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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dois artigos sobre Medos Urbanos publicados na revista E do SESC-SP em 2008.

Revista E: Medos Urbanos . Artigos dos Professores Nancy Cardia e Mauro Koury
Revista E (SESC-SP). Nº134 - Julho de 2008

Andar sozinho pelas ruas à noite, parar no farol vermelho de madrugada, ser abordado por estranhos, sair de casa com objetos de valor. O que poderia ser definido como hábitos comuns se torna práticas de risco diante dos atuais índices de violência. O principal efeito dessa transformação é a instituição de um verdadeiro estado de pânico – sobretudo nas grandes cidades. "A presença do medo da violência dentro de uma sociedade tem profundo impacto sobre a vida social, cultural, econômica e política de um país", afirma a coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) Nancy Cárdia. Para o antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba Mauro Guilherme Pinheiro Koury o sentimento pode levar o indivíduo a uma clausura social. "Sobretudo de classe média, que tem dificuldades de relacionamento e sentimento de solidão amplificado". A seguir a integra dos artigos dos dois especialistas que analisam os danos, em diversas dimensões, de uma sociedade assombrada.
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"Medos urbanos"
por Nancy Cárdia
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Quando falamos de medo urbano estamos, em geral, nos referindo a um tipo de medo: o medo da violência. Esse medo se refere tanto ao medo de ser vítima da violência criminal, como da violência interpessoal, motivada por qualquer tipo de conflito ou desentendimento entre desconhecidos, e por fim o medo por outros, isto é, o medo de que parentes sejam vítimas da violência, em especial da violência criminal (também conhecido como medo altruísta). A presença do medo da violência, dentro de uma sociedade, tem profundo impacto sobre a vida social, cultural, econômica e política de um país. Reduz a disposição das pessoas para ações coletivas, aumentando a desconfiança entre elas, inibindo o exercício de capital social, porque o reduz o diálogo e, portanto, a identificação de que problemas são compartilhados, afetando ainda o exercício da solidariedade.

Além disso, o medo inibe investimentos econômicos, onerando tais investimentos e drenando recursos de setores produtivos para a segurança de pessoas e/ou de empreendimentos, entre outros. Afeta a vida social, introduzindo a necessidade do planejamento e do monitoramento de atividades rotineiras, de modo a reduzir a percepção de risco de serem vítimas de violência e resultando em restrições de comportamentos. O medo da violência tem ainda impacto sobre a política, visto que se atribui aos governantes a maior parte da responsabilidade por sua redução, entrando, assim, na agenda política, quer como bandeira em campanhas políticas, quer como exigência da população – e, quando isso ocorre, pode ser manipulado para se justificar a adoção de medidas arbitrárias, contanto que dêem a sensação de que serão capazes de reduzir o medo.
Para os governantes, um dos grandes desafios que o medo da violência apresenta é que, uma vez instalado em uma sociedade, ele não desaparece com a simples melhora das estatísticas oficiais, isto é, com a redução da violência criminal, registrada pelos órgãos encarregados da segurança pública. As estatísticas oficiais podem apresentar uma forte queda, como ocorreu em São Paulo no caso dos homicídios (que nos últimos seis anos teriam se reduzido à metade do que eram em 2000) sem que o medo sofra uma redução semelhante. Como podemos afirmar que o medo permanece alto? Várias pesquisas de opinião conduzidas com a população revelam que a violência continua sendo um dos principais problemas para a população de São Paulo, a indústria da segurança privada continua a crescer acima do crescimento da economia, e os prêmios de seguro por bens de consumo duradouro e propriedade continuam elevados.

Mas isso não basta para dizer que o medo continua alto, não fora o fato de que o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV) realiza pesquisas na cidade de São Paulo, para monitorar os efeitos do contato com a violência sobre uma série de fatores, há nove anos coletando dados especificamente sobre o medo e sobre as providências adotadas pela população para reduzir sua insegurança. Esses dados demonstram que, ao longo desse período, o medo não desapareceu. Não só a população continua a ter medo como até cresce sua disposição a pagar por itens de segurança privada: monitoramento eletrônico, vigilância eletrônica, serviços de escolta, blindagem de veículos, uso de helicópteros, moradias em condomínios (horizontais e verticais) que utilizam a segurança como principal atrativo e prêmios de seguros.

Qual o tamanho do medo e o que explica sua não-redução, na medida em que caem os números dos homicídios? Nossas pesquisas revelam que, entre 2001 e 2006, de 1/5 a 1/3 da população da cidade de São Paulo não se sentiu segura para andar, durante o dia, por ruas de seu bairro. Os dados mostram ainda que cerca de 10% da população não sai à noite por medo, sendo que o percentual máximo de pessoas que declarou "sentir-se muito segura" para sair à noite foi 6%.

A insegurança ao sair à noite afetava a maioria dos moradores da cidade (51%), mas esse percentual já fora maior, havia atingido 60% em 2003. Nossos dados surpreendem porque o medo é disseminado: é sentido por jovens, jovens adultos, adultos e pessoas acima dos 60 anos, por homens e mulheres, moradores de áreas de alta renda, de renda média e de baixa renda. Parece ser universal e é maior quando há mais experiência com vitimização violenta, isto é, quanto mais as pessoas são vítimas de delitos violentos, em particular roubo à mão armada, maior é o medo que fica como seqüela da experiência. Deve-se lembrar que as pessoas são vítimas não só quando são o alvo da agressão ou do delito, mas também quando os assistem, ou ainda quando as vítimas são seus parentes próximos. Vale lembrar que esse estudo do NEV tem demonstrado que é alto o número de pessoas vítimas "alguma vez na vida" de roubo com o uso de uma arma de fogo: 1 em cada 4 pessoas da cidade já teve essa experiência na vida.

Se os efeitos do contato com a violência não desaparecem com a queda nos registros dos homicídios, isso se deverá à combinação de fatos: nem todos os delitos considerados graves pela população diminuem; há um efeito acumulado de experiências negativas que não são facilmente apagadas da memória das pessoas; isso se soma a condições ambientais que estimulam o medo, tais como: o abandono de certas regiões da cidade, consumo e venda de drogas e álcool em vias públicas, iluminação pública deficiente, prédios abandonados, veículos abandonados em vias públicas etc. Todos são sinais da ausência de um poder público que aplique as leis e que favorecem a manutenção do medo. Assim, o medo não é conseqüência só da experiência de ter sido vítima da violência, mas também da presença nos locais por onde há indícios de desordem e abandono.

O medo, combinado com a sensação de ausência de um poder público capaz de prover segurança coletiva e com a impotência dos cidadãos para exercer controle sobre as autoridades, estimula a adoção de estratégias individuais para diminuir o risco percebido de serem vítimas da violência ou pior, de que seus parentes próximos o sejam.
As pessoas adotam estratégias de sobrevivência cônscias de que estas não substituem o papel do Estado. A abrangência e a diversidade das medidas variam de acordo com o poder aquisitivo. As mais freqüentes se referem a mudanças de rotinas: evitar sair à noite, mudar o trajeto de casa para trabalho ou escola, deixar de usar linha de ônibus, ou evitar andar com dinheiro. Outras freqüentes se referem a aumentar a segurança da moradia: subir muros, colocar grades nas janelas, arrumar um cão de guarda (haja vista a proliferação de cães ferozes pit bulls, rottweillers e outros não devidamente treinados e mantidos nas periferias dos centros urbanos ocasionando os acidentes fatais que daí decorrem) ou colocar cadeados em portões. Outras medidas, que exigem maiores investimentos, como a instalação de alarmes, porteiros eletrônicos e vigilância eletrônica são adotadas por menos de 10% da população, porém observamos que, à medida que caem os preços, vem crescendo a adoção desses equipamentos em toda a cidade, inclusive nos bairros de menor renda. O distanciamento de vizinhos, evitando conversas entre si, ou que seus filhos brinquem uns com os outros, ocorre com menor freqüência. O aspecto da vida social que parece ser mais afetado é aquele entre pessoas que não se conhecem: se ao menos 20% da população não se sente segura para caminhar por ruas do seu bairro, durante o dia, pode-se inferir que dificilmente haverá oportunidade para que pessoas do bairro se conheçam. Quando a população evita as ruas, elas ficam vazias, o que aumenta a oportunidade para que ocorram delitos. Não é só a possibilidade de contato entre vizinhos mais distantes que é afetada, a saúde física das pessoas sofrerá, como testemunham vários estudos que comprovam que o medo da violência impede que crianças, jovens e idosos usem espaços públicos para exercícios físicos, sendo isso considerado como um dos fatores responsáveis pelo crescimento da obesidade infantil e juvenil.

Se o medo não parece afetar a relação entre vizinhos próximos, mas reduz as oportunidades de contato entre moradores de um bairro, ele também afeta a percepção de civilidade: quanto maior o medo, maior a tendência por parte das pessoas de identificarem, dentro de seus bairros, comportamentos incivis: lixo jogado em áreas públicas, brigas em locais públicos, uso de linguagem ofensiva entre pessoas em vias públicas etc. Mais grave ainda é o fato de que, nessas condições, há menor percepção de disposição dos moradores de agirem em defesa da comunidade ou de grupos mais frágeis dentro da comunidade, como crianças e idosos. Isso é o que o estudo do NEV vem demonstrando: maior o medo, menor a disposição para ação coletiva em defesa da comunidade e menor a sensação de que as pessoas fazem parte de uma comunidade. Se o bairro é apenas um lugar para morar, sem vínculos afetivos, haverá pouca disposição para agir em sua defesa. Assim, o círculo vicioso é mantido: com medo, as pessoas se retraem e continuam a buscar estratégias individuais de proteção, ainda que saibam que estas não serão suficientes para lhes devolver a tranqüilidade que tanto anseiam. O que reduz o medo é a sensação de que a comunidade detém o poder de exercer controle social, e esta exige, por sua vez, diálogo com os encarregados de aplicar as leis e com a administração local, para que aquelas condições que reforçam o medo dentro da comunidade sejam reduzidas.

"Para os governantes, um dos grandes desafios que o medo da violência apresenta é que, uma vez instalado em uma sociedade, este não desaparece com a simples melhora das estatísticas oficiais".

Nancy Cardia é coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP)

Apesar de estarmos nos referindo aos medos urbanos, devemos ter em mente que hoje em dia esses medos não são um fenômeno exclusivo dos grandes centros urbanos, afetando também moradores de cidades de médio e pequeno porte e até mesmo moradores de áreas urbanas localizadas nas proximidades de grandes regiões metropolitanas.
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"Cultura do medo e juventude: uma análise do Brasil atual"
por Mauro Guilherme Pinheiro Koury
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O medo do outro no Brasil atual parece enclausurar a pessoa, sobretudo de classe média, que tem dificuldades de relacionamento e sentimento de solidão amplificado, provocando uma sensação nostálgica do que passou, de um tempo que não volta mais, em que os vizinhos se comunicavam entre si, havia mais cordialidade e menos agressividade.O entorno das moradias vem se tornando, real ou imaginariamente, ameaçador; os habitantes mais pobres da cidade são evitados e objetificados por meio de uma ótica perversa, construída pela cultura do medo, como 'marginais', como delinqüentes. O sentido da violência torna-se, desse modo, endêmico, banalizando a vida e tornando o ato de viver um instrumento de segurança pessoal e privada. De forma simultânea, as mortes violentas e as chacinas começam a se tornar toleráveis, e não provocam mais indignação e são até mesmo desejadas como forma de diminuição das ameaças pessoais.

De acordo com uma pesquisa recente realizada pelo Sebrae, 63% dos entrevistados nas capitais e regiões metropolitanas brasileiras, com idade entre 15 e 24 anos, demonstraram preocupação com a violência e com a falta de segurança no país (Jornal do Comércio, 21/02/2008), o que parece sinalizar para uma descrença nas políticas públicas nacionais e para um receio pessoal crescente de freqüentar espaços públicos, ou mesmo de aproximar-se de outros cidadãos, principalmente de jovens como eles próprios. Embora reforcem o medo nos indivíduos jovens de classes mais baixas, o receio estende-se a todos os jovens de camada social igual ou mesmo superior.

