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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Série Pesquisas em Desenvolvimento, n. 01 - Junho de 2009

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A partir de hoje o Blog inicia uma nova Série intitulada Pesquisas em Desenvolvimento, com a publicação de Resumos Expandidos das Pesquisas em Desenvolvimento pelo corpo de pesquisadores do GREM, neste ano de 2009.
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Nesta nova Série, serão postados resumos individuais dos pesquisadores com um informe sobre suas pesquisas e uma pequena bibliografia referencial de apoio. Será informada, também, a linha de pesquisa do GREM a que estão vinculadas.
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Esta Série Pesquisas em Desenvolvimento tem início com a publicação do Resumo Expandido da pesquisa da pesquisadora Anne Gabriele Lima Sousa. A pesquisa em desenvolvimento de Anne Gabriele tem como objetivo a obtenção do título de Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco.
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Vamos, então, para o primeiro número da Série Pesquisas em Desenvolvimento.
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A linha de pesquisa do GREM que a pesquisa em desenvolvimento de Anne Gabriele está alocada é a Estudos em Sofrimento Social e Sociabilidade.
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Título da Pesquisa: Valores, emoções e construção de identidades de moradores das ruas de João Pessoa, Paraíba, Brasil
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Pesquisador: Anne Gabriele Lima Sousa
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Resumo: Esta pesquisa busca compreender os processos simbólicos que permeiam a construção dos vínculos sociais e a elaboração das referências emocionais que dão sentido a uma subcultura da vida de rua, a partir das respostas adaptativas e das estratégias de sobrevivência que permeiam as redes de sociabilidade dos indivíduos adultos em situação de rua, inerentes ao cenário urbano da cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba.
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Busca-se, sobretudo, apreender as relações intersubjetivas dos indivíduos em situação de rua em sua vida cotidiana nos espaços físicos (com valor funcional) e simbólicos (com valor afetivo), a partir do modo como constroem suas memórias afetivas e, a partir delas, se localizam, se posicionam, percebem o mundo social e interagem com ele.
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A pesquisa está em desenvolvimento e objetiva a composição da minha tese de doutorado em sociologia, com defesa prevista para fevereiro de 2011.
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A apreensão dos processos simbólicos que permeiam as formações societárias entre os indivíduos em situação de rua de João Pessoa busca suporte analítico nas reflexões despertadas pela Sociologia das Emoções (KOURY, 2001, 2003 e 2005), pela Sociologia do Reconhecimento (SOUZA, 2003 e 2006; TAYLOR, 1995 e 1997a), pela Sociologia da Vida Cotidiana (GOFFMAN, 1988 e 1989; MARTINS, 2000 e 2003) e pela Sociologia da Cultura (BOURDIEU, 1992, 2001 e 2007), promovendo o debate teórico-metodológico entre áreas de concentração distintas, mas que interligam-se na análise do comportamento social contemporâneo.
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A compreensão da dinâmica encenada pelos atores da pesquisa vem sendo realizada através de um esforço etnográfico, de descrição e interpretação das práticas e das rotinas que permeiam as relações inerentes ao campo, permitindo um conhecimento mais detalhado sobre ele.
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O contato inicial com os atores da pesquisa se deu por intermédio das ONG’s e dos demais órgãos que desenvolvem algum tipo de atividade com esta população. O acompanhamento das atividades das organizações, com o intuito de observar e me fazer ser percebida e reconhecida, visou, principalmente, minimizar o estranhamento da população em relação à figura de pesquisadora estrangeira ao grupo, para a construção de uma relação de confiança recíproca, favorecendo a natureza do processo interativo, necessário para o desenvolvimento das demais etapas da pesquisa.
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Identificados os informantes-chaves para o aprofundamento das questões relevantes para a pesquisa, o momento seguinte foi o de dissociar a minha posição de pesquisadora com a imagem institucional do órgão que intermediou a primeira aproximação com os atores. Esse esforço foi necessário, para que pudesse, uma vez já estabelecido o contato, construir relações mais estreitas com os informantes, para que me fosse permitido acesso ao conjunto de experiências e de significados que dão sentido às trocas interacionais, ambíguas e contraditórias, provindas do multipertencimento nas distintas situações de inserção, nas redes de sociabilidade em que eles fazem partem.
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A partir desses informantes-chaves, a seleção dos demais informantes têm sido do tipo bola de neve, onde o diálogo com determinado informante revela personagens significativos para a compreensão do fenômeno social investigado. Tem-se, no entanto, buscado abarcar indivíduos com características diferenciadas, de modo a oferecer um amplo conjunto de interpretações sobre o mundo social do qual fazem parte, bem como a identificar os diferentes tipos que compõem esta população, no que tange aos seus padrões de inserção e estilo de vida adotado na rua.
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As entrevistas orais têm sido realizadas em profundidade, através de encontros sucessivos com o mesmo informante, no intuito de captar os distintos elementos inerentes às suas trajetórias sociais, culturais e emocionais, bem como perceber ênfases e contradições nas suas narrativas.
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Apreender as emoções expressas nas narrativas implica compreender a relação que os indivíduos estabelecem com o mundo social que eles tecem e que adquire sentido para eles, na elaboração das memórias afetivas de suas experiências urbanas.
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Servindo-se da memória como ferramenta de elaboração das lembranças e de localização e inscrição do sujeito em um contexto sociocultural específico, a pesquisa tem buscado levantar como se dá a construção de suas identidades sociais e de suas redes de sociabilidade, bem como analisar como se configura os processos de enraizamento e pertença entre os diferentes grupos de indivíduos que compõem a população em situação de rua.
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Os indivíduos urbanos em situação de rua, população situada no nível mais baixo da estrutura de classes, estão localizados em uma posição de estigmatização (GOFFMAN, 1988) e extrema exclusão, por adquirirem visibilidade a partir da não participação legítima, arbitrária ou inevitável, das convenções sociais reclamadas para a aceitabilidade e reconhecimento no cenário social urbano contemporâneo, tais como casa (em uma concepção que a compreende enquanto espaço privado e endereço fixo), trabalho (ocupação formal e fixa) e família (dentro do modelo tradicional de estrutura familiar), entre outros. Além disso, a materialidade através da qual o corpo dos indivíduos em situação de rua é percebido, ao contrariar os padrões socialmente instituídos de etiqueta corporal, justificam a impossibilidade de integração desses indivíduos ao cenário urbano de forma assentida.
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A dissociação desses modelos classifica esses indivíduos como não-adequados à vida pública urbana, por situarem-lhes como o contrário, ou o negativo, dos tipos aceitáveis de indivíduos.
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Segundo Martins (2000), estranhos e prejudiciais ao espaço, sobretudo à sua imagem, os trajetos desses indivíduos causam desconforto e embaraço aos demais habitantes urbanos, onde o seu afastamento assume os traços de medo de contágio.
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Isto se dá porque, no imaginário social predominante na atualidade, a pobreza econômica é vista como solo da desagregação moral e, neste sentido, a condição de pobreza extrema é sempre passível de se converter em marginalização (Telles, 1990). O indivíduo em situação de rua, nesta direção, é reduzido à condição de coisa descartável (MARTINS, 2003), percebido por grande parte da sociedade a partir de classificações pejorativas, como marginais, vagabundos, bêbados, loucos, ladrões, entre outras representações, que refletem a ótica hierarquizada e o princípio de repugnância a partir do qual são qualificados (SERRANO, 2004).
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Além da postura de desprezo, outra postura assumida pelas outras parcelas da população urbana, é responsável pela reafirmação da inferioridade dos indivíduos em situação de rua. Trata-se, das expressões de compaixão, que demarcam o lugar do outro, subalterno, digno de piedade e caridade, distanciando-o da posição de igualdade (COELHO, 2003).
Para Snow e Anderson (1998), se, de um lado, esses indivíduos são objeto de medo e desprezo, pois se considera que eles ameaçam o bom funcionamento social, por outro lado, são dignos de compaixão, pois se acredita que eles consistam em vítimas das forças sociais e do azar. Há, em ambos os casos, o reconhecimento da sua subalternidade frente aos demais.
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A pesquisa tem buscado dar voz aos protagonistas dessas relações, dando realce às suas subjetividades e à construção de significados acerca de si mesmos e dos demais indivíduos, em meio aos processos interativos aos quais são submetidos em sua vida cotidiana nos espaços públicos citadinos, bem como às emoções despertadas por tais vivências, analisando os elementos e práticas sociais que mediam a instituição de uma subcultura da vida de rua.
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As trajetórias sociais heterogêneas reveladas na coleta de dados têm descortinado diferentes mecanismos de inserção, estratégias de sobrevivência e formas de sociabilidade, fundando estilos de vida distintos entre os indivíduos em situação de rua, atores desta pesquisa.
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Apesar da incompletude do trabalho de campo não permitir considerações definitivas sobre os resultados pesquisa, algumas características podem ser elucidadas, a fim de esboçar algumas questões que cerceiam o cotidiano da vida de rua na cidade de João Pessoa.
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A intensa mobilidade sócio-espacial faz com que o nomadismo figure como uma das características mais comuns da vida de rua. Diante da supervalorização do trabalho formal como única possibilidade de inserção e reconhecimento do indivíduo pobre em certas estruturas sociais contemporâneas, a migração por entre cidades, estados e países apresenta-se como uma densa prática exercida por indivíduos situados em classes menos favorecidas economicamente, oriundos, principalmente, de áreas geográficas precárias, que se dirigem aos centros urbanos na procura por alternativas de sobrevivência material.
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Para Martins (2000), os processos migratórios vivenciados por indivíduos que já preliminarmente suprimiram seus valores sociais de referência em prol da busca por oportunidades de trabalho, são intensificados pelo não-reconhecimento de um espaço como um lugar de familiaridade, de formação de vínculos, levando o indivíduo a deslocar-se incessantemente por diferentes regiões físicas e morais. Esse desenraizamento revela a ausência de integração do indivíduo com as redes de sociabilidade do meio em que habita, levando-o a migrar em busca de um espaço de participação e de reconhecimento, que lhe ofereça a sensação de pertencimento.
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O contexto de instabilidade socioespacial encenado por grande parte da população de indivíduos em situação de rua nos centros urbanos produz um jogo de reflexos, onde os movimentos migratórios na busca pela sobrevivência material dificultam o estabelecimento de vínculos fortes e de relações duradouras, ao mesmo tempo em que a impermanência dos vínculos e o enfraquecimento das redes próximas de proteção amplia a sua propensão aos deslocamentos territoriais.
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Apesar da maior parte da população em situação de rua de João Pessoa ser proveniente do próprio estado, e de muitos, inclusive, possuírem parentes na própria cidade, quase a totalidade dos informantes abordados pela pesquisa até o momento, já migraram para outros estados em busca de trabalho ou da construção de vínculos que lhes oferecessem conforto emocional, em meio às conjunturas protagonizadas pelos mesmos ao longo de suas vidas.
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A pertença, segundo Koury (2001) é o fundamento da percepção dos sujeitos da sua auto-imagem e do seu lugar no mundo. Entre os entrevistados, principalmente entre os idosos, o retorno à cidade de origem representa a busca por reencontrar suas raízes, diante do sentimento de pertença com o local. Mesmo diante das rupturas originais que levaram aos deslocamentos, a impossibilidade da construção de vínculos suficientemente sólidos com os locais por onde migraram, favorecem o retorno às origens como modo de buscar um lugar de familiaridade, a partir do qual podem reconhecer a si mesmos.
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No que tange às causas que levam ao desabrigo, estes não têm origem exclusivamente estruturais, nem tampouco individuais, mas residem na interação entre esses dois elementos, assumindo uma forma espiral, onde um fator deflagra o outro, simultaneamente.
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No caso desta pesquisa, a erosão de uma rede de apoio familiar solidária tem se apresentado como o principal fator de ingresso dos indivíduos nas ruas. Na sociedade contemporânea, onde a família é percebida como suporte material e afetivo dos indivíduos, amortecedor institucional entre as estruturas sociais do mundo mais amplo e suas estruturas psíquicas, e principal instituição formadora de seus valores, atitudes e padrões de conduta (GOLDANI, 2002), a deficiência das bases relacionadas a essa estrutura pode levar a uma desorganização das estruturas emocionais dos indivíduos. Quando os indivíduos não conseguem suportar as adversidades, ou não encontram no plano familiar amparo para as suas dificuldades, o ingresso na rua muitas vezes se revela como fuga, ou mesmo como única alternativa à crise instaurada.
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Associado à falta de uma base familiar sólida, o álcool figura, não apenas como um dos principais personagens da composição de uma subcultura da vida de rua, mas como um dos principais fatores de fragmentação familiar e causa de ingresso nas ruas. As experiências narradas pela maior parte dos informantes têm revelado o alcoolismo, mais como princípio motor determinante da situação de rua, do que apenas uma via de fuga alternativa das adversidades em que são sujeitados em seus contatos intramundanos.
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A memória social constituída pelas experiências dos indivíduos em situação de rua, em meio às constantes reorganizações socioespaciais que a vida nas ruas os submetem, tem se revelado pelas narrativas como permeada de um contínuo processo de ressignificações, onde passado, presente e futuro adquirem sinais de descontinuidade. Os relatos revelam uma instabilidade na forma como o passado é reconstruído, ora a partir de embelezamentos favoráveis, ora ressaltando intensas dores e desilusões.
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É comum, entre os indivíduos recém-imersos na rua, a negação em relação à sua condição de desabrigo, como uma tentativa de fuga das relações de hostilidade em que se vêem sujeitos e, sobretudo, como modo de reafirmar o seu valor como ser humano, lesado pelos lembretes de sua extrema inferioridade, reproduzidos nas circunstâncias corriqueiras.
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No entanto, à medida que o tempo na rua vai cristalizando a vivência em seu interior, os indivíduos passam a se familiarizar com as circunstâncias que a permeia, passando a atribuir sentidos a si mesmos e reivindicando suas identidades sociais no interior da conjuntura em que se encontram (Snow e Anderson, 1998).
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O reconhecimento de si mesmo como pertencente ao espaço da rua carrega consigo toda a carga internalizada que concebe a rua como espaço de desorganização, destituída de qualquer moralidade, evidenciando com isso um acordo de subalternidade do indivíduo em relação ao seu valor próprio e ao significado da sua existência na rua (TAYLOR, 1997a).
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Nesta direção, as narrativas dos atores da pesquisa acerca das circunstâncias cotidianas experienciadas por eles têm revelado um consenso incutido socioculturalmente no modo como olham para si e se colocam no mundo, através de um auto-reconhecimento do seu estado de inferioridade frente aos demais, a partir da interiorização dos mesmos critérios utilizados pela autoridade externa para classificá-los como inferiores. Assim, os indivíduos em situação de rua se comportam e percebem as situações a partir da concordância de que valem menos que os demais indivíduos, têm menos direitos e são menos dignos de respeito (SOUZA, 2003 e 2006).
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Há, desta forma, uma naturalização da desigualdade, compondo regras de convivência em seu interior, onde a diferença e a necessidade passam a ser encaradas como habituais, condição dada pela natureza e assumida como um fado do qual não se pode fugir (BOURDIEU, 2001 e 2007).
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As questões explanadas nas linhas precedentes, entre outras relações identificadas no campo até o momento, não devem ser tomadas como definitivas, pois, uma vez que a pesquisa empírica está em andamento, outros elementos podem ser identificados, alterando também as percepções sobre o objeto estudado e os rumos da análise.
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Além disso, a diversidade de contextos revelados nas histórias de vida e nas experiências cotidianas dos entrevistados faz com que a posição dos indivíduos frente aos elementos identificados assuma contornos distintos, diferenciando-os e configurando tipos específicos de moradores de rua.
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Neste sentido, as posições dos indivíduos quanto aos fatores que os levaram para as ruas, o tempo de moradia nas ruas, suas aspirações de sair ou permanecer, suas disposições a enraizamentos ou desenraizamentos territoriais, bem como suas posturas em relação ao álcool ou outras drogas, suas escolhas em relação ao modo de dormir e de adquirir dinheiro e bens materiais, e o modo de perceberem a si mesmos, o mundo social e a se localizarem e interagirem com ele, funda semelhanças e gera distinções entre pautas comportamentais, descortinando tipos identitários distintos, arrolados a estilos peculiares de vida. Traça-se, desta forma, os contornos de uma ordem ilegítima de vida, instituída no interior de um contexto socioespacial no qual seus personagens são rejeitados, mas do qual se vêem pertencentes.
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Bibliografia
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BOURDIEU, Pierre. (2007). A Distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre, Editora Zouk.
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_________________ (2001). A Produção da Crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos, Porto Alegre, Editora Zouk.
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_________________ (1992). O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.
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COELHO, Maria Cláudia. (2003). “Dádiva e emoção: obrigatoriedade e espontaneidade nas trocas materiais”. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção. João Pessoa, GREM.
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ESCOREL, Sarah (1999). Vidas ao léu: trajetórias de exclusão social. Rio de Janeiro: Fiocruz.
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GOFFMAN, Erving (1989). A Representação do Eu na Vida Cotidiana. Petrópolis, Vozes.
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______________ (1988). Estigma. Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. 4 ed, Rio de Janeiro: Guanabara.
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GOLDANI, Ana Maria (2002). “Família, gênero e políticas: famílias brasileiras nos anos 90 e seus desafios como fator de proteção”. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 19, n.1, jan/jun.
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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro (2005). Amor e dor: Ensaios de antropologia simbólica. Recife: Bagaço.
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_______________________________. (2001). “Enraizamento, pertença e ação cultural”. Cronos, v. 2, n.1, janeiro/junho.
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_____________________________. (2003). Sociologia da emoção. Petrópolis: Vozes.
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MARTINS, José de Souza. (2000). A sociabilidade do homem simples. São Paulo: HUCITEC.
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______________________ (2003). A sociedade vista do abismo. Petrópolis: Vozes.
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ROSA, Cleisa Moreno Maffei (2005). Vidas de Rua. São Paulo: Hucitec.
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SERRANO, César Eduardo Gamboa (2004). Eu mendigo: alguns discursos da mendicância na cidade de São Paulo. Recife, Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo. Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade.
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SNOW, David & ANDERSON, Leon. (1998). Desafortunados: Um estudo sobre o povo da rua. Petrópolis: Vozes.
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SOUZA, Jessé. (2003). A construção social da sub-cidadania: para uma sociologia política da modernização periférica. Belo Horizonte, Editora da UFMG.
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_____________ (2006). A invisibilidade da desigualdade brasileira. Belo Horizonte: Editora da UFMG.
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TAYLOR, Charles (1995). Argumentos filosóficos. São Paulo: Edições Loyola.
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_______________ (1997a). As fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Edições Loyola.
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TELLES, Vera da Silva (1990). “A pobreza como condição de vida: família, trabalho e direitos entre as classes trabalhadoras urbanas”. São Paulo em Perspectiva. São Paulo, Revista da Fundação SEADE, v. 4, n.2.
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terça-feira, 9 de junho de 2009

