Contador de Visitas

sábado, 8 de agosto de 2009

Fotografar a Morte

*
Como parte das comemorações dos 15 anos de atividades do GREM se reproduz, agora, a entrevista-ensaio "Fotografar a Morte", realizada com o Professor Mauro Guilherme Pinheiro Koury pela CNIS de Portugal, em 2004, e publicada no mesmo ano no seu jornal mensal Solidariedade.
*
*
Fotografar a morte*
*
*
Por Mauro Guilherme Pinheiro Koury**
*
Porque é que se fotografa a morte? Mauro Koury procurou respostas através de um inquérito levado a cabo na cidade brasileira do Recife, entre 1995 e 1997. Inquérito englobado num estudo que busca compreender as atitudes dos brasileiros face ao luto e aos rituais da dor de quem perde um ente querido. Dos sessenta e nove entrevistados, 43,48% tinham formação académica ao nível da licenciatura, com 39,13% registando ensino secundário completo. Os inquiridos possuíam uma educação formal acima da média brasileira, o mesmo acontecendo em relação aos proventos auferidos. O universo auscultado pertencendo, então, às classes média e alta daquela cidade nordestina.
"92,75% frequentavam religião, contra 7,25% que afirmaram não possuir qualquer tipo de religião. Dos que aceitam alguma forma de religiosidade, 62,32% são católicos, 21,74% evangélicos e 8,70% de outras religiões (afro-brasileiras, espiritismo, religiões orientais)" - detalha o professor universitário Koury, para a seguir nos dar conta das conclusões do seu estudo.
Perguntados se possuem o hábito de fotografar os seus mortos, 84,06% afirmaram que não, contra 15,94% que disseram ter o costume da fotografia mortuária. É interessante notar que todos os evangélicos afirmaram não possuir o hábito, tendo muitos deles frisado a diabolização presente no costume, sendo condenado pela Igreja como um apego a práticas mundanas, que pecam, sobretudo, por condenar o morto ao inferno e os que o praticam de nunca poderem aspirar à salvação. São, sobretudo, os católicos que atestam a afirmação do uso da prática da fotografia de seus entes queridos mortos. A fotografia mortuária parece significar para alguns uma forma de retenção da face da boa morte, costume medieval que buscava diagnosticar através da face do morto se ele chegaria em paz ao céu, e se tinha cumprido todos os compromissos terrenos antes da hora do trespasse.
Os inquiridos que afirmaram não fotografar, responderam que a religião não permite (5,80%) ou que a fotografia mortuária era um desrespeito ao morto (15,94% das respostas). Neste tipo de informação, a religião, enquanto uma instância desindividualizadora, ou seja, superior ao indivíduo, parece actuar como o principal centro de referência e informação do sujeito em relação à fotografia mortuária.
O desrespeito ao morto parece estar relacionado com a dessacralização da morte nele representada, com os malefícios para o bem-estar celeste dele e para a salvação e possível intermediação do morto com o além para com os que ficaram. O não uso da fotografia mortuária está preso assim às amarras de uma atitude relacional, em que a religião tece as redes e dirige os seus nós para assegurar a configuração final.
Interessante, porém, é a verificação de que 31,88% dos entrevistados preferem lembrar o ente querido em vida.
Acreditam que a lembrança do morto quando em vida ameniza a solidão e torna possível uma evocação sentimental do que se foi pelos que ficam. A fotografia mortuária, por sua vez, parece prolongar a dor e é vista como uma atitude mórbida, por fixar a morte como elemento de recordação.
É o que parecem pensar também os 7,25% dos recifenses que informaram, explicitamente, que não utilizam esse costume, simplesmente para evitar recordações da dor. E mesmo os 4,35% que informaram ter pavor só em pensar na fotografia mortuária.
Para estas três categorias, a morte deve ser esquecida, se não se pode ainda domá-la e vencê-la. As atitudes do registro do corpo morto amado são rotuladas de mórbidas, olhadas com desdém. Os entrevistados que informaram ter o costume de fotografar os seus mortos, representam 15,94% dos entrevistados recifenses. As suas respostas situaram o costume como tradição (5,80%), ou como uma espécie de última lembrança do ente querido que partiu (10,14%).
As respostas relacionadas com a tradição indicam, por sua vez, a manutenção de um hábito familiar, vindo dos antepassados e conservado pelos avós e pelos pais.
O outro grupo imputa tal prática à busca de obtenção de um registro que seja a última lembrança do parente morto. Neste caso, não parece ser apenas a face da morte retratada, mas o processo de morrer. Muitos frisaram, ao lado do questionário, possuírem o registro fotográfico dos últimos momentos em vida de alguns dos seus entes queridos até à despedida final, quando o caixão é depositado na cova ou na caixa funerária.
É interessante notar que na cidade do Recife ainda hoje encontramos, junto aos cemitérios mais populares e nas centrais de velórios, fotógrafos profissionais que se oferecem aos familiares para o registro final do morto enquanto velado, ou no cortejo até a última morada. Conversando com alguns deles, revelaram sobreviver basicamente desse tipo de registro, cobrando em média cinco reais por cada foto revelada.
Essas fotografias não servem apenas para rememorar a morte do ente que se foi, mas também, e principalmente, para serem enviadas para aqueles parentes, próximos ou amigos, que não puderam assistir aos momentos finais do ente amado.
+
__________________________
+
* - Entrevista-Ensaio concedida Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) de Portugal, em 2004, e publicada no jornal Solidariedade, órgão da CNIS, em dezembro de 2004. A entrevista-ensaio refere-se ao Relatório sobre Luto e Sociedade para a cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco, Brasil, parte integrante de uma pesquisa mais vasta sobre Luto e Sociedade no Brasil, na qual foram entrevistadas 1304 pessoas, distribuídas pelas 27 capitais de estados do Brasil, entre os anos de 1994 e 1999. Para a pesquisa mais ampla ver Koury, MGP, Sociologia da Emoção: O Brasil urbano sob a ótica do luto (Petrópolis, Vozes, 2003) e Koury, MGP Imagem e Memória. Ensaios em Antropologia visual (Rio de Janeiro, Garamond, 2001).
+
** - Uma versão mais ampla do Relatório sobre Luto e sociedade para a cidade do Recife, que serviu de base para a entrevista-ensaio para a CNIS foi publicada sob o título “A Fotografia Mortuária na Cidade do Recife, Pernambuco: Indicadores de um Imaginário Urbano sobre Fotografia e Morte nos Finais da década de 1990” na Revista Studium, n. 5, 2001.
+
++
+++

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Reproduzimos aqui um ensaio-reportagem de Iara Biderman, jornalista free-lancer, publicada no jornal Folha de São Paulo do dia 12 de fevereiro de 2004, sobre amizade. Nessa reportagem, em homenagem ao dia da amizade, Iara entrevistou vários especialistas no assunto, entre eles, o Prof. Mauro Koury, coordenador do GREM.
Essa reportagem foi muito comentada e bastante reproduzida por bloggers brasileiros e outros jornais on-line.
Segue, agora, a reportagem da Iara.
Pesquisadores tentam explicar a amizade

IARA BIDERMAN
Amizades, paixões, ternura: temas que, à primeira vista, parecem ser de interesse apenas da vida privada, assunto particular, já atraem pesquisadores de várias ciências, das humanas às médicas. No Brasil, o Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções (GREM), especialização ainda pouco conhecida, estuda os mecanismos que sustentam fenômenos considerados subjetivos como as amizades e o modo como estas moldam a sociedade e são moldadas por ela.
*
"Ao ser amigo, eu deixo de ser singular, tenho regras, mesmo que implícitas, de conduta, de comportamento, de afeto. Amizades fazem com que as pessoas consigam administrar um tipo de vida, ter projetos como indivíduo, atuar e cumprir seu destino na sociedade", diz o antropólogo Mauro Koury, professor da Universidade Federal da Paraíba e coordenador do GREM.
*
Amizade aqui é entendida como a duradoura, a sólida, ressalva que se faz ainda mais necessária por causa da banalização da palavra --o brasileiro chama de amigo o garçom, o flanelinha e até o desconhecido a quem pede uma informação na rua. Mas as amizades longas são as que contam.
*
"Amizade que acaba é porque nunca começou. Se não for algo que sai do pragmático, do imediato, não é verdadeiro", diz o filósofo e colunista da Folha Mario Sergio Cortella.
*
Esse "ciclo longo" de relacionamento, segundo denomina o antropólogo José Guilherme Magnani, do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo, não tem como base o trabalho ou lealdades específicas. A disponibilidade de trocas a longo prazo é o que sustenta as parcerias no decorrer do tempo, diz o antropólogo.
*
O que faz surgir aquela amizade "para sempre" está além das explicações da razão. "Não é optativo. Todos tropeçam em pessoas com quem teriam esse tipo de relacionamento, mas podem reconhecê-las ou não naquele momento", diz o psicanalista Armando Colognese Jr., supervisor do curso de formação em psicanálise do Instituto Sedes Sapientae, de São Paulo.
*
Embora não se conheça por completo a química da amizade, Colognese acredita que ela não acontece, pelo menos na forma duradoura e produtiva, com pessoas muito iguais entre si. "A amizade requer aquele raro ponto médio entre semelhança e diferença", escreveu o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882).
*
Outra característica que diferencia as amizades de longa data é a possibilidade de confronto sem ruptura. "Se você me importa, eu me incomodo com você. Incomoda-me se você está certo, errado, o que você fala e até a forma de você se vestir", diz Cortella.
*
Amigo é quem pode falar aquilo que não gostamos de ouvir. O administrador de bufê Walter Pires Jr., 46, viveu essa situação com a fonoaudióloga Gláucia Domingues, 45, sua amiga há mais de 30 anos. Pires conta que, certa vez, disse à Gláucia que discordava do caminho que ela estava tomando no campo sentimental. A resistência da fonoaudióloga a ouvir os conselhos do amigo o levou a encerrar o assunto, mas não sem antes avisar: "Tudo bem, mas não peça mais a minha ajuda". Pires acredita que essa frase tenha feito "cair a ficha" e, passado o tempo regulamentar de cicatrização de mágoas, a amizade voltou a ser o que era.
*
A possibilidade de superar mágoas também é pressuposto e resultado de amizades duradouras, diz Colognese. Requer maturidade, é óbvio, e também uma das maiores virtudes do ser humano, segundo o psicanalista, que é a capacidade de reconhecer os próprios limites e saber onde procurar o que falta --e a amizade é um espaço privilegiado para essa busca.
*
As amizades longas são mais raras porque, mesmo que surgidas num golpe do acaso, dão muito mais trabalho. "Amigo pede dinheiro emprestado, bebe, dá um trabalhão, mas você sabe que um dia estará carregando a alça do caixão dele e chorando sua partida sem saber bem o motivo", diz Cortella. É um esforço mais de compreensão e aceitação do diferente do que de convivência física. "Nem é preciso encontrar-se sistematicamente, há um pressuposto de que a amizade exista", diz o antropólogo Mangnani. Na amizade sólida, o tempo é uma contingência. Não afasta, apenas adia.
*
Ao lado da afinidade e do respeito, a criação de certos rituais reaviva o pacto de confiança ou lealdade que, para Koury, é elemento fundamental da amizade longa. Ele diz que, em certas sociedades, como as indígenas, os rituais são muito precisos, com regras predeterminadas. Na sociedade ocidental, os rituais são criados um pouco aleatoriamente.
*
**
***

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Corpo e Emoções

*

Para os leitores que trabalham com a sociologia e antropologia do corpo e das emoções, recomendo o Blog do Grupo de Trabalho sobre Sociologia do Corpo e das Emoções do XXVII Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS).