A cultura do medo parece vir construindo uma barreira invisível que separa e isola as pessoas, e as faz temer tudo e todos, deixando de confiar no outro. Entre os jovens, esse embaraço ganha contornos mais nítidos, pois está associado a um distanciamento maior e cada vez mais alongado do poder de consumo, que vai desde o tempo e a qualidade da educação formal, à questão da inserção no mercado de trabalho precoce e cada vez mais difícil, até a aquisição de objetos de moda, o que amplia a distância entre classes, com a exclusão e banalização dos miseráveis, ao mesmo tempo em que, também, demanda um estranhamento geral, já que jovens de classe média baixa e, às vezes, alta são cada vez mais apontados como executores de atos de delinqüência juvenil.

Atos que se estendem da participação em roubos e furtos, espancamentos de outros jovens, envolvimento com drogas, não apenas como consumidores, mas também como integrantes do tráfico (Folha de S.Paulo, 12 de novembro de 2007), à prática do estupro, seqüestro e morte.Várias reportagens na mídia nacional dão destaque a grupos de jovens de classe média alta envolvidos em espancamentos e lutas corporais, por motivos banais, em todas as capitais dos estados brasileiros. Desde tocar fogo em um índio que se encontrava dormindo em um ponto de ônibus na cidade de Brasília, ou espancar mendigos nas ruas, como tem acontecido nas cidades de Recife e do Rio de Janeiro, até espancamentos de outros jovens por rixa de grupos rivais, ou porque estavam com a ex-namorada de um outro, ou porque um dos participantes de um grupo achou que houve insinuações para outro dos membros do seu grupo – do sexo masculino e, sobretudo, do feminino – por um ou mais dos membros do grupo oposto, e envolvimento com estupros e com drogas, entre outros casos, são fatos de destaque na mídia nacional, desde os anos finais do século 20. Isso quase sempre causa comoções e alarme por parte das famílias brasileiras, pelo receio do que possa acontecer a um dos seus filhos na saída inocente para uma festa, um bar ou boate e, sobretudo, pela impunidade dos jovens causadores desses atos. Impunidade, na maior parte das vezes, ocasionada pela morosidade da Justiça ou, o que é muito mais grave, pela importância econômica ou social dos pais dos participantes.

A cultura do medo faz as famílias dos jovens desconfiarem de todos os colegas dos seus filhos, mesmo os de famílias conhecidas, pois, como confidenciaram mais de um casal de pais de adolescentes e adultos jovens em entrevista ao autor, "nunca se sabe, na verdade, quem é que está com o nosso filho", ou, "às vezes é filho de um conhecido de muito tempo, mas que se revela um pequeno delinqüente, podendo estar envolvido com drogas ou com coisa pior", "até meu filho chegar em casa eu não descanso, pois não sei até onde vai o espírito dos coleguinhas dele", "será que ele vai ser assaltado por um marginal na rua", "será que vai se envolver com brigas puxado por outros", "vai ser objeto de chantagem de policiais em busca de dinheiro fácil", "será que vai ser vítima de estupro", entre outras indagações e medos imaginários e possíveis, tendo em vista a construção cotidiana da mídia sobre a fragmentação social e sobre a exposição dos jovens a um mundo de maldades e sem lei. Como exemplos, citam-se casos expostos cotidianamente na mídia de adolescentes e jovens vítimas de assaltos, estupros, intimidações várias por outros jovens "de rua", como são considerados no geral os jovens pobres que freqüentam a cidade, ou por gangues de jovens, na maior parte – no pensamento mágico, influenciado pela mídia, que expande a cultura do medo no país –, composta por jovens marginais ligados ao tráfico de drogas ou ao desmanche de carros. Citam-se, também, as relações intraclasse nas disputas entre jovens pobres intimidando os que querem seguir o "caminho do bem", ou grupos de jovens pobres na disputa de espaços nos bairros e ruas onde moram, ou entre jovens mais ricos e mais pobres de classe média e média alta como relações perigosas. Os de classe média e média baixa têm medo das relações travadas com outros jovens de classe média alta, pelo uso do poder e impunidade desses últimos. Lembram notícias publicadas em jornais e na mídia em geral de jovens espancados por outros, envolvidos em disputa de espaço ou de namoradas, sendo os espancadores todos de classe média mais alta, ou no caso de estupros e mortes de adolescentes patrocinados por grupos de jovens de classe média alta e alta, e a impunidade que cerca esses crimes, por causa do poder político ou econômico dos pais.Os pais de classe média alta ou alta, por sua vez, se dizem com receio das amizades dos filhos com colegas de escola e universidade, muitas vezes autores de seqüestros ou mortes dos amigos, se não de toda a família da vítima. Por motivo de "querer um dinheiro mais fácil" para comprar tal ou qual objeto de consumo da moda, assim, esses jovens de classe média mais baixa, segundo os pais das vítimas e, sobretudo, pelas notícias veiculadas pela mídia, "aproveitavam do fato de serem amigos dos de classe mais alta" e os faziam de vítimas para alcançarem os seus objetivos. Citam, como forma de comprovar seus medos, notícias veiculadas na mídia nacional sobre jovens seqüestrados ou mortos por outros jovens, que freqüentavam a mesma universidade ou classe escolar e eram amigos de saídas para estudo ou lazer e freqüentavam a casa um do outro, quando não o assassinato de todos os familiares dos jovens das casas que freqüentavam, por motivos banais, ou para roubar aparelhos eletrônicos, ou por simples inveja, ou a influência nefasta de namorados que, por vingança dos pais que não permitem o namoro, induzem o parceiro ou a parceira a matar os pais.Ao mesmo tempo, a violência, de forma concomitante e simultânea, parece ter se tornado banal e até democrática na contemporaneidade brasileira. A violência e o seu corolário, o medo da violência, parecem funcionar, desse modo, como meio de expressão e estilo de vida, especialmente entre os jovens.

A violência e os atos violentos ocupam o espaço deixado pela fragmentação dos valores sociais mais pessoalizados em uma sociedade de mudanças profundas nas esferas comportamentais e caminhando para um individualismo "selvagem" como modo de vida, já que as devidas regras sociais do novo momento da sociabilidade brasileira não se encontram de todo claras, nem sequer esboçadas. Os valores que criam a identidade do indivíduo, dessa forma, pulverizados e questionados no seu potencial de pertença, parecem colocar-se no social de forma frágil e transitória, ampliando a solidão dos sujeitos e amplificando o imaginário social do outro como concorrente, como inimigo ou estranho, contribuindo para os contornos sociais de onde se visibilizam as interações entre indivíduos para esse novo caráter da violência expressa de diferentes maneiras pela mídia e que parece conformar o imaginário dos cidadãos, o que parece gerar nos jovens e adultos uma enorme obsessão pelo medo, entre outros atributos, usados pela cultura do medo como um sustentáculo e ampliação da indústria que a mantém.

Desse modo, todos os jovens tornam-se sob suspeição. Os mais pobres, comumente, são os considerados marginais ou bandidos pelo simples fato de serem pobres. O que equivale à visibilidade concreta da barreira social que está presente de modo claro, separando os que têm algum acesso aos benefícios sociais, culturais e econômicos de um cidadão e os que simplesmente ousam existir (a maioria da população). Os demais das classes médias (baixa, média e alta e suas variações em torno de cada faixa) e da classe alta são suspeitos uns em relação aos outros, provocando um medo generalizado sobre as ações possíveis que envolvam cada jovem em particular como vítima ou autor de um ato de maldade.Digo maldade porque a cultura do medo termina por levantar uma discussão geral e presente no imaginário do brasileiro médio, da relação entre o bem e o mal intrínseco, na qual o bem é sempre visto do lado do seu ou meu jovem e o mal em relação aos outros jovens em geral. Relação imaginária que provoca a suspeição de todos como universo de precaução pessoal.

“A cultura do medo parece vir construindo uma barreira invisível que separa e isola as pessoas, e as faz temer tudo e todos, deixando de confiar no outro”.

Mauro Guilherme Pinheiro Koury é coordenador do GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba.

[Artigos publicados na Revista E (SESC-SP). Nº134 - Julho de 2008]

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O GREM recebe novas revistas acadêmicas

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Revista de la Escuela de Antropología. v. XIII, agosto de 2007.
A Revista é uma publicação da Escuela de Antropología da Universidad Nacional de Rosario Argentina. ISBN: 978-950-673-629-3.
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Espacio Abierto. Cuaderno Venezolano de Sociología. v. 17, n. 1, enero-marzo 2008 e v. 17, n. 2, abril-junio 2008. ISSN: 1315-0006.
A Revista é uma publicação da Escuela de Sociología da Universidad del Zulia, Maracaibo, Venezuela. Destaque deve ser dado para o n. 2, inteiramente dedicado à Sociologia do Corpo e das Emoções.

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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Resenhas publicadas na Revista The European Legacy, ISSN 1084-8770, Online ISSN: 1470-1316

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City of Quarters:
Urban Villages in the Contemporary City.
By David Bell and Mark Jayne (Aldershot, UK: Ashgate, 2004), XIII - 287 pp.
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By Mauro Guilherme Pinheiro Koury
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City of Quarters is strongly influenced by contemporary urban and cultural studies in anthropology and geography. It explores the growing presence of distinct social and spatial areas in cities throughout the world, urban villages, cultural and ethnic quarters. These spaces are sites where capital and culture intertwine in new ways. The study addresses the economic, political, socio-spatial and cultural practices and processes that surround these urban spaces and the role of urban villages in contemporary cities.

The book is divided into four parts that highlight the ways in which the production and consumption cultures, lifestyles, identities and forms of sociability found in specific urban villages are discursively and differentially constructed.

Part 1, ‘‘Urban Regeneration,’’ presents essays that address how cultural quarters have been utilized as motors of economic and physical regeneration: George Waitt on the Newest Chic Quarter of Sydney, Malcolm Miles on El Raval, Barcelona, and James DeFilippis on Lower Manhattan. Part 2, ‘‘Production and Consumption,’’ looks at the interface of production and consumption in urban quarters as cities try to compete in a post-industrial urban hierarchy characterized by intense competition: Graeme Evans addresses the contemporary form of the post-industrial cultural quarter; Tom Fleming examines the role of the state in supporting or developing creative and cultural quarters; Abigail Gilmore focuses on popular music and urban regeneration; and Stephanie Rains discusses the process of quarterization in a case study on Dublin.

Part 3, ‘‘Identities, Lifestyles and Forms of Sociability,’’ examines the conflict that surrounds urban space and focuses on the relationship between identity, lifestyles and forms of sociability, and the construction and experience of urban villages. Jim Shorthose’s essay presents a case study of a cultural quarter, the Lace Market in Nottingham, England; Jon Binnie’s essay is on gay villages and sexual citizenship in Britain; and, finally, Wun Chan’s essay addresses the question of ethnocentrism in relation to urban planning.

Part 4, ‘‘Rethinking Neighbourhoods / Rethinking Quarters,’’ examines marginalized neighbourhoods and offers an alternative approach to planning for urban living. Chris Murray examines the problem of neighbourhoods in the transformation of urban villages to cultural hubs. Maggie O’Neill and others reflect on a particular phenomenon of the urban red-light districts in Walssall, Britain. Phil Denning, in turn, investigates regeneration initiatives in former industrial neighbourhoods in Scotland, Germany and Hungary. Finally, Franco Bianchine and Lia Ghilardi’s essay examines the European perspective on the culture of neighbourhoods and offers an alternative agenda for their development.

The concluding chapter, ‘‘Afterword: Thinking in Quarters,’’ summarizes the main aspects discussed in the book. David Bell and Mark Jayne reflect on the process of entrepreneurial urban governance and the rise of the symbolic economy of cities.