4a. Comunicação sobre a enquete "Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil" - A cidade de São Paulo (SP) - 2009




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O que os moradores da cidade de São Paulo (SP) apontam como sujo ou sujeira – 2009
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Mauro Guilherme Pinheiro Koury
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Este Blog divulga, agora, a 4ª Comunicação sobre a enquete Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil. Este quarta comunicação informa sobre os primeiros dados da tabulação para a cidade de São Paulo, capital do estado de São Paulo, sobre a enquete Sujeira. Esta enquete faz parte de uma pesquisa maior, em andamento no GREM, sob a coordenação do autor, sobre Medos Corriqueiros e Sociabilidade no Brasil Urbano.
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Divulga-se, aqui, apenas, o cruzamento da variável sexo com a questão sobre o que é sujo ou sujeira para os paulistanos, como tem sido feito para as outras três comunicações anteriores e já publicadas neste Blog nos dias 22 e 26 de maio e 05 de junho de 2009 (Koury, 2009, 2009ª e 2009b). E como será para as duas outras cidades restantes, respectivamente, Brasília e Curitiba.
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Como já foi dito nas comunicações anteriores, os informes divulgados neste Blog sobre a enquete Sujeira não trás nem aprofunda teórico e metodologicamente as questões enunciadas pelos dois gráficos trabalhados. A intenção do autor, neste Blog é apenas indicar a riqueza de dados trazidos à tona nesta enquete para a análise social sobre a cultura política e comportamental do brasileiro urbano, neste início do século XXI.
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Esta 4ª Comunicação segue o mesmo esquema das outras três: apresentam-se os dados de dois gráficos. O primeiro gráfico apresenta o resultado do total das respostas dos entrevistados paulistas sobre a questão o que é sujo ou sujeira para você. O segundo gráfico apresenta a mesma questão, comparando o resultado das respostas a ela pelo sexo dos entrevistados.
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Este mesmo esquema será seguido nas outras duas comunicações restantes.
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O que os paulistas consideram sujo ou sujeira
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Foram aplicados 90 questionários para a enquete Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil na cidade de São Paulo, entre os meses de março e abril de 2009. A aplicação destes questionários tomou a forma de abordagem direta dos cidadãos, em shoppings da cidade, em estações do metrô, na Avenida Paulista, na Praça da República e arredores, nos arredores do centro de comércio popular da Rua 25 de Março, e na Rua Oscar Freire e adjacências, no bairro dos Jardins.
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Entrevistou-se 46 mulheres (51,1%) e 44 homens (48,9%), de desempregados e donas de casa, de ambulantes a profissionais liberais de várias formações, empresários, policiais civis e militares, sacerdotes de várias religiões entre outros. A idade variou de 17 a mais de setenta anos, e a renda familiar também teve uma variedade grande, de menos de um salário mínimo até mais de 5º salários mínimos. A escolaridade, também, variou do primeiro grau incompleto até pós-graduados (doutores, mestres e especialistas). Não foi entrevistado nenhum analfabeto.
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Em relação à opção religiosa, entrevistou-se uma maioria católica, seguida de evangélicos das mais variadas religiões.
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Como já foi informado, nesta comunicação se relacionará apenas a categoria sexo do entrevistado com as categorias para a questão o que é sujo ou sujeira para você. As demais variáveis serão divulgadas posteriormente, no relatório final da pesquisa e na série de artigos acadêmicos que deverão iniciar sua publicação em revistas nacionais e internacionais de sociologia e antropologia, a partir de dezembro de 2009.
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Como já foi dito, o Gráfico 1, acima, resume a totalidade dos informantes para a questão o que é sujo ou sujeira para você, que responderam a enquete na cidade de São Paulo. Neste gráfico se percebe, logo de início, uma modificação da tendência seguida pelas três outras cidades já informadas nesta série de Comunicações deste Blog: as cidades de João Pessoa (PB), Recife (PE) e Belém (PA), em relação às categorias de respostas dos paulistas.
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Em São Paulo, a Violência Urbana é apontada por 39% dos entrevistados, enquanto categoria indicada como sujo ou sujeira. O que a torna, de longe, a mais importante categoria das demais apresentadas como respostas dos paulistas ao que é sujo.
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O medo do crime organizado, da criminalidade, do tráfico de drogas, da violência no e do trânsito, da insegurança na e da cidade, dos sequestros relâmpagos, da onda de sequestros e mortes de cidadãos, da violência contra a mulher, são alguns elementos apontados como indicadores da sujeira e do que é sujo na cidade de São Paulo, pelos entrevistados. “Eu tenho medo de sair de casa”, disse uma senhora, “e isso é uma vergonha, é uma imundície, que cada dia suja mais essa cidade”.
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Outro entrevistado fala diretamente da troca de tiros quase que diária entre bandidos e policiais, ferindo cidadãos “de bem”, e aumentando o medo de se viver em São Paulo. E complementa: “essa bandidagem, essa coisa da droga, é a coisa mais suja que eu posso informar pro senhor, aqui em São Paulo. É o pior, é uma coisa que atinge todo mundo, pelo medo e pelo desespero que causa a nós homens de bem”.
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Outro entrevistado fala diretamente dos assaltos e roubos que assola a capital do estado de São Paulo. “Pergunte a alguém, a qualquer um, se já foi vítima direta de assaltantes aqui. Garanto que, se houver um que diga que ainda não foi assaltado ou ameaçado, este felizardo terá um parente próximo prá dizer que foi. Aqui não escapa ninguém...”.
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Embora separada analiticamente, da explicitação direta da Violência Urbana como algo sujo, a categoria Mendicância, Gente Pobre, Gente Suja, com 10% das respostas dos paulistas, trás em si, além do preconceito direto contra a pobreza, uma aproximação com a categoria da Violência Urbana. A pobreza vista como algo sujo, nas mais variadas acepções: desde a falta de educação doméstica, a falta de higiene, a feiúra, entre outros atributos pouco apreciáveis, é tomada, indiretamente, nas respostas dos que a indicaram, como passíveis de provocarem a violência, ou como agentes diretos dela.
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A sujeira, a falta de higiene, a feiúra dessa gente, além de “emporcarem a cidade”, como se referiu um entrevistado, “vivem de fazer ameaças e medo aos cidadãos, principalmente, os velhos e as mulheres”, pedindo esmolas e ameaçando a quem não o dar, quando não, com pedaços de ferros, de vidro, ou outro instrumento qualquer, partindo para a agressão física. Eu mesmo já levei um canivete nas costas, para me enfraquecer e levarem a minha pasta... e, olha, que eu sou, ainda, relativamente moço”.,
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“Um bando de inútil” se referiu outro, “merecia ir tudo para uma câmara de gás. Eu, se eu fosse político, fazia uma lei para dizimar tudo que é pobre na cidade. Queria ver se essa cidade não ia melhorar...”.
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Nesta mesma direção, o preconceito contra a pobreza, e a aproximação do pobre urbano como causador da violência, e esse raciocínio levando os dois elementos a consideraram a pobreza como algo sujo, trás ainda, falado diretamente pela metade dos respondentes à questão, outro preconceito embutido: o pobre é apontado como o nordestino, como o nortista, como o ‘baiano’.
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A limpeza da cidade, para esses informantes, neste caso, se traduziria, diretamente, em uma política de expulsão “dessa gente” da cidade, “mandando eles de volta para seus estados”. Como falou uma entrevistada, “essa gente não tem oportunidade lá de onde vieram, vem prá cá, e aqui ficam perambulando e sujando a cidade. Não encontram emprego, pois não tem instrução qualquer, e, aí, vão virar esmoleis ou drogados ou bandidos. Quando não as três coisas ao mesmo tempo... e o pior, quem acaba sofrendo somos nós, todos intimidados por essa gente...”.
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A categoria Homossexualidade, apontada por 5,6% dos entrevistados, como algo sujo, embora indique o preconceito direto pela escolha sexual que não segue o padrão hetero, em algumas das respostas dadas por quem as indicou, aproxima, também, o homossexual, principalmente o masculino, à categoria da Violência Urbana. A prostituição masculina nos bairros centrais da cidade, em fileiras de rapazes vendendo o seu corpo é apontada, também, como elementos de intimidação, não apenas a moral e aos bons costumes dos paulistanos, mas a sua integridade física. Muitos relatam que já foram ou conhecem alguém que foi assaltado ou ameaçado por bandos de “rapazes alegres” quando voltavam para casa, ou transitavam pelas ruas à noite.
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A categoria Desrespeito ao Cidadão remete, igualmente, na cidade de São Paulo, à categoria da Violência Urbana. Esta categoria responde com 10% das respostas e fala do cotidiano, da infra-estrutura e da qualidade de vida dos cidadãos na cidade. O transporte público é um dos alvos principais de indicação de algo sujo, na cidade, seguido de um trânsito caótico, e dos alagamentos e enchentes “por qualquer chuvinha que ocorra”, fora as questões ligadas ao lixo urbano e saneamento da cidade, principalmente, nos bairros mais pobres. Mas, é indicada, também, a falta de iluminação pública e de um “péssimo policiamento”, além da conivência da polícia com os “marginais”, tornando a vida do habitante da cidade de São Paulo mais insegura.
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A categoria Gente Fraca não foi diretamente indicada pelos entrevistados, isto é, obteve 0% das respostas. Gente Fraca, como categoria, vem sendo indicada nas cidades já informadas neste Blog (João Pessoa, Recife e Belém), como uma categoria ligada à fraqueza de caráter, que leva ao vício, que das drogas, quer do álcool, que de outra espécie. Entre os respondentes da cidade de São Paulo, contudo, ela está diretamente associada à categoria pobreza (mendicância, gente suja, gente pobre), como um dos elementos que a compõe, ou diretamente à violência urbana. Neste último caso, a rede de drogas engloba tanto traficantes como usuários, ambos vistos como ameaças e indicadas sob a ótica da violência como sujeira.
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Outra categoria na cidade de São Paulo, que tem um viés um pouco diferente das demais capitais analisadas, é a categoria Falta de Confiança, com 4,4% das respostas. Enquanto nas outras cidades o receio da traição, o ser corno, a deslealdade, foram indicadas como elementos da categoria Falta de Confiança, como algo sujo; entre os paulistas, o receio da difamação, de vir a ser difamado, ou o ato de difamar, e no mesmo ritmo, a ‘fofoca’, foram às indicações mais correntes entre os entrevistados para a categoria Falta de Confiança como algo sujo.
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Não é o sentir-se traído, mas a difamação, que compreende a categoria Falta de Confiança para os paulistas. O ato de difamar é visto como uma sujeira, como algo sujo, que corrói tanto aquele que difama, quanto aquele que é difamado, fragmentando as relações de cordialidade necessárias ao agir social.
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Estranhamente, pelo menos para o pesquisador, entre os paulistas entrevistados, nenhum indicou diretamente a categoria Falta de Consciência Ecológica, que obteve, assim, 0% das respostas. Como se viu nas três comunicações anteriores para esta enquete, neste Blog, a categoria Falta de Consciência Ecológica como algo sujo, trazia em si um discurso mais elaborado sobre a questão da sustentabilidade e da ecologia. Isto não ocorreu em São Paulo.
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Apesar de haver referência a poluição ambiental, esta referência não trazia em si um discurso por trás, mas ao incômodo causado pela emissão de gases, ou de outros materiais poluentes no ar e nos rios. Deste modo, estas referências a poluição se aproximam mais de outra categoria, a de Fluídos.
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A categoria Fluídos, com 4,4% das respostas dos entrevistados, fala diretamente, da diminuição de qualidade de vida pela emissão de poluentes no ar, como mais um problema se saúde pública dos moradores da cidade, junto com outros objetos de contaminação e passíveis de doença, como espirros, líquidos e gases corporais, e a falta de limpeza e saneamento urbanos.
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Esta categoria, assim, se aproxima de duas outras: a do Desrespeito ao Cidadão, já comentada acima, pela deficiência de infra-estrutura e saneamento básico na cidade, e a outra, ligada à categoria Falta de Higiene.
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Esta última fala do elemento privado: do cuidado da casa, da falta de limpeza doméstica, da falta de educação doméstica, entre outros requisitos da vida privada. Em São Paulo, esta categoria foi indicada por 8,9% dos entrevistados.
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A categoria Falta de Higiene se junta à categoria Fluídos, na cidade de São Paulo, através da indicação da falta de educação doméstica que levam muitos a contaminarem outros tantos habitantes da cidade. A falta de educação doméstica eleva o grau de insalubridade da cidade, piorando as condições de vida dos cidadãos: desde a emissão dos líquidos e gases corporais em público, a falta de higiene pessoal, eleva os perigos que a cidade proporciona, e é considerado imundície, e sujeira, pelos entrevistados.
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Junto à categoria Falta de Higiene encontra-se a categoria Imoralidade, com 3,3% de indicações como algo sujo pelos paulistanos. A Imoralidade é indicada pelos entrevistados como uma falta de higiene moral, o que ameaça os bons costumes e amplifica a fragmentação de laços sociais na cidade. O que suja e ajuda a confundir os jovens em processo de descobertas e ajustamento social, prejudicando a ordem na cidade e o equilíbrio familiar.
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Uma categoria que tem sido indicada com uma grande frequência de respostas nas três comunicações anteriores desta enquete, publicadas neste Blog, a Falta de Zelo com a Coisa Pública, entre os respondentes de São Paulo, ao contrário, obteve apenas a indicação de 11,1% dos entrevistados. Como nas demais cidades analisadas, a problemática da corrupção, da visão da política nacional como politicagem, do uso privado da coisa pública pelos políticos profissionais e gestores públicos no país, são os elementos que compõem para os paulistanos o grosso desta categoria. São acompanhados, também, como nas outras cidades já analisadas, com o desvirtuamento ou a falta de políticas sociais concretas: na educação, na saúde e da segurança pública.
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A questão da violência urbana em São Paulo, de certa maneira, apresenta-se como preeminente no imaginário dos paulistanos sobre sujeira, e o que incomoda mais o cidadão na cidade, ofuscando a questão da gestão e uso da coisa pública enquanto fraude e sujeira.
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Por outro lado, os respondentes de São Paulo apontaram outra categoria como sujeira. Uma categoria que até agora não se tinha apresentado nas cidades de João Pessoa, Recife e Belém: a raça enquanto algo sujo. O preconceito de cor, embora com apenas 3,3% das respostas, apareceu de forma contundente nas respostas de quem a indicou. O negro e o asiático foram apontados como sujos, seja por serem considerados como uma beleza fora dos padrões do belo ocidental, seja por serem considerados como ameaças potenciais aos demais cidadãos da cidade. Os negros, como os nordestinos, nas respostas que os indicaram, por causa da pobreza a que eram remetidos, eram vistos como possíveis desonestos ou ladrões, ou como pessoas sem caráter ou educação. Uma entrevistada indicou o negro através de uma anedota comum em todo o Brasil de que “quando não fazem algo sujo na entrada, fazem na saída”. Exasperando o preconceito racial.
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O asiático, por sua vez, principalmente o chinês e os coreanos, são apontados como “comerciantes desonestos” e que “ludibriam o sujeito assim que podem”.
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O preconceito racial, assim, inaugurou o elenco de categorias sobre o que é sujo ou sujeira para o habitante urbano das capitais brasileiras, através das respostas de três entrevistados da cidade de São Paulo: um do sexo feminino e dois do sexo masculino.
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Breve comparação entre os sexos para o que é sujo e sujeira entre os paulistas entrevistados
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O Gráfico 2, abaixo, mostra uma comparação entre os respondentes do sexo masculino e feminino à questão sobre o que é sujeira para os paulistas.
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Como se viu anteriormente, as categorias Fluídos e Falta de Consciência Ecológica não foram indicadas por nenhum paulistano de qualquer sexo.
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A categoria Homossexualidade, por sua vez, foi apontada por 11,4% dos entrevistados masculinos como uma coisa suja, e por 0% do sexo feminino. O que vem correspondendo a um padrão comum às demais cidades analisadas. Parece que o preconceito com a Homossexualidade é predominantemente, ou mais evidente, entre o sexo masculino que o feminino.
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A categoria Falta de Confiança, por seu turno, foi indicada por 6,8% dos homens, e por 2,2% das mulheres paulistas.
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A categoria Preconceito Racial foi apontada por 4,5% dos homens e 2,2% das mulheres. E a da Imoralidade, ao contrário, por 2,3% dos homens e 4,3% das mulheres, na cidade de São Paulo.
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A categoria Fluídos, por sua vez, foi indicada por 2,3% dos homens e por 6,5% das mulheres. E a Falta de Zelo com a Coisa Pública, teve um índice de respostas de 11,4% do sexo masculino, contra 10,9% do sexo masculino.
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A de Falta de Higiene foi lembrada por 6,8% dos homens, contra 10,9% das mulheres. A da pobreza: Mendicância, Gente pobre, Gente suja, por 9,1% dos paulistanos do sexo masculino, contra 10,9% do sexo feminino.
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A categoria Desrespeito ao Cidadão, por sua vez, foi assinalada por 9,1% dos homens e 10,9% das mulheres.
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Finalmente, a categoria Violência Urbana foi indicada por 36,3% dos homens entrevistados, contra 41,2% das mulheres. O que revelou ser a grande preocupação dos paulistas no momento da aplicação desta enquete, e uma visão desta violência como algo que incomoda o cidadão comum, que perde a harmonia com a cidade, aprisionado entre o medo de ser atingido por ela ou por suas consequências. E é sobre este aspecto da violência como causadora de medo, que é sentida como suja, e como algo que constrange o homem comum morador da cidade de São Paulo.
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Nota Final
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Esta 4ª Comunicação da enquete sobre Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil, para a cidade de São Paulo, como já mostrados nas três outras anteriores, demonstra a riqueza de informações trazidas pela categoria de análise Sujeira ou Sujo para a compreensão da cultura política brasileira contemporânea.
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Em breve, neste Blog, serão divulgados os resultados da enquete para as cidades de Curitiba, capital do Paraná, e Brasília, Distrito Federal.
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Bibliografia
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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009). “O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira”. 1ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 22 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/o-que-pensam-os-moradores-da-cidade-de.html
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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009a). “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital pernambucana”. 2ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 26 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/2acomunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009b). “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital paraense”. 3ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 05 de junho de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/06/3a-comunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
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domingo, 7 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA VISUAL DO GREM

