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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Série Pesquisas em Desenvolvimento, n. 05 (25 de junho de 2009)

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Publica-se, hoje, neste Blog, o quinto número da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM. Esta Série tem por objetivo a publicação e a divulgação dos Resumos Expandidos das Pesquisas em Desenvolvimento ou Recém Finalizadas pelo corpo de pesquisadores do GREM.
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Nesta Série serão postados resumos individuais dos pesquisadores com um informe sobre suas pesquisas e uma pequena bibliografia referencial de apoio. Será informada, também, a linha de pesquisa do GREM a que estão vinculadas.
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Já foram publicados neste Blog os números: 01, em 12 de junho de 2009, o 02, em 15 de junho de 2009, o 03, em 18 de junho de 2009, o 04, em 22 de junho de 2009 da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
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O número 05 da Série Pesquisas em Desenvolvimento publica o Resumo Expandido da pesquisa em andamento no GREM, coordenada pelo pesquisador Márcio da Cunha Vilar. A pesquisa em desenvolvimento de Márcio Vilar tem por objetivo a obtenção do título de Doutor em Antropologia Social/Cultural pela Universidade de Leipzig, Alemanha.
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A pesquisa de Márcio da Cunha Vilar está vinculada a Linha de Pesquisa do GREM: Memória e Imaginário Social.
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Vamos, então, para o número 05 da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
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Título da Pesquisa: Etnografia dos Ciganos Calón no nordeste do Brasil. Estudo antropológico sobre produção sócio-cultural de diferenças e semelhanças entre minoria étnica e sociedade majoritária
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Pesquisador: Márcio da Cunha Vilar
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Resumo: A presente pesquisa etnográfica tem como objetivo compreender o mundo dos ciganos Calóns no Brasil, principalmente, a partir do estudo das relações destes com não-ciganos, mas também considerando as práticas internas de diferenciação e/ou distinção destes entre si – já que um alto grau de segmentaridade (ou uma intensa dinâmica segmentar) presente na organização social Calón vem sendo constatado empiricamente desde o início das pesquisas. Para tanto, tem sido desenvolvido trabalho de campo em ranchos no Rio Grande do Norte e Bahia, com concentração neste último estado; mais particularmente nas regiões sul e sudoeste, onde atualmente está sendo realizada uma estadia mais prolongada.
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Muitos dos estudos sobre ciganos costumam essencializar os grupos abordados, conferindo-lhes qualidades particulares quase como que inatas que os destacariam de outros grupos ciganos e da sociedade na qual vivem. Por outro lado, não são raras as generalizações. Características observadas no âmbito de um determinado grupo são muitas vezes atribuídas a todo o conjunto dos ciganos. Em todo caso, todas as tentativas de definir os ciganos tanto por ciganos quanto por não-ciganos, independente do critério utilizado, nunca abarca a totalidade das diversas coletividades como tal identificadas. Não há critérios estabelecidos por meio dos quais seja possível identificar alguém como sendo ou não cigano. A referência mais utilizada consiste na autoproclamação da pessoa como tal acompanhada do consentimento ou aceitação do grupo.
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Apesar de haverem várias explicações (como as versões sobre a origem indiana, ou a grega, egípcia etc.) nada foi constatado no que diz respeito à origem dos ciganos (Fraser, 1993). O próprio nome “cigano”, cunhado por não-ciganos, não passa de um termo que ainda hoje é utilizado por falta de outro melhor e/ou por de alguma forma comportar e transmitir a tensão nunca resolvida que gira em torno da definição de tais “grupos” (Moonen, 2007; Streck, 2008). Dependendo da região geográfica onde se encontrem, pode mesmo haver dezenas de outras denominações coletivas entre os próprios ciganos, pois os ciganos costumam se autodenominar de formas as mais diversas, no que terminam por se distinguirem uns dos outros. Existe algum consenso quanto à terminologia de três grandes grupos continentais: os “Rom”, procedentes do Leste Europeu; os “Sinti”, da Alemanha e Itália ou “Manus” na França; e os “Calons”, ciganos da península ibérica. No entanto, há uma infinidade de autodenominações procedentes, por ex., de profissões (Ursari, Kalderasch, Kovaci...), lugares (Piamontesi, Halab, Tatare...) e etc. Por sua vez, termos como “grupo”, “família” e até mesmo “rede” para a designação de coletividades ciganas, devem ser utilizados com cuidado, de forma bastante calibrada, uma vez que, por mais que tais termos contribuam para dar visibilidade conceitual-estrutural a estes ou àqueles ciganos, eles podem encobrir características específicas do modo como tal e tal coletividade se constitui morfologicamente.
