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quinta-feira, 28 de maio de 2009

15 anos do GREM – Projeto Memória

As Imagens da Lagoa. Uma Etnografia Visual sobre Pertença e o Uso do Espaço Público
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Mauro Guilherme Pinheiro Koury
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Este artigo tem por objetivo elaborar uma narrativa das formas de ocupação e usos de um espaço urbano da cidade de João Pessoa de grande visibilidade local, o Parque Sólon de Lucena, mais conhecido como a Lagoa[1]. Parte de um levantamento do humano e da paisagem local, e procura elaborar um roteiro narrativo que abarque desde os diversos tipos que ali trafegam e como ocupam o lugar, os problemas e formas de enfrentá-los que apontam, até os desenhos de sociabilidades e da memória visual, espacial, temporal e afetiva que possuem do espaço.
Busca, deste modo, compreender o conceito e os sentidos de pertença vivenciados pela população de João Pessoa que freqüenta o local, através da narrativa dos informantes sobre o Parque. Para quase todos os informantes com quem conversei durante as várias caminhadas em vários dias da semana e diversos horários durante a minha estada em campo, bem como para o imaginário da cidade, da mídia e das agências de turismo local, o Parque Sólon de Lucena é visto como um grande cartão postal da cidade.
Situado no centro da cidade de João Pessoa, o Parque parece ser um espaço por onde se podem compreender os sentidos de pertencer a um determinado lugar (KOURY, 2003), e entender como os moradores desenvolvem esse sentimento. A questão que me proponho, então, é mostrar e pensar o Parque enquanto local onde se visualiza os elementos emocionais da pertença, enquanto construto subjetivo de viver a cidade.
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O Parque na Cidade
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O Parque Sólon de Lucena ou a Lagoa é um espaço público dos mais conhecidos de João Pessoa, inclusive considerado um dos cartões postais principais da cidade. O local era conhecido até as duas primeiras décadas do século XX pelo nome de Lagoa dos Irerês (Foto 1), como contam os cronistas da cidade, uma espécie de ave que habitava o lugar[2], ou simplesmente a Lagoa (AGUIAR & OCTÁVIO, 1985). Era uma área formada por um conjunto de pântano, vegetação e lagoa acumulada das águas das chuvas e, em suas imediações, e nas áreas a ela circunvizinhas existiam inúmeros sítios e chácaras (MAIA, 2000).
A área que circunda a Lagoa passou a ser chamada de Parque Sólon de Lucena através do Decreto Lei nº 110, de 27 de setembro de 1924, durante o governo de Sólon de Lucena, mas foi só nos anos trinta, durante a administração de Argemiro de Figueiredo, que o projeto ganhou forma urbanística, com “o calçamento dos anéis internos e externos da Lagoa” (O Norte, 20 de janeiro de 2004) e jardins.
Sua inauguração oficial como Parque urbanizado se deu em 1939 (Foto 2). Os jardins da Lagoa foram projetados pelo paisagista Burle Marx (Foto 3) e o projeto fez parte de um conjunto de modificações que visaram o disciplinamento, o embelezamento e o saneamento das vias urbanas, na nova racionalidade sobre as cidades que começa a ser implementada no Brasil, e na cidade de João Pessoa, em particular, desde os finais do século XIX e, principalmente, a partir dos anos vinte do século XX (KOURY, 1986).
O Parque foi tombado pelo IPHAEP - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba em 26 de agosto de 1980, através do decreto nº 8.653, e ocupa uma área desapropriada de 150 mil metros quadrados. Em 1985 seu espaço físico passou por um processo de recuperação e reordenamento.
Cartão Postal (Foto 4) e endereço turístico importante da cidade a Lagoa, hoje, é também um ponto central de trafego de veículos e fluxo de habitantes da cidade que por lá passam, ou pegam ou saltam de transportes urbanos para deslocamento pelo Centro da cidade ou para ida a outros bairros. A área onde se localiza é responsável por parte considerável da movimentação econômica através as lojas de departamento, escritórios, bancos, barracas de lanches e bebidas e, principalmente por causa do comércio informal que se amplia dia a dia.
O jornal O Norte, de 20 de janeiro de 2004, afirma que por lá circulam diariamente mais de 2,5 mil automóveis e todas, ou quase todas, as linhas de ônibus da cidade, além de um fluxo diário de mais de oitenta mil pessoas. O que torna o local em um dos pontos mais agitado e movimentado da capital.
A Lagoa, no presente, é uma área disputada por pedestres, com paradas obrigatórias de todas as linhas de transporte coletivo que por lá passam, e carros, que cortam o Parque em várias direções e disputa o seu espaço como forma de estacionamento. É também um local com concentração de flanelinhas e desempregados.
Na circunvizinhança do Parque funciona um variado comércio e os principais serviços públicos da capital, bem como lá estão estabelecidas as principais lojas de departamento da cidade. É um espaço também de pequenos delitos[3] e de acúmulo do comércio informal.
A Lagoa é uma área de múltiplas formas de ocupação e presença. Ocupações e presenças que vão desde o fluxo contínuo de transeuntes, a pé ou em carro e transportes coletivos, até como um espaço de lazer para várias categorias de moradores, para namoro de colegiais e comerciários e, à noite, local de prostituição tanto masculina e feminina e de boêmios que vivem a madrugada, tanto quanto de local de dormida para moradores de rua.
O Parque, também, é um núcleo central de festividades oficiais da prefeitura e do estado: festejos de natal, São João, entre outros, também fazem do espaço um centro de referência da cidade. Na década de cinqüenta e sessenta a Lagoa foi palco de uma passagem obrigatória para os movimentos estudantis e atos políticos na cidade, bem como no decorrer dos anos finais da ditadura foi palco de comícios pela redemocratização do país e pelas eleições diretas (KOURY, 1983).