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Estagiários em Trabalho de Campo e Apresentando Painéis de Iniciação Científica



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Nesta série sobre a Memória Visual do GREM apresentamos, agora, algumas fotografias de estagiários do GREM no campo e durante a apresentação da painéis em encontros de Iniciação Científica.

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Convidamos a todos os estagiários e ex-estagiários, orientandos e ex-orientandos, pesquisadores e ex-pesquisadores que trabalharam junto ao GREM nestes 15 anos de atividade, que enviem fotos suas em trabalho de campo ou em apresentação em encontros e congressos, ou em eventos quaisquer que envolvesse o GREM, para ampliar este painel com a Memória Visual do GREM.

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As fotos devem conter o nome do estagiário e pesquisador, e um pequeno resumo indicativo da foto e a data em que foi tirada.

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Seguem agora algumas fotos com pesquisadores e estagiários do GREM durante trabalho de campo e durante a exposição de painéis em encontros de iniciação científica do PIBIC.

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Trabalho de Campo para a pesquisa Medos Corriqueiros (Sub-Projeto Parque Solón de Lucena, João Pessoa, PB), em 2003

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Na foto 1 se vê a pesquisadora do GREM Maria Sandra Rodrigues dos Santos, durante a supervisão do trabalho de campo para a pesquisa 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', em dezembro de 2003, com as ex-estagiárias do GREM Clara à esquerda e Karol à direita, durante um momento de relax das atividades de pesquisa na 'Lagoa', como é conhecido popularmente o Parque Solon de Lucena na cidade de João Pessoa.

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Foto 1


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Apresentações de ex-estagiários em Encontros de Iniciação Científica - PIBIC, em outubro de 2004.

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As fotos a seguir mostram alguns ex-extagiários do GREM na divulgação dos resultados parciais dos seus trabalhos, no Encontro de Iniciação Científica do PIBIC, em outubro de 2004.

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As fotos mostram alguns ex-extagiários com seus painéis ao fundo, ladeados do Prof. Mauro Koury e da Pesquisadora do GREM Maria Sandra.

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Foto 2

Na foto 2 se vê à esquerda o ex-estágiário e orientando do GREM, Alexandre Paz Almeida (hoje pesquisador do grupo de pesquisa), e à direita o ex-estagiário e orientando Francisco de Assis.



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No centro encontra-se o Professor Mauro Koury.



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Ao fundo os paineis por eles apresentados no Encontro PIBIC 2004.



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Alexandre e Francisco de Assis, na época, desenvolveram suas monografias de conclusão de curso de graduação em Ciências Sociais no interior da pesquisa 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', tendo o Prof. Mauro Koury, coordenador da pesquisa, como orientador. O primeiro trabalhando o bairro de Valentina de Figueiredo, João Pessoa, Paraíba, e o segundo, trabalhando o bairro de Mangabeira, João Pessoa, PB. Ambos foram bolsistas PIBIC/CNPq-UFPB do GREM.



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A Foto 3, abaixo, mostram outros três ex-estagiários do GREM ladeando o Professor Mauro Koury, e orientador de todos, e a pesquisadora do GREM Maria Sandra Rodrigues dos Santos.



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Foto 3



As duas ex-estagiárias do GREM: Karol abraçada com o Prof. Koury e Clara, junto da pesquisadora Maria Sandra, passaram apenas um ano, em estágio probatório, no GREM. Ambas ligaram-se ao projeto 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', e trabalharam junto com o também ex-estágiário Patrick César (na foto ao lado de Clara), no sub-projeto 'Lagoa', como é conhecido o Parque Solon de Lucena, na cidade de João Pessoa (PB).


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Patrick César, ex-bolsista PROBEX do GREM, concluiu sua monografia de graduação em Ciências Sociais, desenvolvendo um trabalho sobre a 'Lagoa', sob a orientação do Prof. Mauro Koury.


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A pesquisadora do GREM Maria Sandra supervisionou o trabalho de campo na área da 'Lagoa'.




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Ao fundo se vê alguns dos painéis apresentados pelo GRUPO no encontro PIBIC 2004, no Hall da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba.
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Foto 4


A Foto 4 ao lado, por fim, mostra o grupo de estagiários reunidos, ao lado do Prof. Mauro Koury e da Estagiária Maria Sandra, durante o Encontro de Iniciação Científica do PIBIC, 2004, no hall da reitoria da UFPB.

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Abaixado encontra-se Francisco de Assis, em pé Patrick, Karol, Alexandre e Clara.


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Pesquisadores do GREM em momentos de Relax após lançamento do livro De que João Pessoa tem Medo? na cidade de João Pessoa, Paraíba, em 2008

Foto 5

Nesta foto se vêem pesquisadores do GREM após o lançamento do livro de Koury, MGP De que João Pessoa tem Medo? (JP, Editora Universitária, 2008).
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À direita do Professor Mauro, que se encontra no centro da foto, o pesquisador Luis Gustavo Pereira de Souza Correia, junto com a pesquisadora Alessa Cristina P. de Souza. Do lado esquerdo, a pesquisadora Maria Sandra Rodrigues dos Santos, junto com a pesquisadora Anne Gabriele Lima Sousa.
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Os atuais pesquisadores do GREM representados na foto foram orientandos do Professor Mauro Koury.
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Maria Sandra na pesquisa 'Luto e Sociedade', onde defendeu monografia de graduação do curso de Ciências Sociais e sua dissertação de mestrado junto ao Programa de PósGraduação em Sociologia (PPGS) da UFPB.
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Luis Gustavo foi estágiário do GREM, onde defendeu sua dissertação de Mestrado no PPGS/UFPB
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Alessa e Anne Gabriele foram bolsistas PIBIC/CNPq no GREM, junto ao projeto 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', onde defenderam suas monografias de conclusão de curso de Ciências Sociais/UFPB.
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Este albúm de memória precisa ser ampliado. Ele está a espera do envio de novas fotos que falem da MEMÓRIA VISUAL DO GREM nestes 15 anos de atividade.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

3a. Comunicação sobre a enquete "Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil" - A cidade de Belém (PA) - 2009

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O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital paraense - 2009
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Mauro Guilherme Pinheiro Koury

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Esta comunicação dá continuidade a uma informação parcial sobre os dados levantados para a enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil”, aplicada em seis capitais de estados brasileiros durante os meses de março e abril de 2009. Como já se comentou nas duas comunicações anteriores para esta enquete, relacionadas às cidades de João Pessoa (PB) e de Recife (PE), ambas publicadas neste Blog nos dias 22 e 26 de maio de 2009 (Koury, 2009 e 2009a), esta enquete faz parte de uma pesquisa maior intitulada ‘Medos Corriqueiros e Sociabilidade’ em andamento no GREM sob a coordenação do autor.

