Contador de Visitas

domingo, 7 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA VISUAL DO GREM

*

Estagiários em Trabalho de Campo e Apresentando Painéis de Iniciação Científica



*


Nesta série sobre a Memória Visual do GREM apresentamos, agora, algumas fotografias de estagiários do GREM no campo e durante a apresentação da painéis em encontros de Iniciação Científica.

*

Convidamos a todos os estagiários e ex-estagiários, orientandos e ex-orientandos, pesquisadores e ex-pesquisadores que trabalharam junto ao GREM nestes 15 anos de atividade, que enviem fotos suas em trabalho de campo ou em apresentação em encontros e congressos, ou em eventos quaisquer que envolvesse o GREM, para ampliar este painel com a Memória Visual do GREM.

*

As fotos devem conter o nome do estagiário e pesquisador, e um pequeno resumo indicativo da foto e a data em que foi tirada.

*

Seguem agora algumas fotos com pesquisadores e estagiários do GREM durante trabalho de campo e durante a exposição de painéis em encontros de iniciação científica do PIBIC.

*

Trabalho de Campo para a pesquisa Medos Corriqueiros (Sub-Projeto Parque Solón de Lucena, João Pessoa, PB), em 2003

*

Na foto 1 se vê a pesquisadora do GREM Maria Sandra Rodrigues dos Santos, durante a supervisão do trabalho de campo para a pesquisa 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', em dezembro de 2003, com as ex-estagiárias do GREM Clara à esquerda e Karol à direita, durante um momento de relax das atividades de pesquisa na 'Lagoa', como é conhecido popularmente o Parque Solon de Lucena na cidade de João Pessoa.

*




Foto 1


*

Apresentações de ex-estagiários em Encontros de Iniciação Científica - PIBIC, em outubro de 2004.

*

As fotos a seguir mostram alguns ex-extagiários do GREM na divulgação dos resultados parciais dos seus trabalhos, no Encontro de Iniciação Científica do PIBIC, em outubro de 2004.

*

As fotos mostram alguns ex-extagiários com seus painéis ao fundo, ladeados do Prof. Mauro Koury e da Pesquisadora do GREM Maria Sandra.

*

Foto 2

Na foto 2 se vê à esquerda o ex-estágiário e orientando do GREM, Alexandre Paz Almeida (hoje pesquisador do grupo de pesquisa), e à direita o ex-estagiário e orientando Francisco de Assis.



*



No centro encontra-se o Professor Mauro Koury.



*



Ao fundo os paineis por eles apresentados no Encontro PIBIC 2004.



*

Alexandre e Francisco de Assis, na época, desenvolveram suas monografias de conclusão de curso de graduação em Ciências Sociais no interior da pesquisa 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', tendo o Prof. Mauro Koury, coordenador da pesquisa, como orientador. O primeiro trabalhando o bairro de Valentina de Figueiredo, João Pessoa, Paraíba, e o segundo, trabalhando o bairro de Mangabeira, João Pessoa, PB. Ambos foram bolsistas PIBIC/CNPq-UFPB do GREM.



*

A Foto 3, abaixo, mostram outros três ex-estagiários do GREM ladeando o Professor Mauro Koury, e orientador de todos, e a pesquisadora do GREM Maria Sandra Rodrigues dos Santos.



*



Foto 3



As duas ex-estagiárias do GREM: Karol abraçada com o Prof. Koury e Clara, junto da pesquisadora Maria Sandra, passaram apenas um ano, em estágio probatório, no GREM. Ambas ligaram-se ao projeto 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', e trabalharam junto com o também ex-estágiário Patrick César (na foto ao lado de Clara), no sub-projeto 'Lagoa', como é conhecido o Parque Solon de Lucena, na cidade de João Pessoa (PB).


*


Patrick César, ex-bolsista PROBEX do GREM, concluiu sua monografia de graduação em Ciências Sociais, desenvolvendo um trabalho sobre a 'Lagoa', sob a orientação do Prof. Mauro Koury.


*


A pesquisadora do GREM Maria Sandra supervisionou o trabalho de campo na área da 'Lagoa'.




*


Ao fundo se vê alguns dos painéis apresentados pelo GRUPO no encontro PIBIC 2004, no Hall da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba.
*



Foto 4


A Foto 4 ao lado, por fim, mostra o grupo de estagiários reunidos, ao lado do Prof. Mauro Koury e da Estagiária Maria Sandra, durante o Encontro de Iniciação Científica do PIBIC, 2004, no hall da reitoria da UFPB.

*

Abaixado encontra-se Francisco de Assis, em pé Patrick, Karol, Alexandre e Clara.


*

Pesquisadores do GREM em momentos de Relax após lançamento do livro De que João Pessoa tem Medo? na cidade de João Pessoa, Paraíba, em 2008

Foto 5

Nesta foto se vêem pesquisadores do GREM após o lançamento do livro de Koury, MGP De que João Pessoa tem Medo? (JP, Editora Universitária, 2008).
*
À direita do Professor Mauro, que se encontra no centro da foto, o pesquisador Luis Gustavo Pereira de Souza Correia, junto com a pesquisadora Alessa Cristina P. de Souza. Do lado esquerdo, a pesquisadora Maria Sandra Rodrigues dos Santos, junto com a pesquisadora Anne Gabriele Lima Sousa.
*
Os atuais pesquisadores do GREM representados na foto foram orientandos do Professor Mauro Koury.
*
Maria Sandra na pesquisa 'Luto e Sociedade', onde defendeu monografia de graduação do curso de Ciências Sociais e sua dissertação de mestrado junto ao Programa de PósGraduação em Sociologia (PPGS) da UFPB.
*
Luis Gustavo foi estágiário do GREM, onde defendeu sua dissertação de Mestrado no PPGS/UFPB
*
Alessa e Anne Gabriele foram bolsistas PIBIC/CNPq no GREM, junto ao projeto 'Medos Corriqueiros e Sociabilidade', onde defenderam suas monografias de conclusão de curso de Ciências Sociais/UFPB.
*
**
***

Este albúm de memória precisa ser ampliado. Ele está a espera do envio de novas fotos que falem da MEMÓRIA VISUAL DO GREM nestes 15 anos de atividade.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

3a. Comunicação sobre a enquete "Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil" - A cidade de Belém (PA) - 2009

*

O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital paraense - 2009
*

*
Mauro Guilherme Pinheiro Koury

*

Esta comunicação dá continuidade a uma informação parcial sobre os dados levantados para a enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil”, aplicada em seis capitais de estados brasileiros durante os meses de março e abril de 2009. Como já se comentou nas duas comunicações anteriores para esta enquete, relacionadas às cidades de João Pessoa (PB) e de Recife (PE), ambas publicadas neste Blog nos dias 22 e 26 de maio de 2009 (Koury, 2009 e 2009a), esta enquete faz parte de uma pesquisa maior intitulada ‘Medos Corriqueiros e Sociabilidade’ em andamento no GREM sob a coordenação do autor.

*
Esta enquete foi aplicada na última semana do mês de março na cidade de Belém, capital do estado do Pará. Sua aplicação se deu na forma de abordagem direta dos possíveis entrevistados em locais públicos como os shoppings, tantos os maiores quanto os mais populares, o mercado ver-o-peso e seus arredores, em três das várias universidades e estabelecimentos de ensino superior da cidade de Belém. Foram aplicados 60 questionários. Deste total, 26 foram aplicados com mulheres e 34 com homens, com renda, estado civil, escolaridade, religião e atuação profissional diversas.

*
Esta 3ª comunicação da enquete sobre sujeira e imaginário urbano no Brasil, como nas outras duas comunicações anteriores, tem o intuito apenas de informar os leitores do Blog sobre a riqueza de dados para a interpretação da cultura urbana brasileira e da cultura política e comportamental nacional, através da apresentação de dois gráficos oriundos da enquete: o primeiro, sobre o total das respostas da capital Belém sobre o que é sujeira, e o segundo gráfico, com a mesma questão cruzada com o sexo dos entrevistados.

*
Os resultados finais da enquete serão divulgados em artigos acadêmicos e em Relatório Final de pesquisa, a partir de dezembro de 2009. As comunicações presentes não discutem questões teóricas ou metodológicas, é apenas mostrado um conjunto de respostas tabuladas através de categorias analíticas tiradas das próprias informações dos entrevistados. De forma mais aprofundada estes dados e categorias serão analisados no Relatório Final e nos artigos acadêmicos já indicados.

*
O que é sujeira para você – Belém (PA), 2009

*
O primeiro gráfico apresentado (Gráfico 1) demonstra as categorias de respostas indicadas pelos entrevistados da cidade de Belém à questão sobre o que é sujo ou sujeira para cada um deles. As categorias com maior concentração de respostas entre os entrevistados da cidade concentram-se na de Falta de Zelo com a Coisa Pública, com 16,7% do total de respostas; seguida pela questão da homossexualidade, com 13,3% do total dos respondentes; e a categoria Desrespeito ao Cidadão, com 11,7% das respostas.

*
A categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública, como algo sujo ou como sujeira para os entrevistados, em Belém, como nas duas outras cidades já apresentadas nas comunicações anteriores, tem ganhado uma supremacia de indicações, o que surpreendeu o pesquisador, em um primeiro momento, como já indicados nas comunicações anteriores. Esta categoria revela o abuso do poder dos gestores e do legislativo, nacional, estaduais e locais, a corrupção, o governar e o legislar em causa própria, o desvio de verbas e o mau uso na administração de políticas públicas.

*
O autor acredita que a evidência como sujo da categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública tenha se tornado presente ao cotidiano do homem comum brasileiro e de Belém, aqui em particular, devido aos diversos escândalos envolvendo políticos profissionais e gestores nos últimos vinte anos no Brasil e, principalmente, após o episódio do mensalão, com grande debate na opinião pública e na mídia nacional.

*
O que assusta, nesta enquete, como tem sido vistos nas duas comunicações anteriores, também, é o alto nível alto de preconceito com os homossexuais, principalmente com os homossexuais masculinos. Na cidade de Belém, o índice de indicação da Homossexualidade como uma categoria ligada à sujeira é de 13,3% do total dos informantes, ou seja, quase 23 dos 60 entrevistados, indicaram a prática do homossexualismo como algo sujo. Muitos dos respondentes chegando a afirmar que deveria ter uma ação direta da polícia para aniquilar aqueles que optassem pela prática homossexual. Dois entrevistados chegando a afirmar que expulsaram filhos de casa e evitam parentes desviados.

*
Fazendo uma rápida comparação entre as cidades de João Pessoa, Recife e Belém com relação à categoria Homossexualidade, esta categoria aparece com maior incidência em Belém, com 13,3% dos respondentes à enquete. Em João Pessoa e Recife, esta mesma categoria é associada ao sujo por 6,7% dos entrevistados de cada cidade.

*
Outra coisa que chama atenção em Belém, é que a categoria Homossexualidade, embora apareça com maior número de indicação entre os homens, com 14,7% dos respondentes, aparece, igualmente, com força, entre as mulheres, com a indicação da prática homossexual como sujeira para 11,6% das mulheres, conforme pode ser visto no Gráfico 2. Na cidade de João Pessoa, como pode ser vista na 1ª comunicação da enquete, neste Blog, postado no dia 22 de maio, a categoria homossexualidade aparece com 6,7% dos respondentes, sendo 11,5% do total dos homens, e, 2,9% do total das mulheres. No caso da cidade do Recife, como pode ser vista na 2ª Comunicação postada no dia 26 de maio, neste Blog, a totalidade de respostas indicando a categoria Homossexualidade como algo sujo, é de homens.

*
A terceira categoria, com maior número de indicações na cidade de Belém, compara o Desrespeito ao Cidadão como algo sujo, à sujeira. Esta categoria corresponde a indicação de 11,7% dos entrevistados durante a enquete em Belém.

*
Como já foi visto nas duas comunicações anteriores, a categoria Desrespeito ao Cidadão fala dos problemas da cidade: infra-estrutura, problemas ligados à saúde pública, problemas ligados a degradação da cidade, problemas relacionados à política habitacional, a política de transportes públicos, ao lixo urbano, entre outros. Na cidade de Belém, os respondentes tocam em assuntos ligados, essencialmente, a reorganização do espaço urbano, ao comércio ambulante, a degradação do centro urbano da cidade e a deteriorização dos imóveis, e ao alto índice de falta de moradias dignas para a população local.