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Segundo Streck, no processo de estratificação das sociedades, sejam tradicionais ou modernas, principalmente através do desenvolvimento da divisão do trabalho, são também gerados, com os próprios estratos ou castas, “entre-espaços” que, por sua vez, oferecem chances específicas de sobrevivência. “Freqüentemente, nos ‘espaços’ estabelecidos, o entre-espaço é criminalizado enquanto zona socialmente cinza. Em fontes antigas [...] lê-se a respeito de “párias sem senhor” ou de “párias sem país”. Mas, para além da expressão de aversão, é possível reconhecer aqui o entre-espaço: em tal lugar as pessoas seguem o senhor A, noutro canto o senhor B, entre aqui e lá se vive sem senhor, isto é, livre”. (Streck, 2008).
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Trata-se aqui dos setores informais de uma dada sociedade, enquanto sombras residuais de circulação e de estabelecimento não catalogados ou reconhecidos oficialmente como um espaço próprio, mas estigmatizados e, na regra, evitados (1). Em tais espaços (de invisibilidade), é possível verificar processos de reapropriações e rearranjos culturais (Sahlins, 1997) que se manifestam na produção de uma cultura paralela ou de contraste, num sistema de valores próprios, em língua local e na existência de mecanismos de auto-regulação. “Gypsies provide a superb extreme case of people whose culture is constructed and recreated in the midst of others” (Okely, 1983). Um exemplo desse rearranjo poderia ser encontrado na forma como os ciganos falam.
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Ao lado da língua local, ou seja, da região onde vivem, ciganos podem falar também alguma variação do chamado Romanês ou Romani Chib. Essas variações podem, às vezes, serem fortes o suficiente para que determinados ciganos não se entendam. No caso dos Calons a variação do Romanês falada pode ser chamada simplesmente de “língua”, “língua de cigano” ou “Chibi” (que em Romanês significa “língua”). Em todo caso, o uso dos idiomas ou dialetos geralmente se dá no interior do grupo e como forma de fronteirização perante os gadjes – como os ciganos muitas vezes denominam os “não-ciganos”; no caso dos Calóns, também é muito comum a denominação “jurón”/”jurín” ao lado de “gadjo” ou “gadjão”. Embora tenha sido constatada uma correspondência com o sânscrito, tais idiomas ou dialetos, no entanto, são elaborados ou compostos, em boa parte, a partir da própria língua local como também através do uso de vocábulos por onde já se esteve anteriormente. A freqüente recorrência desse fenômeno lingüístico evidencia a estreita ligação do grupo em questão com a sociedade maior na qual vivem e/ou entre as quais viveram. Não há uma língua cigana, por assim dizer, porém várias e nenhuma (Matras, 2003).
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Parece ser mais interessante, dessa forma, considerar as diferenciações “internas” entre os ciganos em termos de “variações” (Barth, 1987) (variações estruturais perceptíveis tanto de uma perspectiva diacrônica – isto é, no que diz respeito à história e temporalidades específicas a uma dada família e a sujeitos a ela não-pertencentes, porém, com os quais ela se relaciona - quanto sincrônica – isto é, de família para família, clã para clã...), pois mesmo grupos ciganos que habitem numa mesma região podem apresentar diferenciações significativas entre si. Contudo, a despeito, porém, do alto grau de diferenciações internas – em outras palavras, mesmo não havendo uma espécie de totalidade homogênea -, parece existirem algumas características gerais no que diz respeito às suas relações com os não-ciganos. Por um lado, quando ressaltada a história de ódio e de perseguição, quase todas as formas culturais que os ciganos, em suas relações com não-ciganos, criativamente elaboram parecem ser vistas, sobretudo, sob o signo da sobrevivência. Por outro lado, citando Engebrigsten, Ries (2008) chama a atenção para o termo “ciganicidade” (gypsyness) (2).