City of Quarters offers a comprehensive view of the subject and will interest researchers in urban studies, anthropology, sociology, architecture, urbanism, geography and other related sciences.
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[Publicado na revista The European Legacy, Vol. 11, No. 3, pp. 349–350, 2006]
Pierre Bourdieu: Agent Provocateur.
By Michael Grenfell (London: Continuum, 2004), VIII + 214 pp. ISBN: 0826467083
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By Mauro Guilherme Pinheiro Koury
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In Pierre Bourdieu: Agent Provocateur, Michael Grenfell, a recognized authority on the subject, examines the work and the life of the recently deceased French sociologist. As suggested by the subtitle, Agent Provocateur, Grenfell affirms that Bourdieu’s work stirs men to action.
The book is divided into three parts. The first presents a brief biography of Bourdieu and examines his main theoretical concepts.

The second offers a deep analysis of Bourdieu’s attitude to the Algerian Crisis, presents Bourdieu’s views on education as the training field of the state, and discusses the relationship between his conceptions of the aesthetic and the media with those of culture and society.

The third part is devoted to Bourdieu’s political views, and calls attention to his book published in 1993, La Misere du Monde, on the poverty of experience of common citizens based on a series of ‘‘eyewitness’’ accounts.

This section still focuses on the militant side of Bourdieu, emphasizing his critique of capitalism and his opposition to the military actions of the West in Iraq, Yugoslavia, and Afghanistan.

This book offers a coherent and valuable reading of Bourdieu’s work, addressing the key questions of the social and political world, the links and alliances of present day society. Grenfell discusses the implications of Bourdieu’s work, evaluating the use and continuity of his ideas for the twenty-first century.

Pierre Bourdieu: Agent Provocateur presents a comprehensive picture of Pierre Bourdieu — as man, militant and intellectual. Without doubt, this work is of incalculable value for students, researchers and scholars working on social theory.
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[Publicado na revista The European Legacy, Vol. 11, No. 4, pp. 457–458, 2006]
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Le pouvoir de l’identite´: L’ère de l’information.
By Manuel Castells (Paris: Fayard, 1999), 538 pp. E30.35 cloth.

Book Review by Mauro Guilherme Pinheiro Koury



Le pouvoir de l’identité is devoted to the comprehension of the political world, viewed at the end of the millennium, with the advent of corporate networks on the one hand, and the assertion of identities, on the other. For Manuel Castells, three independent processes begin at the end of the 1960s which together with principles of the 1970s converge in creating a new world. These processes are: (1) the revolution of information technologies; (2) the economic crisis of capitalism and the subsequent reorganization of state agencies; (3) the emergence of numerous social and cultural movements—including, among others, feminism, environmentalism, human rights, and sexual freedoms.
The first process, the revolution of information technologies, remodels society by defining information as the material base of a new society. Its significance is equal if not greater than the changes brought about by the Industrial Revolution. Information technologies become the indispensable tools in the generation of wealth, in the exercise of power, and in the creation of new cultural codes. These technologies acquire particular importance as emerging networks, which replace old forms of social organization, becoming the predominant form of organization of human activities, transforming all aspects of social and economic life.
The second process, the crisis of capitalism and the state, gradually transformed economic life from the mid-1970s. The state apparatus was shown to be incapable of sustaining the transition to the Age of Information, while, in the capitalist economies, firms and governments adopted measures and politicies that led to a new form of capitalism. This form is characterized by the globalization of economic activities and by greater organizational flexibility, to facilitate the relations of management and workers. In this new form of capitalism, informational capitalism has prevailed. The basic consequence of this process is that, for the first time in history, the world is organized on a set of common economic rules. Capitalism has been found to be more flexible than any one of its predecessors: in adopting the new information technologies it has become fixed in the culture and is driven by the new technology.
However, Castells affirms: ‘‘A technology does not determine societies.’’ Multiple factors intervene in the configuration of any given society at each stage of its history.
Thus, the third process, the cultural process, centered on the powerful movements that rose in 1968 in their confrontation with society, reacting in various forms to the arbitrary use of authority. In essence, they were cultural rather than political movements: what they wanted was to change life and not to assume political power. It is this that explains why they were not defeated. In their fight, they questioned the bases of society and rejected established values. However, these social movements were in principle cultural and independent of economic and technological transformations. Their libertarian spirit influenced, to a considerable degree, the change toward a more individual and decentralized use of technology. Their advocacy of an open culture stimulated experimentation, with its manipulation of symbols, and their cosmopolitanism established the intellectual bases for a culturally interdependent world.
The interaction of these three parallel processes, in the last decades of the twentieth century, redefined the relations of production, the individual, and the social, and culminated in the creation of a new society. This society is characterized by a new dominant social structure dependent on the network; by a new economy, the global informational economy; and by a new culture, the culture of real potentiality. However, in the network society it is not knowledge and information that is the defining feature, for, knowledge and information have always been central elements in all forms of society. What is new is the information technologies with which we deal, centered on communication, based on microelectronics and genetic engineering. It is these that are transforming the social fabric of life, giving rise to new forms of organization and social interaction.
According to Castells, then, we have entered a new scientific paradigm, as described by Thomas Kuhn, that is, a space that induces a standard of discontinuity in the material bases of the economy, of society, and of culture. The main characteristics of our information–technological paradigm are: (1) information is the basic raw material; (2) information processing is present in all fields of our eco-social system, which thus transforms it; (3) the logic of networks, adapted to the increasing complexity of interactions and to unexpected developments; (4) flexibility, understood as the capacity of constant reconfiguration without destroying existing organization; (5) the convergence of specific technologies in a highly integrated system. For the first time in history, Castells says, the human mind is a direct productive force and not only a decisive element in a system of production.
In this kind of paradigm, a new culture emerges, in which human expression and creativity are standardized in a global electronic hypertext that substantially modifies the social forms of space and time. This hypertext electronic world, synthesized for the Internet, becomes the landmark of common reference for symbolic processing of all sources and all messages. Potentiality is our reality, affirms Castells, because we live in a world in which reality (the material and symbolic existence of people) is totally immersed in an environment of virtual images. In this environment, the dominant values and interests are constructed without reference to the past or to the future, but in the atemporal landscape of computer networks and electronic media.
These interactive information networks are the components of our social structure and the agents of social transformation. They define the social morphology of our societies. With the development of information technologies, flexibility can be reached without sacrificing performance; and because of their superior performance capabilities, the networks gradually eliminate, in each specific area of activity, the hierarchical and centered forms of organization.
Even networks that are based on alternative values share the same morphology. Thus, social conflicts also depend on networks. The networks try to retrace other networks, inscribing new codes and new values so as to organize the performance of opposing networks. The main objective in the age of information is to redefine cultural codes, which reside, ultimately, in the human mind. The mind has thus become the main center of power.
Social change in the network society is highly complex, because networks have the capacity to absorb new developments or to neutralize them. Change can either come through the negation of the logic of networks or through the affirmation of values that cannot be processed by the network alone. That is, by developing alternative networks with alternative projects that goes beyond its specific auto-definition. In this context, because political parties seem to have lost their potential as independent agents of social change, it is the potential citizens of the Age of Information who become social movements, and it is they who will produce alternative cultural codes.
However, social movements must develop across infinite social distances, across the metanetworks of international financial systems, the global flows of wealth, power and images, as well as across enormous numbers of people and activities. Globalization is a great web connecting everything to the instrumental needs of the market and, at the same time, disconnecting everything that is not instrumental to the market. In this scene, people tend to regroup around primary identities (religious, ethnic, territorial, national), to search for personal security and for possibilities of (re)organizing their lives.
Thus appears the bipolar opposition between the Network and Being and, in manifesting their primary identities, people start opposing the network society. The enormous drive to affirm and articulate specific identities gives rise to social movements, especially of those who feel excluded by the existing system. Castells affirms that the rising tide of religious fundamentalism from the mid-1990s was therefore not accidental. It seems logical to exclude the agents of exclusion. ‘‘When the Networks disconnect from Being, individual or collective Being constructs its meaning outside the global instrumental frame of reference: the disconnection process becomes reciprocal, with the excluded rejecting the unilateral logic of structural domination and social exclusion’’.
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[Publicado na revista: The European Legacy, Vol. 10, No. 7, pp. 759–761, 2005]
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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Banco de Dados: DVD – ARQVIOL – Arquitetura da Violência (RJ, GPAV/DA/UFF, Nov. 2008)

A pesquisa “Arquitetura da Violência”, desenvolvida no interior do grupo de pesquisa com o mesmo nome do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense desde o ano 2000, sob a coordenação da Profa. Dra. Sonia Maria Taddei Ferraz, tem investigado sobre como a violência, real ou abstrata, tem desenhado um novo padrão funcional e formal de arquitetura no Brasil e, consequentemente, nas cidades brasileiras e, em particular, nos bairros residenciais das elites das suas duas maiores metrópoles: São Paulo e Rio de Janeiro. Discute o conceito de que viver em liberdade é viver com segurança e o consequente empobrecimento das relações sociais e políticas nos espaços públicos das cidades brasileiras contemporâneas com a consolidação e expansão deste conceito no imaginário social brasileiro que tem refletido, cada vez mais, na sua arquitetura e nas formas de morar e de viver urbanos.

Atualmente o Grupo de pesquisa “Arquitetura da Violência” disponibiliza ao publico um DVD intitulado “ARQVIOL – Arquitetura da Violência” (Rio de Janeiro, GPAV/DA/UFF, novembro de 2008) reunindo a maior parte da produção da pesquisa “Arquitetura da Violência”. O seu objetivo é disponibilizar e divulgar uma extração significativa e representativa das informações obtidas e trabalhadas pelo grupo e que poderão ser complementadas através do site http://www.uff.br/arqviol ou diretamente em contato com o grupo, através do e-mail arqviol@vm.uff.br .


O DVD está apresentado em três grandes linhas:

  • Morar nas metrópoles;
  • Medo como Mercadoria; e
  • Morar com Medo.


Em cada uma destas linhas se agrupam a galeria de fotos e a versão textual integral dos relatórios e trabalhos da pesquisa até agora realizados pelo grupo, e um glossário. Disponibiliza, ainda, acervos de imagens, sugestões bibliográficas e clippings jornalísticos para pesquisadores que se interessam pela temática. Um trabalho de grande valia para quem estuda as questões urbanas no Brasil contemporâneo. Parabéns ao Grupo de Pesquisa Arquitetura da Violência da UFF.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Uma Entrevista


ENTREVISTA COM O PROFESSOR MAURO GUILHERME PINHEIRO KOURY SOBRE ESTUDOS SOBRE EMOÇÃO E SOCIABILIDADE


UM - Caro Professor Mauro Koury, para iniciar, nós gostaríamos de parabenizá-lo pelo seu trabalho em antropologia e sociologia das emoções e, principalmente, pelos seus estudos sobre luto social e medos urbanos. Temos acompanhado os seus trabalhos seja em textos e livros lidos na sala de aula, seja em entrevistas que serviram de motivo para artigos na grande imprensa, como foi o caso da reportagem saída na Folha de São Paulo sobre a Amizade ou na revista Terra sobre o Medo, seja ainda em revistas digitais encontradas na internet. Somos um grupo de estudantes de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo e, em nome dela, gostaríamos de fazer uma entrevista com o senhor.

Mauro Koury – Eu agradeço e estou à disposição de vocês.

UM - Como o senhor classificaria a Sociologia das Emoções? Em qual categoria das Ciências Sociais ela se enquadraria? Conte um pouco para nós sobre sua história até o interesse pela Sociologia das Emoções.