*


*
O segundo grupo de concentração de respostas recai nas categorias de Falta de Consciência Ecológica, com 10% dos respondentes; a Violência Urbana, também com 10% das respostas e a Falta de Higiene, com 10% dos entrevistados. Como na cidade do Recife, a Falta de Consciência Ecológica traz um discurso mais elaborado sobre os perigos de um progresso urbano que se volta contra a natureza. Na cidade de Belém, este discurso fala, sobretudo, para a cidade voltar às costas para o rio, e às consequências desta política de desenvolvimento, tido como rejeição pelos moradores que a indicaram. Falam ainda do problema do esgotamento sanitário, todo voltado para o deságüe nas encostas do rio, da falta de planejamento, aumentando o desordenamento urbano e o aumento da poluição. Por último falam da destruição da floresta, causando óbices intransponíveis, em curto prazo, à vida humana.
*
A segunda categoria ligada a este segundo grupo, também com 10% das indicações, revelam a Violência Urbana como algo sujo. Apontam o crescimento acelerado nas últimas décadas da criminalidade na cidade de Belém e em seu entorno, e da falta de uma política eficiente de combate à onda de crime que se desenvolve na cidade. Apontam, também, a emergência do crime organizado, principalmente, indicando Belém como um entreposto para a indústria criminosa das drogas e sua distribuição, a nível local, nacional e internacional.
*
A terceira categoria, por fim, fala da Falta de Limpeza. Esta categoria apontada por 10% dos entrevistados, como nas outras duas cidades em que este Blog já fez uma comunicação, João Pessoa, e Recife, é vista como falta de higiene doméstica, e diz respeito à organização da vida privada na cidade. As casas mal arrumadas, os banheiros pouco higienizados, as cozinhas com estoques de alimentos não adequados e com pouca limpeza, as pragas urbanas, são citados pelos entrevistados nesta categoria como equivalente à sujeira. Do mesmo modo como também indicam a falta higiene pessoal: cabelos gordurosos, pessoas com aspectos de pouca higiene corporal, entre outros, são indicados como algo sujo entre os respondentes desta categoria.
*
O terceiro grupo de respostas concentra as categorias de Falta de Confiança, com 8,3% dos respondentes; a categoria de Imoralidade e de Mendicância ambas com 6,7% de respostas; e as categorias de Fluídos, com 5% dos entrevistados e Gente Fraca, com 1,6% dos que indicaram esta categoria como algo sujo.
*
A categoria Falta de Confiança indica, principalmente, entre os respondentes da cidade de Belém, o medo da traição. O medo de ‘ser corno’, e o receio da deslealdade de sócios e de amigos foram indicados pela totalidade dos entrevistados que responderam indicando a categoria Falta de Confiança como algo sujo e difícil de aceitar.
*
A categoria Imoralidade, por sua vez, na cidade de Belém, também como nas outras duas cidades que já tiveram informes para a enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil” corresponde à visão de pornografia e da licenciosidade do sexo e sua exposição na sociedade contemporânea. Em Belém, porém, aparece revestida, na maior parte das respostas, a uma crítica ao abuso de poder de gestores, políticos e profissionais ligados ao setor de segurança no estado do Pará.
*
Muitos dos entrevistados relatam como sujeira o envolvimento de políticos profissionais com prostituição e com a pedofilia, outros tantos indicam o descaso com menores delinquentes, muitas vezes presos e colocados em celas de prisão com vários adultos. Onde são abusados sexualmente por presos, com a conivência, senão a participação de agentes penitenciários. Os casos retratados envolvem sempre a questão do abuso contra mulheres. Os entrevistados remetem esses casos, também, como um descaso das autoridades: juízes, delegados, prefeitos, e governo estadual, que jogam um para o outro a responsabilidade, sem resolverem o problema.
*
A categoria Mendicância desenvolve um preconceito com a pobreza, como nas duas outras capitais já estudadas nas duas comunicações anteriores postadas neste Blog em 22 e 26 de maio de 2009. A pobreza é tida, pelos respondentes que a indicaram, como sujeira e como algo que degreda a cidade. A maior parte indicando a pobreza como causadora do aumento da violência contra o cidadão na cidade de Belém, e grande parte indicando que deveria se pensar um ‘jeito’ de se exterminar com os mendigos e pobres da cidade.
*
A categoria Fluídos aparece na cidade de Belém como uma categoria associada à sujeira, de um lado, como responsável pela poluição, emissão de cases tóxicos pelo transito caótico da cidade; o chorume dos aterros sanitários mal cuidados e a insalubridade do ar, que, em um clima muito quente e úmido, provoca problemas de saúde pública, principalmente em crianças pobres. Por outro lado, é colocado em menor número, como consequência da falta de educação e higiene pessoal: escarros, cusparadas e lançamentos de outros líquidos corporais em público. Um menor número indica o sangue menstrual como sujeira.
*
A categoria Gente Fraca, aparece na cidade de Belém com, apenas, 1,6% das respostas. Diferente das cidades de João Pessoa e Recife, esta categoria não diz respeito a usuários de drogas e ao álcool, mas fala da fraqueza de caráter em si. Esta associada mais a falta de perspectiva pessoal, a quase anomia durkheimiana, ao fracasso pessoal, e ao uso da expressão ‘Maria vai com as outras’, demonstrando uma dificuldade de opção pessoal e do seguir a vontade alheia. Esta falta de caráter, que torna a pessoa vulnerável, é indicada pela totalidade dos respondentes como sujeira, como algo que provoca nojo.
*
Relação da categoria Sexo com a questão O que é sujo para você na cidade de Belém (PA).
*
Aqui se fará, apenas, uma ligeira comparação entre os homens e mulheres entrevistados pela enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil” na cidade de Belém. Como já foi dito acima, foram entrevistados 26 pessoas do sexo feminino, 43,3% do total, e 34 do sexo masculino, 56,7% do total, perfazendo o total de 60 entrevistas.
*
De acordo com o Gráfico 2, abaixo, o sexo feminino em Belém tem predominância nas respostas para as categorias de Violência Urbana, com 15,4% das indicações, contra 5,9% dos indivíduos do sexo masculino; a categoria Mendicância também é apontada como sujeira, principalmente, pelo sexo feminino: 15,4%, contra 2,9 dos homens. A categoria Fluídos é uma categoria, na cidade de Belém, apontada exclusivamente pelas mulheres, com 11,6% das respostas, contra zero dos homens; a Falta de Higiene, também, é apontada em maior número de indicações pelo sexo feminino: 11,6%, embora com um bom número de indicações masculinas, 8,9% das indicações. O mesmo acontecendo com a categoria Desrespeito ao Cidadão, com 15,4% de indicações das mulheres, contra 8,9% das indicações do sexo masculino.
*

*
No mesmo Gráfico 2, pode-se notar que as categorias mais apontadas pelo sexo masculino foram as de Homossexualidade, com 14,7% das indicações, contra 11,6% das indicações das mulheres. O que mostra um alto grau de preconceito contra a homossexualidade na cidade, entre homens e mulheres. Diferente das outras duas cidades já trabalhadas, Recife e João pessoa, onde a categoria Homossexualidade era apontada, sobretudo, pelos homens.

*
Outra categoria apontada pelos homens foi a de Gente Fraca: esta categoria obteve, na cidade de Belém, 2,9% das indicações dos homens e zero das mulheres.

*
A categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública, quase obteve número igual de indicações entre homens e mulheres, com uma pequena predominância masculina, 17,6%, contra 15,4% dos homens. O que indica uma grande decepção com a política profissional: políticos e gestores, na cidade de Belém.

*
A Falta de Consciência Ecológica como categoria associada à sujeira, por sua vez, na cidade de Belém, foi lembrada apenas pelo sexo masculino, com 17,6% das respostas, contra zero das mulheres.

*
E, por fim, a categoria Falta de Confiança, também, foi uma categoria apontada, principalmente, pelo sexo masculino, com 11,7% das indicações, contra, apenas, 3,7% das mulheres.

*
Notas Finais

*
Esta terceira comunicação informou alguns dados da enquete “Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil”, tendo a cidade de Belém, capital do estado do Pará, como base. Esta terceira comunicação se junta às duas outras já publicadas neste Blog, nos dias 22 e 26 de maio de 2009, as cidades de João Pessoa (PB) e Recife (PE).

*
Em breve os dados sobre as demais cidades que serviram como amostra para a realização desta enquete: Brasília, São Paulo e Curitiba, serão informados em comunicações para este Blog.

*
Bibliografia

*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. “O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira”. 1ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 22 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/o-que-pensam-os-moradores-da-cidade-de.html

*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital pernambucana - 2009”. 2ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 26 de maio de 2009a. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/2acomunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html

*

*

**

***

**

*

quinta-feira, 4 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

Parceiros do GREM
*
**
*
Entre os parceiros do GREM encontra-se, também o Grupo de Investigación Una Mirada Antropológico-Social desde Andalucía (HUM-768), do Departamento de Antropología da Universidad de Jaén, campus Las Lagunillas, Jaén, España.
*
Este Grupo de Investigación é liderado pelo antropólogo José Luis Anta Félez.
*
O Grupo de Investigacíon Una Mirada Antropológico-Social desde Andalucía edita desde 2001 a revista eletrônica RAE - Revista de Antropología Experimental, ISSN 1578-4282, que pode ser cunsultada através do site: http://www.ujaen.es/huesped/rae/ .
*
O GREM encontrase presente, através do seu lider Professor Mauro Koury, no Consejo de Redacción da RAE. Nesta revista, também, existem vários artigos de sua autoria.
*
**
***
**
*

quarta-feira, 3 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

*
Parceiros do GREM
*
**
***
*
Outra instituição parceira do GREM é agora apresentada. Este instituição é a ISSEI -International Society for the Study of European Ideas, com sede na Universidade de Haifa, Israel.
*
A ISSEI promove, desde o ano de 1988 Conferências bi-anuais em co-promoção com várias universidades européias e americanas, com o título de ISSEI Conference. A última, em 2008, aconteceu na Finlandia, na University of Helsinki .
*
A ISSEI publica a revista European Legacy.
*
Desde 1994 o GREM participa das Conferências da ISSEI e tem com ela um diálogo promissor.
*
Para conhecer melhor a ISSEI e a sua revista, consulte o endereço eletrônico: http://list.haifa.ac.il/mailman/listinfo/issei
*
*
**
***