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Esta enquete foi aplicada na última semana do mês de março na cidade de Belém, capital do estado do Pará. Sua aplicação se deu na forma de abordagem direta dos possíveis entrevistados em locais públicos como os shoppings, tantos os maiores quanto os mais populares, o mercado ver-o-peso e seus arredores, em três das várias universidades e estabelecimentos de ensino superior da cidade de Belém. Foram aplicados 60 questionários. Deste total, 26 foram aplicados com mulheres e 34 com homens, com renda, estado civil, escolaridade, religião e atuação profissional diversas.

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Esta 3ª comunicação da enquete sobre sujeira e imaginário urbano no Brasil, como nas outras duas comunicações anteriores, tem o intuito apenas de informar os leitores do Blog sobre a riqueza de dados para a interpretação da cultura urbana brasileira e da cultura política e comportamental nacional, através da apresentação de dois gráficos oriundos da enquete: o primeiro, sobre o total das respostas da capital Belém sobre o que é sujeira, e o segundo gráfico, com a mesma questão cruzada com o sexo dos entrevistados.

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Os resultados finais da enquete serão divulgados em artigos acadêmicos e em Relatório Final de pesquisa, a partir de dezembro de 2009. As comunicações presentes não discutem questões teóricas ou metodológicas, é apenas mostrado um conjunto de respostas tabuladas através de categorias analíticas tiradas das próprias informações dos entrevistados. De forma mais aprofundada estes dados e categorias serão analisados no Relatório Final e nos artigos acadêmicos já indicados.

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O que é sujeira para você – Belém (PA), 2009

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O primeiro gráfico apresentado (Gráfico 1) demonstra as categorias de respostas indicadas pelos entrevistados da cidade de Belém à questão sobre o que é sujo ou sujeira para cada um deles. As categorias com maior concentração de respostas entre os entrevistados da cidade concentram-se na de Falta de Zelo com a Coisa Pública, com 16,7% do total de respostas; seguida pela questão da homossexualidade, com 13,3% do total dos respondentes; e a categoria Desrespeito ao Cidadão, com 11,7% das respostas.

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A categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública, como algo sujo ou como sujeira para os entrevistados, em Belém, como nas duas outras cidades já apresentadas nas comunicações anteriores, tem ganhado uma supremacia de indicações, o que surpreendeu o pesquisador, em um primeiro momento, como já indicados nas comunicações anteriores. Esta categoria revela o abuso do poder dos gestores e do legislativo, nacional, estaduais e locais, a corrupção, o governar e o legislar em causa própria, o desvio de verbas e o mau uso na administração de políticas públicas.

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O autor acredita que a evidência como sujo da categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública tenha se tornado presente ao cotidiano do homem comum brasileiro e de Belém, aqui em particular, devido aos diversos escândalos envolvendo políticos profissionais e gestores nos últimos vinte anos no Brasil e, principalmente, após o episódio do mensalão, com grande debate na opinião pública e na mídia nacional.

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O que assusta, nesta enquete, como tem sido vistos nas duas comunicações anteriores, também, é o alto nível alto de preconceito com os homossexuais, principalmente com os homossexuais masculinos. Na cidade de Belém, o índice de indicação da Homossexualidade como uma categoria ligada à sujeira é de 13,3% do total dos informantes, ou seja, quase 23 dos 60 entrevistados, indicaram a prática do homossexualismo como algo sujo. Muitos dos respondentes chegando a afirmar que deveria ter uma ação direta da polícia para aniquilar aqueles que optassem pela prática homossexual. Dois entrevistados chegando a afirmar que expulsaram filhos de casa e evitam parentes desviados.

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Fazendo uma rápida comparação entre as cidades de João Pessoa, Recife e Belém com relação à categoria Homossexualidade, esta categoria aparece com maior incidência em Belém, com 13,3% dos respondentes à enquete. Em João Pessoa e Recife, esta mesma categoria é associada ao sujo por 6,7% dos entrevistados de cada cidade.

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Outra coisa que chama atenção em Belém, é que a categoria Homossexualidade, embora apareça com maior número de indicação entre os homens, com 14,7% dos respondentes, aparece, igualmente, com força, entre as mulheres, com a indicação da prática homossexual como sujeira para 11,6% das mulheres, conforme pode ser visto no Gráfico 2. Na cidade de João Pessoa, como pode ser vista na 1ª comunicação da enquete, neste Blog, postado no dia 22 de maio, a categoria homossexualidade aparece com 6,7% dos respondentes, sendo 11,5% do total dos homens, e, 2,9% do total das mulheres. No caso da cidade do Recife, como pode ser vista na 2ª Comunicação postada no dia 26 de maio, neste Blog, a totalidade de respostas indicando a categoria Homossexualidade como algo sujo, é de homens.

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A terceira categoria, com maior número de indicações na cidade de Belém, compara o Desrespeito ao Cidadão como algo sujo, à sujeira. Esta categoria corresponde a indicação de 11,7% dos entrevistados durante a enquete em Belém.

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Como já foi visto nas duas comunicações anteriores, a categoria Desrespeito ao Cidadão fala dos problemas da cidade: infra-estrutura, problemas ligados à saúde pública, problemas ligados a degradação da cidade, problemas relacionados à política habitacional, a política de transportes públicos, ao lixo urbano, entre outros. Na cidade de Belém, os respondentes tocam em assuntos ligados, essencialmente, a reorganização do espaço urbano, ao comércio ambulante, a degradação do centro urbano da cidade e a deteriorização dos imóveis, e ao alto índice de falta de moradias dignas para a população local.

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O segundo grupo de concentração de respostas recai nas categorias de Falta de Consciência Ecológica, com 10% dos respondentes; a Violência Urbana, também com 10% das respostas e a Falta de Higiene, com 10% dos entrevistados. Como na cidade do Recife, a Falta de Consciência Ecológica traz um discurso mais elaborado sobre os perigos de um progresso urbano que se volta contra a natureza. Na cidade de Belém, este discurso fala, sobretudo, para a cidade voltar às costas para o rio, e às consequências desta política de desenvolvimento, tido como rejeição pelos moradores que a indicaram. Falam ainda do problema do esgotamento sanitário, todo voltado para o deságüe nas encostas do rio, da falta de planejamento, aumentando o desordenamento urbano e o aumento da poluição. Por último falam da destruição da floresta, causando óbices intransponíveis, em curto prazo, à vida humana.
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A segunda categoria ligada a este segundo grupo, também com 10% das indicações, revelam a Violência Urbana como algo sujo. Apontam o crescimento acelerado nas últimas décadas da criminalidade na cidade de Belém e em seu entorno, e da falta de uma política eficiente de combate à onda de crime que se desenvolve na cidade. Apontam, também, a emergência do crime organizado, principalmente, indicando Belém como um entreposto para a indústria criminosa das drogas e sua distribuição, a nível local, nacional e internacional.
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A terceira categoria, por fim, fala da Falta de Limpeza. Esta categoria apontada por 10% dos entrevistados, como nas outras duas cidades em que este Blog já fez uma comunicação, João Pessoa, e Recife, é vista como falta de higiene doméstica, e diz respeito à organização da vida privada na cidade. As casas mal arrumadas, os banheiros pouco higienizados, as cozinhas com estoques de alimentos não adequados e com pouca limpeza, as pragas urbanas, são citados pelos entrevistados nesta categoria como equivalente à sujeira. Do mesmo modo como também indicam a falta higiene pessoal: cabelos gordurosos, pessoas com aspectos de pouca higiene corporal, entre outros, são indicados como algo sujo entre os respondentes desta categoria.
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O terceiro grupo de respostas concentra as categorias de Falta de Confiança, com 8,3% dos respondentes; a categoria de Imoralidade e de Mendicância ambas com 6,7% de respostas; e as categorias de Fluídos, com 5% dos entrevistados e Gente Fraca, com 1,6% dos que indicaram esta categoria como algo sujo.
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A categoria Falta de Confiança indica, principalmente, entre os respondentes da cidade de Belém, o medo da traição. O medo de ‘ser corno’, e o receio da deslealdade de sócios e de amigos foram indicados pela totalidade dos entrevistados que responderam indicando a categoria Falta de Confiança como algo sujo e difícil de aceitar.
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A categoria Imoralidade, por sua vez, na cidade de Belém, também como nas outras duas cidades que já tiveram informes para a enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil” corresponde à visão de pornografia e da licenciosidade do sexo e sua exposição na sociedade contemporânea. Em Belém, porém, aparece revestida, na maior parte das respostas, a uma crítica ao abuso de poder de gestores, políticos e profissionais ligados ao setor de segurança no estado do Pará.
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Muitos dos entrevistados relatam como sujeira o envolvimento de políticos profissionais com prostituição e com a pedofilia, outros tantos indicam o descaso com menores delinquentes, muitas vezes presos e colocados em celas de prisão com vários adultos. Onde são abusados sexualmente por presos, com a conivência, senão a participação de agentes penitenciários. Os casos retratados envolvem sempre a questão do abuso contra mulheres. Os entrevistados remetem esses casos, também, como um descaso das autoridades: juízes, delegados, prefeitos, e governo estadual, que jogam um para o outro a responsabilidade, sem resolverem o problema.
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A categoria Mendicância desenvolve um preconceito com a pobreza, como nas duas outras capitais já estudadas nas duas comunicações anteriores postadas neste Blog em 22 e 26 de maio de 2009. A pobreza é tida, pelos respondentes que a indicaram, como sujeira e como algo que degreda a cidade. A maior parte indicando a pobreza como causadora do aumento da violência contra o cidadão na cidade de Belém, e grande parte indicando que deveria se pensar um ‘jeito’ de se exterminar com os mendigos e pobres da cidade.
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A categoria Fluídos aparece na cidade de Belém como uma categoria associada à sujeira, de um lado, como responsável pela poluição, emissão de cases tóxicos pelo transito caótico da cidade; o chorume dos aterros sanitários mal cuidados e a insalubridade do ar, que, em um clima muito quente e úmido, provoca problemas de saúde pública, principalmente em crianças pobres. Por outro lado, é colocado em menor número, como consequência da falta de educação e higiene pessoal: escarros, cusparadas e lançamentos de outros líquidos corporais em público. Um menor número indica o sangue menstrual como sujeira.
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A categoria Gente Fraca, aparece na cidade de Belém com, apenas, 1,6% das respostas. Diferente das cidades de João Pessoa e Recife, esta categoria não diz respeito a usuários de drogas e ao álcool, mas fala da fraqueza de caráter em si. Esta associada mais a falta de perspectiva pessoal, a quase anomia durkheimiana, ao fracasso pessoal, e ao uso da expressão ‘Maria vai com as outras’, demonstrando uma dificuldade de opção pessoal e do seguir a vontade alheia. Esta falta de caráter, que torna a pessoa vulnerável, é indicada pela totalidade dos respondentes como sujeira, como algo que provoca nojo.
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Relação da categoria Sexo com a questão O que é sujo para você na cidade de Belém (PA).
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Aqui se fará, apenas, uma ligeira comparação entre os homens e mulheres entrevistados pela enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil” na cidade de Belém. Como já foi dito acima, foram entrevistados 26 pessoas do sexo feminino, 43,3% do total, e 34 do sexo masculino, 56,7% do total, perfazendo o total de 60 entrevistas.
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De acordo com o Gráfico 2, abaixo, o sexo feminino em Belém tem predominância nas respostas para as categorias de Violência Urbana, com 15,4% das indicações, contra 5,9% dos indivíduos do sexo masculino; a categoria Mendicância também é apontada como sujeira, principalmente, pelo sexo feminino: 15,4%, contra 2,9 dos homens. A categoria Fluídos é uma categoria, na cidade de Belém, apontada exclusivamente pelas mulheres, com 11,6% das respostas, contra zero dos homens; a Falta de Higiene, também, é apontada em maior número de indicações pelo sexo feminino: 11,6%, embora com um bom número de indicações masculinas, 8,9% das indicações. O mesmo acontecendo com a categoria Desrespeito ao Cidadão, com 15,4% de indicações das mulheres, contra 8,9% das indicações do sexo masculino.
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No mesmo Gráfico 2, pode-se notar que as categorias mais apontadas pelo sexo masculino foram as de Homossexualidade, com 14,7% das indicações, contra 11,6% das indicações das mulheres. O que mostra um alto grau de preconceito contra a homossexualidade na cidade, entre homens e mulheres. Diferente das outras duas cidades já trabalhadas, Recife e João pessoa, onde a categoria Homossexualidade era apontada, sobretudo, pelos homens.