Continua ainda hoje a preencher e dar visibilidade às várias formas de ação reivindicativas, sociais, esportivas, políticas e eleitorais da cidade. Em tempos de eleições, serve de palanque para políticos e suas margens e calçadas são ocupadas por uma variada onda de bandeiras e faixas de vários candidatos. Todas as manifestações públicas, de acampamento de sem terra (Foto 5) e passeatas de protesto e reivindicação também por lá circulam, começam ou acabam. Manifestações cívicas e esportivas também têm seu lugar na lugar na Lagoa.
Como espaço turístico, cartão postal da cidade, com vários tipos de usos e contornos na atualidade e através do tempo, o Parque Sólon de Lucena é um espaço de memória afetiva (KOURY, 2003) e um dos ambientes mais significativos para o estudo sobre a relação entre moradores e áreas públicas em João Pessoa.
Percorri por várias vezes o espaço público do Parque Sólon de Lucena, recompondo todo o seu trajeto e mapeando as avenidas, ruas e becos que nele deságuam. Esta caminhada, em vários horários do dia, objetivou conhecer os tipos permanentes e temporários que usam ou trafegam pelo Parque, e conversar com algumas destas pessoas que por ele andam, nos vários horários.
Esse trajeto que aqui começo a narrar buscou apreender e acompanhar o movimento sempre variado e as formas de apropriação, temporárias e permanentes, da população que o freqüenta. Bem como os motivos de frequentá-lo, o que possibilitou uma percepção de vários olhares sobre o local trabalhado nos diversos momentos de sua utilização pelos informantes que se propuseram a comigo conversar.
Os horários da caminhada foram distribuídos em diversos momentos. De passeios matinais ao redor da Lagoa, dando conta do afluxo da população para mais um dia de estudo, comércio, serviços, compras, passeios, turismo, ponto de transferência de um ponto a outro da cidade e outras diversas formas de utilização do espaço, até o esvaziamento do centro da cidade e da Lagoa no final de mais um período diurno. A estada em campo nas noites procurou identificar as formas de ocupação noturna do espaço por boêmios, prostitutas, travestis e michês e poucos transeuntes em busca de transporte público ou passagem para outro local da cidade. As caminhadas, assim, se deram nos seguintes horários, das 06 às 09hs; das 09 às 12hs; das 12 às 18hs; das 18 às 20hs e das 20hs às 06 hs da manhã[4].
O Parque Sólon de Lucena, para uma melhor apreensão do pesquisador, foi dividido em cinco núcleos. Os núcleos foram baseados nos diversos canteiros que dão o formato, obtendo uma visão conjunta da Lagoa, e possibilitando a apreensão das diferentes formas de ocupação por núcleo.
O primeiro núcleo compreendeu a parte da Lagoa que vai da Avenida Getúlio Vargas a Avenida Miguel Couto, espaço que envolve o ambiente das paradas de ônibus e os quiosques; o segundo núcleo abrangeu a parte que vai da Avenida Miguel Couto até a Rua Padre Meira, o lugar de flanelinhas, pontos de estacionamento de veículos e quiosques e, à noite, local de boêmios e prostituição feminina[5]; o terceiro núcleo abarcou a parte que vai da Rua Padre Meira até a Rua Rodrigues de Carvalho, espaço reservado, durante o dia, aos negociantes de carros usados e, à noite, ponto de prostituição masculina; o quarto núcleo, que vai da Rua Rodrigues de Carvalho até a Avenida Getúlio Vargas, onde se encontra o conhecido Cassino da Lagoa; e o núcleo cinco, a calçada em torno do lençol de água da lagoa, chamado de Passeio da Lagoa, parte interna do Parque, onde os moradores da redondeza costumam fazer suas caminhadas (Mapa I).
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Frequentadores e transeuntes
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O Parque Sólon de Lucena é um pulsar de diversos tipos humanos que o freqüentam de formas diversas e períodos distintos, ali trafegam, trabalham, namoram ou, até mesmo, fazem de suas árvores dormitórios ou moradias.
São moradores do centro que fazem caminhadas matinais, aposentados que freqüentam os grupos de dominó, estudantes, namorados, cambistas, boêmios, prostitutas, travestis, trabalhadores de diversas profissões, taxistas, policiais, guardadores de carro conhecidos por flanelinhas, donos de quiosques e barracas, camelôs, políticos, moças e rapazes que fazem panfletagens nos períodos de eleição, meninos de rua, pedintes, turistas, transeuntes, - vistos de uma forma geral, como pessoas que freqüentam o local apenas de passagem, seja estacionando o carro, ou nas paradas de transportes coletivos (Foto 6), e ou esperando alguém, ou utilizando o serviço gratuito de ônibus para a orla marítima [6], entre outros.
A Lagoa, das 09 horas da manhã às 20 horas é um centro nervoso e agitado. Entre seus canteiros passam milhares de pessoas diariamente, possui um tráfego pesado que a circunda entre suas várias artérias, e uma variedade de tipos humanos que por lá circulam ou permanecem cotidianamente, de quase todos os bairros da cidade. À noite, fora os dias de festas e comemorações públicas, que atrai uma enormidade de pessoas, ganha uma aparente calma.
Os tipos que por lá transitam escasseiam e transmudam. Os quiosques, abertos vinte e quatro horas, começam a acolher trabalhadores que saem do trabalho e esticam um pouco sua permanência, - até as 21 hs, de segunda a quinta feira, e 22 e 24 horas na sexta feira, - na região Central da cidade onde se localiza o Parque, “jogando conversa fora” ou esperando diminuir o afluxo nos ônibus e transportes coletivos e retornarem a seus bairros.
Outros freqüentadores começam a usar o espaço a partir de então, e em certos horários de forma simultânea. Boêmios, que por lá trafegam durante toda à noite, prostitutas, travestis, michês e moradores de rua que dormem entre as árvores e nos bancos espalhados pelos diversos canteiros do Parque dão o novo colorido ao ambiente e um novo modo de apropriação do lugar.
O policiamento escasseia, a partir das 20 horas, e a Lagoa ganha um novo formato para os usuários da noite, com linguagem estética própria, que a diferencia e atemoriza o cidadão joãopessoense que a freqüenta nos períodos diurnos.
Nos finais de semana a ocupação diurna da Lagoa se distingue. O comércio fechado faz com que os freqüentadores habituais da semana fiquem em suas casas ou vão se divertir em outros locais, como a orla, seus bares, praia e shopping, ou outro Parque, como o Arruda Câmara, também conhecido como a bica, entre outras formas de inserção de descanso e lazer da cidade.