terça-feira, 2 de junho de 2009

15 anos do GREM – Projeto Memória do GREM – Debates e Conferências

*
Como parte das comemorações dos 15 anos do GREM, se publica neste Blog a palestra do Professor Mauro Koury para as 'Quintas Sociais'.
*
As Quintas Sociais é um fórum permanente do Curso de Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba, com convidados internos e externos ao curso, para debater com a comunidade local as novas perspectivas de trabalho teórico e metodológico nas ciências sociais mundial.
*
Sociologia das Emoções: Um breve estado das artes desta área em consolidação
*
*
Mauro Guilherme Pinheiro KOURY
*
Quero agradecer inicialmente ao convite da coordenação do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba, onde atuo como professor, para ocupar o espaço das ‘Quintas Sociais’ conversando sobre a Sociologia das Emoções. Como todos aqui sabem, assumi a liderança do GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções desde sua criação, por mim, como base de pesquisa desta universidade vinculada ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, em 1994.
*
A Sociologia das Emoções é o núcleo teórico e metodológico das reflexões, das pesquisas, da extensão e das orientações desenvolvidas pelo GREM, desde a sua criação. O GREM edita, desde de 2002, a revista eletrônica RBSE - Revista Brasileira de Sociologia da Emoção.
*
Sua leitura e consultas podem ser feitas gratuitamente no endereço eletrônico: http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html.
*
Quero lembrar o Fórum permanente do GREM, que se realiza em todas as primeiras quartas feiras de cada mês, com conferencistas convidados, ou com o debate teórico-metodológico das pesquisas em andamento no seu interior. Como todos sabem, eu acredito, o Fórum é aberto a toda comunidade acadêmica, independentemente da vinculação formal ao grupo. Mais uma vez, não custa lembrar, todos os presentes estão convidados a participarem deste Fórum.
I
Esta minha conversa, no entando, busca passar em revista o processo de constituição e a consolidação da sociologia das emoções como disciplina específica no campo das ciências sociais.
*
A sociologia das emoções, como campo disciplinar específico, surgiu concomitante ao processo de consolidação da sociologia geral, embora, enquanto especialidade tenha seu processo formativo a partir da metade da década de setenta do século XX. Sua emergência parece obedecer a uma série de fatores advindos do conjunto de críticas no interior do campo das ciências sociais à lógica linear das análises sociais de cunho mais estrutural que relegavam para o segundo plano a ação social individual e, por conseguinte, os atores sociais e sua vida emocional.
*
As emoções nas Ciências Sociais podem ser definidas como uma teia de sentimentos dirigidos diretamente a outros e causado pela interação com outros em um contexto e situação social e cultural determinados. A sociologia das emoções parte, deste modo, do princípio de que as experiências emocionais singulares, sentidas e vividas por um ator social específico, são produtos relacionais entre os indivíduos e a cultura e sociedade. Em sua fundamentação analítica vai além do que um ator social sente em certas circunstâncias ou com relação às histórias de vida estritamente pessoal.
*
A preocupação teórico-metodológica que norteia os debates desde os primeiros indícios e sinais formadores da sociologia das emoções diz respeito, assim, aos fatores sociais que influenciam a esfera emocional, como se conformam e até onde vai esta influência. A consideração, a compreensão e a definição da situação dos atores sociais imersos em uma sociabilidade e em uma cultura emocional particular, desde então, parecem fazer parte, cada vez com mais vigor compreensivo, da análise sociológica.
*
A sociologia das emoções, então, é um campo de reflexão que busca revigorar a análise sociológica introduzindo perspectivas novas e importantes da grande questão interna da sociologia em geral, que é a da intersubjetividade.
*
A percepção da singularidade dos sujeitos, social e historicamente determinados, que embora pertencentes a um mesmo processo civilizador, mantêm características, princípios e ethos particulares da cultura em que está imerso, parece ser uma das tarefas que a sociologia das emoções se propõe como base analítica. A sociologia das emoções, enfim, busca investigar os fatores sociais, culturais e psicológicos que encontram expressão em sentimentos e emoções particulares, compreendendo como esses sentimentos e emoções interatuam e se encontram relacionados com o desenvolvimento de repertórios culturais distintivos nas diferentes sociedades.
*
A conversa que estamos iniciando versará sobre o campo disciplinar da sociologia das emoções. Não tem a pretensão de ser uma análise exaustiva, mas, de servir como um primeiro aporte para introdução à sociologia que tem a emoções como objeto de análise. Apresentará três visões analíticas sobre os pressupostos teórico-metodológicos que dão suporte e configuração, hoje, à disciplina.
II
Autores contemporâneos, como o australiano Robert Van Krieken, o inglês Ian Burkitt, ou a americana Anne Rawls, por exemplo, propõem o que chamo aqui de primeira visão analítica da sociologia das emoções. A sociologia das emoções, para eles, tem o seu campo potencialmente constituído deste o nascimento da sociologia enquanto disciplina científica, pelo reconhecimento dos clássicos, - como Durkheim e Mauss, Tarde, Marx, Tönnies, Simmel e Weber, - de um conceito de emoções social caro à análise sociológica.
*
Embora creditem como precursores da sociologia das emoções, especialmente, os estudiosos da chamada sociologia francesa, Durkheim e Mauss, desdobram os estudos pioneiros da questão da intersubjetividade e do papel social desempenhado pelas emoções até o desenvolvimento do modelo estrutural funcionalista parsoniano, da escola sociológica americana. Modelo originado de uma visão personalizada sobre a relação entre indivíduo e sociedade por meio de uma reinterpretação e fusão de autores dispare como Durkheim e Weber.
*
Na busca de identificar os contornos da tradição sociológica que compõem o campo da sociologia das emoções, para esta primeira visão, cabe perguntar como, para eles, a sociologia das emoções beberia dessas fontes clássicas e quais os elementos sínteses que a fariam herdeira do conjunto da tradição sociológica.
*
A sociologia francesa, deste modo, para esta primeira visão analítica, pode ser considerada herdeira da tradição de Durkheim e Mauss. Após Mauss, a análise sociológica desenvolvida em suas fronteiras, aprofundaria os significados da intersubjetividade que norteariam as gerações seguintes.
*
A escola francesa de sociologia deveria, assim, um tributo a Marcel Mauss e suas preocupações com relação ao conceito de reciprocidade, expresso na clássica análise sobre a dádiva. A construção e a imaginação sociológica francesa, posterior a Mauss, para esta primeira visão teriam enveredado pela análise do simbólico e, ao pensarem a idéia da troca simbólica em um sentido menos ortodoxo, foi possível para eles relacionar como herdeiros da análise maussiana, conceitos como o de inconsciente coletivo de Lévi-Strauss, e o de habitus de Bourdieu.
*
Ambos correspondendo à idéia de um imaginário que sedimentariam tradições e permitiria, de forma concomitante, elaborações, proposições, vivências e ações individuais, indicativas dos processos de tensão entre indivíduos e sociedade. Processos estes, impulsionadores de mudanças, permanências e orientações comportamentais, coletivas e pessoais, de cada ator social. A margem de liberdade ou autonomia do ator social individual frente ao coletivo podendo alterar-se ou ser alterada segundo cada enfoque analítico dado.
*
Para a sociologia francesa posterior a Marcel Mauss e posterior a segunda guerra, em última instância, para esta primeira visão analítica, a sociedade informaria e possibilitaria um patamar de ações previsíveis quanto aos comportamentos diversos referentes às múltiplas práticas socialmente instituídas. As trocas sociais trariam em si uma espécie de etiqueta social, ou conjunto de regras e normas sociais que coadunariam os indivíduos nelas relacionados à ação. A etiqueta social deste modo orientaria e conduziria os atores em suas ações.
*
O social dado, neste sentido, permitiria aos indivíduos a ele pertencentes uma espécie de código imaginário que os faria sentir, expressar e administrar sentimentos e comportar-se em determinadas situações, mesmo quando não diretamente envolvidos no ato onde uma emoção específica aflorasse. Deste modo, por exemplo, um comportamento frente a um sentimento vivenciado ou a uma carga emotiva vivenciada por outro, acessaria no interior de um indivíduo qualquer um conjunto de informações inconscientes, nele inculcadas pela socialização, fornecendo dados e argumentos de como agir frente a determinadas situações.
*
A ação orientada, deste modo, permitiria certa prática comum esperada e ou desejada por cada membro do grupo social em interação, seja no sentido da vivência ou experiência de um processo, seja no sentido da expectação do outro de sua ação frente ao mesmo processo. O como se comportar teria assim um leque informativo ao conjunto societário e à disposição dos indivíduos, que nele se orientariam na condução de suas ações.
*
Nesta direção, os sentimentos seriam construtos sociais, simbólicos, integrativos dos atores a uma dada sociabilidade ou modo de vida, e integrativos dos sujeitos para consigo próprio, mediados pela tradição social. Quanto menor e menos complexa uma dada rede social, maior a capacidade social integrativa dos sujeitos nas expectações e cumprimentos das ações desejáveis, social e individualmente.
*
A ritualização da vida sendo, assim, um pressuposto lógico de existência de uma sociabilidade. Quanto mais integrada, mais ritualizada seria a esfera societária vivenciada pelos indivíduos que dela fazem parte. Menor, por outro lado, seriam os escopos diferenciais de individualizações, e mais relacionais seriam os aportes interativos entre os indivíduos.
*
Sociedades relacionais seriam, então, para esta primeira visão, movimentadas por uma esfera ritual mais compacta onde as individualidades seriam menos perceptivas e aceitas pelo código de ação, e a tradição teria um conteúdo de maior abrangência integrativa. Formaria uma espécie de ordem ritual, organizada, basicamente, em torno de linhas acomodativas e informativas das ações desejáveis aos sujeitos sociais em interação, parecendo deixar assim pouco espaço para atuações de outros tipos de imagens que não se adéquam à lógica da tradição a que está imersa.
*
Foi nos anos cinquenta do século XX, porém, com a emergência e hegemonia do modelo de análise estrutural funcionalista de Talcott Parsons, que os ensinamentos que serviram como pressupostos analíticos à sociologia das emoções tiveram continuidade, para esta primeira visão, com novas propostas teóricas e criação de ferramentas conceituais para o estudo das dimensões macro e microssociais e os fenômenos que acontecem na interface entre indivíduo e sociedade. Para esta primeira visão Talcott Parsons teve, assim, um papel fundamental como precursor da sociologia das emoções. Principalmente, através do seu conceito de personalidade, como conceito estrutural e estruturante da relação entre indivíduo e sociedade, através da noção de papel social, e por ter colocado a emoções como um dos quatro componentes estruturais da sua teoria da ação.
III
Uma segunda visão importante para o desenvolvimento da sociologia das emoções, indica a influência da escola sociológica americana do final do século XIX e as primeiras décadas do XX. A escola sociológica americana, neste período, beberia de uma fonte diferente da escola francesa. A formação e o intercâmbio dos primeiros sociólogos americanos, principalmente os da Universidade de Chicago, se deu, sobretudo, com a Alemanha e, especialmente, com uma vinculação estreita com Georg Simmel.
*
Para a sociologia americana do período seria importante, deste modo, mostrar a influência de Simmel, principalmente junto ao que se convencionou chamar de a escola de Chicago. George Mead, fundador da psicologia social americana, bem como Robert Park, fundador da ecologia urbana, ambos importantes membros da escola de Chicago, foram alunos de Simmel em Berlim e buscaram aprofundar as relações entre indivíduo e sociedade nos estudos sobre a realidade em transformação que o processo de urbanização causava nas principais cidades americanas, especialmente em Chicago, no final do século XIX e primeiras décadas do XX.
*
A teoria de Mead, seguindo de perto a análise simmeliana, apresenta o conceito de intersubjetividade, através do estudo sobre o compartilhamento de estados subjetivos por dois ou mais indivíduos. Para Mead, segundo esta segunda visão, a questão da intersubjetividade vai além das descrições de comportamentos individual e institucional em suas atitudes e ações. A noção de intersubjetividade discute, envolve e compreende a perspectiva de uma pessoa, de um grupo de pessoas ou de uma instituição reais ou imaginados, e a dos outros participantes em ação interativa.
*
O desenvolvimento de uma segunda geração de interacionista, no final dos anos quarenta e cinqüenta do século passado, e o desenvolvimento de uma linha de pesquisa sobre sociologia do conhecimento, redobraria a atenção, segundo esta segunda visão, à análise do indivíduo e suas interações mais imediatas, em contraponto à emergência e o domínio do estrutural funcionalismo nos Estados Unidos.
*
As análises microssociais propostas pelos interacionistas e interacionistas simbólicos e pela corrente que buscava aprofundar o campo da fenomenologia e a pesquisa sobre sociologia do conhecimento, e bem mais tarde, pela etnometodologia, desta forma, ao partirem das relações imediatas entre indivíduos em um conjunto societário específico, buscavam entender as emoções em jogo no processo interativo como elementos sociais. Neste sentido é interessante ver a análise proposta pela coletânea organizada por Harré, bem como os trabalhos de Kemper e Planalp, onde a construção social das emoções é vista dentro do campo interacionista e no interior da análise da microsociologia. Estes estudos dão prioridade às condições e processos sociais, morais e culturais de onde as emoções emergem, buscando entender o jogo inter-relacional entre as instâncias subjetivas e objetivas dispostas em uma interação social.
