lucena, nas praias, todos locais de passagem ou aglomeração da população local em seu todo.
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Dos 60 questionários aplicados, 34 foram com mulheres (56,7%) e 26 com homens (43,3%), em idades que variaram de maiores de 15 anos a mais de 65 anos. E com renda familiar que também variava de menos de um salário mínimo até mais de quarenta salários mínimos. Os entrevistados também variavam em nível de instrução, indo do analfabeto até os pós-graduados (especialização, mestrado e doutorado), trabalhando nos mais diversos tipos de ocupação, de desempregados e donas de casas, de ambulantes a empresários, de comerciários a profissionais liberais, entre outros.
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O primeiro gráfico (Gráfico 1) inserido nesta comunicação se refere, apenas, às categorias presentes sobre o que é Sujo ou Sujeira para a totalidade das respostas, independentes de quaisquer das variáveis acima. No segundo gráfico (Gráfico 2) são mostradas as categorias do Sujo ou Sujeira cruzadas com o Sexo do entrevistado. As demais variáveis não são expostas neste informe sobre o que é sujo para os habitantes da cidade de João Pessoa.



Uma Leitura Rápida dos Gráficos

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O Gráfico 1 demonstra as principais categorias de respostas dos entrevistados para a pergunta 'O que é sujo ou sujeira para você?' Como se pode notar em uma primeira leitura do Gráfico 1, as categorias nele presentes podem ser resumidas em outras tantas categorias maiores. Assim, é possível juntar em uma mesma categoria analítica as categorias que expressam noções de sujo ligadas à violência urbana (5% das respostas), ao desrespeito ao cidadão (6,7%) e a saúde pública, através dos Fluídos (13,3%). Esta categoria maior poderia ser chamada de Males do Urbano e responderia por 25% das respostas dos entrevistados. Através dela os entrevistados responderiam pelo elevado índice de perigo do viver na cidade de João Pessoa, seja pelo aumento da criminalidade (assaltos, estupros, e outras formas violentas), seja pelos problemas ligados a falta de saneamento da cidade (problemas de esgotamento sanitário, lixo urbano, mau trato das vias públicas, problemas de iluminação entre outras questões), seja, ainda, pela questão dos fluídos (odores ligados a poluição e outros).
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Uma segunda grande categoria poderia ser pensada através da denominação de Preconceitos. Esta grande categoria Preconceitos englobaria as ligadas a Homossexualidade (com 6,7% das respostas) e a da pobreza como algo obsceno, presente na categoria de Mendigos, Gente Pobre e Gente Suja (10%). Pobreza e opções sexuais não heterossexuais sendo consideradas como uma coisa suja, ou como portadoras de sujeira em si, pelos entrevistados de João Pessoa. A categoria maior Preconceitos, deste modo, responde por 16,7% das respostas sobre o que é sujo para os habitantes da capital paraibana.
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A categoria Imoralidade (11,6% das respostas), por sua vez, fala da pornografia, dos relacionamentos amorosos e sexuais contemporâneos, vistos como safadeza pelos entrevistados, diz ainda da prostituição e da falta de valores morais entre os jovens de hoje. A esta categoria poderia juntar-se, também, a de Gente Fraca (5%), que considera como sujo as pessoas consideradas pelos informantes como sem perspectiva, e que se lançam no vício, seja através da bebida, seja através da droga e outros, como uma forma de saída pessoal. A estas duas será agregada a de Falta de Confiança (8,3%), que informa como sujo ou sujeira a traição, o ser corno, a deslealdade e a mentira, presentes na sociabilidade contemporânea com a individualização e o individualismo crescentes nas formas de sociabilidade advindas com o crescimento e complexificação da cidade, e com a perda de laços mais pessoalizados.
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No caso da cidade de João Pessoa, esse aspecto é sentido, principalmente, desde o final dos anos setenta e, sobretudo, dos anos oitenta do século passado, como o crescimento acelerado da cidade, causando temores e receios nos habitantes mais antigos da cidade que não mais reconheciam a própria cidade, agora dominada por pessoas de diversas origens, sociais e econômicas e espaciais (de outras localidades do estado, do país e do exterior), e não reconheciam mais a si próprios: se colocando como prisioneiros de sua própria casa, com medo de andar pela cidade, de ter a casa invadida, do esfacelamento dos laços de sociabilidade e pessoalidade que os uniam até a pouco tempo, e da perda de confiança em si e nos outros. A esse respeito ver a análise do autor no livro De que João Pessoa tem Medo? (João Pessoa, Editora Universitária, 2008).
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A grande categoria que engloba as de Imoralidade, Gente Fraca e Falta de Confiança, poderia ser aqui chamada de Males da Modernidade, e responde por 24,9% dos entrevistados da cidade de João Pessoa.
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As duas categorias restantes, a da Falta de Higiene e a da Falta de Zelo com a Coisa Pública, ambas com 16,7% das respostas dos entrevistados, são consideradas aqui como categorias abrangentes por si próprias. A primeira lida com a questão da higiene doméstica: a falta de limpeza, as panelas sujas, bichos peçonhentos e todos os tipos de insetos, entre outros. A visão de sujeira, nesta categoria, está diretamente relacionada aos maus cuidados com a limpeza doméstica, no sentido restrito ao interior da casa, bem como as pragas urbanas que, às vezes infestam a residência, também consideradas como falta de limpeza ou cuidados domésticos.
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A segunda categoria restante é a que mais surpreende nesta enquete. A categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública fala diretamente contra a falta de ética existente na política e na administração pública brasileiras: elementos como a corrupção, como o desvio de verbas, a má aplicação dos recursos públicos, a utilização dos recursos públicos para fins pessoais dos gestores ou políticos, a má aplicação e o descaso com as políticas públicas no país, principalmente as ligadas à educação e à saúde, a questão da fome associada ao desvio de verba e a falta de interesse político dos gestores públicos e políticos no país, são algumas das informações que associam a política no país como politicagem e sujeira, pelos habitantes de João Pessoa que responderam a enquete.
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Comparação entre as respostas de homens e mulheres
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O Gráfico 2 abaixo, por sua vez, faz uma rápida comparação das respostas obtidas durante a aplicação da enquete entre os homens e as mulheres que foram abordados e se dignaram a responder o questionário.