O local é, então, ocupado por grupos evangélicos que assumem vários canteiros do Parque em rodas de pregação, moradores em seus footings matinais e de final de tarde e alguns turistas, principalmente os vindo do interior do estado, passeiam pela Lagoa e usam os seus quiosques para almoçar ou lanchar com a família e tirar fotografias. A agitação, o trânsito e transeuntes diminuem. À noite, o comércio de prostituição masculina e feminina prossegue, a freqüência de boêmios, mendigos e meninos de rua diminui um pouco.
O Parque Sólon de Lucena, apesar de ser um dos locais mais agitados da cidade, tem uma peculiaridade na sua freqüência. Mesmo contanto com os transeuntes temporários, quem freqüenta ou transita o Parque, em sua maior parte, são indivíduos com até 10 salários mínimos de renda, isto é, com uma renda até três mil reais, e que estudam ou trabalham nas imediações do centro, ou que vão resolver negócios ou transações nas repartições públicas da cidade.
Com o desenvolvimento da orla marítima como não apenas local de moradia, mas também em comércio e lazer, a partir dos anos cinquenta e, principalmente a partir dos anos setenta do século passado, o centro da capital começou a passar por um processo de decadência. O seu comércio é áreas públicas de lazer hoje, são disputados, principalmente, pelas camadas populares da população da cidade, a classe média e média alta circulam principalmente pelos shoppings e áreas de lazer da orla.
O que não quer dizer que a cidade como um todo, grosso modo, não passe pelo Parque pelo menos uma vez por dia. No survey aplicado pelo GREM em apenas um único dia, durante todo o dia 04 de agosto de 2004, com uma amostra de 181 indivíduos, foram entrevistados moradores de cinqüenta e cinco bairros da cidade. Bairros situados e espalhados por toda a rede urbana que compõe o município de João Pessoa[7].
Os bairros considerados de classe média e média alta são 7,74% do total da amostra. Os demais bairros são de classes média baixa e popular. Somados dão um total de 72,38% dos freqüentadores do local entrevistados durante o survey.
Outra parcela de entrevistados é formada por moradores de cidades da região metropolitana que trabalham em João Pessoa, 18,78% dos entrevistados[8], ou moradores de cidades do interior paraibano em negócio ou passeio pela capital, 1,10%. Para os moradores da região metropolitana a Lagoa é sinônimo de trabalho, os entrevistados são, em sua maioria, camelôs ou trabalhadores diretos, garis, garçons, garçonetes, entre outros, do Parque. Para os das cidades do interior, o viver a Lagoa ou o ir visitar e freqüentar o Parque é um sinônimo de conhecer e viver a cidade. Ir a João Pessoa e não visitar a Lagoa é não ter estado na cidade.
Durante as minhas caminhadas durante a semana e fins de semana, conversei com vários interioranos deslumbrados pelo espaço físico do Parque Sólon de Lucena e da necessidade de tê-lo incluído em seu roteiro pela cidade. Vários ônibus com turistas aportam nos canteiros do Parque, principalmente nos fins de tarde, trazendo levas de turistas do interior que vêm conquistar a Lagoa.
É interessante notar que, mesmo os que se mudam para a capital, por alguns anos ainda registram a Lagoa como um ponto de encontro e lazer na cidade. Muitos dos que circulam nos finais de semana, ou mesmo durante a semana na cidade, fazem suas refeições nos quiosques da Lagoa, e “tomam uma cerveja com amigos” e familiares, ou marcam encontro tendo por referência o Parque. O Parque Sólon de Lucena, deste modo, para os moradores de outras cidades, é um ponto de referência da cidade e na cidade, um símbolo da capital.
Amor e desamor: a ambivalência da emoção pertença
É importante lembrar, contudo, que para o conjunto dos moradores da cidade o Parque Sólon de Lucena simboliza também um marco importante de reconhecimento de João Pessoa. Quando se pergunta sobre os pontos que são o rosto e a alma de João Pessoa, um dos primeiros a serem lembrados é o Parque, conhecido por a Lagoa.
Em um estudo realizado para obtenção do grau de mestre por Rossana Honorato (1999, p. 87), por exemplo, entre produtores culturais da cidade de João Pessoa, a resposta à questão dos pontos de referência que eram “a cara”, entre outros, esteve sempre presente a Lagoa. Como corrobora um dos seus informantes, o arquiteto Mario Di Láscio, “A Lagoa era uma poça d’água, foi urbanizada em 1937, eu já era rapazinho. Hoje é a cara de João Pessoa”.
Cartão postal, como muitos afirmam, embalados pela beleza do Parque decantado em todos os anúncios governamentais e de empresas de turismo sobre a capital, a Lagoa é também sinônimo de amor e desamor. O desamor se refere entre outros aspectos às intervenções municipais que modificaram o projeto original do Parque e a luta pela manutenção do seu desenho e estrutura ambiental, mesmo após o tombamento pelo Patrimônio Histórico na década de oitenta do século passado.
Refere-se também ao crescimento acelerado da cidade desde as últimas três décadas finais do século XX, com o aumento da intensidade do trânsito no local, bem como a tentativa de desfiguração do local com o alinhamento dos espaços de estacionamento de veículos e avanço nos canteiros do Parque modificando o seu aspecto, ou por ter o Parque se tornado um ponto de prostituição e ação de pequenos roubos. Refere-se também ao estranhamento que sentem quando vêem o Parque sendo utilizado por pessoas ou grupos que parecem não se reconhecer. Pelo anonimato da multidão que vaga pela área da Lagoa.
Muitos dos informantes falaram, também, evitar o Parque pela insegurança que o mesmo provoca no cidadão. A insegurança reflete-se em um plano moral, pela presença noturna e diurna, embora de uma forma um pouco menos visível, da prostituição masculina e feminina no local, como também em um plano físico, seja pelo número crescente de veículos que por lá trafegam, dificultando a vida dos pedestres, seja pelos acidentes (Foto 7), atropelamentos e invasões do espaço do Parque por motoristas que perderam a direção. A insegurança também se reflete nos pequenos furtos de carteiras e objetos pessoais, que incomodam e assombram a população que passa ou permanece na Lagoa.