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Outra categoria apontada pelos homens foi a de Gente Fraca: esta categoria obteve, na cidade de Belém, 2,9% das indicações dos homens e zero das mulheres.

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A categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública, quase obteve número igual de indicações entre homens e mulheres, com uma pequena predominância masculina, 17,6%, contra 15,4% dos homens. O que indica uma grande decepção com a política profissional: políticos e gestores, na cidade de Belém.

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A Falta de Consciência Ecológica como categoria associada à sujeira, por sua vez, na cidade de Belém, foi lembrada apenas pelo sexo masculino, com 17,6% das respostas, contra zero das mulheres.

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E, por fim, a categoria Falta de Confiança, também, foi uma categoria apontada, principalmente, pelo sexo masculino, com 11,7% das indicações, contra, apenas, 3,7% das mulheres.

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Notas Finais

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Esta terceira comunicação informou alguns dados da enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil”, tendo a cidade de Belém, capital do estado do Pará, como base. Esta terceira comunicação se junta às duas outras já publicadas neste Blog, nos dias 22 e 26 de maio de 2009, as cidades de João Pessoa (PB) e Recife (PE).

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Em breve os dados sobre as demais cidades que serviram como amostra para a realização desta enquete: Brasília, São Paulo e Curitiba, serão informados em comunicações para este Blog.

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Bibliografia

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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. “O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira”. 1ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 22 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/o-que-pensam-os-moradores-da-cidade-de.html

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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital pernambucana - 2009”. 2ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 26 de maio de 2009a. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/2acomunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html

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quinta-feira, 4 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

Parceiros do GREM
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Entre os parceiros do GREM encontra-se, também o Grupo de Investigación Una Mirada Antropológico-Social desde Andalucía (HUM-768), do Departamento de Antropología da Universidad de Jaén, campus Las Lagunillas, Jaén, España.
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Este Grupo de Investigación é liderado pelo antropólogo José Luis Anta Félez.
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O Grupo de Investigacíon Una Mirada Antropológico-Social desde Andalucía edita desde 2001 a revista eletrônica RAE - Revista de Antropología Experimental, ISSN 1578-4282, que pode ser cunsultada através do site: http://www.ujaen.es/huesped/rae/ .
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O GREM encontrase presente, através do seu lider Professor Mauro Koury, no Consejo de Redacción da RAE. Nesta revista, também, existem vários artigos de sua autoria.
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quarta-feira, 3 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

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Parceiros do GREM
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Outra instituição parceira do GREM é agora apresentada. Este instituição é a ISSEI -International Society for the Study of European Ideas, com sede na Universidade de Haifa, Israel.
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A ISSEI promove, desde o ano de 1988 Conferências bi-anuais em co-promoção com várias universidades européias e americanas, com o título de ISSEI Conference. A última, em 2008, aconteceu na Finlandia, na University of Helsinki .
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A ISSEI publica a revista European Legacy.
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Desde 1994 o GREM participa das Conferências da ISSEI e tem com ela um diálogo promissor.
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Para conhecer melhor a ISSEI e a sua revista, consulte o endereço eletrônico: http://list.haifa.ac.il/mailman/listinfo/issei
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terça-feira, 2 de junho de 2009