Mauro Koury - Eu iniciei minha trajetória nas ciências sociais nos anos de 1970 pesquisando a ideologia do trabalhador rural e o sindicalismo rural no Brasil. Enfim a trajetória normal de um estudante de graduação e pós de Ciências Sociais na época.
Passei um tempo na Universidade de Glasgow, Escócia, e, voltando para o Brasil, ingressei como docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Lá comecei a trabalhar com a questão da indústria e do trabalho no Brasil e, de modo especial, no Norte e Nordeste, em uma grande pesquisa financiada pela FINEP, ligada ao Núcleo de Documentação Histórica da UFPB, durante os anos de 1982 a 1986, da qual fui coordenador.
Neste período comecei a me interessar muito pela história da pobreza e dos pobres no Nordeste e desenvolvi o conceito de homem comum pobre, para melhor entender a formação do indivíduo e dos movimentos sociais no Brasil, tendo o Nordeste como foco analítico. Na verdade, toda a minha trajetória resulta em um tema comum único, que é entender um pouco este indivíduo e a individualidade contemporânea ocidental e, principalmente, o indivíduo na modernidade especificamente brasileira.
Esta preocupação, esta minha trajetória, a descoberta do homem comum pobre como objeto de estudo levou, durante meados dos anos de 1980, a me interessar pelas temáticas gerais e estruturais ligadas, sobretudo, a formação de classes e a pobreza no Brasil, só que já dentro de uma visão e uma busca analítica que tinha o cotidiano como ponto de partida.
Entro, a seguir, na questão dos movimentos sociais urbanos, dentro desta visão de cotidiano, até que, de repente, ao reler entrevistas por mim realizadas em pesquisas anteriores, me deparo com alguns casos, que me fazem olhar mais amiúde questões relativas à subjetividade deste homem comum. Aí então, desemboco nos anos de 1990 em uma pesquisa sobre o cotidiano e pobreza no Brasil, e dentro dela, a discussão sobre o luto, onde publiquei alguns livros como Uma fotografia desbotada: Atitudes e rituais do luto e o objeto fotográfico (Manufatura, 2002), Sociologia da Emoção. O Brasil urbano sob a ótica do luto (Editora Vozes, 2003) e Amor e Dor. Ensaios em Antropologia Simbólica (Bagaço, 2005) e as questões mais ligadas ao sofrimento social. Amplio a margem de interesse e análise, não mais apenas homens comuns pobres, mas, também, homens comuns da classe média e média alta brasileira. De repente, deste fato e deste meu caminhar, aflora nas minhas pesquisas a perspectiva da antropologia e da sociologia das emoções e, quase de modo simultâneo, da sociologia e antropologia da imagem, especificamente, a imagem fotográfica e suas relações com o sentimento. É a época da fundação dos meus grupos de pesquisa na UFPB: o GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções (1994), e o GREI – Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem (1995).

UM - Quais disciplinas o senhor administra atualmente?

Mauro Koury – Ministro, na Universidade Federal da Paraíba, as disciplinas de Teoria Sociológica e Teoria Antropológica e, dentro de um universo mais temático, a Antropologia Visual e Sociologia da Imagem e as disciplinas de Antropologia das Emoções e Sociologia das Emoções. Além de Sociologia Brasileira e Antropologia Brasileira, Antropologia Urbana e Sociologia Urbana, Métodos e Técnicas de Pesquisa em Ciências Sociais, Sociologia e Antropologia da Educação, Sociologia e Antropologia Jurídica, Movimentos Sociais, entre outras.


UM - Quando a Sociologia das Emoções aportou no Brasil?

Mauro Koury – A Sociologia e a Antropologia das Emoções começam a se expandir no Brasil em meados dos anos noventa do século passado, e, de uma forma mais ou menos delimitada, no mundo ocidental, principalmente, nos Estados Unidos e França, a partir dos anos de 1970. Para um aprofundamento da questão eu indico o meu livro: Introdução à Sociologia da Emoção (Manufatura, 2004). A Sociologia e a Antropologia das Emoções ampliam e renovam as disciplinas em que se assentam, com uma releitura dos seus clássicos e a retomada da discussão entre objetividade e subjetividade, sendo a emoção e os sentimentos o elemento motriz de se pensar o social. Ela hoje começa a abarcar o universo de cientistas sociais enquanto interesses e encaminhamentos de projetos e planos de pesquisa e estudos.
Mas, se si pensa a disciplina dentro de um plano da história da Sociologia, especificamente, a Sociologia das Emoções, tanto quanto a Antropologia das Emoções começa com a origem das Ciências Sociais. Na realidade, elas têm início no momento em que se identifica o indivíduo social como o sujeito da construção da sociedade e também como construído pelo social. Como construído pela sociedade e, ao mesmo tempo, a construindo.
Embora, a Sociologia e a Antropologia das Emoções tenham uma visão dinâmica desta questão, partem do princípio crítico do indivíduo na sociedade existindo em relação com o social, nem fundado, nem exclusivo, mas relacional, existindo como uma espécie de individualidade social que demarca um tipo de olhar ou de mentalidade específica tempo e espacialmente delimitada. Discutem, assim, inclusive, a própria questão da emoção no humano, como um processo de formação permanente e relacional: ao mesmo tempo individual e socialmente formada.
A partir desse princípio, e, especificamente, com a questão da busca do estudar a individualidade e os aspectos liminares do mundo contemporâneo: como o sofrimento social e o estudo da solidão e da ambivalência moderna se têm de modo mais claro a configuração de um novo campo disciplinar, que remete para a Sociologia e a Antropologia das Emoções. Os estudos começam a configurar toda a trajetória de entendimento do indivíduo na modernidade e o ser solitário e ambivalente dele surgido. O que monta toda uma rede de entendimento novo e propostas de releituras dos campos teórico e metodológico da Sociologia e da Antropologia. Discute o objeto das disciplinas Sociologia e Antropologia não a partir da vida individual e nem de sociedade ou coletividade como um todo, mas de uma relação dos dois elementos. São estas relações entre individualidade e sociedade, ou da objetividade e subjetividade, que fundam e dão ordenamento a possibilidades de um social qualquer e objetivam as formas de produção e reprodução das novas relações sociais. É desta visão complexa entre cultura subjetiva e uma cultura objetiva social, que se dá, exatamente, nos meandros da constituição do ou de um social, que se detém o pensamento crítico por trás da Sociologia e da Antropologia das Emoções.

UM - O senhor trata a questão do indivíduo moderno convivendo com a questão dos problemas originados nas cidades. Como ele convive com as questões habituais da cidade, do trânsito, da violência?

Mauro Koury - Quando se trabalha com modernidade em um sentido mais amplo, mais geral, nós nos detemos em um tipo de modernidade específica, a modernidade ocidental. Partimos da constituição do indivíduo no decorrer da tradição grega e judaico-cristã para compreender os diversos mecanismos, avanços, recuos e impasses que levaram à formação deste tipo de individualidade específica que é o homem ocidental contemporâneo, europeu ou norte-americano, e o seu legado nas demais sociedades, inclusive a brasileira, como palco de ideologia e imposição de um tipo de universalidade.
Apesar da necessidade de compreensão deste longo processo formativo do indivíduo no ocidente, discuto fundamentalmente o século XIX, pois neste período a população está vivendo momentos específicos de consolidação e expansão do capitalismo enquanto modo de vida e nele, vamos tratar, exatamente, a questão desta individualidade, deste indivíduo moderno, contemporâneo, que surge, propriamente, com a emergência das grandes cidades. Paris, Londres, por exemplo, que são cidades com mais de um milhão de habitantes e com grandes problemas sociais neste período, as mudanças aceleradas nas condições de vida urbana em cidades como Chicago e Nova York, nos Estados Unidos, bem como o acompanhamento das modificações tardias no plano urbanístico das cidades alemãs, como Berlim, por exemplo.

UM - Trazendo esta experiência para o Brasil, pode ser comparada a evolução do indivíduo dentro da sociedade, dentro da cidade?

Mauro Koury - No Brasil, no século XX, desde os anos 20 e, especificamente, a partir dos anos de 1960 e principalmente de 1970, é que parece se dar à emergência de um urbano de forma mais acentuada. De um Brasil urbano mais próximo ou ligado a essa visão mais individualista, ou que prossegue ou persegue um caminho da individualidade moderna ocidental como uma espécie de ideologia a ser conquistada, como significado de progresso e desenvolvimento, tanto individual como social.
O Brasil até então, vivia um jeitão ou um modo de ser mais relacional típico de sociedades hierarquizadas, dotada mais pelo seu lado de “jeitinho”, pelo seu lado meio malandro de ser, pelo seu lado mais familiar e de compadrio, no fundo, dentro de um panorama do “Olha quem tá falando!”, etc. Essas coisas que o Roberto da Matta esteve trabalhando deste o final dos anos de 1970 e ainda trabalha. De no Brasil, o espaço público ser uma coisa, do privado outra, mas sempre o espaço público como uma continuação do privado. Tudo tendo uma relação forte e hierárquica: até na morte as partes relacionais são parceiras, dentro do perfil brasileiro, que comandou a ideologia nacional e o comportamento médio dos homens comuns e dos grupos sociais locais até os anos de 1960.
Nos anos 60 e 70, período dos principais estudos da sociedade urbana no Brasil por Roberto da Mata, parecia ser esta a questão de referência. Um salto alto e meio sem destino parece que se deu a partir de então. Eu acho que as coisas se modificaram muito dos anos 70 para cá. A partir dos anos setenta tem-se um Brasil estatisticamente mais urbanizado. O grande contingente populacional vive nas cidades, e principalmente nas grandes cidades. Tem início a uma migração muito grande. O campo começa a se esvaziar e as pessoas começam a ir para as cidades. São Paulo, Rio de Janeiro e Recife são exemplos. Até as pequenas cidades e de porte médio como João Pessoa, já vivem, desde o final dos anos de 1980, esta realidade um pouco cruel, com a quebra de laços e tradições que a vida relacional permitia. Os laços de vizinhança, o conhecer todo mundo, o olhar sem receio é quebrado e, pouco a pouco, o espírito da individualidade e da individualização, dentro de uma perspectiva da ideologia individualista começa a avançar e a causar estranhamento e ambivalência nos comportamentos e atitudes dos cidadãos. Não que esta história esteja completa, acredito que se encontra mais anunciada que finalizada, o que amplia o desconforto e a ambivalência do homem comum, e aprofunda o espaço da sua solidão. Como pode ser visto no meu último livro Sociologia da Emoção, onde faço uma análise do Brasil Urbano atual sob a ótica do luto.
A história do capitalismo, no mundo contemporâneo e no Brasil, de modo particular, é a história deste processo de individualidade. De uma individualidade muito grande, que não pode ser vista, apenas, dentro de um plano negativo, como até agora falei, mas também dentro de um plano de positividade. Nunca se falou tanto na sociologia e na antropologia no lado psicológico dos sujeitos individuais, da formação do eu como sinônimo de liberdade e autonomia, como na história recente do ocidente, ou neste último momento da história mundial, mas, por outro lado, nunca também foi tão discutido e pesquisado a angústia e o sofrimento social e a solidão intensa, deste mesmo homem psi.

UM - O medo?

Mauro Koury - Exatamente.

Todos esses problemas urbanos, que nós classificamos como medos urbanos, eles são originados das cidades. Então, o senhor concorda que esses medos são, realmente, originários do inchaço das grandes cidades, da falta de planejamento dos grandes centros urbanos?