Fala do desamor ao local, também, associado à decadência do lugar, pelos equipamentos urbanos lá instalados se encontrarem quebrados e sem manutenção, pela sujeira e o pelo odor do lugar. Mas não só os informantes falam da sujeira e do odor local, a própria mídia relata cotidianamente.
Em um irônico artigo, intitulado “Estrovenga e fedorentina”, o jornalista e cronista urbano da cidade de João Pessoa descreve o odor que emanava da Lagoa, no momento em que a prefeitura realizava um fórum sobre o Parque Sólon de Lucena, em outubro de 2001 (ARANHA, 2001). O joãopessoense associa o desamor, também, ao público que a freqüenta, associado quase sempre a pessoas consideradas como marginais, boêmios e vagabundos.
É interessante que, mesmo que vários informantes confirmem trafegar pela Lagoa uma ou mais de uma vez ao dia, alegam que são apenas transeuntes e não freqüentadores do Parque. Dissociam assim o estar lá do permanecer lá, e assim colocam um distanciamento entre si e os freqüentadores do local.
No estranhamento e separação, podendo colocar-se de fora e apontar o local como um lugar inseguro por culpa de quem o freqüenta. Afirmam que os que freqüentam são os outros, e imputam a esses outros uma parcela da decadência da Lagoa e culpam a administração da cidade por uma ação não eficaz na área de segurança e disciplinamento do lugar.
Os próprios moradores da região central, que freqüentam nas manhãs e finais de tarde o Passeio da Lagoa, realizando o footing, também fazem questão de demonstrar a insegurança do lugar e se dizem desamparados e com medo de agressão e assédio. Muitos destes, porém, asseguram a sua presença como uma forma de amor ao lugar e de amor à cidade. Um deles, inclusive foi enfático ao afirmar:
“É uma forma de resistência nós permanecermos a fazer nossa caminhada aqui no passeio. Lugar mais bonito impossível, já foi comparado as cinco maravilhas do mundo moderno e hoje é isso aí, sujeira, fedor, assaltos e atentados ao pudor. (...) Mas eu e minha mulher não largamos de vir aqui de manhãzinha e de tardinha, todo santo dia. É uma forma de dizer que o Parque é nosso, é uma forma de chamar a atenção para que cuidem dele, de sua beleza e ainda o coração verde da cidade”.
Outra forma de desamor está associada à decadência do centro de João Pessoa, e por extensão, do Parque. As ilhas nobres da cidade e o fluxo do comércio e lazer transferidos paulatinamente para a orla marítima, desde os anos sessenta do século passado, transformaram o centro em um lugar freqüentado por pessoas de baixo poder aquisitivo, as autoridades desviando os recursos de infra-estrutura para os ambientes nobres da capital e deixando o centro ao “Deus dará”.
Com este argumento alegam o descaso e a insegurança no local. É interessante notar, porém, que esta alegação faz parte do conjunto dos informantes perguntados sobre o porque do desamor e de não freqüentarem o Parque Sólon de Lucena. Neste contexto, até moradores de áreas periféricas e de baixo poder aquisitivo afirmam igualmente a insegurança e descaso com o local pela freqüência de pessoas menos nobres ao Parque, e por extensão ao centro.
Nesta referência ao menos nobre, contudo, está presente um valor moral embutido no aspecto de honestidade e trabalho. Os freqüentadores do Parque, assim, são aqueles vistos como suspeitos socialmente, vagabundos, ladrões, prostitutas e “desvalidos[9]” de um modo geral, e não aqueles que estão informando. Muitos, inclusive, possíveis de serem apontados por outros informantes dentro do cenário geral do que consideram os outros, os socialmente suspeitos.
O Parque Sólon de Lucena, todavia, é um local onde as interações amorosas e de apego ao lugar e a cidade se estabelece. Sua referência conota um aspecto importante de um sentimento de pertencer à cidade de João Pessoa, de ter em si o lugar. O Parque é sentido pela maioria dos informantes como um cartão postal da cidade. Um espaço turístico que marca e dá identidade a cidade e, por extensão, aos seus habitantes.
O Parque Sólon de Lucena, a Lagoa, é narrado, neste momento, através de um espelho afetivo que reflete a cidade e o lugar. A atualidade através do tempo identifica e compara vários tipos de usos, contornos e valorações, e a Lagoa torna-se um espaço de memórias afetivas.
O que acaba mostrando os diversos usos do espaço e os contornos de sua ocupação e a inter-relação entre os usuários e freqüentadores, e obviamente suas redes de relações sociais. Os informantes, então, identificam e narram o lugar de uma forma e de um jeito únicos, que qualificam sua individualidade enquanto cidadãos e ao mesmo tempo, revelam o hábito, a tradição, e o costume que o faz membro de um todo.
O sentimento de pertença está relacionado à aproximação e ligação com o local de origem. É uma idéia de enraizamento, onde o indivíduo constrói e é construído, planeja e se sente parte de um projeto, modifica e é por ele modificado. Como declarou um dos informantes sobre o Parque e por extensão á cidade de João Pessoa,
“Há momentos em que eu sou tomado por um emaranhado de lembranças que me fazem dissertar sobre cada pedaço desse meu chão. Nestes meus sessenta e quatro anos de vida acompanhei muito do crescimento desta cidade. Eu lembro de quando criança brincava entre as árvores da Lagoa, lembro das minhas escapadas do Liceu para fumar e conversar com meus colegas, ah, como eu lembro! ... Eu lembro das idas com a família ao Cassino da Lagoa, lembro dos passeios com a minha noiva e depois com os meus filhos pequenos. Eu lembro da Lagoa se transformando em comércio ao redor, as famílias se mudando... eu lembro da cidade crescendo e se estendendo em direção a praia, em direção ao sul, lembro depois, já casado e com filhos, me mudando com a família para o bairro de Castelo Branco, lembro me dirigindo ao Paraiban anos a fio até a minha aposentadoria e sempre passando por aqui pela Lagoa, antes e depois do expediente”.
E continua:
“A Lagoa, assim, faz parte sempre da minha vida. Até hoje, eu saio toda manhã para cá para ver os amigos que sobraram. Para jogar conversa fora e jogar dominó. Tenho medo que esse espaço seja destruído. Ele já não é mais aquele do meu tempo, embora tombado o Parque é uma área muito cobiçada e uma área muito maltratada pelo poder público, que mal cuida dos seus jardins, mal cuida da limpeza, e pelos cidadãos que não respeitam o sagrado, a importância deste lugar para a cidade. Eu vejo a Lagoa, assim, e vejo nela refletida a minha vida e a da minha cidade, a Lagoa é um lugar que cabe dentro de mim”.
A emoção de fazer parte, de pertencer, neste sentido, ultrapassa as barreiras do desagrado. As críticas ao lugar tornam-se uma espécie de querer bem, de alertar a degradação, de reclamar a falta de cuidado, o desmazelo do Parque que traz consigo na memória, no coração, isto é, na memória afetiva também chamada de coração.
Os mais velhos retornam e retomam o lugar para rever amigos e recordar, e na recordação comparam e sentem receio de não ver mais a Lagoa de sua imaginação, de sua experiência do passado. Têm medo de ver a Lagoa destruída, e olham o processo de ocupação atual do lugar com certo estranhamento, por não mais reconhecerem nas pessoas que a freqüentam o núcleo básico das tradições que fundaram a sua curva de vida.
Suas reflexões então soam com um misto de sentimentalismo e medo. Soam também como uma experiência sempre pronta a ser narrada a quem quiser ouvir (e dela tirar proveito). Os mais novos, por sua vez, vêem a Lagoa com certo desdém jovem, ou a remetem ao cenário de namoros ou como passagem obrigatória, menos como local, por eles considerados como de freqüência e lazer, vistos como algo que os desclassifica enquanto habitante da cidade.
O lugar de lazer é a orla, seus bares, o shopping, os cinemas. Porém, ao falarem da importância da Lagoa para a cidade, remetem sempre ao aspecto turístico do lugar e a imagem de cartão postal, e aí se identificam com o lugar como um dos espaços mais bonitos da cidade, e falam da falta de infra-estrutura, da insegurança do lugar com um sotaque afetuoso, de morador zeloso que gostaria de ver restabelecido a importância que o lugar merece na cidade.
Os comerciantes radicados no Parque, desde os estabelecidos nos quiosques oficiais até os camelôs que inundam o local com o seu comércio variado falam da importância do Parque para a cidade e para o comércio local. Criticam, porém, da falta de infra-estrutura, da falta constante de limpeza, da insegurança do lugar. Os estabelecidos, oficiais, reclamam e acusam os camelôs da decadência do Parque, da sujeira e do ambiente de suspeita sobre o lugar.
Os camelôs acusam os comerciantes estabelecidos de modificarem clandestinamente a estrutura dos jardins do Parque em benefício da expansão de seus negócios, desfigurando o lugar. Acusam também de os jogarem contra o poder público e a polícia, e amedrontarem os cidadãos que circulam no local. Uns e outros, porém, vêem o Parque como um sinônimo de sobrevivência, e é desta relação comercial que constroem as suas narrativas sobre o lugar.
O policial com quem conversei, falou sobre sua meninice no Parque. Como morador do bairro do Roger[10] sempre freqüentou o Parque desde tenra idade, foi lá que, como disse, “me tornei homem”, em uma noite de São João[11] com uma turma de amigos, com duas prostitutas que faziam ponto em um dos canteiros do Parque. “Foi entre as árvores do Parque mesmo”, disse ele. Quando está de folga freqüenta o Parque, ainda bebe umas cervejas com os amigos nos quiosques espalhados, ainda pega “umas meninas” por lá.
Quando perguntei sobre os problemas do Parque ele informou que em questão de violência o Parque não é um dos locais mais perigosos da cidade, embora seja temido pelos populares que o freqüentam. Acredita que os temores da população são motivados pela existência do que ele chama de “pequenos meliantes”, “espertos que cuidam do descuido alheio, principalmente, das senhoras e das pessoas idosas”, “são roubos de bolsa, de carteira, vez ou outra da pensão de um velhinho, e por aí”.
Conta cenas de perseguições a “esses elementos” que terminam, na maior parte dos casos, nos perseguidos se jogando nas águas da Lagoa tentando escapar da perseguição e, muitas vezes, “aí é que dão trabalho para serem resgatados de lá”, seja pela lama no fundo da lagoa, seja pelo tempo perdido até a sua rendição. No jornal O Norte, de 20 de outubro de 2003, foi noticiado uma das cenas comentadas pelo informante. Diz a manchete: “Assaltante é perseguido pela população e se joga na Lagoa”, e relata o fato de um rapaz de dezoito anos, após tentar roubar a bolsa de uma senhora e ser perseguido por policiais e por populares, se jogar na Lagoa, e as peripécias do ato até a chegada do corpo de bombeiros e a retirada e prisão do rapaz.
Conta que fora os pequenos furtos e agressões, de cenas de desordem e bebedeiras, a Lagoa não é palco de grandes violências. À noite, a turma dos “travecos” e “piranhas” às vezes dão uma limpa nos “descuidados” que chegam até eles, mas é um ou outro caso, pois a turma que freqüenta mesmo vai em grupo e já são conhecidos das “moças”.
Para o informante, os que dão mais trabalho são “as turmas que puxam um fumo”, na maioria “rapazes e poucas moças ali do Liceu que se junta com uns desocupados que passam o dia rolando pelo Parque”. Segundo o informante, “dão trabalho mais pelo barulho que fazem e as brincadeiras que fazem, assustando os transeuntes e espantando a freguesia dos comerciantes da região. Mas tudo fogo de palha...”.
Na fala do policial, assim, o Parque também é vivenciado e lido através da memória afetiva, de um lugar que o viu crescer e de que ele hoje também é parte de sua manutenção, como lugar seguro. É através destas imagens que decodifica o seu limite e o freqüentador, ao mesmo tempo extensão de seu lazer e de seu fazer, simultaneamente lugar de identificação de laços pessoais com outros freqüentadores de agora ou de antes do lugar, e lugar também de tipologia e identidade de pessoas e grupos sob a ótica da segurança local.