*
O espaço analítico aberto pelas análises da microssociologia americana teve uma influência teórica determinante para a emergência do campo de análise da sociologia das emoções. De acordo com este autor, a sociologia das emoções constitui uma subdisciplina de criação recente que busca o resgate da vida emocional ou a situa no centro da reflexão sociológica, além de fortalecer a perspectiva que visualiza os sentimentos e as emoções como partes de um processo construtivo na relação entre os homens e sublinha a esfera emocional como um processo tencional cruzado permanentemente por uma racionalidade ativada pelo indivíduo como ator social, e pelos dispositivos ideológicos e institucionais em que descansa a ordem social. Não uma em supremacia a outra, mas ambas em estreita interconexão.
*
Os sujeitos sociais em interação não estariam subsumidos a uma ordem ritual, mas interconectados a ela. Nela e através dela, os indivíduos se encontrariam e se fundamentariam enquanto pessoas.
*
Ao seguirem de perto as análises desenvolvidas por estudos realizados através do interacionismo simbólico e da fenomenologia, ou mesmo da etnometodologia, os sociólogos da sociologia das emoções atentam que são as regras gerais que cada formação societal assume como código de conduta para o social e para os indivíduos que nele se movimentam, a chave que permite apreender os significados intrínsecos dos rituais humanos societários, onde a emoções é o arcabouço primevo de sua constituição. Como, por exemplo, linguagens do prazer ou da dor, ambas mescladas pelo conjunto de etiquetas das emoções intrínseco a um social e a um indivíduo qualquer, que as institui como quase naturalização, e sua importância para a vida de um ator social e de um povo, e para um modo de vida singular.
*
Para este caminho analítico da sociologia das emoções, que tem a releitura interacionista e fenomenológica como campo compreensivo, são as mixagens possibilitadas pela infinita articulação de indivíduos e sociedades que devem ser exploradas para o entendimento de sociabilidades e códigos emotivos socialmente satisfeitos e oriundos da relação entre atores. São estas infinitas configurações que conformam um estilo de vida específico e, ao mesmo tempo, historicamente estruturado a formas societais mais abstratas, - como a sociedade ocidental por exemplo. Esta preocupação analítica, segundo estes sociólogos, permitirá uma melhor compreensão dos códigos de conduta que movimentam a moral e a cultura de uma sociedade, bem como a etiqueta emotiva que fundamenta os interesses e jogos relacionais entre indivíduos.
*
De como indivíduos e sociedade fundam e fundam-se simultaneamente em uma razão discursiva específica, que organiza uma cosmologia e uma cosmogonia orientadoras de suas visões de mundo, instauradoras de olhares singulares sobre si, enquanto cada um, indivíduo, e sobre o outro, aquele que proporciona trocas complementares e equivalentes, que articulam o socius enquanto argumento cultural comum a um modo de vida e as narrativas daí inerentes.
*
Estudar as emoções estruturadoras e estruturantes dos códigos societários que instituem comunicantes entre olhares tornados comuns e diversos no agir e no sentir individual, desde modo, para este caminho de análise da sociologia das emoções, é ter em conta os elementos primevos organizadores de um olhar social, em sua particularidade restritiva a um código histórico cultural singular e a sua universalidade conformadora de razões humanas, enquanto categorias de entendimento fundamentais para a organização da vida em comum.
*
Categoria social de entendimento, a emoções indicaria assim caminhos profícuos de pesquisa para compreensão do significado do humano nas relações sociais e nas diversas formas de sua erição e sentidos. Uma sociologia das emoções passaria assim pelos significados intrínsecos à constituição e à construção das emoções, da subjetividade, como fundamento para a compreensão do social e do humano dele e nele inerente, e a resignificar o indivíduo social em suas relações sempre tensas de subsunção e de emersão ao coletivo.
IV
A terceira visão analítica sobre a sociologia das emoções faz uma série de ressalvas às anteriores quanto ao aspecto da localização deste campo analítico no interior da tradição sociológica clássica. Entre os autores desta terceira visão encontram-se os americanos Thomas Scheff e sua colaboradora Suzanne Retzinger, o australiano Jack Barbalet, hoje Professor da Universidade de Leicester, no Reino Unido, e a alemã, radicada na Dinamarca, Evelin Lindner, entre outros.
*
Esta terceira visão discute a emergência da sociologia das emoções, e informa que na sociologia a discussão sobre a relação emoções e sociedade apesar de não inteiramente desprezada e reconhecida para a análise do social, foi relegada a um segundo plano. Durkheim, Weber, George Mead, Parsons, e mesmo Simmel, segundo esta visão, não deram a devida atenção aos vínculos necessários entre a subjetividade e a objetividade na relação social.
*
O reconhecimento das emoções para a compreensão do social não foi, deste modo, objeto de aprofundamento analítico nas obras dos clássicos. O reconhecimento da emoções pela sociologia clássica, quando se deu foi através de um modo abstrato e sem sentido operacional, apenas como uma constatação implícita e não como uma proposição analítica.
*
Esta terceira visão parte do princípio de que os clássicos da sociologia não podem ser considerados precursores da análise sociológica das emoções, e de que nem sequer chegaram a desenvolver conceitos técnicos sobre as emoções no social. Apesar de constatarem a existência de uma abstrata emoções coletiva, não intentaram investigar a ocorrência dos seus processos formadores, e não buscaram empiricamente dados que poderiam afetar algumas proposições sobre o papel das emoções na conduta humana. Scheff, contudo, em busca de delimitação de análises sociológicas precursoras da sociologia das emoções indica Erving Goffman como o autor que chegou mais próximo a uma formulação conceitual das emoções em seus estudos, dentro da perspectiva interacionista.
*
A análise de Goffman, porém, não teria avançado no sentido de constituição de uma sociologia das emoções e, como os demais clássicos assinalados, Goffman por relegar a um segundo plano o conceito de emoções. O que redundou na consolidação da idéia de que o comportamento humano só pode ser entendido, prioritariamente, enquanto estrutura.
*
Desta forma, a análise goffmaniana não é incluída, também, na lista de analistas pioneiros da sociologia das emoções. Apesar da existência de uma íntima relação entre a análise sociológica de Goffman e as questões da intersubjetividade e das emoções no social.
*
Scheff, por exemplo, remete o leitor, para o livro de Goffman A Representação do Eu na Vida Cotidiana (1985) e, sobretudo, para um dos capítulos do livro A Interação Ritual (1967) que trata da relação entre embaraço e controle social. Neste capítulo Goffman se interessa, sobretudo, pelo princípio da habilidade de manobra em um processo interativo, aprofundando o lado psicológico do embaraço que pode ser evitado por um ou outro ator em interação, deixando de lado, porém, o aspecto social destas emoções.
*
Esta terceira visão afirma que o conceito de emoções, ao ser trabalhado pela sociologia das emoções, não pode ser analisado sem se evocar os componentes psicológicos e sociais da relação. Discute deste modo, o processo analítico que evidencie os elementos do envolvimento interno (psicológico) e externo (social), como um método capaz de aprofundar e compreender as origens e os processos formativos e de consolidação social de uma emoção específica, e do conjunto das emoções. Vistas cada uma em sua unicidade e em sua utilidade para um social e para os indivíduos relacionais nele imersos, como a base discursiva de uma sociologia das emoções.
*
Goffman, deste modo, para esta terceira visão, chegou a dar o primeiro passo para a compreensão do problema de emoções no social, unindo indicadores interiores com indicadores exteriores observáveis nas ações interativas, muito embora, sem chegar a desvendar os processos que incidiriam sobre as relações societárias necessários à análise da ação intersubjetiva nas ciências sociais.
*
Para os autores desta terceira visão não basta estudar a superfície exterior e o lado interior de atores em ação, mas também, e, sobretudo, os vínculos que os conectam. Ao não despertar para este aspecto, Goffman não teria avançado na análise para uma sociologia das emoções, criando um lapso teórico-metodológico na sua análise, quase um ardil, dificultando o avanço compreensivo da questão da intersubjetividade.
*
O balanço dos estudos sociológicos sobre a questão da intersubjetividade e das emoções sociais e no social, desta terceira visão, chega à conclusão de que os sociólogos clássicos e as diversas escolas de sociologia geral chegaram a identificar as emoções como um processo social e até diagnosticarem a importância da temática para a análise do social. Os estudos sobre emoções, porém, só se tornaram importantes na sociologia a partir dos trabalhos de Elias e de Lynd e, em um segundo plano, de Sennett.
*
Segundo esta terceira visão, os autores citados, agindo em tempos e caminhos independentes, deu os primeiros passos para a investigação sociológica das emoções, através de uma emoção única e concreta. Não trataram a cultura emocional de forma abstrata e geral como vinha sendo feito, sendo considerados, desta maneira, precursores deste campo disciplinar.
*
O passo inicial se deu pela consideração e aprofundamento analítico por esses precursores de uma emoção específica e, para esta terceira visão, fundamental para o estudo da sociabilidade: a emoção vergonha. Para esta via analítica, assim, a sociologia das emoções deverá seguir os parâmetros desenhados principalmente por Elias e Lynd nos estudos sobre esta e outras emoções específicas, para continuar o seu desenvolvimento interpretativo e estabelecimento e consolidação das fronteiras que a definiriam em relação às demais especialidades no campo da sociologia.
*
A emoção vergonha e suas variantes, como o embaraço, a humilhação, a baixa auto-estima, a falta de autoconfiança, entre outras, bem como conceitos estreitamente correlacionados ao ato de envergonhar-se, como o sentimento de honra, o sentimento de orgulho, e o auto-respeito, formariam, deste modo, o centro básico, o núcleo compreensivo da cultura emocional no social na análise sociológica das emoções.
*
A terceira visão sobre a sociologia das emoções parte, neste sentido, do pressuposto de que a disciplina para se consolidar deveria começar por aprofundar a pesquisa sobre emoções específicas. Estas pesquisas deverão ser dirigidas e organizadas através de hipóteses compreensivas sobre cada emoção no coletivo, no sentido de objetivação de um método válido para o mapeamento, entendimento e construção de modelos dos padrões intersubjetivos resultantes da relação entre subjetividade e objetividade no social.
*
Este caminho, se seguido, conduzirá os pesquisadores a reconhecerem, correlacionarem e distinguirem as emoções no interior de uma tecedura social específica. A partir do local de onde elas emergem e pela extensão e reconhecimento dos laços sociais de cada emoção específica entre os participantes deste social. O que implicaria, também e principalmente, em dar a devida importância à mudança emocional na interface da troca entre indivíduos e sociedade e a forma de compreensão sobre o processo de transmissão no social das emoções.
*
Para finalizar
*
As diversas leituras analíticas aqui apresentadas reconhecem que a sociologia clássica imputou importância ao conceito de emoções, porém, diferenciam-se na questão da herança transmitida por ela para o surgimento, desenvolvimento e consolidação desta nova linha analítica. As duas primeiras visões enfatizam que a sociologia das emoções é herdeira da tradição sociológica clássica, diferindo da última que parte do pressuposto de que a sociologia das emoções só emergiu através dos trabalhos que objetivaram o entendimento de uma emoção específica, e a colocando como mola mestra explicativa da análise do social na sua interface e interação entre os aspectos subjetivos e objetivos de uma ação social entre os homens.
*
As três leituras, porém, fora à divergência sobre a origem do campo disciplinar, são mais convergentes do que querem se mostrar. Todas atentam para o aspecto salutar da análise social, enquanto uma análise que considere o processo de intersubjetividade nas relações humanas em diálogo tenso e conflitual com os processos objetivos da configuração do social. O que permite dar formatos e alianças a projetos e sociabilidades emergentes e sempre dependentes de novas interações e de novos movimentos entre os lados objetivos e subjetivos em jogo em uma sociabilidade qualquer.
*
Para finalizar esta minha conversa, aqui, nas Quintas Sociais do DCS e CCS da UFPB, eu recomendo, por fim, a leitura dos meus livros, Introdução à sociologia da Emoção (João Pessoa, Manufatura, 2004); Sociologia da Emoção (Petrópolis, Vozes, 2003) e Emoções, Sociedade e Cultura (Curitiba, CRV, 2009), para uma análise mais aprofundada sobre a sociologia das emoções como área temática.
*
Em resumo, este papo buscou passar em revista as bases do processo de constituição e consolidação da sociologia das emoções como disciplina específica no campo das ciências sociais. Procurou, também, apresentar o campo disciplinar da sociologia das emoções no estado da arte atual da disciplina, passando em revista seus principais autores e temáticas nela trabalhadas.
*
Obrigado.
*
***
***
[Exposição do Professor Mauro Guilherme Pinheiro Koury para as Quintas Sociais. CCS / UFPB, João Pessoa, 21 de julho de 2005]
*
**
***
**
*