*

Este Blog pode ser lido no endereço: http://cuerposyemociones2009.blogspot.com/

*

Neste Blog estão os resumos dos trabalhos a serem apresentados neste grupo temático da ALAS, bem como alguns trabalhos e revistas com números sobre a temática corpo e emoções.

*

O XXVII Congresso da ALAS se realizará na cidade de Buenos Aires, Argentina, entre os dias 31 de agosto a 4 de setembro de 2009.

*

**

***

terça-feira, 28 de julho de 2009

Tese sobre a Sociologia das Emoções norte-americana

*
Foi defendida no dia 20 de julho de 2009, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia, a tese de Marieze Rosa Torres, intitulada: Hóspedes Incômodas? Emoções na Sociologia Norte-Americana.
*
A tese examina o debate teórico e metodológico sobre emoções na sociologia norte-americana nas últimas décadas do século XX, confrontando as proposições de análise universalista e construcionista.
*
**
***

domingo, 26 de julho de 2009

Chamada de artigos para a Revista Brasileira de Sociologia da Emoção

*
A RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, ISSN 1676-8965, está recebendo artigos e resenhas para o seu próximo número de dezembro de 2009.
*
Os artigos e resenhas para o número de dezembro de 2009 podem ser encaminhados à redação da revista até 01 de novembro de 2009.
*
A RBSE, porém, recebe material para publicação em fluxo contínuo.
*
Todo o material recebido é entregue a pareceristas anônimos para avaliação, e sua publicação depende das suas avaliações.
*
Os artigos e resenhas devem seguir as NORMAS DE PUBLICAÇÃO da revista encontrada no seu site http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html .
*
Os artigos e resenhas devem ser encaminhados unicamente para o e-mail grem@cchla.ufpb.br aos cuidados de Letícia Knutt, secretária da RBSE/GREM.
*
Fotos, tabelas, ilustrações devem ser encaminhadas em arquivos separados e indicados no texto original o lugar onde devem ser colocados.
*
A RBSE é uma publicação eletrônica do GREMGrupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções.
*
**
***

sábado, 25 de julho de 2009

Chamada para artigos Revista Os Urbanitas

*
A Revista Digital de Antropologia Urbana Os Urbanitas ( www.osurbanitas.org ) -ISSN 1806-0528- receberá, até 30 de julho de 2009, a título de colaboração, artigos para publicação em seu número 9, que estará on-line em novembro/dezembro.
*
Os Urbanitas publica trabalhos da área de Ciências Sociais e Humanidades em geral, inéditos ou não (neste caso apenas se o número do periódico onde foi publicado já estiver esgotado e/ou o Conselho Editorial decidir pela relevância de sua republicação on-line), sob a forma de artigos, traduções, resenhas críticas de livros, filmes, websites, entrevistas, imagens, poesia e contos.
*
É exigência que os trabalhos tenham como eixo a cultura das sociedades urbanas complexas. A publicação dos artigos é condicionada à aprovação do Conselho Editorial. Serão acolhidos textos em português, espanhol, inglês, francês e italiano.As normas para o envio de artigos se encontram em http://www.aguaforte.com/osurbanitas8/normasurbanitas2009.doc
*
Não serão avaliados textos que não seguirem rigorosamente estas normas.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Suiça: Bolsas de Estudos 2010/2011

*
Prezado(a) Senhor (a),
*
É com grande satisfação que comunicamos a abertura de inscrições para o concurso de bolsas de estudos de pós-graduação (mestrado/doutorado) oferecidas a brasileiros pelo Governo Suíço para o ano acadêmico de 2010/2011.
*
As bolsas são destinadas exclusivamente a estudantes brasileiros já graduados, jovens pesquisadores e cientistas, para aprofundar seus conhecimentos ou fazer pesquisas nas áreas nas quais as universidades suíças possuem excelência. A Comissão dará prioridade a candidaturas submetidas dentro de um programa de cooperação entre uma universidade do país de origem e uma universidade suíça.
*
Prazo para candidatar-se: 30 de setembro de 2009 (será considerada a data de postagem)O edital está disponível no sítio da Secretaria de Educação e Pesquisa suíça em alemão, francês, inglês e italiano: http://www.sbf.admin.ch/htm/themen/bildung/stipendien/eskas_laender/Brasilien_en.html
*
Para a solicitação de formulários, por favor, entrar em contato com a Embaixada da Suíça: bra.vertretung@eda.admin.chTodos os documentos e anexos - inclusive a ficha de inscrição e a ficha médica - deverão ser enviados pelo correio num único Sedex à Embaixada da Suíça em Brasília em 03 vias separadas (3 dossiês: 1 original e 2 cópias): Embaixada da Suíça SES Av. das Nações, Quadra 811, Lote 4170448-900 Brasília DF.
*
Solicitamos a gentileza de promover a divulgação em sua universidade e especialmente aos Professores de encorajar os estudantes com excelência acadêmica a candidatarem-se.
*
Agradecemos desde já pela colaboração.
*
Atenciosamente,
Siamak Rouhani
Primeiro Secretário
Embaixada da Suíça
Assuntos econômicos e científicos
SES Av. das Nações, Quadra 811, Lote 41
70448-900 Brasília DF
Tel.:+55 61 3443-5500
*
**

terça-feira, 21 de julho de 2009

Lançamento de Livro de Fernando de Tacca (Unicamp)

Uma dica para os leitores: não deixem de conferir o novo livro de Fernando, abaixo citado.
*
TACCA, Fernando de. "Imagens do Sagrado - Entre Paris Match e O Cruzeiro". Editora da Unicamp e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Campinas/São Paulo, 2009
*
Página de divulgação:
http://www.iar.unicamp.br/docentes/fernandodetacca/ImagensdoSagrado/index.htm
*
Sobre o Autor:
Fernando de Tacca é Professor Livre Docente do Departamento de Multimeios, Mídia & Comunicação do Instituto de Artes - Unicamp, e Editor Revista Studium: http://www.studium.iar.unicamp.br
*
*

sábado, 18 de julho de 2009

Programa Marie Curie da União Europeia para investigadores doutorados de fora da Europa

O CIES (Centro de Investigação e Estudos em Sociologia, Lisboa, Portugal - www.cies.iscte.pt) enquanto membro do LINI - www.lini-research.org está interessado em seleccionar candidaturas enquanto Host Institution para as duas seguintes áreas:
*
1) Networks and Mobility in Everyday Life e 2) Networked Communication - http://www.lini-research.org/np4/programmes).
*
Dados específicos para as candidaturas estão disponíveis em Marie Curie International Incoming Fellowships (IIF) - http://cordis.europa.eu/fp7/dc/index.cfm?fuseaction=UserSite.FP7DetailsCallPage&call_id=199&act_code=PEOPLE&ID_ACTIVITY=12 .
*
O deadline para apresentação de propostas é o dia 18 de Agosto de 2009 às 17:00 (Hora local de Bruxelas).
*
O CIES reserva-se o direito a escolher entre os CV's e programas de investigação, enviados até ao dia 5 de Agosto, quais os que se adequam à sua estratégia científica e que, portanto, pretenderá apoiar em termos de Host Institution para candidatura às bolsas Marie Curie International Incoming Fellowships (IIF).
*
Dúvidas sobre o processo de candidatura podem ser dirigidas à Scientific Officer do CIES Dra Neide Jorge : https://webmail.cchla.ufpb.br/src/compose.php?send_to=neide.jorge%40iscte.pt , ou aos coordenadores científicos do LINI: Prof. Gustavo Cardoso - https://webmail.cchla.ufpb.br/src/compose.php?send_to=gustavo.cardoso%40iscte.pt) e Profa. Rita Espanha - https://webmail.cchla.ufpb.br/src/compose.php?send_to=rita.espanha%40iscte.pt .

terça-feira, 7 de julho de 2009

Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM, n. 06 (07 de Julho de 2009)