Mauro Koury - Eu vou mais a fundo. Eu acho que o inchaço das grandes cidades é de uma lógica muito perversa. Eu acho que não é só uma coisa existente no Brasil, mas o mundo inteiro vive este tipo de situação. Veja, por exemplo, na forma atual que assume este período da pós-modernidade européia, que as fronteiras geográficas estão se fechando para povos imigrantes, embora se fale na globalização como um prenúncio de uma diluição das fronteiras culturais, profissionais e mesmo, das fronteiras políticas e geográficas.
O Brasil, hoje, é um grande fornecedor de mão-de-obra barata para os EUA e Europa, inclusive. A classe média engraxa sapatos ou tem emprego de doméstica em Nova Iorque, é travesti em Paris, Roma e Milão, e diz que é melhor “ser prostituta em Nova Iorque do que classe média no Brasil”.
Encontram agora barreiras fechadas. O ser aventureiro brasileiro é visto como uma ameaça nos países centrais, e até em Portugal, periferia da Comunidade Européia. As filas nas portas das embaixadas norte-americanas, as formas clandestinas das pessoas ultrapassarem as barreiras impostas para uma vida fora do Brasil, da América Latina, da África, e da Ásia, de, inclusive, morrerem tentando burlar a vigilância para o ‘éden’, atravessando rios e sendo arrastados por correntezas, através em embarcações improvisadas, através de um mercado de escravos ‘brancos’, etc. para chegar aos EUA ou a países europeus, demonstram um pouco desta tragédia mundial da atualidade. O que parece aprofundar o estranhamento e o medo do outro. O medo contemporâneo teve dois lados opostos que se contaminam e se determinam constantemente e de forma contínua. Um lado positivo, de uma quebra de barreiras, entrando em um lado mais globalizado de um pretenso discurso de intercâmbio entre culturas e de um novo tipo de cidadania, a mundial, e, um lado negativo, da violência, de um novo preconceito contra outros sujeitos vindos de outras culturas, que é o das fronteiras fechadas.

UM - Eu percebo que este tipo de processo que o senhor está falando acaba se referindo ao capital de maneira mais perversa aos habitantes do Terceiro Mundo. O senhor concorda?

Mauro Koury - Com certeza. Esta globalização ocasionou uma revolução para o capital, atingindo de forma perversa o terceiro mundo. Isto não resta nenhuma dúvida. Voltando para o Brasil, este foi um problema para o país. A migração ainda continua. O deslocamento do homem do campo para a cidade é uma resultante do capitalismo no campo, não é que eles queiram migrar, mas são produtos de uma série de elementos específicos trazidos pela modernização da agricultura, a troca de pequenas produções pela produção em larga escala, a troca de família por bois, de alimento por pasto para bois, ou da presença da monocultura, bem como da terra como um valor em si, que é uma questão que não vou aprofundar nesta entrevista.
O resultado disto tudo, então, é de uma condição muito perversa: a cidade incha com o esvaziamento do campo, tende a ficar muito mais tencionada, a violência tende a se expandir, o anonimato das ruas, a falta de oportunidades, a diminuição de uma predisposição favorável ao outro, agora considerado inimigo em potencial, produz esta grande perversão que hoje existe. Nós somos, de repente, pessoas equivalentes num mundo de dinheiro, uma espécie de mercadoria gasta, em um mundo de equivalências gerais.

UM - Como assim?

Mauro Koury - O que significa a lógica do capital quando pensa o homem novo que ele ajudou a surgir? Significa que o homem é livre, é liberto para fazer o que quiser. Eu posso comprar força de trabalho e você pode vender a qualquer um ou vice-versa, como já dizia Marx criticamente, e antes dele, toda a economia clássica que ele criticava. Se eu tenho dinheiro para comprar, eu compro, se eu tenho que procurar para vender, eu procuro a quem me dê mais. Nesta política cria-se uma espécie de equivalente geral, que vai ser o dinheiro, que vai ser uma espécie de equivalente abstrato, e, através dele, eqüivalendo tudo ao mesmo, como já mostrou Simmel, tanto faz comprar uma pessoa ou um disquete de computador. No momento em que as coisas ganham uma equivalência geral e abstrata, tudo é reduzido a objeto, a mercadoria. Tudo é posto a troca, até os indivíduos.

UM - Mas o senhor concorda com a visão de uma coisa cíclica, de repente, os problemas crônicos do Brasil são violência e desemprego. Eles estão diretamente ligados ou o senhor discorda disso? Entramos em contato com algumas pesquisas da USP e elas relacionavam desemprego com violência pela questão, também, das pessoas migrando e não encontrando oportunidade de trabalho. Existe esta visão cíclica das coisas ou não?

Mauro Koury - Acho que a discussão e a problemática sobre ela é mais complicada do que a visão puramente cíclica: migração, desemprego, falta de oportunidade, violência e sua repetição. Claro, que o que você me falou é quase que óbvio. Hoje, o desemprego e a violência são ameaças e uma coisa é conseqüência da outra. Hoje qualquer pessoa na rua vai dizer isso para você, não precisa ser um cientista social, mas as causas são um pouco mais profundas.


UM - Quais são essas causas, além da questão do capital e dos elementos cíclicos apontados?

Mauro Koury - Em certo momento, é impossível escapar do capital, porque a política e o desemprego são resultantes do próprio movimento da capital atual, do capital financeiro. O capital financeiro tenta, hoje, dispensar mão-de-obra como forma de se “autogerir”. Ele acha que chegou certo momento de não precisar mais de força de trabalho, de se reproduzir por ele mesmo: dinheiro gerando dinheiro. Isto se dá, principalmente, a partir dos anos 90, de forma bastante evidente, – o capital financeiro promove uma política de esvaziamento de mercado de mão-de-obra, ou seja, ele coloca esta mão-de-obra para fora do mercado, gerando desemprego e tenta sobreviver com a própria lógica do dinheiro no mercado financeiro, das bolsas e da especulação em si, e do financeiro no dinheiro. Neste momento, estamos entrando, exatamente, no ritmo necessário e propício de expansão de uma nova modalidade de capital. Um sistema financeiro que foge de barreiras geográficas e político-culturais, que amplia as formas de dominação em escala mundial homogeneizando culturas e povos, que defende uma política de estado mínimo e de um individualismo crescente como ideologia de mercado que usa o empobrecimento da população e a sua marginalização social como forma de desenvolvimento necessário. Encerra, onde há o estado de bem-estar social, pune trabalhadores e aposentados em função de um ritmo alucinado da máquina de fazer dinheiro que é a especulação financeira em si.
Essa ideologia tem se ampliado no Brasil e no mundo, com uma espécie de camisa de força ou viseira de uma leitura estandardizada do processo de globalização. Vou pegar uma cidade como Fortaleza para exemplificar. Ela teve um desenvolvimento bastante grande entre os anos 60 e 90, sendo uma das cidades do Nordeste que mais se desenvolveram neste período, desbancando as cidades de Recife e Salvador, por exemplo. Mas qual foi o desenvolvimento de Fortaleza? A pobreza continua drástica. Por outro, a Fortaleza está, pelo menos em espírito, em ideologia, globalizada e, segundo os seus planejadores, ligada ao século XXI e, nela busca-se criar estratégias para lançá-la e deixá-la muito mais ligada ao mercado mundial através do mercado formal turístico. Pensa-se uma cidade polo de atração estrangeira e uma população vegetando nas margens destes viajantes do exótico. O mercado retrai-se, na questão tradicional, o homem comum vai para a rua, desempregado ou subempregado, moradias pobres são desfeitas, em processos curtos ou longos de despejo, e a cidade se arma para uma ilusão. O que amplia as margens de insegurança, de desconforto, de violência interna entre os moradores e uma dependência maior desta ilusão do estrangeiro turista e de um mundo do qual ele, cidadão local, não tem como participar, a não ser pelas franjas.

UM - Um documentário dos EUA (Tiros em Columbine) fala sobre a indústria do medo. Nós poderíamos fazer um paralelo com a situação do Brasil, atualmente?

Mauro Koury - A questão do Brasil é muito mais simples. Nos anos 70, em pleno domínio da ditadura militar, o Brasil vai sofrer um processo muito grande de intensificação e expansão das políticas de um policiamento privado. A matéria de capa da Revista Época dessa semana ou retrasada falou sobre a questão da segurança privada no Brasil, que chega a ser de uma dimensão assustadora no país. É interessante notar, assim, que a expansão da indústria do medo é influenciada pela própria indústria de segurança privada. O medo gerando a necessidade de segurança e a segurança ampliada gerando mais medo. Olhe aqui um ciclo bem mais interessante de se discutir e se debruçar na conformação recente da mentalidade do medo no urbano brasileiro! A indústria da segurança cresce exatamente por fomentar e fundamentar ideologicamente e imaginariamente o medo nos outros, no cidadão comum, fazendo as pessoas se protegerem horas 24 por dia.

UM - O documentário falava da mídia também. Ele fez uma comparação com os casos de homicídios nos EUA que diminuíram em 20%, já a cobertura da mídia em casos de violência teve aumento de 600%. Ele faz um paralelo relacionando como a mídia acaba favorecendo para esta cultura do medo dos norte-americanos. O senhor traria esta situação para o Brasil com esses programas sensacionalistas?

Mauro Koury - Traria. Eu não sei se daria tanta importância tão radical como o que o documentário retrata. Mas que a mídia tem uma influência na disseminação de uma cultura do medo é verdade, neste ponto não há como negar, realmente ela têm influência, com certeza. A mídia é formadora de opinião pública e como tal tem uma influência decisiva em passar mensagens subliminares.
Há pouco tempo dois artigos sobre a fotografia e morte violenta e sobre fotojornalismo e sofrimento social, saídos na Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html falam do lado ambíguo que a fotografia que a fotografia na imprensa possui. De um lado, ela é o reflexo do que foi e do outro ela tem toda uma previsão acumulada ideologicamente do que se quer passar enquanto mensagem, que levam aos leitores que a veem interpretá-la de um modo específico, ou mesmo, que vão oferecer subsídios subliminares que imporão um tipo específico de leitura e compreensão para o próprio leitor. Ela cria situações específicas, que promove a ampliação de certo tipo de cultura ideológica ou política, ambiguamente, e que tem a ver com a questão da violência e do medo.

UM - Voltando um pouco sobre a questão da individualidade, o que o senhor trata na sua pesquisa, emoção relacionada ao medo, medo é uma emoção. Como as pessoas nos grandes centros urbanos acabam sendo condicionadas a este medo? Existe alguma alteração no comportamento das pessoas devido a esses medos?

Mauro Koury - Com certeza. Acredito que os pais de vocês ficam morrendo de medo até vocês chegarem em casa, não é? O que vai acontecer com meu filho? Isso vai desde drogas até AIDS, ou mesmo ser assaltado e morto por balas perdidas ou balas dirigidas, por atropelamento, ou o que for. Não se sabe o que pode acontecer, ou seja, os medos que pairam e perpassam a cabeça do cidadão comum são muitos amplos. O medo não é apenas de você ser atingido por uma bala perdida ou doenças como a AIDS, mas é um medo muito mais difuso dirigido para uma sociedade e uma sociabilidade fragmentada, de que não se tem controle, e ao mesmo tempo, ou simultaneamente, dirigido a uma pessoa, nem que seja o próprio filho e suas relações, de quem você não tem acesso ao seu íntimo, não tem a segurança sobre ele no seu todo, e teme e projeta sobre ele e suas relações fora de casa ou de suas vistas, o seu receio como uma forma de proteção, de protejê-lo contra os perigos de um mundo injusto, violento, amaldiçoado.
Lógico, isso interfere no presente das relações, de forma ambígua e ambivalente, fazendo com que o medo perpasse as relações inclusive afetivas, demarcando-as pelo desconhecido que sou para o meu próximo, e não apenas para o outro distante e opaco. Mas a minha preocupação nas minhas pesquisas diz respeito sobre qual a conseqüência que isso acarreta e pode acarretar para os presentes e futuros moradores dos grandes centros. Já que eles se fecham cada vez mais em suas casas, principalmente a classe média, e acabam evitando o convívio - que acontecia largamente nas décadas de 50 e 60 - com as outras pessoas. Ao que remeterá esse processo de fundação e ampliação desse homem melancólico no Brasil atual? Não mais se sentindo apegado ao passado, a não ser em uma imagem saudosista e sentimental, vivendo o presente de forma ambígua, que o apega a um passado perdido e que não sabe onde perdeu, de forma sentimental, e que o desapega a este mesmo passado, como tradição, pois, pela ideologia moderna, essa tradição não o faz moderno e projeta no futuro uma modernidade que só é vivida em intensidade no sofrimento, na perda da pertença, na dor da solidão...