segunda-feira, 1 de junho de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

*
Parceiros do GREM
*
**
***
*
Dá-se continuidade, neste momento, à série Parceiros do GREM.
*
Apresenta-se, agora, como parceiro-irmão o GREI – Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem, da Universidade Federal da Paraíba.
*
O GREI é uma base de pesquisa vinculada ao CNPq, fundado e liderado pelo Professor Mauro Koury no ano de 1995.
*
As pesquisas e estudos do GREI, como o nome já indica, discutem a problemática da relação entre imagem e sociedade no mundo contemporâneo e no Brasil, de forma específica.
*
O GREI foi um dos primeiros grupos criados para o estudo e pesquisa da imagem no Brasil, e esteve presente no processo de fortalecimento e consolidação da área de sociologia da imagem e da antropologia visual e da imagem no país.
*
Desde a sua criação, desenvolve pesquisas junto com o GREM, de quem é parceiro-irmão. Com uma serie de artigos, livros e coletâneas editados, onde faz a ligação entre a antropologia e a sociologia da imagem, com a antropologia e sociologia das emoções. Ambos sob a liderança do Professor Mauro Koury.
*
O contato com o GREI pode ser feito através do e-mail grei@cchla.ufpb.br. Convida-se, também, os leitores deste Blog a visitarem o site do GREI junto ao CNPq, no endereço eletrônico: http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0083702JDBG9QF
*
*
**
***

domingo, 31 de maio de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

Parceiros do GREM
*
**
***
*
Neste momento se dá continuidade a série parceiros do GREM, em comemoração aos 15 anos de atividade deste grupo de pesquisa, no projeto Memória do GREM.
*
O Centro Josué de Castro esteve presente na vida do GREM muito antes da criação do grupo de pesquisa. A vinculação do GREM com o Centro Josué de Castro tem início em 1979, data da fundação do Centro, isto é, muito antes do nascimento do GREM, mas, tendo o fundador e líder do Grupo, o Professor Mauro Koury, como um dos pesquisadores sócio fundador do Josué de Castro.
*
O Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro, fundado em 1979 por um grupo de pesquisadores pernambucanos, tem por objetivo contribuir para a construção e fortalecimento da democracia e da cidadania na perspectiva do acesso aos direitos humanos, através da pesquisa e da intervenção social.
*
Nesses 30 anos de existência, o Centro Josué de Castro construiu uma história de pesquisa e intervenção social séria e competente, influindo na elaboração e melhoria das políticas públicas e mobilizando a sociedade em favor da maior abrangência dessas políticas. *As principais áreas de estudo e intervenção social do Centro Josué de Castro têm sido a análise da realidade brasileira, especialmente da região Nordeste, através de pesquisas e intervenções nos diversos ramos das ciências humanas; a atuação em várias frentes voltadas para o conhecimento e superação das causas da fome e da pobreza; a capacitação de cidadãos para a participação na formulação de propostas, controle e acompanhamento de políticas públicas; o fortalecimento de redes e articulações voltadas para essa finalidade; e a atuação em fóruns e debates sobre políticas econômicas, sociais e culturais.
Este Blog convida a todos, para um melhor aprofundamento nos trabalhos e na filosofia do Centro a visitarem a sua página no endereço eletrônico: http://www.josuedecastro.org.br/index.php
*
*
[Estes dados foram recolhidos diretamente da página do Centro Josué de Castro]
*
*
*
*
**
***

sábado, 30 de maio de 2009

15 anos do GREM - Projeto MEMÓRIA DO GREM - Série Parcerias

*
Parceiros do GREM
*
**
***
Uma série de parcerias do GREM, nestes 15 anos de atividades, serão, a partir de então, comentadas. A primeira delas, abrindo a série, fala sobre o Human Dignity and Humiliation Studies.
*
O Human Dignity and Humiliation Studies (HumanDHS), é um grupo de pesquisa vinculado a Universidade de Oslo, Noruega.
*
O HumanDHS é uma rede de estudos globais e transdisciplinares sobre o desrespeito destrutivo e sobre as práticas de humilhação em termos mundiais.
*
As pesquisas do HumanDHS são inspiradas por valores universais, tais como, a humildade, o respeito mútuo, a inquietação e a piedade, e por um sentido de direitos e de responsabilidades planetárias compartilhadas.
*
O HumanDHS, por fim, é uma rede global que objetiva gerar a pesquisa interdisciplinar (intra e intercultural) e disseminar a informação entre os povos visando, e realçando, a consciência dos direitos e da dignidade humana.
*
Desde 2002 o GREM é parceiro do HumanDHS. Na RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, revista eletrônica editada pelo GREM, desde o seu primeiro número, é possível encontrar contribuições de pesquisadores associados ao HumanDHS, como Evelin Lindner (Noruega), Linda Hartling (EUA), Mauro Koury (Brasil), Elizabeth Gross-Battesson (EUA), Katrine Fangen (Noruega) e outros.
*
Este Blog convida a todos para fazeres uma visita ao endereço eletrônico do HumanDHS: http://www.humiliationstudies.org/index.php . Neste endereço, além de ter uma noção mais profunda do Grupo de Pesquisa Human Dignity and Humiliation Studies, o leitor poderá encontrar uma lista de atividades desenvolvidas e em desenvolvimento pelo HumanDHS, eventos programados e uma série de artigos e relatórios por eles desenvolvidos, de grande relevância temática para a área dos direitos humanos, da dignidade humana e para a área de estudos sobre humilhação.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

15 anos do GREM – Projeto Memória

As Imagens da Lagoa. Uma Etnografia Visual sobre Pertença e o Uso do Espaço Público
*