*
Publica-se, hoje, neste Blog, o quinto número da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM. Esta Série tem por objetivo a publicação e a divulgação dos Resumos Expandidos das Pesquisas em Desenvolvimento ou Recém Finalizadas pelo corpo de pesquisadores do GREM.
*
Nesta Série serão postados resumos individuais dos pesquisadores com um informe sobre suas pesquisas e uma pequena bibliografia referencial de apoio. Será informada, também, a linha de pesquisa do GREM a que estão vinculadas.
*
Já foram publicados neste Blog os números: 01, em 12 de junho de 2009, o 02, em 15 de junho de 2009, o 03, em 18 de junho de 2009, o 04, em 22 de junho de 2009, e o 05, em 25 de junho de 2009, da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
*
O número 06 da Série Pesquisas em Desenvolvimento publica o Resumo Expandido da pesquisa em andamento no GREM, coordenada pela pesquisadora Alessa Cristina Pereira de Souza. Esta pesquisa tem como objetivo a obtenção do grau de doutor no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, Brasil.
*
Vamos, então, para o número 06 da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
*
*
Título da Pesquisa: Construindo relações por entre os muros de um Centro Educacional
*
Pesquisador: Alessa Cristina Pereira de Souza
*
*
Resumo: O interesse deste trabalho recai, principalmente, na compreensão da construção de vínculos sociais e emocionais entre os adolescentes infratores, considerados como uma categoria de atores estigmatizada e excluída socialmente, trazendo para discussão as tensões geradas pelas condições sociais em que se encontram e as formas como percebem a si mesmos e aos demais, que compartilham o mesmo espaço físico, em um cenário que é representado aparentemente como igual, mas que essencialmente parece se compor como fragmentado, hierarquizado e complexo.
*
Tenho em mente que a questão da infância e da adolescência abandonada já ocupava espaço de discussão entre o Estado, a igreja e as instituições filantrópicas desde o século XVII, na Europa; no final do século XIX e início do século XX essa temática começa a ter visibilidade, também, no Brasil. Não menos evidente é o interesse científico, lançado sob vários e diversos olhares, no século XXI, acerca dos adolescentes abandonados e/ou infratores, bem como, da delinqüência juvenil institucionalizada.
*
A Sociologia também vem se preocupando com essa temática ao longo do tempo. Nesse sentido, são vários os termos, conceitos e classificações sociológicos criados para definir os espaços destinados a esses adolescentes, quando condenados a cumprir medidas sócio-educativas (1).
*
Goffman (1999) denomina esses espaços como “instituições totais” e caracteriza-os pelo “fechamento” ou “clausura”, pela barreira estabelecida com o mundo social externo, através de elementos físicos, como: portas fechadas, paredes altas, arame farpado, fossos, pântanos ou florestas.
*
Já Foucault (1999) compreende as prisões como “instituições austeras”, espaços dotados de mecanismos específicos – micropoder, que visam tornar os indivíduos “dóceis”, adequados ou “adestrados” à convivência social.
Outros sociólogos, que analisam esses espaços em dias mais recentes, tais como Wacquant (1997), Bauman (2005), Takeuti (2002) os vêem como depósitos ou armazéns de “refugo humano”, “lixo humano”, “vidas desperdiçadas”, provenientes do contexto sócio-econômico em que vivemos.
*
Nesse contexto, os jovens vêem contribuindo intensamente para a produção, reprodução, aparecimento e desaparecimento de símbolos e significações. Entre esses sinais alguns repercutem de forma mais direta no imaginário social, quais sejam: os da violência acirrada, os da transgressão “sem limites” e da toxicomania generalizada, corroborando, assim, para a criação de um perfil de “infância perigosa” e, conseqüentemente, de uma “adolescência fadada ao fracasso”, destinada à criminalidade.
*
Em meio a esse amplo cenário de discussões sobre o tema, minha proposta tem sido a de tentar capturar o objeto a partir de um ângulo imprevisto, inusitado (BOURDIEU, 1997). Nesse sentido, busco compreender os adolescentes infratores e internos a partir das relações e interações (sócio-emocionais) construídas por eles, no tempo/espaço/situação em que se encontram, bem como, perceber quais as influências que estas trazem para a construção de suas identidades.
*
Nesse sentido, a realização desta pesquisa visa contribuir para o debate contemporâneo sobre o comportamento social, a partir de uma discussão acerca dos valores e das emoções que cerceiam a rede de trocas e sociabilidade de grupos urbanos considerados desviantes, por não se enquadrarem nos padrões morais considerados normais para a sua aceitabilidade no cenário social.
*
Segundo Takeuti (2002), na atualidade, os diversos pontos de vista sociais relativos aos comportamentos juvenis ressaltam determinados fatos, tais como: aumento alarmante das estatísticas de crimes e delitos graves envolvendo jovens de faixas etárias cada vez mais baixas; o interesse preponderante da população juvenil por sexo, drogas, transgressão e violência gratuita; a recusa ao trabalho e à formação educacional; o aumento de gangues juvenis em práticas de vandalismo; a indiferença pelo outro e pela sociedade como um todo, etc.
*
Recentemente, temos observado na mídia brasileira, de um modo geral, o acirramento da discussão sobre a juventude, a violência e a redução da maior idade penal, suas possíveis causas e conseqüências, devido aos crimes considerados bárbaros que vêm sendo cometidos por menores (ALVIN & PAIM, 2004). Proliferam pesquisas, debates e estudos sobre o tema, tentando compreender as razões pelas quais esse fenômeno tem se agravado.
*
No entanto, em um momento de tensão como a que o Brasil vem enfrentando, devido ao acirramento da violência e da delinqüência juvenil, assim como de toda a discussão que envolve a redução da maior idade penal, faz-se necessário estudos que se voltem não apenas para as características objetivas acerca do jovem delinqüente, mas também, pesquisas que enfoquem as subjetividades desses jovens, principalmente dentro das instituições onde cumprem penas, tendo em vista que estas têm como objetivo a “ressocialização” e “reintegração” dos menores infratores à sociedade.
*
Assim, a importância de se fazer este tipo de análise reside na contribuição que se pretende oferecer ao pensamento social nacional acerca da realidade dos grupos em situação de risco e exclusão na atualidade. A especificidade deste trabalho se revela por dar voz aos próprios atores deste cenário, dando realce às suas subjetividades, buscando levantar como se dá à construção de suas identidades sociais, bem como analisar como se configura a pertença no interior de uma categoria de indivíduos representados socialmente como seres desprovidos de valores e referências (KOURY, 2005).
*
A investigação debruça-se sobre o cotidiano dos adolescentes infratores internos no CEA – Centro Educacional de Adolescentes, situado na cidade de João Pessoa, uma capital nordestina de pouca visibilidade, menor desenvolvimento e de padrões diferenciados das demais realidades nas quais a maioria das pesquisas sobre a violência e a delinqüência juvenil se debruça, posto que seja vista como uma cidade calma, pacata e provinciana.
*
Estas características, porém, não fazem da cidade de João Pessoa um ambiente social alheio às influências universais contemporâneas mais amplas, o que leva, paulatinamente, ao crescimento da violência, da delinqüência juvenil, da reformulação de valores, de novas formas de reconhecimento identitário, dentre tantos outros processos sociais presentes nas relações cotidianas estabelecidas no universo social a ser estudado.
*
É neste sentido que a pesquisa proposta visa colaborar. Propõe-se analisar como os adolescentes infratores internos no CEA constroem e percebem o cenário social no qual estão inseridos, quais as emoções despertadas por suas narrativas acerca de si mesmos e dos demais internos, quais os elementos (materiais e/ou simbólicos) valorizados para a constituição de seus círculos de familiaridade e de estranhamento, sua construção de semelhanças e dessemelhanças, assim como também para a construção dos conflitos.
*
NOTAS
*
1 - O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê dois grupos distintos de medidas sócio-educativas. O grupo das medidas sócio-educativas em meio aberto, não privativas de liberdade (Advertência, Reparação de Danos, Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida) e o grupo das medidas sócio-educativas privativas de liberdade (Semiliberdade e Internação). As medidas privativas de liberdade são norteadas pelos princípios de brevidade e excepcionalidade consagrados no art. 121 do ECA. São aplicadas especialmente para os casos de ato infracional praticado com violência à pessoa ou grave reiteração de atos infracionais graves.
*
BIBLIOGRAFIA
*
ALVIN, R. & PAIM (2004). “A criança e o adolescente do banco dos réus”. In Alvin et alli (Re) construções da juventude: cultura e representações contemporâneas. João Pessoa, Editora Universitária – PPGS/UFPB.
*
BAUMAN, Zigmunt (2005). Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
*
(2005). Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
*
BECKER, Howard (1977). “Marginais e desviantes”. In: Uma Teoria da Ação Coletiva. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
*
BENJAMIN, Walter (1986). Walter Benjamin. São Paulo: Ática.
*
BOURDIEU, Pierre (1989). O poder simbólico, Lisboa: Difel.
*
__________ (1997). A miséria do mundo, Petrópolis: Vozes.
*
CARDOSO, Ruth (1997). A aventura antropológica – teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
*
CASTEL, Robert (2000). Desigualdade e a questão social/ org. Mariângela Belfiore-Wanderley, São Paulo: EDUC.
*
CAVALCANTE, Valmir Tebúrcio (2006). Controle social e resistência: “fabricação do cotidiano de uma instituição disciplinar para adolescentes infratores. Dissertação de mestrado, Recife. Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós Graduação em Sociologia.
*
ELIAS, Norbert & SCOTSON, Johnl (2000). Os estabelecidos e os outsiders. Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
*
FOUCAULT, Michel (1999). Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes.
*
FREITAS, Rilda Bezerra de (2003). Códigos de Honra: o cotidiano dos jovens internos no São Miguel. Dissertação de mestrado, Fortaleza. Universidade Federal do Ceará. Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
*
GOFFMAN, Erving (1989). A Representação do Eu na Vida Cotidiana. Petrópolis: Vozes.
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­*
__________ (1988). Estigma. Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada.Rio de Janeiro: Guanabara.
*
__________ (1999). Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva.
*
HALL, Stuart (2000). “Quem precisa da identidade?” In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org). Identidade e Diferença. Petrópolis: Vozes.
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro (2005). Amor e dor: Ensaios de antropologia simbólica. Recife: Bagaço.
*
__________ (2004). Introdução à Sociologia da Emoção. João Pessoa: Manufatura, GREM.
*
__________ (2002). “Confiança e sociabilidade: uma análise aproximativa da relação entre medo e pertença”. RBSE, v. 1, n. 2. http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html .
*
MAGNANI, José Guilherme Cantor (2002). “De perto e de dentro: Notas para uma etnografia urbana.” Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol.17, n. 49.
*
MENEZES, Marluci (2000). "Do espaço ao lugar. Do lugar às remodelações sócio-espaciais". Horizontes Antropológicos, a. 6, n. 13.
*
NUNES, B.; WELLER, W. (2003). A juventude no contexto social contemporâneo. Estudo de Sociologia. Revista do Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFPE. Recife v. 9, n. 2, Recife: Ed. Universitária da UFPE, p. 43-57.
*
SANTOS, Boaventura de Sousa, (2006). A gramática do tempo:para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez.
*
_______, (2001). Um discurso sobre as ciências. Porto: Edições Afrontamento.
*
SARTI, Cynthia Andersen (1994). “Ambivalência entre iguais: uma discussão sobre a moral dos pobres”. Trabalho apresentado no XVIII Encontro Anual da Anpocs. Caxambu.
*
SOUSA, Cleonia Maria Mendes de (1997). A política de atendimento aos adolescentes tidos como “autores de atos infracionais” em João Pessoa – uma análise da questão. Dissertação de mestrado, João Pessoa. Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
*
SOUZA, Alessa Cristina Pereira de (2003). Uma análise do bairro de Cruz das Armas sob a ótica do medo. Trabalho de Conclusão de Curso, João Pessoa. Universidade Federal da Paraíba. Departamento de Ciências Sociais.
*
_________ (2006). Por onde andam as festas?Um estudo sobre a (re) organização social dos moradores de Cruz das Armas, João Pessoa – PB. Dissertação de mestrado, Recife. Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós Graduação em Sociologia.
*
TAKEUTI, N. M. (2002). No outro lado do espelho: a fratura social e as pulsões juvenis. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
*
WACQUANT, Loic (1997) The Zone. In: Cultura e Subjetividade: saberes nômades, Daniel Lins (org.), Campinas, São Paulo: Papirus.
*
ZALUAR, Alba (1980). Desvendando máscaras sociais. 2ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S. A.
*
*
*
*

quarta-feira, 1 de julho de 2009

6a. Comunicação sobre a Enquete 'Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil - 2009' - a cidade de Brasília, DF

*
O que os brasilienses indicam como sujo ou sujeira
*
*
Mauro Guilherme Pinheiro Koury
*
*
A enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’ foi aplicada em seis capitais de estados brasileiros durante os meses de março e abril de 2009. O Blog do GREM vem publicando, em primeira mão, informações sobre o que é sujo ou sujeira para os habitantes das capitais pesquisadas. Já foram publicadas cinco Comunicações com informações sobre as cidades de João, Pessoa, Recife, Belém, São Paulo e Curitiba. O Distrito Federal, Brasília, completa hoje a série de seis Comunicações, com as informações sobre a enquete.
*
Como nas demais cidades pesquisadas, em Brasília também foram aplicados 60 questionários em forma de abordagem direta de pessoas em locais de grande circulação e movimentação de pessoas. Foram entrevistadas 31 pessoas do sexo feminino, 51,70% dos informantes, e 29 do sexo masculino, 48,30% dos que responderam a enquete. Estes informantes possuíam diversos graus de escolaridade, várias faixas etárias, de renda, de religião, estado civil, e profissão.
*
Nesta Comunicação sobre a cidade de Brasília, como nas demais Comunicações desta série sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’, se informará o resultado sobre a questão principal da enquete: O que é sujo ou sujeira para você, e o cruzamento desta questão com a categoria sexo dos entrevistados.
*
Não haverá uma análise teórica e metodológica sobre os dados apresentados, apenas uma apresentação das categorias encontradas na aplicação e tabulação da enquete para a cidade de Brasília, DF. Uma série de artigos acadêmicos e o Relatório Final da enquete serão disponibilizados ao público a partir de dezembro de 2009, com um balanço mais aprofundado do objeto de análise Sujeira e do que apontam sobre o que é sujo os habitantes das capitais brasileiras pesquisadas.
*
Nesta sexta Comunicação, a última da série neste Blog, se trabalhará apenas com um gráfico. Neste gráfico estão representados os percentuais de respostas dos brasilienses para cada categoria analítica delas retirada, para a totalidade dos respondentes e para cada sexo: masculino e feminino.
*
O que os habitantes do Distrito Federal consideram Sujo ou Sujeira?
*
O Gráfico 1, abaixo, índica os percentuais de respostas para cada categoria analítica encontrada na enquete para a cidade de Brasília, DF, em sua totalidade e separados por sexo dos entrevistados. Este Gráfico encontra-se organizado a partir das categorias com maior número de indicações, decrescendo até as de menor número, tendo a totalidade dos entrevistados como elemento organizador. Junto de cada totalidade das representações sobre o que é sujo, encontra-se, também, a divisão por sexo.
*