15 anos do GREM – Projeto Memória do GREM – Debates e Conferências

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Como parte das comemorações dos 15 anos do GREM, se publica neste Blog a palestra do Professor Mauro Koury para as 'Quintas Sociais'.
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As Quintas Sociais é um fórum permanente do Curso de Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba, com convidados internos e externos ao curso, para debater com a comunidade local as novas perspectivas de trabalho teórico e metodológico nas ciências sociais mundial.
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Sociologia das Emoções: Um breve estado das artes desta área em consolidação
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Mauro Guilherme Pinheiro KOURY
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Quero agradecer inicialmente ao convite da coordenação do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba, onde atuo como professor, para ocupar o espaço das ‘Quintas Sociais’ conversando sobre a Sociologia das Emoções. Como todos aqui sabem, assumi a liderança do GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções desde sua criação, por mim, como base de pesquisa desta universidade vinculada ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, em 1994.
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A Sociologia das Emoções é o núcleo teórico e metodológico das reflexões, das pesquisas, da extensão e das orientações desenvolvidas pelo GREM, desde a sua criação. O GREM edita, desde de 2002, a revista eletrônica RBSE - Revista Brasileira de Sociologia da Emoção.
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Sua leitura e consultas podem ser feitas gratuitamente no endereço eletrônico: http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html.
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Quero lembrar o Fórum permanente do GREM, que se realiza em todas as primeiras quartas feiras de cada mês, com conferencistas convidados, ou com o debate teórico-metodológico das pesquisas em andamento no seu interior. Como todos sabem, eu acredito, o Fórum é aberto a toda comunidade acadêmica, independentemente da vinculação formal ao grupo. Mais uma vez, não custa lembrar, todos os presentes estão convidados a participarem deste Fórum.
I
Esta minha conversa, no entando, busca passar em revista o processo de constituição e a consolidação da sociologia das emoções como disciplina específica no campo das ciências sociais.
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A sociologia das emoções, como campo disciplinar específico, surgiu concomitante ao processo de consolidação da sociologia geral, embora, enquanto especialidade tenha seu processo formativo a partir da metade da década de setenta do século XX. Sua emergência parece obedecer a uma série de fatores advindos do conjunto de críticas no interior do campo das ciências sociais à lógica linear das análises sociais de cunho mais estrutural que relegavam para o segundo plano a ação social individual e, por conseguinte, os atores sociais e sua vida emocional.
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As emoções nas Ciências Sociais podem ser definidas como uma teia de sentimentos dirigidos diretamente a outros e causado pela interação com outros em um contexto e situação social e cultural determinados. A sociologia das emoções parte, deste modo, do princípio de que as experiências emocionais singulares, sentidas e vividas por um ator social específico, são produtos relacionais entre os indivíduos e a cultura e sociedade. Em sua fundamentação analítica vai além do que um ator social sente em certas circunstâncias ou com relação às histórias de vida estritamente pessoal.
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A preocupação teórico-metodológica que norteia os debates desde os primeiros indícios e sinais formadores da sociologia das emoções diz respeito, assim, aos fatores sociais que influenciam a esfera emocional, como se conformam e até onde vai esta influência. A consideração, a compreensão e a definição da situação dos atores sociais imersos em uma sociabilidade e em uma cultura emocional particular, desde então, parecem fazer parte, cada vez com mais vigor compreensivo, da análise sociológica.
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A sociologia das emoções, então, é um campo de reflexão que busca revigorar a análise sociológica introduzindo perspectivas novas e importantes da grande questão interna da sociologia em geral, que é a da intersubjetividade.
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A percepção da singularidade dos sujeitos, social e historicamente determinados, que embora pertencentes a um mesmo processo civilizador, mantêm características, princípios e ethos particulares da cultura em que está imerso, parece ser uma das tarefas que a sociologia das emoções se propõe como base analítica. A sociologia das emoções, enfim, busca investigar os fatores sociais, culturais e psicológicos que encontram expressão em sentimentos e emoções particulares, compreendendo como esses sentimentos e emoções interatuam e se encontram relacionados com o desenvolvimento de repertórios culturais distintivos nas diferentes sociedades.
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A conversa que estamos iniciando versará sobre o campo disciplinar da sociologia das emoções. Não tem a pretensão de ser uma análise exaustiva, mas, de servir como um primeiro aporte para introdução à sociologia que tem a emoções como objeto de análise. Apresentará três visões analíticas sobre os pressupostos teórico-metodológicos que dão suporte e configuração, hoje, à disciplina.
II
Autores contemporâneos, como o australiano Robert Van Krieken, o inglês Ian Burkitt, ou a americana Anne Rawls, por exemplo, propõem o que chamo aqui de primeira visão analítica da sociologia das emoções. A sociologia das emoções, para eles, tem o seu campo potencialmente constituído deste o nascimento da sociologia enquanto disciplina científica, pelo reconhecimento dos clássicos, - como Durkheim e Mauss, Tarde, Marx, Tönnies, Simmel e Weber, - de um conceito de emoções social caro à análise sociológica.
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Embora creditem como precursores da sociologia das emoções, especialmente, os estudiosos da chamada sociologia francesa, Durkheim e Mauss, desdobram os estudos pioneiros da questão da intersubjetividade e do papel social desempenhado pelas emoções até o desenvolvimento do modelo estrutural funcionalista parsoniano, da escola sociológica americana. Modelo originado de uma visão personalizada sobre a relação entre indivíduo e sociedade por meio de uma reinterpretação e fusão de autores dispare como Durkheim e Weber.
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Na busca de identificar os contornos da tradição sociológica que compõem o campo da sociologia das emoções, para esta primeira visão, cabe perguntar como, para eles, a sociologia das emoções beberia dessas fontes clássicas e quais os elementos sínteses que a fariam herdeira do conjunto da tradição sociológica.
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A sociologia francesa, deste modo, para esta primeira visão analítica, pode ser considerada herdeira da tradição de Durkheim e Mauss. Após Mauss, a análise sociológica desenvolvida em suas fronteiras, aprofundaria os significados da intersubjetividade que norteariam as gerações seguintes.
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A escola francesa de sociologia deveria, assim, um tributo a Marcel Mauss e suas preocupações com relação ao conceito de reciprocidade, expresso na clássica análise sobre a dádiva. A construção e a imaginação sociológica francesa, posterior a Mauss, para esta primeira visão teriam enveredado pela análise do simbólico e, ao pensarem a idéia da troca simbólica em um sentido menos ortodoxo, foi possível para eles relacionar como herdeiros da análise maussiana, conceitos como o de inconsciente coletivo de Lévi-Strauss, e o de habitus de Bourdieu.
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Ambos correspondendo à idéia de um imaginário que sedimentariam tradições e permitiria, de forma concomitante, elaborações, proposições, vivências e ações individuais, indicativas dos processos de tensão entre indivíduos e sociedade. Processos estes, impulsionadores de mudanças, permanências e orientações comportamentais, coletivas e pessoais, de cada ator social. A margem de liberdade ou autonomia do ator social individual frente ao coletivo podendo alterar-se ou ser alterada segundo cada enfoque analítico dado.
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Para a sociologia francesa posterior a Marcel Mauss e posterior a segunda guerra, em última instância, para esta primeira visão analítica, a sociedade informaria e possibilitaria um patamar de ações previsíveis quanto aos comportamentos diversos referentes às múltiplas práticas socialmente instituídas. As trocas sociais trariam em si uma espécie de etiqueta social, ou conjunto de regras e normas sociais que coadunariam os indivíduos nelas relacionados à ação. A etiqueta social deste modo orientaria e conduziria os atores em suas ações.
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O social dado, neste sentido, permitiria aos indivíduos a ele pertencentes uma espécie de código imaginário que os faria sentir, expressar e administrar sentimentos e comportar-se em determinadas situações, mesmo quando não diretamente envolvidos no ato onde uma emoção específica aflorasse. Deste modo, por exemplo, um comportamento frente a um sentimento vivenciado ou a uma carga emotiva vivenciada por outro, acessaria no interior de um indivíduo qualquer um conjunto de informações inconscientes, nele inculcadas pela socialização, fornecendo dados e argumentos de como agir frente a determinadas situações.
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A ação orientada, deste modo, permitiria certa prática comum esperada e ou desejada por cada membro do grupo social em interação, seja no sentido da vivência ou experiência de um processo, seja no sentido da expectação do outro de sua ação frente ao mesmo processo. O como se comportar teria assim um leque informativo ao conjunto societário e à disposição dos indivíduos, que nele se orientariam na condução de suas ações.
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Nesta direção, os sentimentos seriam construtos sociais, simbólicos, integrativos dos atores a uma dada sociabilidade ou modo de vida, e integrativos dos sujeitos para consigo próprio, mediados pela tradição social. Quanto menor e menos complexa uma dada rede social, maior a capacidade social integrativa dos sujeitos nas expectações e cumprimentos das ações desejáveis, social e individualmente.
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A ritualização da vida sendo, assim, um pressuposto lógico de existência de uma sociabilidade. Quanto mais integrada, mais ritualizada seria a esfera societária vivenciada pelos indivíduos que dela fazem parte. Menor, por outro lado, seriam os escopos diferenciais de individualizações, e mais relacionais seriam os aportes interativos entre os indivíduos.
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Sociedades relacionais seriam, então, para esta primeira visão, movimentadas por uma esfera ritual mais compacta onde as individualidades seriam menos perceptivas e aceitas pelo código de ação, e a tradição teria um conteúdo de maior abrangência integrativa. Formaria uma espécie de ordem ritual, organizada, basicamente, em torno de linhas acomodativas e informativas das ações desejáveis aos sujeitos sociais em interação, parecendo deixar assim pouco espaço para atuações de outros tipos de imagens que não se adéquam à lógica da tradição a que está imersa.
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Foi nos anos cinquenta do século XX, porém, com a emergência e hegemonia do modelo de análise estrutural funcionalista de Talcott Parsons, que os ensinamentos que serviram como pressupostos analíticos à sociologia das emoções tiveram continuidade, para esta primeira visão, com novas propostas teóricas e criação de ferramentas conceituais para o estudo das dimensões macro e microssociais e os fenômenos que acontecem na interface entre indivíduo e sociedade. Para esta primeira visão Talcott Parsons teve, assim, um papel fundamental como precursor da sociologia das emoções. Principalmente, através do seu conceito de personalidade, como conceito estrutural e estruturante da relação entre indivíduo e sociedade, através da noção de papel social, e por ter colocado a emoções como um dos quatro componentes estruturais da sua teoria da ação.
III
Uma segunda visão importante para o desenvolvimento da sociologia das emoções, indica a influência da escola sociológica americana do final do século XIX e as primeiras décadas do XX. A escola sociológica americana, neste período, beberia de uma fonte diferente da escola francesa. A formação e o intercâmbio dos primeiros sociólogos americanos, principalmente os da Universidade de Chicago, se deu, sobretudo, com a Alemanha e, especialmente, com uma vinculação estreita com Georg Simmel.
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Para a sociologia americana do período seria importante, deste modo, mostrar a influência de Simmel, principalmente junto ao que se convencionou chamar de a escola de Chicago. George Mead, fundador da psicologia social americana, bem como Robert Park, fundador da ecologia urbana, ambos importantes membros da escola de Chicago, foram alunos de Simmel em Berlim e buscaram aprofundar as relações entre indivíduo e sociedade nos estudos sobre a realidade em transformação que o processo de urbanização causava nas principais cidades americanas, especialmente em Chicago, no final do século XIX e primeiras décadas do XX.
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A teoria de Mead, seguindo de perto a análise simmeliana, apresenta o conceito de intersubjetividade, através do estudo sobre o compartilhamento de estados subjetivos por dois ou mais indivíduos. Para Mead, segundo esta segunda visão, a questão da intersubjetividade vai além das descrições de comportamentos individual e institucional em suas atitudes e ações. A noção de intersubjetividade discute, envolve e compreende a perspectiva de uma pessoa, de um grupo de pessoas ou de uma instituição reais ou imaginados, e a dos outros participantes em ação interativa.
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O desenvolvimento de uma segunda geração de interacionista, no final dos anos quarenta e cinqüenta do século passado, e o desenvolvimento de uma linha de pesquisa sobre sociologia do conhecimento, redobraria a atenção, segundo esta segunda visão, à análise do indivíduo e suas interações mais imediatas, em contraponto à emergência e o domínio do estrutural funcionalismo nos Estados Unidos.
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As análises microssociais propostas pelos interacionistas e interacionistas simbólicos e pela corrente que buscava aprofundar o campo da fenomenologia e a pesquisa sobre sociologia do conhecimento, e bem mais tarde, pela etnometodologia, desta forma, ao partirem das relações imediatas entre indivíduos em um conjunto societário específico, buscavam entender as emoções em jogo no processo interativo como elementos sociais. Neste sentido é interessante ver a análise proposta pela coletânea organizada por Harré, bem como os trabalhos de Kemper e Planalp, onde a construção social das emoções é vista dentro do campo interacionista e no interior da análise da microsociologia. Estes estudos dão prioridade às condições e processos sociais, morais e culturais de onde as emoções emergem, buscando entender o jogo inter-relacional entre as instâncias subjetivas e objetivas dispostas em uma interação social.