Mauro Guilherme Pinheiro Koury
*

Este artigo tem por objetivo elaborar uma narrativa das formas de ocupação e usos de um espaço urbano da cidade de João Pessoa de grande visibilidade local, o Parque Sólon de Lucena, mais conhecido como a Lagoa[1]. Parte de um levantamento do humano e da paisagem local, e procura elaborar um roteiro narrativo que abarque desde os diversos tipos que ali trafegam e como ocupam o lugar, os problemas e formas de enfrentá-los que apontam, até os desenhos de sociabilidades e da memória visual, espacial, temporal e afetiva que possuem do espaço.
Busca, deste modo, compreender o conceito e os sentidos de pertença vivenciados pela população de João Pessoa que freqüenta o local, através da narrativa dos informantes sobre o Parque. Para quase todos os informantes com quem conversei durante as várias caminhadas em vários dias da semana e diversos horários durante a minha estada em campo, bem como para o imaginário da cidade, da mídia e das agências de turismo local, o Parque Sólon de Lucena é visto como um grande cartão postal da cidade.
Situado no centro da cidade de João Pessoa, o Parque parece ser um espaço por onde se podem compreender os sentidos de pertencer a um determinado lugar (KOURY, 2003), e entender como os moradores desenvolvem esse sentimento. A questão que me proponho, então, é mostrar e pensar o Parque enquanto local onde se visualiza os elementos emocionais da pertença, enquanto construto subjetivo de viver a cidade.
*
O Parque na Cidade
*
O Parque Sólon de Lucena ou a Lagoa é um espaço público dos mais conhecidos de João Pessoa, inclusive considerado um dos cartões postais principais da cidade. O local era conhecido até as duas primeiras décadas do século XX pelo nome de Lagoa dos Irerês (Foto 1), como contam os cronistas da cidade, uma espécie de ave que habitava o lugar[2], ou simplesmente a Lagoa (AGUIAR & OCTÁVIO, 1985). Era uma área formada por um conjunto de pântano, vegetação e lagoa acumulada das águas das chuvas e, em suas imediações, e nas áreas a ela circunvizinhas existiam inúmeros sítios e chácaras (MAIA, 2000).
A área que circunda a Lagoa passou a ser chamada de Parque Sólon de Lucena através do Decreto Lei nº 110, de 27 de setembro de 1924, durante o governo de Sólon de Lucena, mas foi só nos anos trinta, durante a administração de Argemiro de Figueiredo, que o projeto ganhou forma urbanística, com “o calçamento dos anéis internos e externos da Lagoa” (O Norte, 20 de janeiro de 2004) e jardins.
Sua inauguração oficial como Parque urbanizado se deu em 1939 (Foto 2). Os jardins da Lagoa foram projetados pelo paisagista Burle Marx (Foto 3) e o projeto fez parte de um conjunto de modificações que visaram o disciplinamento, o embelezamento e o saneamento das vias urbanas, na nova racionalidade sobre as cidades que começa a ser implementada no Brasil, e na cidade de João Pessoa, em particular, desde os finais do século XIX e, principalmente, a partir dos anos vinte do século XX (KOURY, 1986).
O Parque foi tombado pelo IPHAEP - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba em 26 de agosto de 1980, através do decreto nº 8.653, e ocupa uma área desapropriada de 150 mil metros quadrados. Em 1985 seu espaço físico passou por um processo de recuperação e reordenamento.
Cartão Postal (Foto 4) e endereço turístico importante da cidade a Lagoa, hoje, é também um ponto central de trafego de veículos e fluxo de habitantes da cidade que por lá passam, ou pegam ou saltam de transportes urbanos para deslocamento pelo Centro da cidade ou para ida a outros bairros. A área onde se localiza é responsável por parte considerável da movimentação econômica através as lojas de departamento, escritórios, bancos, barracas de lanches e bebidas e, principalmente por causa do comércio informal que se amplia dia a dia.
O jornal O Norte, de 20 de janeiro de 2004, afirma que por lá circulam diariamente mais de 2,5 mil automóveis e todas, ou quase todas, as linhas de ônibus da cidade, além de um fluxo diário de mais de oitenta mil pessoas. O que torna o local em um dos pontos mais agitado e movimentado da capital.
A Lagoa, no presente, é uma área disputada por pedestres, com paradas obrigatórias de todas as linhas de transporte coletivo que por lá passam, e carros, que cortam o Parque em várias direções e disputa o seu espaço como forma de estacionamento. É também um local com concentração de flanelinhas e desempregados.
Na circunvizinhança do Parque funciona um variado comércio e os principais serviços públicos da capital, bem como lá estão estabelecidas as principais lojas de departamento da cidade. É um espaço também de pequenos delitos[3] e de acúmulo do comércio informal.
A Lagoa é uma área de múltiplas formas de ocupação e presença. Ocupações e presenças que vão desde o fluxo contínuo de transeuntes, a pé ou em carro e transportes coletivos, até como um espaço de lazer para várias categorias de moradores, para namoro de colegiais e comerciários e, à noite, local de prostituição tanto masculina e feminina e de boêmios que vivem a madrugada, tanto quanto de local de dormida para moradores de rua.
O Parque, também, é um núcleo central de festividades oficiais da prefeitura e do estado: festejos de natal, São João, entre outros, também fazem do espaço um centro de referência da cidade. Na década de cinqüenta e sessenta a Lagoa foi palco de uma passagem obrigatória para os movimentos estudantis e atos políticos na cidade, bem como no decorrer dos anos finais da ditadura foi palco de comícios pela redemocratização do país e pelas eleições diretas (KOURY, 1983).
Continua ainda hoje a preencher e dar visibilidade às várias formas de ação reivindicativas, sociais, esportivas, políticas e eleitorais da cidade. Em tempos de eleições, serve de palanque para políticos e suas margens e calçadas são ocupadas por uma variada onda de bandeiras e faixas de vários candidatos. Todas as manifestações públicas, de acampamento de sem terra (Foto 5) e passeatas de protesto e reivindicação também por lá circulam, começam ou acabam. Manifestações cívicas e esportivas também têm seu lugar na lugar na Lagoa.
Como espaço turístico, cartão postal da cidade, com vários tipos de usos e contornos na atualidade e através do tempo, o Parque Sólon de Lucena é um espaço de memória afetiva (KOURY, 2003) e um dos ambientes mais significativos para o estudo sobre a relação entre moradores e áreas públicas em João Pessoa.
Percorri por várias vezes o espaço público do Parque Sólon de Lucena, recompondo todo o seu trajeto e mapeando as avenidas, ruas e becos que nele deságuam. Esta caminhada, em vários horários do dia, objetivou conhecer os tipos permanentes e temporários que usam ou trafegam pelo Parque, e conversar com algumas destas pessoas que por ele andam, nos vários horários.
Esse trajeto que aqui começo a narrar buscou apreender e acompanhar o movimento sempre variado e as formas de apropriação, temporárias e permanentes, da população que o freqüenta. Bem como os motivos de frequentá-lo, o que possibilitou uma percepção de vários olhares sobre o local trabalhado nos diversos momentos de sua utilização pelos informantes que se propuseram a comigo conversar.
Os horários da caminhada foram distribuídos em diversos momentos. De passeios matinais ao redor da Lagoa, dando conta do afluxo da população para mais um dia de estudo, comércio, serviços, compras, passeios, turismo, ponto de transferência de um ponto a outro da cidade e outras diversas formas de utilização do espaço, até o esvaziamento do centro da cidade e da Lagoa no final de mais um período diurno. A estada em campo nas noites procurou identificar as formas de ocupação noturna do espaço por boêmios, prostitutas, travestis e michês e poucos transeuntes em busca de transporte público ou passagem para outro local da cidade. As caminhadas, assim, se deram nos seguintes horários, das 06 às 09hs; das 09 às 12hs; das 12 às 18hs; das 18 às 20hs e das 20hs às 06 hs da manhã[4].
O Parque Sólon de Lucena, para uma melhor apreensão do pesquisador, foi dividido em cinco núcleos. Os núcleos foram baseados nos diversos canteiros que dão o formato, obtendo uma visão conjunta da Lagoa, e possibilitando a apreensão das diferentes formas de ocupação por núcleo.
O primeiro núcleo compreendeu a parte da Lagoa que vai da Avenida Getúlio Vargas a Avenida Miguel Couto, espaço que envolve o ambiente das paradas de ônibus e os quiosques; o segundo núcleo abrangeu a parte que vai da Avenida Miguel Couto até a Rua Padre Meira, o lugar de flanelinhas, pontos de estacionamento de veículos e quiosques e, à noite, local de boêmios e prostituição feminina[5]; o terceiro núcleo abarcou a parte que vai da Rua Padre Meira até a Rua Rodrigues de Carvalho, espaço reservado, durante o dia, aos negociantes de carros usados e, à noite, ponto de prostituição masculina; o quarto núcleo, que vai da Rua Rodrigues de Carvalho até a Avenida Getúlio Vargas, onde se encontra o conhecido Cassino da Lagoa; e o núcleo cinco, a calçada em torno do lençol de água da lagoa, chamado de Passeio da Lagoa, parte interna do Parque, onde os moradores da redondeza costumam fazer suas caminhadas (Mapa I).
*
Frequentadores e transeuntes
*
O Parque Sólon de Lucena é um pulsar de diversos tipos humanos que o freqüentam de formas diversas e períodos distintos, ali trafegam, trabalham, namoram ou, até mesmo, fazem de suas árvores dormitórios ou moradias.
São moradores do centro que fazem caminhadas matinais, aposentados que freqüentam os grupos de dominó, estudantes, namorados, cambistas, boêmios, prostitutas, travestis, trabalhadores de diversas profissões, taxistas, policiais, guardadores de carro conhecidos por flanelinhas, donos de quiosques e barracas, camelôs, políticos, moças e rapazes que fazem panfletagens nos períodos de eleição, meninos de rua, pedintes, turistas, transeuntes, - vistos de uma forma geral, como pessoas que freqüentam o local apenas de passagem, seja estacionando o carro, ou nas paradas de transportes coletivos (Foto 6), e ou esperando alguém, ou utilizando o serviço gratuito de ônibus para a orla marítima [6], entre outros.
A Lagoa, das 09 horas da manhã às 20 horas é um centro nervoso e agitado. Entre seus canteiros passam milhares de pessoas diariamente, possui um tráfego pesado que a circunda entre suas várias artérias, e uma variedade de tipos humanos que por lá circulam ou permanecem cotidianamente, de quase todos os bairros da cidade. À noite, fora os dias de festas e comemorações públicas, que atrai uma enormidade de pessoas, ganha uma aparente calma.
Os tipos que por lá transitam escasseiam e transmudam. Os quiosques, abertos vinte e quatro horas, começam a acolher trabalhadores que saem do trabalho e esticam um pouco sua permanência, - até as 21 hs, de segunda a quinta feira, e 22 e 24 horas na sexta feira, - na região Central da cidade onde se localiza o Parque, “jogando conversa fora” ou esperando diminuir o afluxo nos ônibus e transportes coletivos e retornarem a seus bairros.
Outros freqüentadores começam a usar o espaço a partir de então, e em certos horários de forma simultânea. Boêmios, que por lá trafegam durante toda à noite, prostitutas, travestis, michês e moradores de rua que dormem entre as árvores e nos bancos espalhados pelos diversos canteiros do Parque dão o novo colorido ao ambiente e um novo modo de apropriação do lugar.
O policiamento escasseia, a partir das 20 horas, e a Lagoa ganha um novo formato para os usuários da noite, com linguagem estética própria, que a diferencia e atemoriza o cidadão joãopessoense que a freqüenta nos períodos diurnos.
Nos finais de semana a ocupação diurna da Lagoa se distingue. O comércio fechado faz com que os freqüentadores habituais da semana fiquem em suas casas ou vão se divertir em outros locais, como a orla, seus bares, praia e shopping, ou outro Parque, como o Arruda Câmara, também conhecido como a bica, entre outras formas de inserção de descanso e lazer da cidade.
O local é, então, ocupado por grupos evangélicos que assumem vários canteiros do Parque em rodas de pregação, moradores em seus footings matinais e de final de tarde e alguns turistas, principalmente os vindo do interior do estado, passeiam pela Lagoa e usam os seus quiosques para almoçar ou lanchar com a família e tirar fotografias. A agitação, o trânsito e transeuntes diminuem. À noite, o comércio de prostituição masculina e feminina prossegue, a freqüência de boêmios, mendigos e meninos de rua diminui um pouco.
O Parque Sólon de Lucena, apesar de ser um dos locais mais agitados da cidade, tem uma peculiaridade na sua freqüência. Mesmo contanto com os transeuntes temporários, quem freqüenta ou transita o Parque, em sua maior parte, são indivíduos com até 10 salários mínimos de renda, isto é, com uma renda até três mil reais, e que estudam ou trabalham nas imediações do centro, ou que vão resolver negócios ou transações nas repartições públicas da cidade.
Com o desenvolvimento da orla marítima como não apenas local de moradia, mas também em comércio e lazer, a partir dos anos cinquenta e, principalmente a partir dos anos setenta do século passado, o centro da capital começou a passar por um processo de decadência. O seu comércio é áreas públicas de lazer hoje, são disputados, principalmente, pelas camadas populares da população da cidade, a classe média e média alta circulam principalmente pelos shoppings e áreas de lazer da orla.
O que não quer dizer que a cidade como um todo, grosso modo, não passe pelo Parque pelo menos uma vez por dia. No survey aplicado pelo GREM em apenas um único dia, durante todo o dia 04 de agosto de 2004, com uma amostra de 181 indivíduos, foram entrevistados moradores de cinqüenta e cinco bairros da cidade. Bairros situados e espalhados por toda a rede urbana que compõe o município de João Pessoa[7].
Os bairros considerados de classe média e média alta são 7,74% do total da amostra. Os demais bairros são de classes média baixa e popular. Somados dão um total de 72,38% dos freqüentadores do local entrevistados durante o survey.
Outra parcela de entrevistados é formada por moradores de cidades da região metropolitana que trabalham em João Pessoa, 18,78% dos entrevistados[8], ou moradores de cidades do interior paraibano em negócio ou passeio pela capital, 1,10%. Para os moradores da região metropolitana a Lagoa é sinônimo de trabalho, os entrevistados são, em sua maioria, camelôs ou trabalhadores diretos, garis, garçons, garçonetes, entre outros, do Parque. Para os das cidades do interior, o viver a Lagoa ou o ir visitar e freqüentar o Parque é um sinônimo de conhecer e viver a cidade. Ir a João Pessoa e não visitar a Lagoa é não ter estado na cidade.
Durante as minhas caminhadas durante a semana e fins de semana, conversei com vários interioranos deslumbrados pelo espaço físico do Parque Sólon de Lucena e da necessidade de tê-lo incluído em seu roteiro pela cidade. Vários ônibus com turistas aportam nos canteiros do Parque, principalmente nos fins de tarde, trazendo levas de turistas do interior que vêm conquistar a Lagoa.
É interessante notar que, mesmo os que se mudam para a capital, por alguns anos ainda registram a Lagoa como um ponto de encontro e lazer na cidade. Muitos dos que circulam nos finais de semana, ou mesmo durante a semana na cidade, fazem suas refeições nos quiosques da Lagoa, e “tomam uma cerveja com amigos” e familiares, ou marcam encontro tendo por referência o Parque. O Parque Sólon de Lucena, deste modo, para os moradores de outras cidades, é um ponto de referência da cidade e na cidade, um símbolo da capital.
Amor e desamor: a ambivalência da emoção pertença
É importante lembrar, contudo, que para o conjunto dos moradores da cidade o Parque Sólon de Lucena simboliza também um marco importante de reconhecimento de João Pessoa. Quando se pergunta sobre os pontos que são o rosto e a alma de João Pessoa, um dos primeiros a serem lembrados é o Parque, conhecido por a Lagoa.
Em um estudo realizado para obtenção do grau de mestre por Rossana Honorato (1999, p. 87), por exemplo, entre produtores culturais da cidade de João Pessoa, a resposta à questão dos pontos de referência que eram “a cara”, entre outros, esteve sempre presente a Lagoa. Como corrobora um dos seus informantes, o arquiteto Mario Di Láscio, “A Lagoa era uma poça d’água, foi urbanizada em 1937, eu já era rapazinho. Hoje é a cara de João Pessoa”.
Cartão postal, como muitos afirmam, embalados pela beleza do Parque decantado em todos os anúncios governamentais e de empresas de turismo sobre a capital, a Lagoa é também sinônimo de amor e desamor. O desamor se refere entre outros aspectos às intervenções municipais que modificaram o projeto original do Parque e a luta pela manutenção do seu desenho e estrutura ambiental, mesmo após o tombamento pelo Patrimônio Histórico na década de oitenta do século passado.
Refere-se também ao crescimento acelerado da cidade desde as últimas três décadas finais do século XX, com o aumento da intensidade do trânsito no local, bem como a tentativa de desfiguração do local com o alinhamento dos espaços de estacionamento de veículos e avanço nos canteiros do Parque modificando o seu aspecto, ou por ter o Parque se tornado um ponto de prostituição e ação de pequenos roubos. Refere-se também ao estranhamento que sentem quando vêem o Parque sendo utilizado por pessoas ou grupos que parecem não se reconhecer. Pelo anonimato da multidão que vaga pela área da Lagoa.
Muitos dos informantes falaram, também, evitar o Parque pela insegurança que o mesmo provoca no cidadão. A insegurança reflete-se em um plano moral, pela presença noturna e diurna, embora de uma forma um pouco menos visível, da prostituição masculina e feminina no local, como também em um plano físico, seja pelo número crescente de veículos que por lá trafegam, dificultando a vida dos pedestres, seja pelos acidentes (Foto 7), atropelamentos e invasões do espaço do Parque por motoristas que perderam a direção. A insegurança também se reflete nos pequenos furtos de carteiras e objetos pessoais, que incomodam e assombram a população que passa ou permanece na Lagoa.