*
A categoria com maior número de indicações foi a de Falta de Zelo com a Coisa Pública, seguida de perto pela categoria Violência Urbana. As demais categorias apontadas, em ordem decrescente, foram as de Falta de Higiene; Mendicância, Gente Pobre, Gente Suja; Desrespeito ao Cidadão; Fluídos; Imoralidade; e Homossexualidade.
*
Em Brasília a principal categoria apontada como Sujeira foi a de Falta de Zelo com a Coisa Pública. Esta categoria foi apontada por 25% da totalidade dos respondentes da enquete. Destes, 27,6% eram homens e 22,6% mulheres.
*
Como nas demais cidades pesquisadas, a categoria Falta de Zelo com a Coisa Pública informa sobre uma descrença do brasileiro médio com a política e com os políticos do país. O mau uso dos políticos e gestores com a própria representação, a falta de ética, o fazer política em causa própria, a corrupção, os escândalos administrativos, o recebimento de propinas, o desvio de verbas públicas, o uso privado da coisa pública, são lembrados pelos brasilienses como exemplos de uma política e de políticos e gestores que ‘enlameiam’, ‘sujam’ e ‘enojam’ o país.
*
Muitos afirmando o seu descrédito e uma desesperança na política nacional, que afeta o cotidiano do cidadão comum que não vê saída para o país e receia sempre o pior para si e para os seus.
*
Essa desesperança aumenta e vira medo, entre os brasilienses, que associam os abusos da política ao mau uso da gestão de recursos, ocasionando um aumento do desemprego e um aumento da criminalidade na cidade. Alguns afirmam em tom jocoso que o grande receio é pela ‘bandidagem institucional’ que aparece com cores fortes na cidade capital do país. E associam esta ‘bandidagem institucional’ a muitos desmandos que provocam medo. Entre eles, “as milícias privadas dos políticos”, a “grilagem institucional dos terrenos urbanos da cidade”, e a associação do “tráfico de drogas a uma rede que envolve políticos e policiais”.
*
O comportamento do político e da política é, assim, visto pelos brasilienses como algo repugnante e que provoca medo e desesperança no cidadão comum.
*
Neste mesmo viés, muitos dos entrevistados apontam a Violência Urbana como algo sujo e que provoca receio entre os brasilienses entrevistados. A categoria Violência Urbana aparece como a segunda categoria com mais indicações na enquete aplicada na cidade.
*
A Violência Urbana como algo considerado sujo foi apontado por 23,3% do total dos entrevistados em Brasília. Destes, 27,6% eram do sexo masculino e 19,4% do sexo feminino.
*
A violência urbana é apontada como crescente em Brasília nas últimas duas décadas. O aumento dos sequestros relâmpagos é uma das causas principais do medo dos brasilienses que a apontaram, seguido do aumento do consumo e do tráfico de drogas na cidade. Apontam o centro da cidade como um local sem lei onde podem ser vistos pessoas consumindo todos os tipos de drogas e ameaçando o cidadão que lá circula.
*
Apontam o crescente número de uso de drogas nas escolas locais e o tráfico nas portas das escolas da capital; bem como o aumento do índice de agressões físicas entre os jovens e ao cidadão comum, principalmente os mais carentes. Muitos dizem que os principais consumidores estão entre os jovens das classes mais abastadas do Distrito Federal e o tráfico é praticado por jovens moradores de bairros nobres de Brasília. O que torna a vida familiar local em “um verdadeiro inferno. Nós não sabemos mais o que fazer para educar os filhos dentro de uma ordem estável e feliz, o medo de que sejam desviados do caminho de um crescimento saudável é um dos receios principais dos pais que moram nesta cidade”, afirma um entrevistado.
*
O aumento de roubos, assaltos a mão armada nas residências, o seqüestro relâmpago são apontados pelos entrevistados como o cotidiano da capital. Muitos chegaram a afirmar que Brasília se tornou “a capital dos sequestros relâmpagos” nas últimas duas décadas.
*
O aumento da violência urbana no Distrito Federal é associado, muitas vezes, ao desrespeito ao cidadão. A categoria Desrespeito ao Cidadão diz respeito á questão da infra-estrutura da cidade, e foi apontada como uma das principais coisas sujas de Brasília por 10% do total dos entrevistados. Destes, 10,3% do sexo masculino e 9,7% do sexo feminino.
*
Entre os problemas apontados no interior desta categoria encontram-se os problemas sociais e sanitários causados pela falta de infra-estrutura. Entre esses problemas são citados a desordem urbanística da cidade; o loteamento das terras públicas; a falta de saneamento básico; o grande número de ocupações ilegais; a falta de segurança do cidadão comum; a poluição visual; as pichações no centro da cidade; os danos ao patrimônio; o consumo de drogas no centro de Brasília; o péssimo transporte coletivo da cidade, a poluição causada pelo lixo e esgotos a céu aberto, entre outros.
*
Como se pode ver, a qualidade de vida dos brasilienses é tida por eles como em declínio. E as três categorias até agora apontadas, se cruzadas, indicam o uso privado da coisa pública, por políticos e gestores como uma das consequências principais do crescimento da violência urbana e do desrespeito ao cidadão.
*
A categoria analítica Imoralidade responde por 5% do total dos respondentes a enquete. Esta categoria possui 3,5% das respostas do sexo masculino, e 6,4% das indicações do sexo feminino. É uma categoria que também pode estar associada á categoria de Falta de Zelo com a Coisa Pública, de um lado, já que os diversos escândalos sexuais patrocinados por políticos e gestores em Brasília, nos últimos anos, são lembrados como uma das principais sujeiras da cidade e vistos sob a ótica da imoralidade. Por outro lado, esta categoria está associada diretamente a questão da moral e dos bons costumes locais e a exposição da nudez feminina e masculina, nas bancas de revista, nos canais de televisão, na mídia impressa, são apontadas como desorganizando a sociedade local e brasileira como um todo. O que tem fragilizado a ordem familiar e a quebra do decoro entre os jovens.
*
Outra categoria apontada como desorganizadora da moral é a categoria que aponta a Homossexualidade como sujeira. Apontada por 5% do total dos entrevistados: com 6,9% das indicações do sexo masculino, contra 3,2% do sexo feminino, a indicação da prática homossexual como algo sujo vem associada a relacionar as opções sexuais diferentes da heterossexualidade como falta de caráter e como doença social.
*
É uma categoria onde o preconceito de quem indica é muito forte. Muitos dos respondentes que a indicaram afirmam sentir nojo da prática homossexual, e revelam que se pudessem puniriam “com a morte, esses desviados”. A homossexualidade é sentida como uma grande desvirtuadora da moral e dos bons costumes locais, e como “uma sem-vergonhice”.
*
Na mesma linha de preconceitos encontra-se outra categoria, a da Mendicância, Gente Pobre e Gente Suja. Esta categoria foi indicada por 11,7% do total dos respondentes, sendo estes apontados por 10,3% dos homens entrevistados e por 12,9% das mulheres.
*
A mendicância como algo sujo, que incomoda e que contamina e polui visualmente o espaço urbano, principalmente do centro da cidade, e na série de invasões e condomínios populares que pipocam pelas áreas nobres da cidade, como na região dos lagos, é associada ao crescimento da pobreza em Brasília e a pobreza ligada à sujeira que perturba o cidadão. É interessante, aqui, ligar a pobreza enquanto algo sujo, associada, em Brasília a descriminação racial.
*
Pobre, ‘preto’, sujo e ladrão parecem sinônimos. Do mesmo jeito que aparecem como sinônimos a associação da pobreza aos nordestinos e nortistas, e logo, sujos e ladrões. A categoria Mendicância, Gente Pobre e Gente Suja, em Brasília, é uma categoria extensiva, em termos de preconceitos aos preconceitos: racial e territorial. Não dá para separá-los. Negros, nordestinos e nortistas, mendigos, são associados aos pobres e por sua vez apontados como uma categoria de sujeira. Que poluem visualmente a cidade, a enfeiam e a tornam mais perigosa.
*
As duas outras categorias apontadas pelos brasilienses como algo sujo são as categorias da Falta de Higiene e a de Fluídos. A primeira foi indicada por 13,3% do total dos entrevistados. Deste total, 10,3% eram do sexo masculino e 16,1% do sexo feminino.
*
A segunda, a categoria Fluídos, foi indicada por 6,7% do total dos respondentes, sendo 3,5% das respostas do sexo masculino e 6,4% do sexo feminino.
*
As duas categorias falam muito da esfera privada da vida ordinária no Distrito Federal. Embora, ambas também possam revelar uma extensão da preocupação do brasiliense com a questão da saúde pública. As duas categorias estão associadas à falta de educação doméstica e a falta de civilidade, podendo contaminar e provocar doenças nos cidadãos a elas expostos.
*
Começando pela categoria Fluídos, esta categoria é associada principalmente a falta de civilidade do brasiliense, principalmente, do brasiliense pobre. A sujeira nas ruas, os dejetos orgânicos espalhados pela cidade, os líquidos e gazes corporais, são vistos como ameaças cotidianas ao cidadão comum. Associam-se a estes a visão da desordem urbanística provocada pelas ocupações ilegais, os esgotos a céu aberto, como provocando sujeira e ameaçando a qualidade de vida do brasiliense médio. A pobreza é associada a este tipo de poluição, e sua principal causa.
*
A categoria Falta de Higiene, por sua vez, tem a ver diretamente com o espaço interno e privado do lar. A falta de limpeza doméstica, a falta de acondicionamento dos alimentos, a falta de asseio na preparação dos alimentos, são práticas associadas a falta de educação doméstica e a falta de civilidade, o que ocasiona impurezas que não só ameaçam o bem-estar da família que a pratica, mas ameaça a cidade como um todo. Já que os hábitos adquiridos em casa são repassados, com frequência para toda a cidade, ocasionando situações de insuportabilidade para o habitante comum da cidade.
*
Conclusão
*
Esta série de comunicações sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano’ neste Blog se encerra com esta comunicação sobre a cidade de Brasília. O principal motivo desta série de comunicações foi o de divulgar os primeiros resultados, ainda em caráter informativo e não analítico, da enquete sujeira, em andamento no GREM. Outro motivo, também, principal, foi o de mostrar a relevância da enquete para uma discussão do comportamento e do imaginário urbano brasileiro atual.
*
A riqueza das informações trazidas a tona pelos informantes da enquete Sujeira revelam um caminho importante para a análise da cultura política do Brasil contemporâneo, através das representações imaginárias dos entrevistados. E, por outro lado, as diversas vias interpretativas provenientes desta enquete para a análise das mudanças comportamentais experimentadas pelo brasileiro comum habitantes dos grandes centros urbanos do país.
*
A partir de dezembro de 2009, com o lançamento do Relatório Final da enquete Sujeira pelo GREM, se dará início, também, a publicação de uma série de artigos sobre assuntos específicos trazidos à tona pela enquete, nas revistas acadêmicas de ciências sociais, nacionais e internacionais.
*
Esta enquete faz parte de uma pesquisa maior, em desenvolvimento no GREM, sobre “Medos Corriqueiros e Imaginário Urbano no Brasil”.
*
A Série de Comunicações anteriores sobre a Enquete Sujeira publicadas neste Blog
*
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009). “O que pensam os moradores da cidade de João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira”. 1ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 22 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/o-que-pensam-os-moradores-da-cidade-de.html
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009a). “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital pernambucana”. 2ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 26 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/2acomunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009b). “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital paraense”. 3ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 05 de junho de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/06/3a-comunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009c). “O que os moradores da cidade de São Paulo (SP) apontam como sujo ou sujeira – 2009”. 4ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 09 de junho de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/06/4a-comunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009d). “O que os moradores da cidade de Curitiba (PR) apontam como sujo ou sujeira – 2009”. 5ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 28 de junho de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/06/5a-comunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009e). “O que os moradores da cidade de Brasília (DF) apontam como sujo ou sujeira – 2009”. 6ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 01 de julho de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/07/5a-comunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
*

domingo, 28 de junho de 2009

5ª Comunicação sobre a Enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil – 2009’ – A cidade de Curitiba, Paraná