UM - Isso pode causar danos psicológicos e sociais para esses indivíduos?

Mauro Koury - Já acarreta. Nos anos 80, por exemplo, quando o processo começa a invadir a classe média de forma marcante que se apega a criação de vínculos estáveis, à carreira, ao conforto material, depois do processo de lutas armadas nos anos 70, do desgaste da esquerda, e da desilusão da contra cultura que se debateu o país após o período intenso da repressão. Este início do próprio repensar da classe média é um processo doloroso, onde o medo, o sentimento de perda, a perda da própria perda, se leva a uma individualidade e a uma busca do eu de forma mais intensa e visando uma liberdade pessoal, de outro lado, o leva ao consultório do psicanalista, como um não encontrado, como um perseguido, como um incomodo ou incomodado, como um sem relações estáveis e duradouras, como alguém, enfim, que não sabe como se comportar em situações definidas, o que provoca um fechar-se em si e rejeitar (querendo o contrário) os outros.
Eu sempre pensei na classe média como uma categoria mais suscetível as mudanças culturais. Nos anos 80 do século passado, no Brasil, na verdade, vivemos uma corrida para a psicanálise. Este tipo de busca, de isolamento, da depressão como forma de não administrar exatamente o seu cotidiano. É o “Eu já não tenho outro, o outro para mim é um eterno algoz”. Este outro necessariamente não precisava ser o bandido na minha frente, podia ser a minha namorada. Mas, ideologicamente, tudo se misturava, e o medo do outro virou um medo da ameaça a minha pessoa, a minha comodidade, a minha propriedade: namorada ou bandido.

UM - Eu fui vítima recentemente de um dos medos. Eu fui assaltado por dois rapazes de motos. E toda vez que ouço o barulho de motos, já fico sobressaído. Independentemente de ser homem, mulher ou criança, eu me assusto, ou seja, você já cria um mecanismo de defesa. É isso que eu percebo que as pessoas acabam criando e a meu ver isso é negativo.

Mauro Koury - É claro. Eu conheço um caso.

UM - Era essa a próxima pergunta. O senhor já conviveu com algum desses medos?

Mauro Koury - Um amigo do meu filho, mais ou menos na sua faixa etária. Ele estava voltando para a casa, de madrugada, parou o carro para abrir o portão de casa, daí dois rapazes de moto chegaram. O garoto não ofereceu resistência e entregou a chave do carro, a carteira, entre outros pertences e os caras, no final do assalto, deram um tiro no joelho do rapaz e ele ficou com problemas físicos após o episódio.
Essas coisas são muito mais amplas. A gente vai não só vivendo as experiências na pele, mas vai também sabendo sobre essas experiências e fazendo delas nossa muralha de um castelo do medo. Na realidade nós estamos nos trancando, quem é o cara de classe média no país hoje, sem falar das classes altas, ou mesmo de classes baixa que não tenha tentado ou já erguido, cada vez mais alto, o muro de sua casa; colocar dispositivos sonoros de segurança no seu carro, carrão ou carrinho; ou mesmo em seu lar, para se proteger mais; tentar deixar os filhos menores dentro de casa, - já que os maiores são mais difíceis de controlar, e daí, talvez, se possa até entender o processo de abertura dos pais para namoradas dos filhos e namorados das filhas pernoitarem e se namorarem no interior do quarto da casa dos pais (não é a abertura para a questão sexual que parece ter ocorrido, pelo menos não apenas, mas uma forma de garantir a integridade dos filhos, protegendo-os no interior do lar, ou debaixo da saia da mãe, como se dizia antigamente), - e não ficarem muito na rua.

UM - Essa é outra questão que queria fazer para o senhor. O medo atinge as pessoas de formas diferentes, dependendo da classe econômica e escolaridade?

Mauro Koury - Eu acredito que não, o medo persiste hoje na relação do homem moderno, independente de classe social. As classes médias talvez convivam com mais temor que a classe alta, que encontra outras formas de fugir, como viajar para o exterior, para Miami (EUA), - me desculpe a piada, embora real, - por exemplo. Mas se as classes médias têm uma visão mais evidenciada sobre esse tipo de tragédia é porque talvez se sintam desprotegidas, e que tem alguma coisa a perder se não agir com uma segurança desdobrada. Mas nas classes mais baixas é tal e qual. Você vai fazer uma pesquisa dentro de bairros pobres, a situação de medo é permanente. Inclusive o medo de falar. Conversando com psiquiatras, que trabalham no sistema de saúde público e atende a população mais pobre, eles informam que a questão da tensão permanente pelo medo de uma violência presente e constante, de policiais, de bandidos no abstrato, de bandidos no concreto, de serem confundidos com bandidos, de serem mortos por acaso, de serem espancados por falarem, de uma violência sempre presente e crescente nas suas relações domésticas, profissionais, de moradias em áreas de risco, de serem expulsos de suas moradias, de relações ocasionais: na mesa do bar, no ônibus, atravessando um beco, ou sei lá o que, ou com os poderes públicos. Eles convivem com o medo, esse medo não só da violência de chegar na sua porta, que é cotidiano, mas o medo de falar, de como não ter ou não haver forma de se protegerem.

UM - O medo de perder sua residência numa enchente...

Mauro Koury - Pois é, e o medo do outro, do vizinho, que essa pessoa não sabe muito bem quem é e do que se trata. Porque na realidade, eles dizem “eu sou pobre, mas sou decente, mas o meu vizinho será que é?”. E essa é a lógica da classe média também e da classe alta, só que dirigida preferencialmente para os pobres...

UM - Nós sabemos que temos caráter, mas temos medo do vizinho que não sabemos se é uma pessoa realmente de bem ou não.

Mauro Koury - Mesmo um colega de escola, que está vestido como você e se comporta como você, mas pode ser um grande “bandidão”. Eu vi isso há pouco tempo na imprensa em Recife. Um cara estudava o terceiro período de direito em uma escola privada, era um aluno calmo, tranqüilo, e de repente foi preso em plena classe por ser um traficante com várias mortes nas costas. A estudantada dando depoimentos, um pouco maravilhada pelos minutos de fama e um pouco, também, com medo, dizendo, “meu Deus, esse cara estudava em uma carteira perto da minha, bebemos junto algumas vezes, o cara foi na minha casa fazer um trabalho em grupo, e de repente é um bandido...”. Estar vestido de acordo com a moda qualquer um pode estar não é mais parâmetro para nada. Assaltantes bem vestidos levam o seu carro, com uma cara de anjo e um revolver na sua cabeça... Hoje, também, crianças roubam roupas de outras crianças, porque o sonho do consumo virou universal, vestir grife, ou imitar roupas de grife faz parte das relações de equivalência entre anônimos moradores de uma urbe, onde todos parecem iguais e são vistos com receio por todos. O estranhamento passa a ser generalizado. Todos os homens passam a ser visto pela mediação do medo, do receio, do estranhamento, o que leva a cada um se recolher e não ter relações e proximidades para não ser, imaginariamente ou potencialmente, mais uma vítima. O dinheiro faz essas coisas e faz com que você deseje esses objetos, lute por ele, os tenha ou os persiga de qualquer forma. O importante é tê-los, não importa a forma da ação de consegui-los.

UM - O senhor já foi assaltado?

Mauro Koury - Não, nada aconteceu comigo até agora. Mas minha mulher, minha filha mais velha, já, elas já tiveram uma arma apontada para as suas cabeças na porta de minha casa. Até hoje quando elas estão chegando em casa, me ligam para eu ir até a rua acompanha-la, e se não estou, um filho ou alguém que esteja em casa. O abalo moral e psicológico da pessoa é muito grande.

UM - O trabalho de campo do senhor, como é feito?

Mauro Koury - O meu trabalho não se prende apenas à questão da grande violência. É um trabalho que tende a discutir a questão do medo, do medo corriqueiro, esse medo cotidiano que você vive no dia-a-dia, esse medo em que você sente em ser amigo de uma pessoa e ele pode trair você, a insegurança desse sujeito, a dificuldade das pessoas se entregarem umas as outras. É essa questão dos medos que me interessa. O que leva a pessoa a agir criando uma barreira de proteção em torno de si e a reagir às trocas possíveis de outros sujeitos individuais. Eu me interesso pelos medos corriqueiros, não apenas dos medos que atuam como uma forma de paralisia social ou individual, mas que atua como forma de construção social. Parto da premissa de que a base da história social, da sociedade está assentada em uma história do medo, do medo ser aventureiro (como queriam Goethe e Simmel), o medo que permite provocar projetos, levar à superação de impasses e a novos projetos. O medo que busco compreender é bem criativo, está na base da construção de sociabilidades, não é apenas aquele que apavora, embora passe também por ele, e cada vez mais por ele. É o que trato, por exemplo, nos meu livro, De que João Pessoa tem medo? Uma abordagem em antropologia das emoções, recém publicado pela Editora da UFPB (João Pessoa, 2008).

UM - Quando o senhor fala em construção social, o senhor se refere especificamente ao que?

Mauro Koury - Duas pessoas trocando informações, se relacionando, fundam uma possibilidade de sociabilidade. As emoções, incluindo o medo como emoção, não é restrita a parte digamos psicológica da pessoa, é uma construção social, locada no processo da relação com outro. Eu trabalho com duas questões, a da formação do sujeito individual, e a reconstrução desse sujeito enquanto fundação social, e as relações entre as duas, para não dizer vive e versa.

UM - E senhor veria alguma alternativa para amenizar os medos corriqueiros ou realmente é algo que só tende a crescer na sociedade?

Mauro Koury - Vamos pegar o caso do Rio de Janeiro que é visto como uma tragédia nacional, essa questão de bandido matando, colocando fogo em ônibus, dando tiros no Palácio do Governo, a polícia envolvida com criminosos. Mas, se visto de uma perspectiva mais próxima da sociedade, se vê que ao mesmo tempo a sociedade civil se encontra mobilizada. O projeto Viva Rio, por exemplo, é de uma beleza, uma dignidade. Eles têm uma página na Internet chamada Alô Favela que é de uma beleza exemplar. Eles têm trabalhos comunitários com os moradores do morro. E, na realidade, o que eles tentam colocar é que não adianta discutir qualquer solução enquanto não se discute o que de fato ela é, a falta de perspectiva de uma política governamental e social no Brasil para o combate à pobreza, para combate à desigualdade enquanto tal. A questão não é somente os grandes bandidos ou a ineficiência da polícia, o importante é mobilizar a população à respeito dela mesma e buscar pressionar para formas mais amplas de respeito e cidadania como fundamento máximo e básico de respeito e dignidade pessoal.

UM - O senhor então acredita que o caminho é esse?