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O espaço analítico aberto pelas análises da microssociologia americana teve uma influência teórica determinante para a emergência do campo de análise da sociologia das emoções. De acordo com este autor, a sociologia das emoções constitui uma subdisciplina de criação recente que busca o resgate da vida emocional ou a situa no centro da reflexão sociológica, além de fortalecer a perspectiva que visualiza os sentimentos e as emoções como partes de um processo construtivo na relação entre os homens e sublinha a esfera emocional como um processo tencional cruzado permanentemente por uma racionalidade ativada pelo indivíduo como ator social, e pelos dispositivos ideológicos e institucionais em que descansa a ordem social. Não uma em supremacia a outra, mas ambas em estreita interconexão.
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Os sujeitos sociais em interação não estariam subsumidos a uma ordem ritual, mas interconectados a ela. Nela e através dela, os indivíduos se encontrariam e se fundamentariam enquanto pessoas.
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Ao seguirem de perto as análises desenvolvidas por estudos realizados através do interacionismo simbólico e da fenomenologia, ou mesmo da etnometodologia, os sociólogos da sociologia das emoções atentam que são as regras gerais que cada formação societal assume como código de conduta para o social e para os indivíduos que nele se movimentam, a chave que permite apreender os significados intrínsecos dos rituais humanos societários, onde a emoções é o arcabouço primevo de sua constituição. Como, por exemplo, linguagens do prazer ou da dor, ambas mescladas pelo conjunto de etiquetas das emoções intrínseco a um social e a um indivíduo qualquer, que as institui como quase naturalização, e sua importância para a vida de um ator social e de um povo, e para um modo de vida singular.
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Para este caminho analítico da sociologia das emoções, que tem a releitura interacionista e fenomenológica como campo compreensivo, são as mixagens possibilitadas pela infinita articulação de indivíduos e sociedades que devem ser exploradas para o entendimento de sociabilidades e códigos emotivos socialmente satisfeitos e oriundos da relação entre atores. São estas infinitas configurações que conformam um estilo de vida específico e, ao mesmo tempo, historicamente estruturado a formas societais mais abstratas, - como a sociedade ocidental por exemplo. Esta preocupação analítica, segundo estes sociólogos, permitirá uma melhor compreensão dos códigos de conduta que movimentam a moral e a cultura de uma sociedade, bem como a etiqueta emotiva que fundamenta os interesses e jogos relacionais entre indivíduos.
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De como indivíduos e sociedade fundam e fundam-se simultaneamente em uma razão discursiva específica, que organiza uma cosmologia e uma cosmogonia orientadoras de suas visões de mundo, instauradoras de olhares singulares sobre si, enquanto cada um, indivíduo, e sobre o outro, aquele que proporciona trocas complementares e equivalentes, que articulam o socius enquanto argumento cultural comum a um modo de vida e as narrativas daí inerentes.
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Estudar as emoções estruturadoras e estruturantes dos códigos societários que instituem comunicantes entre olhares tornados comuns e diversos no agir e no sentir individual, desde modo, para este caminho de análise da sociologia das emoções, é ter em conta os elementos primevos organizadores de um olhar social, em sua particularidade restritiva a um código histórico cultural singular e a sua universalidade conformadora de razões humanas, enquanto categorias de entendimento fundamentais para a organização da vida em comum.
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Categoria social de entendimento, a emoções indicaria assim caminhos profícuos de pesquisa para compreensão do significado do humano nas relações sociais e nas diversas formas de sua erição e sentidos. Uma sociologia das emoções passaria assim pelos significados intrínsecos à constituição e à construção das emoções, da subjetividade, como fundamento para a compreensão do social e do humano dele e nele inerente, e a resignificar o indivíduo social em suas relações sempre tensas de subsunção e de emersão ao coletivo.
IV
A terceira visão analítica sobre a sociologia das emoções faz uma série de ressalvas às anteriores quanto ao aspecto da localização deste campo analítico no interior da tradição sociológica clássica. Entre os autores desta terceira visão encontram-se os americanos Thomas Scheff e sua colaboradora Suzanne Retzinger, o australiano Jack Barbalet, hoje Professor da Universidade de Leicester, no Reino Unido, e a alemã, radicada na Dinamarca, Evelin Lindner, entre outros.
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Esta terceira visão discute a emergência da sociologia das emoções, e informa que na sociologia a discussão sobre a relação emoções e sociedade apesar de não inteiramente desprezada e reconhecida para a análise do social, foi relegada a um segundo plano. Durkheim, Weber, George Mead, Parsons, e mesmo Simmel, segundo esta visão, não deram a devida atenção aos vínculos necessários entre a subjetividade e a objetividade na relação social.
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O reconhecimento das emoções para a compreensão do social não foi, deste modo, objeto de aprofundamento analítico nas obras dos clássicos. O reconhecimento da emoções pela sociologia clássica, quando se deu foi através de um modo abstrato e sem sentido operacional, apenas como uma constatação implícita e não como uma proposição analítica.
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Esta terceira visão parte do princípio de que os clássicos da sociologia não podem ser considerados precursores da análise sociológica das emoções, e de que nem sequer chegaram a desenvolver conceitos técnicos sobre as emoções no social. Apesar de constatarem a existência de uma abstrata emoções coletiva, não intentaram investigar a ocorrência dos seus processos formadores, e não buscaram empiricamente dados que poderiam afetar algumas proposições sobre o papel das emoções na conduta humana. Scheff, contudo, em busca de delimitação de análises sociológicas precursoras da sociologia das emoções indica Erving Goffman como o autor que chegou mais próximo a uma formulação conceitual das emoções em seus estudos, dentro da perspectiva interacionista.
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A análise de Goffman, porém, não teria avançado no sentido de constituição de uma sociologia das emoções e, como os demais clássicos assinalados, Goffman por relegar a um segundo plano o conceito de emoções. O que redundou na consolidação da idéia de que o comportamento humano só pode ser entendido, prioritariamente, enquanto estrutura.
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Desta forma, a análise goffmaniana não é incluída, também, na lista de analistas pioneiros da sociologia das emoções. Apesar da existência de uma íntima relação entre a análise sociológica de Goffman e as questões da intersubjetividade e das emoções no social.
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Scheff, por exemplo, remete o leitor, para o livro de Goffman A Representação do Eu na Vida Cotidiana (1985) e, sobretudo, para um dos capítulos do livro A Interação Ritual (1967) que trata da relação entre embaraço e controle social. Neste capítulo Goffman se interessa, sobretudo, pelo princípio da habilidade de manobra em um processo interativo, aprofundando o lado psicológico do embaraço que pode ser evitado por um ou outro ator em interação, deixando de lado, porém, o aspecto social destas emoções.
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Esta terceira visão afirma que o conceito de emoções, ao ser trabalhado pela sociologia das emoções, não pode ser analisado sem se evocar os componentes psicológicos e sociais da relação. Discute deste modo, o processo analítico que evidencie os elementos do envolvimento interno (psicológico) e externo (social), como um método capaz de aprofundar e compreender as origens e os processos formativos e de consolidação social de uma emoção específica, e do conjunto das emoções. Vistas cada uma em sua unicidade e em sua utilidade para um social e para os indivíduos relacionais nele imersos, como a base discursiva de uma sociologia das emoções.
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Goffman, deste modo, para esta terceira visão, chegou a dar o primeiro passo para a compreensão do problema de emoções no social, unindo indicadores interiores com indicadores exteriores observáveis nas ações interativas, muito embora, sem chegar a desvendar os processos que incidiriam sobre as relações societárias necessários à análise da ação intersubjetiva nas ciências sociais.
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Para os autores desta terceira visão não basta estudar a superfície exterior e o lado interior de atores em ação, mas também, e, sobretudo, os vínculos que os conectam. Ao não despertar para este aspecto, Goffman não teria avançado na análise para uma sociologia das emoções, criando um lapso teórico-metodológico na sua análise, quase um ardil, dificultando o avanço compreensivo da questão da intersubjetividade.
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O balanço dos estudos sociológicos sobre a questão da intersubjetividade e das emoções sociais e no social, desta terceira visão, chega à conclusão de que os sociólogos clássicos e as diversas escolas de sociologia geral chegaram a identificar as emoções como um processo social e até diagnosticarem a importância da temática para a análise do social. Os estudos sobre emoções, porém, só se tornaram importantes na sociologia a partir dos trabalhos de Elias e de Lynd e, em um segundo plano, de Sennett.
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Segundo esta terceira visão, os autores citados, agindo em tempos e caminhos independentes, deu os primeiros passos para a investigação sociológica das emoções, através de uma emoção única e concreta. Não trataram a cultura emocional de forma abstrata e geral como vinha sendo feito, sendo considerados, desta maneira, precursores deste campo disciplinar.
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O passo inicial se deu pela consideração e aprofundamento analítico por esses precursores de uma emoção específica e, para esta terceira visão, fundamental para o estudo da sociabilidade: a emoção vergonha. Para esta via analítica, assim, a sociologia das emoções deverá seguir os parâmetros desenhados principalmente por Elias e Lynd nos estudos sobre esta e outras emoções específicas, para continuar o seu desenvolvimento interpretativo e estabelecimento e consolidação das fronteiras que a definiriam em relação às demais especialidades no campo da sociologia.
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A emoção vergonha e suas variantes, como o embaraço, a humilhação, a baixa auto-estima, a falta de autoconfiança, entre outras, bem como conceitos estreitamente correlacionados ao ato de envergonhar-se, como o sentimento de honra, o sentimento de orgulho, e o auto-respeito, formariam, deste modo, o centro básico, o núcleo compreensivo da cultura emocional no social na análise sociológica das emoções.
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A terceira visão sobre a sociologia das emoções parte, neste sentido, do pressuposto de que a disciplina para se consolidar deveria começar por aprofundar a pesquisa sobre emoções específicas. Estas pesquisas deverão ser dirigidas e organizadas através de hipóteses compreensivas sobre cada emoção no coletivo, no sentido de objetivação de um método válido para o mapeamento, entendimento e construção de modelos dos padrões intersubjetivos resultantes da relação entre subjetividade e objetividade no social.
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Este caminho, se seguido, conduzirá os pesquisadores a reconhecerem, correlacionarem e distinguirem as emoções no interior de uma tecedura social específica. A partir do local de onde elas emergem e pela extensão e reconhecimento dos laços sociais de cada emoção específica entre os participantes deste social. O que implicaria, também e principalmente, em dar a devida importância à mudança emocional na interface da troca entre indivíduos e sociedade e a forma de compreensão sobre o processo de transmissão no social das emoções.
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Para finalizar
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As diversas leituras analíticas aqui apresentadas reconhecem que a sociologia clássica imputou importância ao conceito de emoções, porém, diferenciam-se na questão da herança transmitida por ela para o surgimento, desenvolvimento e consolidação desta nova linha analítica. As duas primeiras visões enfatizam que a sociologia das emoções é herdeira da tradição sociológica clássica, diferindo da última que parte do pressuposto de que a sociologia das emoções só emergiu através dos trabalhos que objetivaram o entendimento de uma emoção específica, e a colocando como mola mestra explicativa da análise do social na sua interface e interação entre os aspectos subjetivos e objetivos de uma ação social entre os homens.
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As três leituras, porém, fora à divergência sobre a origem do campo disciplinar, são mais convergentes do que querem se mostrar. Todas atentam para o aspecto salutar da análise social, enquanto uma análise que considere o processo de intersubjetividade nas relações humanas em diálogo tenso e conflitual com os processos objetivos da configuração do social. O que permite dar formatos e alianças a projetos e sociabilidades emergentes e sempre dependentes de novas interações e de novos movimentos entre os lados objetivos e subjetivos em jogo em uma sociabilidade qualquer.
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Para finalizar esta minha conversa, aqui, nas Quintas Sociais do DCS e CCS da UFPB, eu recomendo, por fim, a leitura dos meus livros, Introdução à sociologia da Emoção (João Pessoa, Manufatura, 2004); Sociologia da Emoção (Petrópolis, Vozes, 2003) e Emoções, Sociedade e Cultura (Curitiba, CRV, 2009), para uma análise mais aprofundada sobre a sociologia das emoções como área temática.
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Em resumo, este papo buscou passar em revista as bases do processo de constituição e consolidação da sociologia das emoções como disciplina específica no campo das ciências sociais. Procurou, também, apresentar o campo disciplinar da sociologia das emoções no estado da arte atual da disciplina, passando em revista seus principais autores e temáticas nela trabalhadas.
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Obrigado.
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[Exposição do Professor Mauro Guilherme Pinheiro Koury para as Quintas Sociais. CCS / UFPB, João Pessoa, 21 de julho de 2005]
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segunda-feira, 1 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