*
O que os curitibanos representam como sujo ou sujeira – 2009

*


Mauro Guilherme Pinheiro Koury
*


Introdução
*
Hoje damos continuidade às comunicações sobre a enquete Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil – 2009, com as informações sobre a aplicação da enquete na cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná, Brasil. Como nas demais capitais já analisadas e publicadas neste Blog: João Pessoa, PB; Recife, PE; Belém, PA; São Paulo, SP, nos dias 22 e 26 de maio e 05 e 09 de junho de 2009 (Koury, 2009, 2009a, 2009b, 2009c), a enquete na capital paranaense foi realizada entre os meses de março e abril de 2009.
*
Como nas demais capitais, o questionário foi aplicado em abordagem direta aos entrevistados em locais muito frequentados do centro de Curitiba, em paradas de ônibus, em shoppings e praças locais. Foram entrevistadas 60 pessoas, sendo 32 mulheres, isto é, 53,3% do total dos respondentes e 28 homens, isto é, 46,7% do conjunto de respostas, com renda, estado civil, religião, escolaridade e profissão diversas.
*
Esta comunicação, como as outras, utilizará apenas o cruzamento da questão ‘o que você considera sujo ou sujeira’ com a categoria sexo do entrevistado. A apresentação das representações de sujo ou sujeira foi agrupada em categorias analíticas tiradas do conjunto das respostas dos entrevistados nas seis capitais pesquisadas e sobre estas categorias tabuladas as respostas dos entrevistados por capital.
*
Aqui, como nas outras comunicações desta enquete, as respostas se encontram dispostas em dois gráficos. O primeiro revelando a totalidade dos entrevistados da capital paranaense a partir das representações de sujo ou sujeira por eles revelada. O segundo gráfico, por sua vez, distribui as representações de sujeira ou de sujo pelo sexo do entrevistado.
*
Esta série de comunicações sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’ neste Blog tem a intenção simples de apresentar um instantâneo das representações sobre o que é sujeira para as capitais pesquisadas e para a cidade de Curitiba, aqui, em particular. Uma análise mais aprofundada sairá, posteriormente, a partir de dezembro de 2009, em uma série de artigos acadêmicos a serem publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais e no relatório final da enquete, por capital pesquisada e para o conjunto das capitais.
*
O que os curitibanos indicaram como sujo ou sujeira?
*
Para responder a esta questão se apresentará dois gráficos. O Gráfico 1 oferece o percentual para as categorias analíticas indicadas pela totalidade dos entrevistados da cidade de Curitiba, e o Gráfico 2, indica o percentual por sexo para as mesmas categorias.
*

*
Os dois gráficos serão, nesta comunicação, apresentados de forma simultânea, e a sua leitura será feita a partir do maior percentual para a totalidade dos entrevistados, até o menor percentual, e sobre eles o comportamento por sexo.
*
A categoria Falta de Higiene é a categoria analítica que aparece com maior número de indicação entre os curitibanos, com 23,3% das respostas, como pode ser visto no Gráfico 1, acima, isto é, 14 entrevistados a indicaram como o que considerava sujo ou sujeira. Destes 23,3%, de acordo com o Gráfico 2, abaixo, os homens aparecem com 21,4% das respostas, isto é, seis informantes do sexo masculino, contra 25% das mulheres entrevistadas, isto é, oito pessoas do sexo feminino.
*


*
Homens e mulheres de Curitiba equivalem-se na eleição da falta de higiene como o que consideram mais sujo. As expressões nojo e repugnância foram comuns em suas falas para a falta de higiene de cunho doméstico. Muitas das mulheres entrevistadas e muitos dos homens falaram, inclusive, de que ao irem pela primeira vez a casa de um conhecido, a arrumação e a higiene eram as primeiras coisas a ser buscada. Um rapaz chegando a afirmar que já acabou com um namoro, de uma garota de quem gostava muito, quando esta o convidou para conhecer os seus pais e jantar em sua casa.
*
O descuido com a arrumação e a poeira nos móveis indicaram para ele a pouca noção de higiene daquela casa e, indo a cozinha e encontrando em “uma grande desordem e com muita sujeira”, pratos e panelas para lavar dentro da pia, o fogão sujo, entre outras informações, o levaram a um nível de repugnância que foi difícil suportar o jantar e as horas que teve que passar na casa da namorada. Alguns dias depois, começou a se dizer com problemas para não encontrar a garota, até que finalizou o namoro.
*
Uma professora de ensino médio também relatou o fato de ao ir pela primeira vez a casa de um conhecido ou de uma conhecida, tinha por hábito pedir para ir ao banheiro para verificar o nível de higiene apresentado. Muitas amizades acabaram antes de começar pelo nojo apresentado pela falta de cuidados domésticos. Associando, claramente, a questão da falta de higiene doméstica a falta de educação e a falta de caráter. Como se pode confiar em alguém que não tem o mínimo de hábitos civilizados, que não tem o mínimo de educação doméstica, revelados no descuido com a desarrumação.
*
A mesma indicação da falta de higiene é indicada para o asseio pessoal. Pessoas com roupas desalinhadas, com aparência suja, levantam suspeita em relação ao próprio caráter pessoal. O sujo é indicado como um hábito não civilizado, como uma postura perante o mundo não condizente e que causa repugnância e medo.
*
A segunda categoria com maior índice de indicação entre os curitibanos foi a categoria Violência Urbana. Esta categoria aparece com 20% do total de respostas, isto é, com 12 indicações dos entrevistados. Os dois sexos aparecem cada qual com seis indicações. O que equivale em 18,7% do total das mulheres, contra 21,4% do total dos homens.
*
A outrora pacata Curitiba, de algumas décadas atrás, como apontada por vários depoentes, deu lugar a uma cidade com um alto índice de criminalidade. Roubos, assaltos, estupros, sequestros relâmpagos, assassinatos e mortes violentas são apontados como o que tem de mais sujo na cidade. O que vem fazendo, segundo os entrevistados que apontaram a violência urbana como algo sujo, os habitantes da cidade se tornar cada vez mais reclusos e com medo de enfrentar os perigos que a cidade apresenta no seu cotidiano.
*
O desconhecido na rua é apresentado como alguém potencialmente perigoso e que quebra os códigos de normalidade da cidade. Ser abordado por um desconhecido é sempre um sinônimo de que algo perigoso pode acontecer. O que torna o curitibano ainda mais avesso ao outro desconhecido, ao diferente. O que torna a cidade, na visão de um entrevistado, mais provinciana e mais fechada.
*
Segundo este entrevistado, os curitibanos sempre foram potencialmente avessos ao estrangeiro, àqueles que não são da terra e invadem o seu território. O que para ele acontece hoje em dia é que esses potencialmente avessos vêm se tornando uma fobia, já que nestas últimas décadas a cidade vem sendo inflada e ocasionando uma quebra de pessoalidade antes existente e gerando o medo que a impessoalidade atual provoca. Tornando esse outro perigoso e esse perigo oferecido pela sua presença como algo sujo, como algo que rompe um código de pessoalidade perdido em um tempo e em um espaço, mas que ainda está presente na alma curitibana.
*
A categoria Fluídos aparece como a terceira categoria mais indicada, com nove entrevistados, isto é, com 15% do total dos respondentes. Destes nove entrevistados, cinco são do sexo feminino, isto é, 15,6% do total das mulheres, e quatro do sexo masculino, isto é, 14,3% do total dos homens.
*
Esta categoria, para os curitibanos, indica uma prática que está associada à falta de civilidade movida pela falta de higiene e educação doméstica. O ato de espirrar, cuspir, escarrar, defecar, urinar em locais públicos revela um costume bárbaro não condizente com o habitante de uma urbe. O que causa nojo e repugnância em quem vê ou sente as consequências desse hábito, além de provocar o perigo de contaminação. A mesma repugnância é apontada para ferimentos expostos, sangue derramado, espermas e outros líquidos corporais. Os fluídos, assim, além de indicarem um ato não civilizado, é uma ação perigosa, pois envolve a possibilidade de doenças, tornando-se, assim, um caso para a saúde pública.
*
A categoria Falta de Confiança, por sua vez, aparece com 11,7% das respostas totais, isto é, sete entrevistados a indicaram com algo sujo. Destes sete entrevistados, quatro foram do sexo feminino, com 12,5% do total das mulheres, e três do sexo masculino, com 10,7% do total dos homens.
*
A categoria falta de confiança entre os curitibanos apresenta-se como uma categoria de suspeição. O outro, o desconhecido, principalmente, é objeto de medo, provoca uma série de possibilidades inerentes ao diferente que frequentemente o levam a rejeição. Para tornar-se confiável é necessário um tempo de convivência que permita a construção de laços mais sólidos. Laços de confiança.
*
Como nas últimas décadas a cidade de Curitiba vem se transformando e tornando-se menos pessoalizada, esses laços de confiança tem se tornado cada vez mais pulverizados, e o outro, o diferente, mais ameaçador. O que os faz enxergá-los sob o manto do receio de contaminação de hábitos não próprios da cidade, e com a roupagem de medo de que algo ou alguma coisa possa atingi-los no seu cotidiano.
*
Daí o fechamento, às vezes, segundo um entrevistado, a aparência de arrogância para com o outro não conhecido. O que fez um entrevistado, médico e professor universitário alegar, com bom humor, que “o bom curitibano é o curitibano que está fora de Curitiba”. Fora da cidade “ele relaxa e enjoy a vida, se torna aberto para o diferente. De volta para a cidade, não sei o que é que dá nele, ele se torna fechado e difícil de novas relações. É um caramujo que só olha pro umbigo e prá dentro de sua própria carapuça”.
*
As categorias Falta de Zelo com a Coisa Pública e Desrespeito ao Cidadão, aparecem cada uma com 8,3% do total dos entrevistados, isso é, com cinco entrevistados do total pesquisado. A primeira delas com três mulheres e dois homens, o que perfazem o total de 9,4% do total de mulheres e 7,1% do total dos homens.
*
A segunda delas, a categoria desrespeito ao cidadão, por seu turno, representa 6,3% de indicações do sexo feminino, com duas mulheres, e, 10,7% homens, isto é, três indivíduos do sexo masculino.
*
Como nas demais capitais que as indicaram, a falta de zelo com a coisa pública indica uma visão da política como algo sujo, como politicagem, como corrupção, como mau uso de verbas públicas, a visão da política como abuso de poder e desmandos administrativos, entre outros tantos adjetivos. A desilusão com a política e os políticos no país, no estado e na cidade é uma das principais causas de a enxergarem como sujeira, como uma prática suja.
*
O mesmo acontecendo com a categoria desrespeito ao cidadão. O orgulho de uma cidade com um bom nível de urbanidade e infra-estrutura construída ao longo das últimas décadas é acompanhada com um sentimento de desrespeito pessoal, principalmente entre os cidadãos das classes menos abastadas da cidade.
*
A vida nos bairros mais pobres e periféricos é comentada como uma vida de sofrimento e tragédia pessoal e comunitária, que os fizeram indicar a falta de urbanização, a falta de iluminação pública, o lixo acumulado nas ruas, com uma coleta às vezes de quinze e quinze dias, como um desrespeito à cidadania, ao mesmo tempo em que narram suas desventuras através de uma baixa estima, que parece indicar que se consideram o desrespeito ao cidadão pobre como sujeira, eles próprios parecem ser o lixo, a principal sujeira para a cidade, que a cidade gostaria de extirpar.
*
E é o que parece ser nas indicações das outras duas categorias analíticas para o que é sujo ou sujeira para os curitibanos entrevistados. A categoria Mendicância, Gente Pobre, Gente Suja, aparece com 6,7% do total dos informantes, sendo 9,4% mulheres e 3,6% homens, seguida da categoria Preconceito Racial, que aparece com 3,3% do conjunto das respostas. Destes, 3,1% mulheres e 3,6% homens.
*
Estas duas categorias indicam uma visão do curitibano médio sobre a pobreza e sobre a questão étnica como sujeiras. Apesar de minoritárias, indicadas por quatro e por dois apenas, mostram o pobre e aquele de etnia diferente, no caso, o negro, como associados à falta de higiene, à falta de educação doméstica, àqueles que impõem medo e como àqueles causadores de atos perigosos. Como sujeitos da desordem, em oposição à ordem da cidade, à civilização.
*
Sim, os curitibanos entrevistados, em suas respostas opõem para a ordem da cidade e a civilização, à desordem e a diferença como sujeira, como ameaça social e individual que precisa ser evitada e controlada.
*
Nesta mesma sequência de oposição aparece a categoria Homossexualidade, com 1,7% das respostas, isto é, com apenas uma indicação, sendo esta indicação dada por um entrevistado do sexo masculino. O entrevistado que a indicou como algo sujo, narrou a sujeira inerente à prática homossexual como um desvio de conduta perigoso e como um atentado a moral e aos bons costumes. Associando, ainda, a homossexualidade como uma prática perigosa e causadora de doenças, como “a praga da AIDS, por exemplo, que hoje está disseminada entre homens e mulheres do mundo inteiro”.
*
A categoria Falta de Consciência Ecológica aparece também com apenas uma indicação, também de um respondente do sexo masculino. Esta categoria apresenta-se, deste modo, com 1,7% do total dos curitibanos respondentes.
*
Como nas demais capitais que a indicaram, aparece no interior de um discurso político-acadêmico que aponta o caminho do progresso de nossa civilização como uma via para o suicídio do humano, e prega uma visão ecológica de desenvolvimento sustentável. O entrevistado que a indicou, entre os respondentes curitibanos, era um político do partido verde local e professor universitário.
*
Nos exemplos dados pelo entrevistado, como causa da falta de consciência ecológica, está o aumento da emissão de gases tóxicos no ar, a emissão de resíduos industriais nos rios, o desmatamento, o chorume, entre outros. O que o aproxima das respostas dadas à categoria fluídos, o diferenciando, porém, pelo discurso político-acadêmico em que está inserido.
*
As categorias Imoralidade e Gente fraca, por seu turno, não foram indicadas por nenhum curitibano respondente desta enquete.
*
Considerações Finais
*
A cidade de Curitiba foi apresentada nesta comunicação através do seu imaginário sobre o que é sujo e sujeira. Nos próximos dias será postada a apresentação sobre sujeira na última cidade pesquisada pela enquete: a cidade de Brasília, DF.
*
Como se pode notar pela série de comunicações aqui apresentadas para esta enquete, a categoria sujeira oferece uma gama de possibilidades analíticas que ajudam a compor um painel sobre as transformações recentes no comportamento e no imaginário do brasileiro comum e morador dos centros urbanos, sobre a construção social e cultural do país. Ajuda a perceber, também, a cultura política em sua ambivalência e ambiguidade que vem tomando conta do homem comum neste início do século XXI e a formação de uma nova mentalidade presente na pulverização dos laços de uma sociabilidade pessoalizada, acarretando medos, fobias e preconceitos, além de uma consciência mais acurada, embora desesperançada da política profissional e da gestão da coisa pública nas cidades.
*
Bibliografia
*
João Pessoa, Paraíba, sobre o significado de sujeira”. 1ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 22 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/o-que-pensam-os-moradores-da-cidade-de.html*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009a). “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital pernambucana”. 2ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 26 de maio de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/05/2acomunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009b). “O que é sujo ou sujeira para os habitantes da capital paraense”. 3ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 05 de junho de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/06/3a-comunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. (2009c). “O que os moradores da cidade de São Paulo (SP) apontam como sujo ou sujeira – 2009”. 4ª Comunicação sobre a enquete ‘Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil’. Blog GP em Antropologia e Sociologia das Emoções, 09 de junho de 2009. http://grem-sociologiaantropologia.blogspot.com/2009/06/4a-comunicacao-sobre-enquete-sujeira-e.html
*
*
*