Mauro Koury - Esse é um caminho, um projeto que é bonito de se olhar e talvez de se tentar, como se está tentando. A minha visão é mais ampla, eu não vejo uma solução para um futuro magnânimo e final, eu acho que os jogos de sociabilidade são sempre jogos de alianças, que modificam projetos originais, e criam novas formas de dominação e naturalização sobre os vencidos e, ao mesmo tempo, novas reações e possibilidades de novos projetos. Sempre ricos e sempre eficazes no imaginário e criação social no percurso para uma nova solidificação hegemônica.
Cada vez que novos projetos aparecem e vão colocando na mesa cartas novas e tentam levantar uma mobilização das pessoas, cria-se uma nova mentalidade, um novo jogo político que se organiza e tenta se contrapor, não é uma coisa para amanhã, é uma coisa bem mais pausada, mas que sempre avança, mesmo nos recuos. Agora, sempre com um jogo político, que são opções momentâneas, e onde a incerteza permanece. Ou seja, o medo no início é fonte motora e motriz, que leva a ação e repele impasses que o naturalizam como acontece agora, de uma forma quase que ‘absolutizada’ e constituída como uma cultura do medo que paralisa e serve para fundamentar uma política de segurança privada e um mercado privado de segurança. Cabe diferenciar os medos corriqueiros, que são fontes de movimento, da cultura do medo enquanto ideologia, que faz parte de uma forma hegemônica de dominação e marginalização dos homens, via individualismo. A cultura do medo que estou falando é uma cultura construída por uma sociedade capitalista que tem interesse para vender segurança e estimular esse medo. Esse medo que leva as pessoas para a solidão de seu íntimo, ou da sua casa, a ter medo do seu vizinho, da sua própria mulher, dos seus próprios filhos e pais, como o caso de filhos ou pais que matam os pais ou filhos para ficar com o dinheiro e com o namorado bandido, o menino drogado que tenta matar a mãe, o pai que mata o filho drogado, para ter paz, para salvá-lo, ou sei lá o que, como a imprensa tem divulgado a cada hora nestes últimos tempos...

UM - O senhor acha que isso é decorrência da individualidade, da depressão, da solidão que acaba acontecendo?

Mauro Koury - Eu acredito que o problema é exatamente esses elementos de que venho falando: de um lado a solidão, ou de um sentimento de incompreensão, o medo da perda e de perder, e por outro lado, também, o fato de a saída lógica ser o dinheiro, se eu mato meus pais (caso de tantos crimes em família), eu fico dono do pedaço, ou eu consigo chamar a atenção para mim; ou a idéia romântica do amor (em caso de seqüestros e mortes de companheiras ou companheiros); ou, ainda, a forma possessiva do o que não posso ter ninguém também terá, e tantas possibilidades outras. Essa lógica, ou essas lógicas, que nos equivalem e de que qualquer coisa é possível, de qualquer jeito, onde a ética e a moral estão confusas, faz parte dessa trajetória complicada e ambígua para o individualismo, na sociedade contemporânea e brasileira, de modo particular, como já dito em vários momentos desta entrevista.

UM - Esses medos são característicos de cidades?

Mauro Koury - Com certeza, faz parte do modo de vida urbano. Hoje nós temos a questão do campo, como tínhamos antigamente, de pessoas que morrem em invasões de terra, são expulsas das terras, invadem terra, mas essa questão é inerente à lógica expulsiva do capital, embora já possamos vê-la, hoje, também, como uma esfera do valor agregado ao fenômeno cada vez mais urbano, no seu controle social e econômico e político global. A luta no campo é ainda política, de sociabilidade coletivizada, e só como questão pensada ainda como coletividade pode ser entendida e analisada, e mesmo vivida...
Mas essa violência que venho falando até agora diz respeito à questão do individualismo e proteção de si como eu isolado, e, de fato, ela é característica da cidade, ela surge na cidade grande, no Brasil desde os finais da década de setenta do século passado. Embora se possa dizer que perpassa toda a sociedade brasileira contemporânea, como ideologia.

UM - Nem é preciso ir muito longe, no interior de São Paulo as pessoas têm uma receptividade maior para receber o vizinho, existem vínculos afetivos que eu percebo que dificilmente acontecem nas grandes cidades.

Mauro Koury - A gente sabe disso, você sabe que chegando a qualquer cidade grande você vai ter dificuldade em abordar e se aproximar de alguém ou ir até a casa de alguém. As pessoas têm medo de se aproximar e receber alguém em suas casas, só depois de certo ambiente de familiaridade é que você vai ser introduzido e mesmo assim aos poucos, porque você não pode abrir muito espaço. Embora, hoje em dia, o retorno para a casa, o receber amigos em casa, é também uma forma de proteção...
Mas, esta perda da pessoalidade e o início de um estranhamento típico da emergência do individualismo, já se pode dizer que começa a existir nas relações sociais de todo o Brasil, sejam em cidades grandes ou pequenas. A cultura do medo é uma ideologia que está implantada e se consolidando no Brasil desde o final da década de setenta do século XX e vem se firmando cada vez mais no século XXI.

UM - O senhor acredita na intervenção do Estado para resolver essa questão medo, principalmente em relação à violência?

Mauro Koury - Veja bem, é interessante a questão, eu acho que o Estado detém uma política de controle social, de um braço disciplinar muito forte, de um braço não só policial, mas também econômico e social. Mas a questão é cercada por pressões específicas que acabam tornando o governo e o controle estatal na área de segurança muito pouco potente. É só ver o nosso presidente, que sempre diz que é mais difícil do que imaginava que não pensava que fosse assim antes de assumir o poder. Muito mais que o Estado, eu acho que a sociedade civil pode se organizar e criar pautas e agendas interessantes para um movimento de cidadania, de paz, de quedas de medos, mas é uma visão otimista por si, sem maiores predicados.

UM - Qual o seu maior medo?

Mauro Koury - Eu mesmo. O meu maior medo sou eu mesmo. Essa coisa de opções, dos limites e deslimites, das eficácias das ações que você produz ou se nega, tudo isso que faz uma trajetória de vida, pessoal e relacional, o amanhã sempre tem muitas opções que você não pode conter, dispor, controlar, por mais projetos que você tenha. Tudo parece um jogo, com cartas que você coloca ou outros, marcadas ou não, mas sempre incertas de conclusão. Isso é bom pois estimula a aventura da vida, do outro lado, é medo só e apenas...

UM - O futuro é o medo do indivíduo moderno?

Mauro Koury - Com certeza, eu acho que essa é origem, nós temos medo do futuro ao mesmo tempo em que corremos para ele e o ansiamos. Ao mesmo tempo, também, tentando ficar. Não sair do lugar, da estabilidade do agora, mas que é sempre, na visão moderna, uma estabilidade que remete ao futuro, pois é lá que se encontra de fato a meta do estável, do a ser adquirido. E sempre, assim, correndo atrás do presente em função desse futuro que nunca chega, porque quando chega esse futuro ele já é presente e as pessoas sempre querem mais. E por outro lado, existe uma questão terrível, porque ao fazer isso você esquece o que está por trás, e aí é que está a questão da origem da nostalgia, da melancolia, da solidão. Ao cortar os vínculos você volta para trás e não sabe aonde se perdeu e só encontra a morte no caminho. É trágico.


UM - Agradeço ao senhor pela entrevista.


Mauro Koury - Eu que agradeço. Boa noite!


(Entrevista realizada em 20 de outubro de 2008 por alunos de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Conexão Ciência TV UFPB - Entrevista com o Prof. Mauro Koury sobre a pesquisa Luto e Sociedade do GREM em 26/07/2005



Programa Conexão Ciência UFPB

Assunto: Sociologia da Emoção: O Brasil urbano sob a ótica do luto
Exibição: 26/07/2005





ENTREVISTADO: Prof. Mauro Guilherme Pinheiro Koury, coordenador do GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções e professor do departamento de Ciências Sociais da UFPB (DCS/CCHLA/UFPB).


TEMA: O luto possui uma representação imaginária muito forte e significativa no Brasil. A cultura contemporânea ainda considera a morte como perda, dor e sofrimento, sendo que nos últimos anos, mudanças vêm ocorrendo no comportamento social e individual, quanto ao luto. Antes, esta expressão era coletiva, através do uso do preto. Com o passar dos anos, o luto vem se tornando individualizado, sendo vivenciado em forma de silêncio.Estudar o luto é uma contribuição da sociologia nos estudos sobre o cotidiano e sua relação com as representações emocionais da sociedade.



Congressos 2009 e Programa Professor Visitante na Temple University

ESA2009: 9ª Conferência Anual da Associação Sociológica Europeia

A Conferência Anual da ESA decorre este ano em Lisboa, entre os dias 2 e 5 de Setembr de 2009 com o tema “European Society or European Societies?”
As primeiras informações sobre o Congresso, formas de registro de propostas, acomodações e atividades sociais podem ser acompanhadas no site http://www.esa9thconference.com/ .

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33º Encontro Anual da ANPOCS - 2009

33º Encontro Anual da ANPOCS acontecerá entre os dias 26 a 30 de outubro de 2009 no Hotel Glória - Caxambu - MG.
Já está disponível o edital para as inscrições de propostas de trabalho para Grupos de Trabalho e propostas para a realização de Mesas Redondas.
Maiores informações no site: http://www.anpocs.org.br/
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VIII Reunión de Antropología del Mercosur (RAM)

Data: 29 de setembro a 2 de outubro de 2009Local: Buenos Aires, Argentina.
Inscrição dos resumos para GT: até 30 de março de 2009.
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VI Congresso da Associação Portuguesa de Antropologia

Data: 9 a 11 de Setembro de 2009.
Local: Lisboa, Portugal
Envio de Trabalhos: até 6 de Fevereiro de 2009
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II Reunião Equatorial de Antropologia (REA)
XI Reunião de Antropólogos Norte e Nordeste

Data: 19 a 22 de Agosto de 2009.
Local: UFRN - Natal
Envio de Propostas de GTs, Mesas e Fóruns: até dia 12 de Janeiro de 2009.
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Living Cultures Conference 2009

Living Cultures - Contemporary Ethnographies of Culture
Data: 30-31 de março de 2009 (envio de papers até o final de fevereiro de 2009)
Localização: The University of Leeds, UK
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SCHOLAR-IN-RESIDENCE PROGRAM


A Temple University, Philadelphia/PA está oferecendo oportunidade para professores visitantes brasileiros para ministrar aulas, realizar pesquisas e desenvolver atividades de orientação técnica e científica em 2009/2010 na área de Sociology/Women´s Studies. Inscrições até 31 de março de 2009.

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Introduções à Sociologia das Emoções

TURNER, Jonathan H & STEPS, Jan E. (2005). The Sociology of Emotions. Cambridge, Cambridge University Press.
Nesta introdução Turner e Steps buscam passar em revista as contribuições mais importantes para a área que trabalha com a relação emoções e sociedade nos Estados Unidos. Desde as teorias dramatúrgicas e culturais, passando pelo interacionismo simbólico até as teorias estruturais, e pela vinculação e conversas da sociologia com a psicanálise e com a antropologia, este livro permite ao leitor, através de uma leitura convidativa e competente, adentrar e se iniciar nos debates e aprofundamentos acontecidos na área da Sociologia das Emoções americana contemporânea. Leitura essencial para pesquisadores e estudantes interessados na relação emoções e sociedade.
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro (2004). Introdução à Sociologia da Emoção. João Pessoa, Editora Manufatura.
Neste livro Koury procura passar em revista a Sociologia das Emoções no interior da disciplina Sociologia. Faz um balanço dos clássicos, Durkheim, Weber, Marx, Simmel, Tarde, entre outros para discutir a categoria emoções no interior de suas obras. Faz a seguir um balanço do processo de estruturação, consolidação e estado das artes na sociologia das emoções contemporânea e, por fim, faz um estado de artes da sociologia das emoções no Brasil. É um estudo útil para estudantes e professores que trabalham com a categoria emoções em suas pesquisas.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sociologia das Emoções – comentário sobre o artigo « L’expression des émotions et la société » de Maurice Halbwachs (1947)

Este texto póstumo de Maurice Halbwachs, intitulado "L'expression des émotions et la société" publicado no número de 1947 da revista Échanges Sociologiques, do Centre de documentation universitaire de Paris, França, apresenta um interesse triplo ao leitor que busca uma compreensão genética da relação emoções e sociedade. O primeiro interesse se refere à linhagem durkheimiana de Halbwachs: ao descobrir a obrigação social do sentir e a influencia dos grupos sociais, Maurice Halbwachs se torna, ao lado de Marcel Mauss, no mais digno sucessor de Durkheim e, também, em sutil e refinado leitor de Georg Simmel e Max Weber.