Fala do desamor ao local, também, associado à decadência do lugar, pelos equipamentos urbanos lá instalados se encontrarem quebrados e sem manutenção, pela sujeira e o pelo odor do lugar. Mas não só os informantes falam da sujeira e do odor local, a própria mídia relata cotidianamente.
Em um irônico artigo, intitulado “Estrovenga e fedorentina”, o jornalista e cronista urbano da cidade de João Pessoa descreve o odor que emanava da Lagoa, no momento em que a prefeitura realizava um fórum sobre o Parque Sólon de Lucena, em outubro de 2001 (ARANHA, 2001). O joãopessoense associa o desamor, também, ao público que a freqüenta, associado quase sempre a pessoas consideradas como marginais, boêmios e vagabundos.
É interessante que, mesmo que vários informantes confirmem trafegar pela Lagoa uma ou mais de uma vez ao dia, alegam que são apenas transeuntes e não freqüentadores do Parque. Dissociam assim o estar lá do permanecer lá, e assim colocam um distanciamento entre si e os freqüentadores do local.
No estranhamento e separação, podendo colocar-se de fora e apontar o local como um lugar inseguro por culpa de quem o freqüenta. Afirmam que os que freqüentam são os outros, e imputam a esses outros uma parcela da decadência da Lagoa e culpam a administração da cidade por uma ação não eficaz na área de segurança e disciplinamento do lugar.
Os próprios moradores da região central, que freqüentam nas manhãs e finais de tarde o Passeio da Lagoa, realizando o footing, também fazem questão de demonstrar a insegurança do lugar e se dizem desamparados e com medo de agressão e assédio. Muitos destes, porém, asseguram a sua presença como uma forma de amor ao lugar e de amor à cidade. Um deles, inclusive foi enfático ao afirmar:
“É uma forma de resistência nós permanecermos a fazer nossa caminhada aqui no passeio. Lugar mais bonito impossível, já foi comparado as cinco maravilhas do mundo moderno e hoje é isso aí, sujeira, fedor, assaltos e atentados ao pudor. (...) Mas eu e minha mulher não largamos de vir aqui de manhãzinha e de tardinha, todo santo dia. É uma forma de dizer que o Parque é nosso, é uma forma de chamar a atenção para que cuidem dele, de sua beleza e ainda o coração verde da cidade”.
Outra forma de desamor está associada à decadência do centro de João Pessoa, e por extensão, do Parque. As ilhas nobres da cidade e o fluxo do comércio e lazer transferidos paulatinamente para a orla marítima, desde os anos sessenta do século passado, transformaram o centro em um lugar freqüentado por pessoas de baixo poder aquisitivo, as autoridades desviando os recursos de infra-estrutura para os ambientes nobres da capital e deixando o centro ao “Deus dará”.
Com este argumento alegam o descaso e a insegurança no local. É interessante notar, porém, que esta alegação faz parte do conjunto dos informantes perguntados sobre o porque do desamor e de não freqüentarem o Parque Sólon de Lucena. Neste contexto, até moradores de áreas periféricas e de baixo poder aquisitivo afirmam igualmente a insegurança e descaso com o local pela freqüência de pessoas menos nobres ao Parque, e por extensão ao centro.
Nesta referência ao menos nobre, contudo, está presente um valor moral embutido no aspecto de honestidade e trabalho. Os freqüentadores do Parque, assim, são aqueles vistos como suspeitos socialmente, vagabundos, ladrões, prostitutas e “desvalidos[9]” de um modo geral, e não aqueles que estão informando. Muitos, inclusive, possíveis de serem apontados por outros informantes dentro do cenário geral do que consideram os outros, os socialmente suspeitos.
O Parque Sólon de Lucena, todavia, é um local onde as interações amorosas e de apego ao lugar e a cidade se estabelece. Sua referência conota um aspecto importante de um sentimento de pertencer à cidade de João Pessoa, de ter em si o lugar. O Parque é sentido pela maioria dos informantes como um cartão postal da cidade. Um espaço turístico que marca e dá identidade a cidade e, por extensão, aos seus habitantes.
O Parque Sólon de Lucena, a Lagoa, é narrado, neste momento, através de um espelho afetivo que reflete a cidade e o lugar. A atualidade através do tempo identifica e compara vários tipos de usos, contornos e valorações, e a Lagoa torna-se um espaço de memórias afetivas.
O que acaba mostrando os diversos usos do espaço e os contornos de sua ocupação e a inter-relação entre os usuários e freqüentadores, e obviamente suas redes de relações sociais. Os informantes, então, identificam e narram o lugar de uma forma e de um jeito únicos, que qualificam sua individualidade enquanto cidadãos e ao mesmo tempo, revelam o hábito, a tradição, e o costume que o faz membro de um todo.
O sentimento de pertença está relacionado à aproximação e ligação com o local de origem. É uma idéia de enraizamento, onde o indivíduo constrói e é construído, planeja e se sente parte de um projeto, modifica e é por ele modificado. Como declarou um dos informantes sobre o Parque e por extensão á cidade de João Pessoa,
“Há momentos em que eu sou tomado por um emaranhado de lembranças que me fazem dissertar sobre cada pedaço desse meu chão. Nestes meus sessenta e quatro anos de vida acompanhei muito do crescimento desta cidade. Eu lembro de quando criança brincava entre as árvores da Lagoa, lembro das minhas escapadas do Liceu para fumar e conversar com meus colegas, ah, como eu lembro! ... Eu lembro das idas com a família ao Cassino da Lagoa, lembro dos passeios com a minha noiva e depois com os meus filhos pequenos. Eu lembro da Lagoa se transformando em comércio ao redor, as famílias se mudando... eu lembro da cidade crescendo e se estendendo em direção a praia, em direção ao sul, lembro depois, já casado e com filhos, me mudando com a família para o bairro de Castelo Branco, lembro me dirigindo ao Paraiban anos a fio até a minha aposentadoria e sempre passando por aqui pela Lagoa, antes e depois do expediente”.
E continua:
“A Lagoa, assim, faz parte sempre da minha vida. Até hoje, eu saio toda manhã para cá para ver os amigos que sobraram. Para jogar conversa fora e jogar dominó. Tenho medo que esse espaço seja destruído. Ele já não é mais aquele do meu tempo, embora tombado o Parque é uma área muito cobiçada e uma área muito maltratada pelo poder público, que mal cuida dos seus jardins, mal cuida da limpeza, e pelos cidadãos que não respeitam o sagrado, a importância deste lugar para a cidade. Eu vejo a Lagoa, assim, e vejo nela refletida a minha vida e a da minha cidade, a Lagoa é um lugar que cabe dentro de mim”.
A emoção de fazer parte, de pertencer, neste sentido, ultrapassa as barreiras do desagrado. As críticas ao lugar tornam-se uma espécie de querer bem, de alertar a degradação, de reclamar a falta de cuidado, o desmazelo do Parque que traz consigo na memória, no coração, isto é, na memória afetiva também chamada de coração.
Os mais velhos retornam e retomam o lugar para rever amigos e recordar, e na recordação comparam e sentem receio de não ver mais a Lagoa de sua imaginação, de sua experiência do passado. Têm medo de ver a Lagoa destruída, e olham o processo de ocupação atual do lugar com certo estranhamento, por não mais reconhecerem nas pessoas que a freqüentam o núcleo básico das tradições que fundaram a sua curva de vida.
Suas reflexões então soam com um misto de sentimentalismo e medo. Soam também como uma experiência sempre pronta a ser narrada a quem quiser ouvir (e dela tirar proveito). Os mais novos, por sua vez, vêem a Lagoa com certo desdém jovem, ou a remetem ao cenário de namoros ou como passagem obrigatória, menos como local, por eles considerados como de freqüência e lazer, vistos como algo que os desclassifica enquanto habitante da cidade.
O lugar de lazer é a orla, seus bares, o shopping, os cinemas. Porém, ao falarem da importância da Lagoa para a cidade, remetem sempre ao aspecto turístico do lugar e a imagem de cartão postal, e aí se identificam com o lugar como um dos espaços mais bonitos da cidade, e falam da falta de infra-estrutura, da insegurança do lugar com um sotaque afetuoso, de morador zeloso que gostaria de ver restabelecido a importância que o lugar merece na cidade.
Os comerciantes radicados no Parque, desde os estabelecidos nos quiosques oficiais até os camelôs que inundam o local com o seu comércio variado falam da importância do Parque para a cidade e para o comércio local. Criticam, porém, da falta de infra-estrutura, da falta constante de limpeza, da insegurança do lugar. Os estabelecidos, oficiais, reclamam e acusam os camelôs da decadência do Parque, da sujeira e do ambiente de suspeita sobre o lugar.
Os camelôs acusam os comerciantes estabelecidos de modificarem clandestinamente a estrutura dos jardins do Parque em benefício da expansão de seus negócios, desfigurando o lugar. Acusam também de os jogarem contra o poder público e a polícia, e amedrontarem os cidadãos que circulam no local. Uns e outros, porém, vêem o Parque como um sinônimo de sobrevivência, e é desta relação comercial que constroem as suas narrativas sobre o lugar.
O policial com quem conversei, falou sobre sua meninice no Parque. Como morador do bairro do Roger[10] sempre freqüentou o Parque desde tenra idade, foi lá que, como disse, “me tornei homem”, em uma noite de São João[11] com uma turma de amigos, com duas prostitutas que faziam ponto em um dos canteiros do Parque. “Foi entre as árvores do Parque mesmo”, disse ele. Quando está de folga freqüenta o Parque, ainda bebe umas cervejas com os amigos nos quiosques espalhados, ainda pega “umas meninas” por lá.
Quando perguntei sobre os problemas do Parque ele informou que em questão de violência o Parque não é um dos locais mais perigosos da cidade, embora seja temido pelos populares que o freqüentam. Acredita que os temores da população são motivados pela existência do que ele chama de “pequenos meliantes”, “espertos que cuidam do descuido alheio, principalmente, das senhoras e das pessoas idosas”, “são roubos de bolsa, de carteira, vez ou outra da pensão de um velhinho, e por aí”.
Conta cenas de perseguições a “esses elementos” que terminam, na maior parte dos casos, nos perseguidos se jogando nas águas da Lagoa tentando escapar da perseguição e, muitas vezes, “aí é que dão trabalho para serem resgatados de lá”, seja pela lama no fundo da lagoa, seja pelo tempo perdido até a sua rendição. No jornal O Norte, de 20 de outubro de 2003, foi noticiado uma das cenas comentadas pelo informante. Diz a manchete: “Assaltante é perseguido pela população e se joga na Lagoa”, e relata o fato de um rapaz de dezoito anos, após tentar roubar a bolsa de uma senhora e ser perseguido por policiais e por populares, se jogar na Lagoa, e as peripécias do ato até a chegada do corpo de bombeiros e a retirada e prisão do rapaz.
Conta que fora os pequenos furtos e agressões, de cenas de desordem e bebedeiras, a Lagoa não é palco de grandes violências. À noite, a turma dos “travecos” e “piranhas” às vezes dão uma limpa nos “descuidados” que chegam até eles, mas é um ou outro caso, pois a turma que freqüenta mesmo vai em grupo e já são conhecidos das “moças”.
Para o informante, os que dão mais trabalho são “as turmas que puxam um fumo”, na maioria “rapazes e poucas moças ali do Liceu que se junta com uns desocupados que passam o dia rolando pelo Parque”. Segundo o informante, “dão trabalho mais pelo barulho que fazem e as brincadeiras que fazem, assustando os transeuntes e espantando a freguesia dos comerciantes da região. Mas tudo fogo de palha...”.
Na fala do policial, assim, o Parque também é vivenciado e lido através da memória afetiva, de um lugar que o viu crescer e de que ele hoje também é parte de sua manutenção, como lugar seguro. É através destas imagens que decodifica o seu limite e o freqüentador, ao mesmo tempo extensão de seu lazer e de seu fazer, simultaneamente lugar de identificação de laços pessoais com outros freqüentadores de agora ou de antes do lugar, e lugar também de tipologia e identidade de pessoas e grupos sob a ótica da segurança local.
As prostitutas, quase sempre moças vindas do interior do estado ou moradoras da periferia da cidade, freqüentam o Parque durante todo o dia, mas assumem o local quando chega à noite, o comércio fecha as portas e o público maior já retornou para suas casas. Ocupam alguns canteiros do Parque, perto dos quiosques e levam os seus fregueses para os hotéis e pensões baratos ao redor do Parque ou para o aconchego de suas árvores. A freguesia é constituída, principalmente, de trabalhadores, comerciários, bancários, camelôs e de serviços gerais que tem o centro como local de trabalho e, muitas vezes, moradia.
Os travestis são um grupo à parte. Usam os canteiros da Lagoa em profusão, quase nus invadem os anéis viários que circundam o Parque durante todos os dias a partir das 22 horas. São conhecidos pelas performances que costumam realizar, bem como, pelos roubos e pequenos delitos que submetem às vitimas que chegam até eles desavisadas. A maior parte deles são de rapazes pobres que usam a prostituição como sobrevivência.
Ao conversar com algumas prostitutas e travestis que vivem à noite do Parque e lá fazem seu ponto de trabalho, eles revelam também a sua vinculação afetiva ao local, embora, muitas vezes, associado aos diversos tipos de descriminação e repressão por parte das rondas noturnas policiais e da população em geral. Mas se acham “a cara da Lagoa”, sem eles, para eles, à noite, “a Lagoa não seria a Lagoa”, como afirmou com euforia um dos informantes.
Não se vêem como um grupo perigoso, acham que esta visão é mais
“uma arma preconceituosa contra nosso trabalho e forma de vida, se o negócio é com a gente travesti então é que a coisa fica braba. Chamam a gente de tudo e, às vezes vêem em bando querendo tirar sarro de nós, dar na gente, quando não comem e não querem pagar. Aí vai o troco. A gente se defende apenas. Tamos fazendo o nosso trabalho e se vem uns caras querendo engrossar a gente engrossa junto”.
As prostitutas atuam isoladas, olhadas de perto pelos seus “donos”, circulando pelas mesas dos quiosques, ou paradas nas marquises das lojas de departamento fechadas, ou nos bancos dos canteiros do Parque. São sempre ariscas com novas candidatas a fazerem ponto no local, muitas delas agredidas e o dinheiro conseguido na noite tomado. É mais difícil uma nova mulher assumir o ponto local, do que entre os travestis.
Mais do que as prostitutas, os travestis formam um bloco coeso, se agrupam em um só canteiro do Parque, todos se conhecem e marcam o ponto. Novos pretendentes ao lugar, por sua vez, passam por determinados “vexames”, quase uma prova, antes de serem aceitos e começarem a usar o ambiente comum. Enquanto não acontece ficam às margens do núcleo central onde se instala o comércio homossexual e não recebem a proteção do grupo, pelo contrário, muitas vezes são perseguidos pelos próprios travestis locais, que tomam sua “féria”, ou os apurados da noite[12].
Como os travestis, se acham “a cara da Lagoa”, e muito do que se fala da Lagoa hoje reflete o colorido que impregnam ao local. Acha que não incomodam ninguém, fazem os seus trabalhos, mas se as pessoas “mexem com a gente leva o troco”.
Às vezes existem rusgas entre prostitutas e travestis, às vezes se unem contra agressores. No conjunto, fazem à noite local junto com os boêmios, os comerciantes e trabalhadores dos quiosques, mendigos, moradores de rua e alguns transeuntes que por lá trafegam ou usuários de transportes urbanos que chegam no ponto de ônibus durante o final da noite e madrugada (Foto 8).
Quando o sol começa a tomar conta da Lagoa, os seres noturnos começam a dar lugar a mais um dia de caminhada pelo passeio do Parque, de chegada para o trabalho, para as compras ou estudo, para o tráfego que começa a aumentar, para o burburinho e diversas sonoridades que vai invadindo o espaço, até chegar ao seu auge entre dez da manhã às oito da noite, quando se reinicia mais esvaziamento da cidade e mais um turno da noite no Parque.
Conclusão
O Parque Sólon de Lucena, como se pode ver até agora pelas descrições, é de muitas vozes, é um lugar polifônico de onde se ouve quase toda a cidade. O burburinho que alimenta a Lagoa, deste modo, é composto pelos diversos usos que atravessam o local no cotidiano da cidade. Formas de apropriação do espaço que vão gerando núcleos de construção imaginária e real sobre o lugar e a sua significação para a cidade e para a vida de cada um que nela habita.
Que vão compondo um painel afetivo, de relações delicadas recheadas de amor e desamor, preocupação e indiferença, participação ou anomia, presença física no Parque e negação de freqüentá-lo, grupos que se sentem incluídos no espaço da Lagoa e os que se sentem excluídos, grupos que se sentem excluídos do espaço da cidade, mas que se acham a cara da Lagoa, apesar da perseguição da cidade.
Relações multiformes, enfim, embora sempre ambivalentes, na maior parte das vezes polares, norteiam os sentidos e emoções do joãopessoense com o Parque Sólon de Lucena. Preenche o significado do querer a cidade, de referendar a cidade que queriam ter, seus ápices, suas diversas faces, - onde a Lagoa sempre está presente como uma das mais importantes, - seus desvelos, e o sentimento quase naturalizado de quase perda, misto de indiferença e quase desamor, pela degradação que o espaço está sujeito, ou porque o mesmo já não é aquele vivido no tempo vivido pelo morador, ou sonhado por outro como deveria ser. O espaço do Parque, contudo, está presente na memória visual e afetiva da cidade.
Em uma rápida excursão pela Internet, o viajante encontra mais de novecentas páginas que retratam o cartão postal Lagoa e declaram o seu amor, a sua preocupação e críticas, mas de todas emanam os vínculos de pertença ao lugar. É importante frisar que, a maior parte delas, traduz a imagem oficial da cidade, através de sites do governo estadual e municipal, mas muitas delas indicam apenas o afeto com o local, mesmo que povoadas, às vezes, de preocupações e provocações irônicas da degradação ou da mudança de costumes na cidade e, aqui, principalmente, no Parque Sólon de Lucena, a Lagoa.
*
Referências Bibliográficas
*
AGUIAR, Wellington & OCTÁVIO, José. Uma cidade de quatro séculos: evolução e roteiro. João Pessoa, Governo do Estado da Paraíba, 1985.