*
**
***
**
*

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Série Pesquisas em Desenvolvimento, n. 05 (25 de junho de 2009)

*
Publica-se, hoje, neste Blog, o quinto número da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM. Esta Série tem por objetivo a publicação e a divulgação dos Resumos Expandidos das Pesquisas em Desenvolvimento ou Recém Finalizadas pelo corpo de pesquisadores do GREM.
*
Nesta Série serão postados resumos individuais dos pesquisadores com um informe sobre suas pesquisas e uma pequena bibliografia referencial de apoio. Será informada, também, a linha de pesquisa do GREM a que estão vinculadas.
*
Já foram publicados neste Blog os números: 01, em 12 de junho de 2009, o 02, em 15 de junho de 2009, o 03, em 18 de junho de 2009, o 04, em 22 de junho de 2009 da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
*
O número 05 da Série Pesquisas em Desenvolvimento publica o Resumo Expandido da pesquisa em andamento no GREM, coordenada pelo pesquisador Márcio da Cunha Vilar. A pesquisa em desenvolvimento de Márcio Vilar tem por objetivo a obtenção do título de Doutor em Antropologia Social/Cultural pela Universidade de Leipzig, Alemanha.
*
A pesquisa de Márcio da Cunha Vilar está vinculada a Linha de Pesquisa do GREM: Memória e Imaginário Social.
*
Vamos, então, para o número 05 da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
*
*
Título da Pesquisa: Etnografia dos Ciganos Calón no nordeste do Brasil. Estudo antropológico sobre produção sócio-cultural de diferenças e semelhanças entre minoria étnica e sociedade majoritária
*
Pesquisador: Márcio da Cunha Vilar
*
Resumo: A presente pesquisa etnográfica tem como objetivo compreender o mundo dos ciganos Calóns no Brasil, principalmente, a partir do estudo das relações destes com não-ciganos, mas também considerando as práticas internas de diferenciação e/ou distinção destes entre si – já que um alto grau de segmentaridade (ou uma intensa dinâmica segmentar) presente na organização social Calón vem sendo constatado empiricamente desde o início das pesquisas. Para tanto, tem sido desenvolvido trabalho de campo em ranchos no Rio Grande do Norte e Bahia, com concentração neste último estado; mais particularmente nas regiões sul e sudoeste, onde atualmente está sendo realizada uma estadia mais prolongada.
*
Muitos dos estudos sobre ciganos costumam essencializar os grupos abordados, conferindo-lhes qualidades particulares quase como que inatas que os destacariam de outros grupos ciganos e da sociedade na qual vivem. Por outro lado, não são raras as generalizações. Características observadas no âmbito de um determinado grupo são muitas vezes atribuídas a todo o conjunto dos ciganos. Em todo caso, todas as tentativas de definir os ciganos tanto por ciganos quanto por não-ciganos, independente do critério utilizado, nunca abarca a totalidade das diversas coletividades como tal identificadas. Não há critérios estabelecidos por meio dos quais seja possível identificar alguém como sendo ou não cigano. A referência mais utilizada consiste na autoproclamação da pessoa como tal acompanhada do consentimento ou aceitação do grupo.
*
Apesar de haverem várias explicações (como as versões sobre a origem indiana, ou a grega, egípcia etc.) nada foi constatado no que diz respeito à origem dos ciganos (Fraser, 1993). O próprio nome “cigano”, cunhado por não-ciganos, não passa de um termo que ainda hoje é utilizado por falta de outro melhor e/ou por de alguma forma comportar e transmitir a tensão nunca resolvida que gira em torno da definição de tais “grupos” (Moonen, 2007; Streck, 2008). Dependendo da região geográfica onde se encontrem, pode mesmo haver dezenas de outras denominações coletivas entre os próprios ciganos, pois os ciganos costumam se autodenominar de formas as mais diversas, no que terminam por se distinguirem uns dos outros. Existe algum consenso quanto à terminologia de três grandes grupos continentais: os “Rom”, procedentes do Leste Europeu; os “Sinti”, da Alemanha e Itália ou “Manus” na França; e os “Calons”, ciganos da península ibérica. No entanto, há uma infinidade de autodenominações procedentes, por ex., de profissões (Ursari, Kalderasch, Kovaci...), lugares (Piamontesi, Halab, Tatare...) e etc. Por sua vez, termos como “grupo”, “família” e até mesmo “rede” para a designação de coletividades ciganas, devem ser utilizados com cuidado, de forma bastante calibrada, uma vez que, por mais que tais termos contribuam para dar visibilidade conceitual-estrutural a estes ou àqueles ciganos, eles podem encobrir características específicas do modo como tal e tal coletividade se constitui morfologicamente.
*
Segundo Streck, no processo de estratificação das sociedades, sejam tradicionais ou modernas, principalmente através do desenvolvimento da divisão do trabalho, são também gerados, com os próprios estratos ou castas, “entre-espaços” que, por sua vez, oferecem chances específicas de sobrevivência. “Freqüentemente, nos ‘espaços’ estabelecidos, o entre-espaço é criminalizado enquanto zona socialmente cinza. Em fontes antigas [...] lê-se a respeito de “párias sem senhor” ou de “párias sem país”. Mas, para além da expressão de aversão, é possível reconhecer aqui o entre-espaço: em tal lugar as pessoas seguem o senhor A, noutro canto o senhor B, entre aqui e lá se vive sem senhor, isto é, livre”. (Streck, 2008).
*
Trata-se aqui dos setores informais de uma dada sociedade, enquanto sombras residuais de circulação e de estabelecimento não catalogados ou reconhecidos oficialmente como um espaço próprio, mas estigmatizados e, na regra, evitados (1). Em tais espaços (de invisibilidade), é possível verificar processos de reapropriações e rearranjos culturais (Sahlins, 1997) que se manifestam na produção de uma cultura paralela ou de contraste, num sistema de valores próprios, em língua local e na existência de mecanismos de auto-regulação. “Gypsies provide a superb extreme case of people whose culture is constructed and recreated in the midst of others” (Okely, 1983). Um exemplo desse rearranjo poderia ser encontrado na forma como os ciganos falam.
*
Ao lado da língua local, ou seja, da região onde vivem, ciganos podem falar também alguma variação do chamado Romanês ou Romani Chib. Essas variações podem, às vezes, serem fortes o suficiente para que determinados ciganos não se entendam. No caso dos Calons a variação do Romanês falada pode ser chamada simplesmente de “língua”, “língua de cigano” ou “Chibi” (que em Romanês significa “língua”). Em todo caso, o uso dos idiomas ou dialetos geralmente se dá no interior do grupo e como forma de fronteirização perante os gadjes – como os ciganos muitas vezes denominam os “não-ciganos”; no caso dos Calóns, também é muito comum a denominação “jurón”/”jurín” ao lado de “gadjo” ou “gadjão”. Embora tenha sido constatada uma correspondência com o sânscrito, tais idiomas ou dialetos, no entanto, são elaborados ou compostos, em boa parte, a partir da própria língua local como também através do uso de vocábulos por onde já se esteve anteriormente. A freqüente recorrência desse fenômeno lingüístico evidencia a estreita ligação do grupo em questão com a sociedade maior na qual vivem e/ou entre as quais viveram. Não há uma língua cigana, por assim dizer, porém várias e nenhuma (Matras, 2003).
*
Parece ser mais interessante, dessa forma, considerar as diferenciações “internas” entre os ciganos em termos de “variações” (Barth, 1987) (variações estruturais perceptíveis tanto de uma perspectiva diacrônica – isto é, no que diz respeito à história e temporalidades específicas a uma dada família e a sujeitos a ela não-pertencentes, porém, com os quais ela se relaciona - quanto sincrônica – isto é, de família para família, clã para clã...), pois mesmo grupos ciganos que habitem numa mesma região podem apresentar diferenciações significativas entre si. Contudo, a despeito, porém, do alto grau de diferenciações internas – em outras palavras, mesmo não havendo uma espécie de totalidade homogênea -, parece existirem algumas características gerais no que diz respeito às suas relações com os não-ciganos. Por um lado, quando ressaltada a história de ódio e de perseguição, quase todas as formas culturais que os ciganos, em suas relações com não-ciganos, criativamente elaboram parecem ser vistas, sobretudo, sob o signo da sobrevivência. Por outro lado, citando Engebrigsten, Ries (2008) chama a atenção para o termo “ciganicidade” (gypsyness) (2).
*
Em todo caso, devido à dependência dos entre-espaços com relação aos espaços, pessoas dos entre-espaços vivem em contínuo contato com as dos espaços. Uma vez que, ao que tudo indica, a maior parte dos Calons, com os quais esse estudo se ocupa, vivem no e do setor informal, a presente pesquisa se orienta pela seguinte definição de cigano, segundo a qual, estes podem ser entendidos “como parte da sociedade maior na qual vivem, embora não necessariamente enquanto incluída [ou integrada] (...), mas sim como parte conectada de uma relação assimétrica” (Streck, 2008).