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Nesta rápida comparação entre as respostas de homens e mulheres a questão sobre O que é sujo ou sujeira para você, feita aos habitantes da cidade de João Pessoa na enquete sobre sujeira para a pesquisa ‘Medos Corriqueiros’ do GREM, sobressai que a questão da falta de higiene doméstica é associada mais a sujeira pelas mulheres, com 20,6% das respostas, do que pelos homens, com 11,5% das réplicas. A questão da falta de moral e a imoralidade como um dos males da modernidade também é uma categoria apontada em maior número pelas mulheres (14,7%) do que pelos homens (7,7%).


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O mesmo acontecendo com a categoria da violência urbana, com 5,9% de respostas das mulheres, e 3,9% das dos homens. E em relação à questão dos vícios (drogados, bêbados e outros) englobados na categoria de Gente Fraca: com 8,8% de respostas femininas, contra nenhuma resposta masculina.


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Na questão dos preconceitos associando pobreza e homossexualidade à sujeira, por outro lado, os homens se revelaram mais preconceituosos do que as mulheres: 11,5% dos homens ligam a homossexualidade à sujeira, contra 2,9% das mulheres; e, 11,5% dos homens associam pobreza (mendicância, gente pobre, gente suja) a sujeira, versus 8,8% das mulheres entrevistadas.
Os homens comparam a falta de confiança (traição, deslealdade, mentira) à sujeira em maior número (11,5%) do que as mulheres (5,9%). Os fluídos (gases, sangue, sangue menstrual, esperma, mau cheiro, odores da morte), por sua vez, encontram- se mais associados à sujeira nas respostas dos homens (15,5%) do que nas réplicas femininas (11,8%).


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Comparando, por fim, as respostas entre homens e mulheres em relação à categoria do Desrespeito ao Cidadão, se vê que as respostas masculinas (7,9%) e femininas (5,9%) quase se equivalem em relação à falta de respeito aos direitos e ao bem estar do cidadão na cidade de João Pessoa como algo sujo, como sujeira.


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Finalmente, a última categoria, a da Falta de Zelo com a Coisa Pública como algo sujo, como uma referência crítica ao mau uso da política e da gestão pública no país, teve uma grande incidência de respostas tanto dos homens (19, 2% das respostas), quanto das mulheres, com 14,7% das indicações.
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Notas Finais
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A categoria sujeira, como visto, é uma categoria importante para refletir e compreender o comportamento e o pensamento social do brasileiro urbano sobre o Brasil e sobre o imaginário do que é considerado sujo na vivência cotidiana dos habitantes das capitais de estados pesquisados.
Este informe sobre a enquete sobre Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil na cidade de João Pessoa, abre uma série de comunicações sobre as primeiras tabulações das respostas auferidas a ela, abordando o pensamento sobre o que é sujo ou sujeira nas cidades de Recife, Belém, Brasília, São Paulo e Curitiba.


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A última comunicação abordará o conjunto das cidades, traçando um perfil do que é considerado sujeira entre os brasileiros residentes nas cidades pesquisadas e estabelecendo uma comparação entre elas.

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Recife/São Paulo, maio de 2009
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