As prostitutas, quase sempre moças vindas do interior do estado ou moradoras da periferia da cidade, freqüentam o Parque durante todo o dia, mas assumem o local quando chega à noite, o comércio fecha as portas e o público maior já retornou para suas casas. Ocupam alguns canteiros do Parque, perto dos quiosques e levam os seus fregueses para os hotéis e pensões baratos ao redor do Parque ou para o aconchego de suas árvores. A freguesia é constituída, principalmente, de trabalhadores, comerciários, bancários, camelôs e de serviços gerais que tem o centro como local de trabalho e, muitas vezes, moradia.
Os travestis são um grupo à parte. Usam os canteiros da Lagoa em profusão, quase nus invadem os anéis viários que circundam o Parque durante todos os dias a partir das 22 horas. São conhecidos pelas performances que costumam realizar, bem como, pelos roubos e pequenos delitos que submetem às vitimas que chegam até eles desavisadas. A maior parte deles são de rapazes pobres que usam a prostituição como sobrevivência.
Ao conversar com algumas prostitutas e travestis que vivem à noite do Parque e lá fazem seu ponto de trabalho, eles revelam também a sua vinculação afetiva ao local, embora, muitas vezes, associado aos diversos tipos de descriminação e repressão por parte das rondas noturnas policiais e da população em geral. Mas se acham “a cara da Lagoa”, sem eles, para eles, à noite, “a Lagoa não seria a Lagoa”, como afirmou com euforia um dos informantes.
Não se vêem como um grupo perigoso, acham que esta visão é mais
“uma arma preconceituosa contra nosso trabalho e forma de vida, se o negócio é com a gente travesti então é que a coisa fica braba. Chamam a gente de tudo e, às vezes vêem em bando querendo tirar sarro de nós, dar na gente, quando não comem e não querem pagar. Aí vai o troco. A gente se defende apenas. Tamos fazendo o nosso trabalho e se vem uns caras querendo engrossar a gente engrossa junto”.
As prostitutas atuam isoladas, olhadas de perto pelos seus “donos”, circulando pelas mesas dos quiosques, ou paradas nas marquises das lojas de departamento fechadas, ou nos bancos dos canteiros do Parque. São sempre ariscas com novas candidatas a fazerem ponto no local, muitas delas agredidas e o dinheiro conseguido na noite tomado. É mais difícil uma nova mulher assumir o ponto local, do que entre os travestis.
Mais do que as prostitutas, os travestis formam um bloco coeso, se agrupam em um só canteiro do Parque, todos se conhecem e marcam o ponto. Novos pretendentes ao lugar, por sua vez, passam por determinados “vexames”, quase uma prova, antes de serem aceitos e começarem a usar o ambiente comum. Enquanto não acontece ficam às margens do núcleo central onde se instala o comércio homossexual e não recebem a proteção do grupo, pelo contrário, muitas vezes são perseguidos pelos próprios travestis locais, que tomam sua “féria”, ou os apurados da noite[12].
Como os travestis, se acham “a cara da Lagoa”, e muito do que se fala da Lagoa hoje reflete o colorido que impregnam ao local. Acha que não incomodam ninguém, fazem os seus trabalhos, mas se as pessoas “mexem com a gente leva o troco”.
Às vezes existem rusgas entre prostitutas e travestis, às vezes se unem contra agressores. No conjunto, fazem à noite local junto com os boêmios, os comerciantes e trabalhadores dos quiosques, mendigos, moradores de rua e alguns transeuntes que por lá trafegam ou usuários de transportes urbanos que chegam no ponto de ônibus durante o final da noite e madrugada (Foto 8).
Quando o sol começa a tomar conta da Lagoa, os seres noturnos começam a dar lugar a mais um dia de caminhada pelo passeio do Parque, de chegada para o trabalho, para as compras ou estudo, para o tráfego que começa a aumentar, para o burburinho e diversas sonoridades que vai invadindo o espaço, até chegar ao seu auge entre dez da manhã às oito da noite, quando se reinicia mais esvaziamento da cidade e mais um turno da noite no Parque.
Conclusão
O Parque Sólon de Lucena, como se pode ver até agora pelas descrições, é de muitas vozes, é um lugar polifônico de onde se ouve quase toda a cidade. O burburinho que alimenta a Lagoa, deste modo, é composto pelos diversos usos que atravessam o local no cotidiano da cidade. Formas de apropriação do espaço que vão gerando núcleos de construção imaginária e real sobre o lugar e a sua significação para a cidade e para a vida de cada um que nela habita.
Que vão compondo um painel afetivo, de relações delicadas recheadas de amor e desamor, preocupação e indiferença, participação ou anomia, presença física no Parque e negação de freqüentá-lo, grupos que se sentem incluídos no espaço da Lagoa e os que se sentem excluídos, grupos que se sentem excluídos do espaço da cidade, mas que se acham a cara da Lagoa, apesar da perseguição da cidade.
Relações multiformes, enfim, embora sempre ambivalentes, na maior parte das vezes polares, norteiam os sentidos e emoções do joãopessoense com o Parque Sólon de Lucena. Preenche o significado do querer a cidade, de referendar a cidade que queriam ter, seus ápices, suas diversas faces, - onde a Lagoa sempre está presente como uma das mais importantes, - seus desvelos, e o sentimento quase naturalizado de quase perda, misto de indiferença e quase desamor, pela degradação que o espaço está sujeito, ou porque o mesmo já não é aquele vivido no tempo vivido pelo morador, ou sonhado por outro como deveria ser. O espaço do Parque, contudo, está presente na memória visual e afetiva da cidade.
Em uma rápida excursão pela Internet, o viajante encontra mais de novecentas páginas que retratam o cartão postal Lagoa e declaram o seu amor, a sua preocupação e críticas, mas de todas emanam os vínculos de pertença ao lugar. É importante frisar que, a maior parte delas, traduz a imagem oficial da cidade, através de sites do governo estadual e municipal, mas muitas delas indicam apenas o afeto com o local, mesmo que povoadas, às vezes, de preocupações e provocações irônicas da degradação ou da mudança de costumes na cidade e, aqui, principalmente, no Parque Sólon de Lucena, a Lagoa.
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Referências Bibliográficas
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ARANHA, Carlos. Estrovenga e fedorentina. Informativo Para'iwa, João Pessoa, 05 de outubro de 2001.