*
Dessa forma, entre uma espécie de paralelismo cultural e estreita simbiose social, é possível presumir que os Calons têm a chance de serem socializados em diferentes “culturas emocionais”, que em certa medida se contrapõem. Como eles agem, portanto, em meio a situações extraordinárias ou dilemas cotidianos que conflitem os repertórios emocionais de que dispõem? Seria possível sequer “trocar” de repertório emocional em uma dada circunstância conflituosa? Por outro lado, em que medida sociedades Calon se esquivam, excluem e/ou se incluem dos processos históricos de longa duração que implicam na domesticação gradativa das expressões emocionais (processos esses, tal como descritos por Elias (1995), que vêm se desenvolvendo por séculos no âmbito da sociedade majoritária no meio da qual vive)? Em que medida os Calons se utilizam e/ou são atingidas por tais processos, e como eles se relacionam (ou não) com uma experiência coletiva profundamente traumática dos ciganos, que, por sua vez, também podem ser alencada num plano de longa duração histórica (Pollack, 1989)?
*
O GREM é um espaço privilegiado onde a presente pesquisa procura se debruçar sobre que papel a expressão das emoções desempenham na produção sócio-cultural de diferenças e semelhanças entre ciganos e não-ciganos – e desse modo no processo auto-constitutivo de uma cultura cigana Calon por meio de contato intercultural e hibridização seletiva. Uma vez que o trabalho de campo etnográfico implica, fundamentalmente, em um exercício de imersão no cotidiano de famílias Calon, por meio do qual seja possível deparar-se, muitas vezes simultaneamente, com uma multiplicidade de fenômenos referenciadores - e também partes - de um conjunto de códigos, valores e sensibilidades particulares (específicos, sobretudo, frente àqueles considerados normais ou convencionais, ou seja, “não-ciganos”/“maioria das pessoas”), e também com modos de expressões emocionais dos mesmos, busca-se aqui descortinar e estudar relações sócio-culturais chaves que auxiliem na interpretação de princípios comuns que, de alguma forma, contribuam para conformar, manter ou alterar modos e estilos de vida familiares aos Calóns.
*
Notas
*
1. Entre as minorias ciganas, há também minorias de ciganos bem sucedidos que fazem partem de elites sociais. Um dos exemplos mais citados, nesse caso, é o do ex-presidente Juscelino Kubitschek. No entanto, parece unânime que a maior parte de tais ciganos, com exceção daqueles músicos, sempre precisa esconder a identidade de “cigano” para não serem vítimas de possíveis estigmatizações. “Quem é empresário rico não está nem aí, mas os que dependem de vida pública, como artistas e políticos, restringem a informação sobre serem ciganos”, diz Farde Vichil. E Zé Rodrix: “Há ruas inteiras em bairros nobres onde só moram ciganos. A grande marca é o fato de as torneiras e maçanetas das casas serem de ouro maciço, para que possam ser levadas em caso de fuga emergencial” (Sanches 2005).
*
2. Segundo Ries, “Roma/Gypsies take up certain cultural patterns of Gadzo culture, redefine them and use them for the construction of their own gypsyness (e. g. Engebrigsten 2000). (…). From this perspective, gypsyness is a flexible construct basing itself on difference. Both Roma/Gypsies and Gadze negotiate their ethnic markers. (…) Crucial in this struggle for gypsyness is the constructed ethnic boundary; the essential content may vary from group to group or change in the course of history”.
*
Bibliografia
*
Barth, F. 1969. Introduction. In: Barth, F. (ed.), Ethnic groups and boundaries. London: George Allen and Unwin. p. 9-38.
*
Barth, F. 1987. Preface. In: Rao, A. (ed.). The other nomads. Köln, Wien: Böhlau. S. VII-XI.
*
Chou, C. 2003. Indonesian See Nomads. Money, magic and fear of the Orang Suku Laut. London & New York: RoutledgeCurzon.
*
Dollé, M. 1970. Symbolique de la Mort en milieu tsigane. In: Études Tsiganes, 16. Paris.
*
Elias, N. 1995. O Processo Civilizador. Uma história dos costumes. Vol. 1 & 2. 1º Ed. São Paulo: Jorge Zahar.
*
Ferrari, F. 2002. Um olhar oblíquo: contribuições para o imaginário ocidental sobre ciganos. São Paulo: USP, dissertação de mestrado em antropologia.
*
Fraser, A. 1993. The Gypsies. Oxford: Blackwell.
*
Gay y Blasco, P. 1999. Gypsies in Madrid: sex, gender and the performance of identity. Oxford, New York: Berg.
*
Geertz, C. 1989. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
*
Geertz, C. 2000. O Saber Local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes.
*
Gellner, E. 1997. Antropologia e Política: Revoluções no Bosque Sagrado. São Paulo: Jorge Zahar.
*
Koury, M. 2003. Sociologia da Emoção: O Brasil urbano sob a ótica do luto. Petrópolis: Vozes.
*
Koury, M. 1999 A dor como objeto de pesquisa social. In: Ilha. Revista de Antropologia, vol. 1, n. 0.
*
Leach, E. 1961. Two essays concerning the symbolic representation of time. In: Rethinking Anthropology. London School of Economics. Monographs on Social Anthropology 22. New York.
*
Leach, E. 1996. Sistemas Políticas da Alta Birmânia: Um estudo da estrutura social Kachin. São Paulo: EDUSP.
*
Lévi-Strauss, C. 1996. Antropologia Estrutural I. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
*
Lévi-Strauss, C. 1982. As Estruturas Elementares do Parentesco. Petrópolis: Vozes.
*
Matras, Y. 2003. Die Sprache der Roma. Ein historischer Umriß. In: Matras, Y., Winterberg, H. & Zimmermann; M. (eds.) Sinti, Roma, Gypsies: Sprache – Geschichte – Gegenwart. Berlin: Metropol.
*
Mauss, M. 2003 (1923-24). Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify.
*
Mello Moraes Filho. 1981 [1886/1885]. Os ciganos no Brasil & Cancioneiro dos ciganos, Belo Horizonte: Itatiaia.
*
Mello Moraes Filho. 1904. “Quadrilhas de ciganos”, IN: Fatos e memórias, Rio de Janeiro: Garnier, Parte III [reproduzida IN: Mota, Ático Vilas-Boas de (org.), Ciganos – antologia de ensaios, Brasília: Thesaurus, 2004, pp.19-39]
*
Moonen, F. 2008. Anti-Ciganismo: Os ciganos na Europa e no Brasil. Centro de Cultura Cigana: Juiz de Fora. Edição digital adquirida diretamente com o autor por email.
*
Okely, J. 1983. The Traveller Gypsies. Cambridge, New York: Cambridge University Press.
*
Pollak, M. 1989. Memória, Esquecimento, Silêncio. In: Estudos Históricos, Vol 2, N. 3. Rio de Janeiro. http://www2.uel.br/cch/cdph/arqtxt/Memoria_esquecimento_silencio.pdf
*
Rao, A. 1975. Some Manus conceptions and attitudes. In: Gypsies, Tinkers and other Travellers. London: Ed. Rehfisch.
*
Ries, J. 2007. Welten Wanderer: über die kulturelle Souveränität siebenbürgischer Zigeuner und den Einfluß der Pfingstmission. Würzburg: Ergon.
*
Ries, J. 2008. Writing (Different) Roma/Gypsies. In: Jacobs, F. Ries, J. (Orgs.). Roma-/Zigeunerkulturen in neuen Perspektiven. Leipzig: Leipziger Universitätsverlag.
*
Sahlins, M. 1997. O “Pessimismo Sentimental”e a Experiência Etnográfica: Por quê a cultura não é um “objeto” em via de extinção (parte I). In: MANA – Revista de Antropologia Social do Museu Nacional. 3(1).
*
Sanches, P. A. 2005 Vida Cigana: Herdeiros de uma milenar cultura nômade, eles lutam contra o preconceito e pela cidadania. In: Carta Capital, julho, Edição 350. Ano XI. Site: http://www.cartacapital.com.br/
*
SEPPIR. 2005 Relatório Final: I Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Brasília: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
*
Souza, M. A. 2006. Os ciganos do Catumbí: ofício, etnografia e memória urbana, Niterói, UFF, dissertação de mestrado em Antropologia.
*
Stewart, M. 1997. The Time of the Gypsies. Boulder, Oxford: Westview.
*
Streck, B. 2008. Kultur der Zwischenräume: Grundfragen der Tsiganologie. In: Jacobs, F. Ries, J. (Orgs.). Roma-/Zigeunerkulturen in neuen Perspektiven. Leipzig: Leipziger Universitätsverlag.
*
Sutherland, A. 1975. Gypsies. The Hidden Americans. London: Tavistock.
*
Tauber, E. 2006. Du wirst keinen Ehemann nehmen! Respekt, Bedeutung der Toten und Fluchtheirat bei den Sinti Estraixaria. Münster: LIT Verlag.
*
Tauber, E. 2008. “Do you remember the time we went begging and selling”: The ethnography of transformations in female economic activities and its narrative in the context of memory and Respect among the Sinti in North Italy. In: Jacobs, F. Ries, J. (Orgs.). Roma-/Zigeunerkulturen in neuen Perspektiven. Leipzig: Leipziger Universitätsverlag.
*
Teixeira, R. C. 2000. História dos ciganos no Brasil, Recife, NEC, E-texto 2 [edição digital - http://www.dhnet.org.br/]
*
Williams, P. 2003 [1993]. Gypsy world: the silence of the living and the voices of the dead. Chicago, London: The University of Chicago Press.
*
***
**
*
**
***