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Parceiros do GREM
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Dá-se continuidade, neste momento, à série Parceiros do GREM.
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Apresenta-se, agora, como parceiro-irmão o GREI – Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem, da Universidade Federal da Paraíba.
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O GREI é uma base de pesquisa vinculada ao CNPq, fundado e liderado pelo Professor Mauro Koury no ano de 1995.
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As pesquisas e estudos do GREI, como o nome já indica, discutem a problemática da relação entre imagem e sociedade no mundo contemporâneo e no Brasil, de forma específica.
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O GREI foi um dos primeiros grupos criados para o estudo e pesquisa da imagem no Brasil, e esteve presente no processo de fortalecimento e consolidação da área de sociologia da imagem e da antropologia visual e da imagem no país.
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Desde a sua criação, desenvolve pesquisas junto com o GREM, de quem é parceiro-irmão. Com uma serie de artigos, livros e coletâneas editados, onde faz a ligação entre a antropologia e a sociologia da imagem, com a antropologia e sociologia das emoções. Ambos sob a liderança do Professor Mauro Koury.
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O contato com o GREI pode ser feito através do e-mail grei@cchla.ufpb.br. Convida-se, também, os leitores deste Blog a visitarem o site do GREI junto ao CNPq, no endereço eletrônico: http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0083702JDBG9QF
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