LEITÃO, Cláudia, Org. Gestão Cultural: significados e dilemas na contemporaneidade. Fortaleza, Banco do Nordeste, 2003.

HONORATO, Rossana. Se essa cidade fosse minha... A experiência urbana na experiência dos produtores culturais de João Pessoa. João Pessoa, Ed. Universitária, 1999.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Medos Corriqueiros: a construção social da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na contemporaneidade. Projeto de pesquisa. João Pessoa, GREM / DCS / UFPB, 2001.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. O local enquanto elemento intrínseco da pertença. In: Cláudia Leitão (Org.), Gestão Cultural: significados e dilemas na contemporaneidade. Fortaleza, Banco do Nordeste, 2003.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Parque Sólon de Lucena: espaço público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade. Projeto de extensão. João Pessoa, GREM / DCS / PROBEX-PRAC /UFPB, 2004.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Rastros de Tragédia: os movimentos sociais na Paraíba. João Pessoa, Textos UFPB-NDIHR, n. 01, 1983.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Trabalho e disciplina. Os homens pobres nas cidades do Nordeste – 1889-1920. In: Vários Autores, Relações de Trabalho e Relações de Poder: mudanças e permanências, v. 1. Fortaleza, Banco do Nordeste, 2003.

MAIA, Doralice Sátyro. Tempos Lentos na Cidade: permanências e transformações dos costumes rurais em João Pessoa – PB. Tese. São Paulo, USP, 2000.

Artigos de Jornais:

Lagoa: cartão postal da cidade. O Norte, João Pessoa, 20 de janeiro de 2004 (http://www.onorteonline.com.br/paraiba/) (lido em 04/09/2004).
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Notas
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[1] Este artigo apresenta as primeiras discussões da pesquisa de campo do projeto de extensão “Parque Sólon de Lucena: espaço público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade” (KOURY, 2004) - que tem como base a pesquisa “Medos Corriqueiros: a construção social da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na contemporaneidade” (KOURY, 2001). Os dois projetos encontram-se em desenvolvimento no GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia da Emoção, sob coordenação do Professor Mauro Guilherme Pinheiro Koury.

[2] Os irerês (Dendrocygna viduata) são aves migratórias e estão presentes em todo o Brasil, e também na África. Os adultos, de aproximadamente 44 cm, possuem uma máscara branca, asas negras bicos e pés escuros. São mais ativos ao entardecer, quando sobrevoam assobiando, principalmente durante as chuvas. Durante o dia, descansam em bandos pequenos, permanecendo de pé à beira dos lagos, onde se alimentam. (Lido em http://www.terra.com.br/avesmigratórias/, em 09/09/2004).