O segundo interesse diz respeito ao processo de transmissão das emoções na sociedade: quando o autor trata da problemática da transferência das emoções, reencontra os problemas da memória coletiva, referência central de sua obra, e aborda a questão das emoções em uma temporalidade que afeta a existência individual e coletiva em uma sociedade, e busca compreender como se dá o processo de transmissão das emoções dentro do campo intergeracional.

Ao insistir, por fim, sobre a questão da formalidade e a eficácia das práticas rituais para compreender “a expressão das emoções”, Halbwachs indica o terceiro interesse deste seu artigo à análise da relação emoção e sociedade, que são os caminhos de uma possível superação das oposições clássicas entre expressão e representação, ou entre ritos e emoções.

Enfim, um estudo clássico que não pode passar em branco aos leitores e pesquisadores próximos ou militantes na área temática da antropologia e da sociologia das emoções.

Este estudo está sendo traduzido para ser publicado no próximo número (v. 8, n. 22) da RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção (ISSN 1676-8965), que deverá ser lançada digitalmente no final do mês de abril de 2009. Não perca.

A RBSE pode ser encontrada no site: http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pesquisa Concluída: "Parque Solon de Lucena: Espaço público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade".


A pesquisa "Parque Solon de Lucena: Espaço público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade", teve início: março de 2005 - Término: dezembro de 2006.
Esta pesquisa foi um sub-projeto de extensão de um trabalho de pesquisa maior intitulado 'Medos Corriqueiros", En desenvolvimento no GREM, sob a coordenação do Prof. Mauro Koury.
Sua realização se fez necessária como forma de abrir um vínculo com o PROBEX - Programa de Bolsas de Extensão da UFPB - Universidade Federal da Paraíba, e possibilitar uma discussão dos dados da pesquisa maior com o processo de urbanização da cidade de João Pessoa e, no caso, particularmente, o Parque Solon de Lucena, discutindo sua importância para a cidade e para os seus habitantes.
Esta pesquisa teve uma monografia de graduação em ciências sociais defendida no seu interior. O resumo desta monografia pode ser lido na relação dos trabalhos defendidos no interior do GREM.
Alguns artigos publicados:

Resumo: Este artigo objetiva elaborar uma narrativa das formas de ocupação e usos de um espaço urbano da cidade de João Pessoa, de grande visibilidade local, o Parque Sólon de Lucena, mais conhecido como a Lagoa. Parte de um levantamento do humano e da paisagem local e procura elaborar um roteiro narrativo que abarque desde os diversos tipos que ali trafegam, como ocupam o lugar, os problemas e formas de os enfrentar que apontam, até os desenhos de sociabilidades e da memória visual, espacial, temporal e afetiva que possuem do espaço.

  • SILVA, Patrick Cézar. "O Parque Solon de Lucena na Visão de seus Usuários e Frequentadores". In, Mauro Guilherme Pinheiro Koury, (Organizador). Medos Corriqueiros e Sociabilidade. João Pessoa, Editora Universitária / GREM, 2005, pp. 77 a 84.


Resumo: Este ensaio discute as formas de sociabilidade e o uso do espaço na visão dos seus usuários e frequentadores, a partir de um survey realizado pelo GREM no Parque em 2005.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. "Um passeio através do Parque Sólon de Lucena. Uma narrativa sobre a emoção pertencer e uso do espaço público". Os Urbanitas - Revista de Antropologia Urbana, Ano 2, vol.2, n.1, 2005. http://www.aguaforte.com/osurbanitas2/Koury.html

Resumo: Para quase todos os informantes com quem conversei durante as várias caminhadas em vários dias da semana e diversos horários durante a minha estada em campo, bem como para o imaginário da cidade, da mídia e das agências de turismo local, o Parque Sólon de Lucena é visto como um grande cartão postal da cidade. Este ensaio busca, deste modo, compreender o conceito e os sentidos de pertença vivenciados pela população de João Pessoa que freqüenta o local, através da narrativa dos informantes sobre o Parque.

Pesquisa "Luto e Sociedade no Brasil Contemporâneo".

Esta pesquisa deu origem a linha de pesquisa "Rituais da Morte, Luto e Sociedade" do GREM. Foi coordenada pelo Prof. Mauro Koury, iniciada em 1994 e concluída em 2001. Teve por objetivo central a compreensão das atitudes contemporâneas em relação ao fenômeno do luto no Brasil urbano. Trabalhou com as vinte e sete capitais brasileiras. O ritual da dor foi o ponto crucial de reflexão.
da relação entre luto e sociabilidade urbana no Brasil do final do século XX e início do século XXI. Estudou as mudanças comportamentais, sociais, culturais e psicológicas ocorridas no homem comum urbano brasileiro nas últimas três décadas do século XX.
Buscou, nela, compreender o significado social do luto e o processo de individuação de quem sofre uma perda. Partiu-se da hipótese de que a morte e sua relação com o mundo dos vivos no Brasil parece ter sido capturada por códigos outros que não os de uma sociedade relacional, estudada por Roberto DaMatta no início dos anos oitenta.

O distanciamento em relação ao morto e aos que o perdem parece ser a característica principal da nova sensibilidade que começa a se formar, tornando-se cada vez mais nítida, na sociedade brasileira urbana dos últimos dez anos. A manifestação pública da dor individual parece ter-se tornado mais e mais estranha ao cotidiano do homem comum, embora este conviva ainda com a indignação por esse estranhamento.

Como objetivos específicos, necessários para o alcance do objetivo central, teve-se, entre outros:

  • o entendimento de como foi internalizado enquanto processo simbólico o significado social da dor no imaginário brasileiro;
  • por quais mudanças tem passado o fenômeno da dor do luto até os dias atuais, e que reações tem enfrentado junto aos homens comuns.

Interessou a este projeto verificar o lado público da dor de quem fica no momento seguinte imediato à constatação da morte. Buscou, também, compreender as expressões de dor, de desespero, de desamparo, ao lado da reunião social onde parentes e amigos presentes bebem, comem e conversam o morto.

O entendimento desse ritual solitário da dor e do ritual social da despedida entrecruzado em gestos, expressões e atitudes, em constante movimento de mudança e permanência é a base de inquietação desta pesquisa.

Relatório Final da Pesquisa "Luto e Sociedade no Brasil:

  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Ser Discreto: Um Estudo do Brasil urbano sob a ótica do luto. João Pessoa, GREM/UFPB, 2001
Livros publicados relacionados à pesquisa:
  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Amor e Dor: Ensaios em Antropologia Simbólica Recife, Edições Bagaço, 2005

Resumo: Este livro busca compreender como vem se dando a construção recente dos laços afetivos na sociedade brasileira urbana atual, a partir dos momentos de crise pessoal e societal ocasionados pela perda de membros de uma comunidade de afeto ou de uma comunidade moral. Visa resgatar a relação entre imagem fotográfica e o trabalho de luto no Brasil urbano contemporâneo.


  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Sociologia da Emoção. O Brasil urbano sob a ótica do luto Petrópolis, Vozes, 2003.
  • Resumo: Este livro é baseado em uma ampla pesquisa em vinte e sete capitais dos estados brasileiros, sobre as representações e o imaginário urbano da classe média, das mudanças e permanências nos hábitos, costumes e rituais do luto no Brasil dos anos finais do século XX e início do século XXI. Neste livro se discute como é visto e sentido o fenômeno do luto, através da criação de interseções entre o imaginário individual e social, e as mudanças comportamentais e sociais no trato da morte e do morrer no Brasil contemporâneo.

  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Uma Fotografia Desbotada: Atitudes e Rituais do luto e o objeto fotográfico. João Pessoa, Manufatura / GREM, 2002.

Resumo: Este livro busca compreender as atitudes e os rituais da dor do luto a partir de um depoimento colhido pelo autor em uma de suas estadas recentes a campo. Tem como limite de análise este único caso escolhido por sua singularidade em relação aos demais depoimentos sobre processos de perda e vivências de luto recolhidos pelos autor neste ano de 1997. A singularidade que motivou a escolha dessa entrevista prende-se ao fato de toda a ritualização do processo de luto e compreensão e introjeção do objeto perdido ter-se realizado em torno de um outro objeto: uma fotografia.



  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro, LIMA, Jacob Carlos e RIFIÓTIS, Theophilos, Organizadores. Cultura & Subjetividade, João Pessoa, Editora Universitária, 1996.

Resumo: A subjetividade, os traços de interiorização formadores do indivíduo social são o tecido que une os textos reunidos nesta coletânea. Em sua polifonia temática, refletem interrelações entre os indivíduos e a cultura e sociedade. Buscam compreender através do processo de construção da pessoa, as formas que são inventadas, criadas, de recuperação a todo instante do exercício de sociabilidade. Autores presentes nesta coletânea: Paulo Henrique Martins (UFPE), Mauro Guilherme Pinheiro Koury (UFPB), Celeste Cordeiro (UECE), Alda Brito Motta (UFBA), Françoise Dominique Valéry (UFRN), Glória Diógen es (UFCE), Jovanka Baracuhy Cavalcanti (UFPB), Edward MacRae (UFBA), Carlos Caroso e Núbia Rodrigues (UFBA), Roberto Motta (UFPE), Roberta Bivar Carneiro Campos (UFPE) e Tamara Tania Cohen Egler (UFRJ).


No interior desta pesquisa foram defendidas 02 dissertações, uma monografia de especialização e quatro monografias de graduação em Ciências Sociais. Os resumos destes trabalhos podem ser vistos neste blog na relação de trabalhos orientados no interior do GREM.

Esta pesquisa teve o apoio do CNPq e da CAPES como bolsas de mestrado e iniciação científica e do Probex-UFPB, em forma de bolsas de extensão.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Pesquisa em Desenvolvimento no GREM

NOME DO PROJETO:

  • "Medos corriqueiros: a construção da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes das cidades brasileiras na contemporaneidade".
Esta pesquisa faz parte da linha de pesquisa do GREM “Medos Urbanos, Violência, Ruínas e Construção das Cidades”, e tem por objetivo traçar um mapa dos medos no Brasil urbano atual. Foi dividida em dois momentos de análise:

O primeiro abarcou os anos de 1999 a 2007 e teve a cidade de João Pessoa, Paraíba, como lócus de análise.


O relatório final desta fase da pesquisa pode ser visto em forma de livro, intitulado:




  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. De que João Pessoa tem medo? Uma abordagem em Antropologia das Emoções (JP, Ed. Universitária/UFPB, 2008);


Os resultados desta primeira fase da pesquisa podem ser visto, também, em uma coletânea organizada pelo Prof. Mauro Koury com os subprojetos vinculados a pesquisa maior dos alunos estagiários e bolsistas do GREM, intitulada:


  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro (Org.). Medos Corriqueiros e Sociabilidade (JP, Ed. Universitária/UFPB, 2005);



Além de inúmeros artigos publicados em revistas especializadas nacionais e estrangeiras. Podem ser visto, ainda, no livro:



  • KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro, O Vínculo ritual: um estudo sobre sociabilidade entre jovens no urbano contemporâneo (JP, Editora Universitária/UFPB, 2006).



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O segundo momento, foi iniciado no final de 2008 e incluiu as demais capitais dos estados brasileiros para análise. Os trabalhos desta segunda fase deverão prosseguir até 2012.

Neste momento, a segunda fase está iniciando o levantamento de dados em algumas capitais do Brasil, e revisando a bibliografia acadêmica e outras sobre o assunto.
Expressões, gestos, posturas, narrativas, imagens e sons serão privilegiados na construção deste painel de medos contemporâneos nas cidades brasileiras.
Esta pesquisa conta com o apoio, em forma de bolsas de pesquisa e extensão, do CNPq, da CAPES e do Probex-UFPB. Conta também com o apoio financeiro do Fundo de Pesquisa da Comunidade Européia.


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Sugestões, narrativas, imagens, notícias, indicações bibliográficas e outras sobre medos e cotidiano serão bem vindos.