ARANHA, Carlos. Estrovenga e fedorentina. Informativo Para'iwa, João Pessoa, 05 de outubro de 2001.

LEITÃO, Cláudia, Org. Gestão Cultural: significados e dilemas na contemporaneidade. Fortaleza, Banco do Nordeste, 2003.

HONORATO, Rossana. Se essa cidade fosse minha... A experiência urbana na experiência dos produtores culturais de João Pessoa. João Pessoa, Ed. Universitária, 1999.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Medos Corriqueiros: a construção social da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na contemporaneidade. Projeto de pesquisa. João Pessoa, GREM / DCS / UFPB, 2001.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. O local enquanto elemento intrínseco da pertença. In: Cláudia Leitão (Org.), Gestão Cultural: significados e dilemas na contemporaneidade. Fortaleza, Banco do Nordeste, 2003.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Parque Sólon de Lucena: espaço público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade. Projeto de extensão. João Pessoa, GREM / DCS / PROBEX-PRAC /UFPB, 2004.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Rastros de Tragédia: os movimentos sociais na Paraíba. João Pessoa, Textos UFPB-NDIHR, n. 01, 1983.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Trabalho e disciplina. Os homens pobres nas cidades do Nordeste – 1889-1920. In: Vários Autores, Relações de Trabalho e Relações de Poder: mudanças e permanências, v. 1. Fortaleza, Banco do Nordeste, 2003.

MAIA, Doralice Sátyro. Tempos Lentos na Cidade: permanências e transformações dos costumes rurais em João Pessoa – PB. Tese. São Paulo, USP, 2000.

Artigos de Jornais:

Lagoa: cartão postal da cidade. O Norte, João Pessoa, 20 de janeiro de 2004 (http://www.onorteonline.com.br/paraiba/) (lido em 04/09/2004).
*
Notas
*
[1] Este artigo apresenta as primeiras discussões da pesquisa de campo do projeto de extensão “Parque Sólon de Lucena: espaço público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade” (KOURY, 2004) - que tem como base a pesquisa “Medos Corriqueiros: a construção social da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na contemporaneidade” (KOURY, 2001). Os dois projetos encontram-se em desenvolvimento no GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia da Emoção, sob coordenação do Professor Mauro Guilherme Pinheiro Koury.

[2] Os irerês (Dendrocygna viduata) são aves migratórias e estão presentes em todo o Brasil, e também na África. Os adultos, de aproximadamente 44 cm, possuem uma máscara branca, asas negras bicos e pés escuros. São mais ativos ao entardecer, quando sobrevoam assobiando, principalmente durante as chuvas. Durante o dia, descansam em bandos pequenos, permanecendo de pé à beira dos lagos, onde se alimentam. (Lido em http://www.terra.com.br/avesmigratórias/, em 09/09/2004).

[3] Notícias de prisões por motivos de pequenos furtos, desordem, brigas, bebedeiras, atentado ao pudor, agressão verbal, desacato, acontecidas no Parque são freqüentemente registradas pela impressa local. Ver, por exemplo, o jornal O Norte, João Pessoa, de 19 de junho e 20 de outubro de 2003.
[4] No dia 04 de agosto de 2004 foi aplicado, também, pelos do curso de Ciências Sociais da UFPB, bolsistas e estagiários do GREM, Patrick César da Silva, Ana Karolina de Araújo, Clara Bezerril Câmara e Alexandre Paz de Almeida, com supervisão de campo pela pesquisadora do GREM, Professora Maria Sandra Rodrigues dos Santos, sob a minha orientação, um survey entre os passantes e freqüentadores do Parque Sólon de Lucena. O survey foi aplicado nos turnos diurnos, manhã e tarde, de ocupação, e teve a finalidade de mapear as formas de percepção e uso do Parque através da categoria de pertença.
[5] É bom frisar que a prostituição feminina está presente em todos os núcleos do Parque, durante a maior parte do dia. Á noite é onde o espaço de prostituição, porém, fica mais visível.
[6] Existe um ônibus do Manaira Shopping para transportar, gratuitamente, pessoas que querem ir ao Shopping fazer compras.
[7] A população entrevistada no survey o Parque Sólon de Lucena é moradora dos bairros: Torre, Treze de Maio, Expedicionários, Jaguaribe, Mandacaru, Roger, Varadouro, Ilha do Bispo, Tambiá, Padre Zé, Alto do Mateus e Centro, Castelo Branco, Miramar, Estados, Ernani Satyro, Bancários, Cidade Universitária, Jardim Luna e Ipês Mangabeira, Cristo, Geisel, José Américo, Valentina e Jardim Planalto Funcionários I, II, III e IV, Cruz das Armas, Industrias, Distrito Mecânico, Costa e Silva, Novais, Esplanada, Rangel, Jardim São Paulo, Bessa, Manaira.

[8] Bayeux, Cabedelo, Conde e Santa Rita.
[9] O termo desvalido utilizado por dois informantes fala sobre uma questão moral da exclusão social importante de ser pensada. Desempregados, viciados – em álcool e droga, meninos de rua, entre outras categorias são vistas pelo aspecto moral de pessoas menores socialmente e que precisam de proteção institucional para uma possível reintegração social, antes que “afundem de vez no lodo sem volta da marginalidade”. É uma visão compartilhada, principalmente por pessoas e grupos de pessoas com tendência a uma moral religiosa, seja evangélica, seja católica carismática, entrevistadas durante a estada em campo.
[10] Bairro popular e central da cidade de João Pessoa.
[11] Desde os anos oitenta as festas de São João têm comemoração oficial, com bandas e barracas de comida típicas no Parque Sólon de Lucena.
[12] Conversei com membros de uma organização não governamental, a Mel, que trabalha com a questão da dignidade homossexual e dá apoio logístico aos travestis e michês da noite joãopessoense. De acordo com a Mel, os travestis da Lagoa são, em sua maior parte oriundos do interior do estado e de bairros pobres da periferia da cidade. A noite é o único recurso da sobrevivência. Embora informados pelas doenças venéreas, muitos deles por um pouco de dinheiro a mais não usam proteção. Muitos já morreram ou estão contaminados pelos mais diversos tipos de doenças sexualmente transmissíveis. O apoio logístico da Mel é, de um lado, estabelecer bases de informação e ajuda na questão de saúde e em relação ao estigma social. Mas, segundo os próprios organizadores da entidade, o acesso é ainda muito restrito, embora o universo homossexual de João Pessoa já os respeitem como movimento social. O mesmo ocorre com a associação que lida com a questão da prostituição feminina. Estas falam das agressões de que são vítimas as mulheres que se dedicam ao ofício e, que o ambiente da prostituição da Lagoa é um dos mais severos da cidade.
*
Fotos e Mapas
*
*


Foto 1 – A Lagoa (dos Irerês) antes da urbanização e de se tornar Parque Sólon de Lucena (Créditos: Walfredo Rodriguez)
*

Foto 2 - Parque Sólon de Lucena nos anos quarenta (Foto: Luiz Farias).
*

Foto 3 - O traçado do Parque Sólon de Lucena tendo como centro o espelho d’água da lagoa. (Créditos: PBTUR)
*

Foto 4 – Vista aérea atua do Parque Sólon de Lucena (Foto: Mazaomi Mochizuki).
*


Foto 5 - Acampamento na Lagoa pelo MST. (Crédito: Jornal O Norte On-line, de 12 de abril de 2004).
*


Mapa 1 - Mapa do Parque Sólon de Lucena. (Créditos: http://www.terra.com.br/mapas/ - retirado em 09/09/2004)
*


Foto 6 - Uma das paradas de ônibus no Parque Sólon de Lucena (Foto: Mano de Carvalho – Agência Ensaio)
*



Foto 7 - Veículo pega fogo após bater em palmeira imperial da Lagoa. (Créditos: O NORTE On-line de 07 de agosto de 2003)

*

Foto 8 – A Lagoa de madrugada. (Foto: Leandro Neves)

*

Este artigo, com algumas reformulações foi publicado:

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Pertença e uso do espaço público: um passeio através do Parque Sólon de Lucena. Revista Studium, n. 19, ISSN 1519-4388, Instituto de Artes, Unicamp, 2005. http://www.studium.iar.unicamp.br/19/06.html

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Um passeio através do Parque Sólon de Lucena. Uma narrativa sobre a emoção pertencer e uso do espaço público. Os Urbanitas. Revista de Antropologia Urbana, vol. 2, n. 2, ISSN 1806-0528, NAU Núcleo de Antropologia Urbana, USP, 2005. http://www.aguaforte.com/osurbanitas2/Koury.html

*

**

***