[3] Notícias de prisões por motivos de pequenos furtos, desordem, brigas, bebedeiras, atentado ao pudor, agressão verbal, desacato, acontecidas no Parque são freqüentemente registradas pela impressa local. Ver, por exemplo, o jornal O Norte, João Pessoa, de 19 de junho e 20 de outubro de 2003.
[4] No dia 04 de agosto de 2004 foi aplicado, também, pelos do curso de Ciências Sociais da UFPB, bolsistas e estagiários do GREM, Patrick César da Silva, Ana Karolina de Araújo, Clara Bezerril Câmara e Alexandre Paz de Almeida, com supervisão de campo pela pesquisadora do GREM, Professora Maria Sandra Rodrigues dos Santos, sob a minha orientação, um survey entre os passantes e freqüentadores do Parque Sólon de Lucena. O survey foi aplicado nos turnos diurnos, manhã e tarde, de ocupação, e teve a finalidade de mapear as formas de percepção e uso do Parque através da categoria de pertença.
[5] É bom frisar que a prostituição feminina está presente em todos os núcleos do Parque, durante a maior parte do dia. Á noite é onde o espaço de prostituição, porém, fica mais visível.
[6] Existe um ônibus do Manaira Shopping para transportar, gratuitamente, pessoas que querem ir ao Shopping fazer compras.
[7] A população entrevistada no survey o Parque Sólon de Lucena é moradora dos bairros: Torre, Treze de Maio, Expedicionários, Jaguaribe, Mandacaru, Roger, Varadouro, Ilha do Bispo, Tambiá, Padre Zé, Alto do Mateus e Centro, Castelo Branco, Miramar, Estados, Ernani Satyro, Bancários, Cidade Universitária, Jardim Luna e Ipês Mangabeira, Cristo, Geisel, José Américo, Valentina e Jardim Planalto Funcionários I, II, III e IV, Cruz das Armas, Industrias, Distrito Mecânico, Costa e Silva, Novais, Esplanada, Rangel, Jardim São Paulo, Bessa, Manaira.

[8] Bayeux, Cabedelo, Conde e Santa Rita.
[9] O termo desvalido utilizado por dois informantes fala sobre uma questão moral da exclusão social importante de ser pensada. Desempregados, viciados – em álcool e droga, meninos de rua, entre outras categorias são vistas pelo aspecto moral de pessoas menores socialmente e que precisam de proteção institucional para uma possível reintegração social, antes que “afundem de vez no lodo sem volta da marginalidade”. É uma visão compartilhada, principalmente por pessoas e grupos de pessoas com tendência a uma moral religiosa, seja evangélica, seja católica carismática, entrevistadas durante a estada em campo.
[10] Bairro popular e central da cidade de João Pessoa.
[11] Desde os anos oitenta as festas de São João têm comemoração oficial, com bandas e barracas de comida típicas no Parque Sólon de Lucena.
[12] Conversei com membros de uma organização não governamental, a Mel, que trabalha com a questão da dignidade homossexual e dá apoio logístico aos travestis e michês da noite joãopessoense. De acordo com a Mel, os travestis da Lagoa são, em sua maior parte oriundos do interior do estado e de bairros pobres da periferia da cidade. A noite é o único recurso da sobrevivência. Embora informados pelas doenças venéreas, muitos deles por um pouco de dinheiro a mais não usam proteção. Muitos já morreram ou estão contaminados pelos mais diversos tipos de doenças sexualmente transmissíveis. O apoio logístico da Mel é, de um lado, estabelecer bases de informação e ajuda na questão de saúde e em relação ao estigma social. Mas, segundo os próprios organizadores da entidade, o acesso é ainda muito restrito, embora o universo homossexual de João Pessoa já os respeitem como movimento social. O mesmo ocorre com a associação que lida com a questão da prostituição feminina. Estas falam das agressões de que são vítimas as mulheres que se dedicam ao ofício e, que o ambiente da prostituição da Lagoa é um dos mais severos da cidade.
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Fotos e Mapas
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Foto 1 – A Lagoa (dos Irerês) antes da urbanização e de se tornar Parque Sólon de Lucena (Créditos: Walfredo Rodriguez)
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Foto 2 - Parque Sólon de Lucena nos anos quarenta (Foto: Luiz Farias).
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Foto 3 - O traçado do Parque Sólon de Lucena tendo como centro o espelho d’água da lagoa. (Créditos: PBTUR)
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Foto 4 – Vista aérea atua do Parque Sólon de Lucena (Foto: Mazaomi Mochizuki).
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Foto 5 - Acampamento na Lagoa pelo MST. (Crédito: Jornal O Norte On-line, de 12 de abril de 2004).
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Mapa 1 - Mapa do Parque Sólon de Lucena. (Créditos: http://www.terra.com.br/mapas/ - retirado em 09/09/2004)
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Foto 6 - Uma das paradas de ônibus no Parque Sólon de Lucena (Foto: Mano de Carvalho – Agência Ensaio)
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Foto 7 - Veículo pega fogo após bater em palmeira imperial da Lagoa. (Créditos: O NORTE On-line de 07 de agosto de 2003)

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Foto 8 – A Lagoa de madrugada. (Foto: Leandro Neves)

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Este artigo, com algumas reformulações foi publicado:

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Pertença e uso do espaço público: um passeio através do Parque Sólon de Lucena. Revista Studium, n. 19, ISSN 1519-4388, Instituto de Artes, Unicamp, 2005. http://www.studium.iar.unicamp.br/19/06.html

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Um passeio através do Parque Sólon de Lucena. Uma narrativa sobre a emoção pertencer e uso do espaço público. Os Urbanitas. Revista de Antropologia Urbana, vol. 2, n. 2, ISSN 1806-0528, NAU Núcleo de Antropologia Urbana, USP, 2005. http://www.aguaforte.com/osurbanitas2/Koury.html

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