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Em todo caso, devido à dependência dos entre-espaços com relação aos espaços, pessoas dos entre-espaços vivem em contínuo contato com as dos espaços. Uma vez que, ao que tudo indica, a maior parte dos Calons, com os quais esse estudo se ocupa, vivem no e do setor informal, a presente pesquisa se orienta pela seguinte definição de cigano, segundo a qual, estes podem ser entendidos “como parte da sociedade maior na qual vivem, embora não necessariamente enquanto incluída [ou integrada] (...), mas sim como parte conectada de uma relação assimétrica” (Streck, 2008).
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Dessa forma, entre uma espécie de paralelismo cultural e estreita simbiose social, é possível presumir que os Calons têm a chance de serem socializados em diferentes “culturas emocionais”, que em certa medida se contrapõem. Como eles agem, portanto, em meio a situações extraordinárias ou dilemas cotidianos que conflitem os repertórios emocionais de que dispõem? Seria possível sequer “trocar” de repertório emocional em uma dada circunstância conflituosa? Por outro lado, em que medida sociedades Calon se esquivam, excluem e/ou se incluem dos processos históricos de longa duração que implicam na domesticação gradativa das expressões emocionais (processos esses, tal como descritos por Elias (1995), que vêm se desenvolvendo por séculos no âmbito da sociedade majoritária no meio da qual vive)? Em que medida os Calons se utilizam e/ou são atingidas por tais processos, e como eles se relacionam (ou não) com uma experiência coletiva profundamente traumática dos ciganos, que, por sua vez, também podem ser alencada num plano de longa duração histórica (Pollack, 1989)?
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O GREM é um espaço privilegiado onde a presente pesquisa procura se debruçar sobre que papel a expressão das emoções desempenham na produção sócio-cultural de diferenças e semelhanças entre ciganos e não-ciganos – e desse modo no processo auto-constitutivo de uma cultura cigana Calon por meio de contato intercultural e hibridização seletiva. Uma vez que o trabalho de campo etnográfico implica, fundamentalmente, em um exercício de imersão no cotidiano de famílias Calon, por meio do qual seja possível deparar-se, muitas vezes simultaneamente, com uma multiplicidade de fenômenos referenciadores - e também partes - de um conjunto de códigos, valores e sensibilidades particulares (específicos, sobretudo, frente àqueles considerados normais ou convencionais, ou seja, “não-ciganos”/“maioria das pessoas”), e também com modos de expressões emocionais dos mesmos, busca-se aqui descortinar e estudar relações sócio-culturais chaves que auxiliem na interpretação de princípios comuns que, de alguma forma, contribuam para conformar, manter ou alterar modos e estilos de vida familiares aos Calóns.
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Notas
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1. Entre as minorias ciganas, há também minorias de ciganos bem sucedidos que fazem partem de elites sociais. Um dos exemplos mais citados, nesse caso, é o do ex-presidente Juscelino Kubitschek. No entanto, parece unânime que a maior parte de tais ciganos, com exceção daqueles músicos, sempre precisa esconder a identidade de “cigano” para não serem vítimas de possíveis estigmatizações. “Quem é empresário rico não está nem aí, mas os que dependem de vida pública, como artistas e políticos, restringem a informação sobre serem ciganos”, diz Farde Vichil. E Zé Rodrix: “Há ruas inteiras em bairros nobres onde só moram ciganos. A grande marca é o fato de as torneiras e maçanetas das casas serem de ouro maciço, para que possam ser levadas em caso de fuga emergencial” (Sanches 2005).
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2. Segundo Ries, “Roma/Gypsies take up certain cultural patterns of Gadzo culture, redefine them and use them for the construction of their own gypsyness (e. g. Engebrigsten 2000). (…). From this perspective, gypsyness is a flexible construct basing itself on difference. Both Roma/Gypsies and Gadze negotiate their ethnic markers. (…) Crucial in this struggle for gypsyness is the constructed ethnic boundary; the essential content may vary from group to group or change in the course of history”.
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