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Série Pesquisas em Desenvolvimento, n. 04 (22 de junho de 2009)

*
Publica-se, hoje, neste Blog, o quarto número da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM. Esta Série tem por objetivo a publicação e a divulgação dos Resumos Expandidos das Pesquisas em Desenvolvimento ou das pesquisas Recém Finalizadas pelo corpo de pesquisadores do GREM.
*
Nesta Série serão postados resumos individuais dos pesquisadores com um informe sobre suas pesquisas e uma pequena bibliografia referencial de apoio. Será informada, também, a linha de pesquisa do GREM a que estão vinculadas.
*
Já foram publicados neste Blog os números: 01, em 12 de junho de 2009, o 02, em 15 de junho de 2009, e o 03, em 18 de junho de 2009 da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
*
O número 04 da Série Pesquisas em Desenvolvimento publica o Resumo Expandido da pesquisa em andamento no GREM, coordenada pela pesquisadora Maria Sandra Rodrigues dos Santos, em conjunto com o UNIPÊ, onde leciona (1).
*
A linha de pesquisa do GREM que a pesquisa em desenvolvimento de Maria Sandra está alocada é a Rituais da Morte, Luto e Sociedade.
*
Vamos, então, para o número 04 da Série Pesquisas em Desenvolvimento no GREM.
*
*

Título da Pesquisa: Enfretamento da morte vivenciada pelos Enfermeiros, Fisioterapeutas e os indivíduos que se encontra em processo de perda.
*
Pesquisador: Maria Sandra Rodrigues dos Santos (2)
*
*
Resumo: Esta pesquisa pretende investigar as formas e as atitudes estabelecidas diante da morte entre os Enfermeiros e Fisioterapeutas em Hospitais Públicos da Cidade de João Pessoa-PB. Como se dão as práticas de enfretamento da morte entre estes profissionais da saúde, e quais as relações entre estes e os indivíduos que se encontram em processo de perda.
*
Pretende, dessa forma, investigar, além dos procedimentos institucionais adotados quando da constatação da morte de um indivíduo, todo o agir discreto, controlado e, como é comum dizer, “de frieza” dos profissionais em relação aos indivíduos que vivenciam o processo da morte interdita. Ou seja, quando a morte passa a acontecer nos hospitais sob o controle dos médicos.
*
O que se pretende investigar é o comportamento das pessoas que estão diretamente relacionadas ao processo de morte em um local exclusivo: os hospitais públicos da Cidade de João Pessoa. Tendo como sujeitos específicos os profissionais da área da Enfermagem e da área de Fisioterapia e os indivíduos que estejam vivenciando o processo de perda. Ou seja, de como esses profissionais constroem os espaços relacionais de dor e sofrimento quando da morte de um paciente. Quais as atitudes de Enfermeiros e Fisioterapeutas diante dos familiares que acabaram de perder um ente-querido.
*
Metodologicamente se pretende realizar uma revisão bibliográfica sobre os estudos que tratam da problemática da morte, priorizando os trabalhos que dão ênfase a uma análise que trata da morte como uma questão social e motivador dos comportamentos sociais, bem como, levantamento de dissertações e teses dedicadas aos estudos da morte na área da saúde, como também em jornais nacionais e locais. Tendo em mente que o que determina a metodologia é o objeto de estudo, ou seja, o método surge a partir da necessidade do objeto a ser trabalhado, a pesquisa de caráter exploratório recorrerá à técnica da entrevista com Enfermeiros, Fisioterapeutas e indivíduos que estejam vivenciando o processo da perda nos Hospitais Públicos da Cidade de João Pessoa-PB.
*
Nesse sentido, estamos estudando a realização de um Survey para um mapeamento dos hospitais e dos profissionais que serão abordados para o entendimento da questão principal e posteriormente a aplicação de entrevistas que será o instrumento principal da coleta de dados. O instrumento prioritário para a coleta dos dados será a entrevista por ser um instrumento metodológico adequado, que nos permitirá realizar um levantamento qualitativo dos dados.
*
Outro instrumento para coleta de dados será a observação, onde o pesquisador se permitirá a assistir às manifestações do fenômeno a ser estudado, e desse modo utilizando inúmeras formas de registro que vão desde a caderneta de campo e fichas, até o uso de gravadores, filmadoras, maquinas fotográficas. O que consequentemente enriquecerá na coleta das observações. O roteiro a ser elaborado para a realização das entrevistas será organizado quando de uma visita exploratória ao campo, com o objetivo de permitir uma melhor visualização do objeto a ser investigado. A análise consistirá de uma leitura qualitativa dos dados coletados a partir da codificação e tabulação das entrevistas e observações realizadas. Posteriormente esses dados serão cruzados com a literatura pertinente ao tema.
*
Notas
*
1 - Maria Sandra Rodrigues dos Santos é Pesquisadora do GREM e Professora de Metodologia do Estudo e de Monografia dos Cursos de Fisioterapia, Enfermagem e Fonoaudiologia do UNIPÊ.
*
2 - Participam ainda da pesquisa as alunas: Gabriela Martins C. Dantas e Mônica Dantas Lima (Fisioterapia – UNIPÊ), Rafaella Lima de Oliveira (Enfermagem – UNIPÊ), e Karla Fernandes de Albuquerque (Coordenadora do Curso de Enfermagem – UNIPÊ)

*
Bibliografia
*
ARIÈS, Philippe. Uma antiga concepção do além. In: Herman BRAET e Werner VERBEKE (eds.). A Morte na Idade Média. Tradução Heitor Megale, Yara Frateschi Vieira, Maria Clara Cescato, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
*
______. O homem diante da morte. Tradução de Luiza Ribeiro, Rio de Janeiro: F. Alves. Vol. II, 1990.
*
______. O homem perante a morte. Tradução de Ana Rabaça, Portugal, Publicações Europa-América, Lda. Vol. I, 1977.
*
______. Sobre a história da morte no ocidente desde a idade média. Lisboa: Teorema, 1975.
*
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A festa dos mortos: uma breve visita. Boletim de antropologia, n. 2. São Paulo: IFCH-UNICAMP, 1987.
*
CARUSO, Igor. A Separação dos Amantes. Uma fenomenologia da morte. Trad. João Silvério Trevisan. São Paulo: Diadorim, Cortez, 1989.
*
COLOGNESE, Antonio Silva & MÊLO, José Luiz Bica de. A técnica de entrevista na pesquisa social. Cadernos de Sociologia. V. 9, Porto Alegre: 1998.
*
DaMATTA, Roberto. O que faz o Brasil ser Brasil?. 12ª edição, Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
*
______. Individualidade e liminaridade: considerações sobre os ritos de passagem e a modernidade. Mana, v. 6, n. 1. Rio de Janeiro: 2000.
*
______. Morte - A morte nas sociedades relacionais: reflexões a partir do caso brasileiro. In: A Casa e a Rua. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
*
______. Espaço – Casa, rua e outro mundo: o caso do Brasil. In: A Casa e a Rua. Rio de Janeiro: Rocco, 1997a.
*
DANFORTH, Lorine M. TSIARES, Alexander. The death rituals of rural greece. New Jersey: Princepton. Univ. Presp, 1982.
*
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
*
ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos, seguido de, Envelhecer e morrer. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
*
FRANÇA, Maria Cristina Caminha de Castilhos. Olhares sobre o viver, o morrer e o permanecer junto a idosas na cidade de Porto Alegre. Porto Alegre. 50f. Monografia (Curso de Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e de Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1999.
*
FREUD, Sigmund. Nossa Atitude para com a morte. Novos Estudos, n. 32, 1992.
*
______ .Luto e melancolia. Novos Estudos, n. 32, 1992.
*
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Ser Discreto. Um Estudo do Brasil Urbano Atual sob a Ótica do Luto. Relatório Final da Pesquisa Luto e Sociedade, apresentado ao DCS/UFPB. João Pessoa: GREM, 2001.
*
______ .Você fotografa os seus mortos? In: Imagem e Memória: ensaios em Antropologia visual. Mauro Guilherme Pinheiro Koury (org.). Rio de Janeiro: Garamond, 2001a.
*
______. A Morte Retratada. A fotografia Mortuária na cidade de João Pessoa: Paraíba, Brasil. Diverso. Revista de Antropologia Social y Cultural del Uruguay. Disponível em: http://www.educar.org/revistas/diverso, 2001b.
*
______. Luto e sociedade. Reflexões metodológicas sobre uma pesquisa. Revista do CCHLA. V. 7, n. 1, João Pessoa: CCHLA-UFPB, 2000.
*
______. A dor como objeto de pesquisa social. Ilha. Revista de Antropologia. V. 1, n. 0. Florianópolis: PPGAS-UFSC, 1999.
*
______. A formação do homem melancólico: luto e sociedade no Brasil. Cadernos de Ciências Sociais, n. 39. João Pessoa: MCS/UFPB, 1996.
*
______. Caixões infantis expostos – O problema dos sentimentos na leitura de uma fotografia. Cadernos de Textos, nº 31. João Pessoa: MCS-UFPB, 1994.
*
______. Luto, pobreza e representação da morte. In: Tereza Ximenes (org). Novos Paradigmas e Realidade Nacional. Belém: UFPA/NAEA, 1993.
*
______. Pobreza e luto: ensaio sobre cidadania e exclusão social. Cadernos de Textos, n. 28. João Pessoa: MCS-UFPB, 1993a.
*
LINS, Mísia. Morte, católicos e imaginário: o caso do Alto do Reservatório, Casa Amarela. Recife. 202f. Dissertação. (Mestrado em Antropologia) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, 1995.
*
MARANHÃO, José Luiz de Souza. O Que é Morte. Brasiliense: São Paulo, 1992.
*
MAUSS, Marcel. A alma, o nome e a pessoa (1929). In: Marcel Mauss: antropologia, organizador (da coletânea) Roberto Cardoso de Oliveira. São Paulo: Editora Ática, 1982. (Grandes cientistas sociais).
*
______. Efeito físico no indivíduo da idéia da morte sugerida pela coletividade. In: Marcel Mauss. Sociologia e Antropologia. Vol. 2. São Paulo: EPU/EDUSP, 1974.
*
MORIN, Edgar. O homem e a morte. Tradução de Cleone Augusto Rodrigues. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1997.
*
SANTOS, Maria Sandra Rodrigues dos. O luto e a representação da morte na cidade de João Pessoa. João Pessoa. Monografia (Curso de Bacharelado em Ciências Sociais) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, 2000.
*
SIMMEL, George. A metafísica da morte. Trad Simone Carneiro Maldonado. Política & Trabalho, ano 14, n. 14, João Pessoa: PPGS-UFPB, 1998.
*
TAYLOR, S. J. & BOGDAN, R. Introducción a los métodos cualitativos de investigación: la búsqueda de significados. Barcelona: Paidós, 1992.
*
VOVELLE, Michel. A história dos homens no espelho da morte. In: Herman BRAET, e Werner VERBEKE (eds.). A Morte na Idade Média. Tradução Heitor Megale, Yara Frateschi Vieira, Maria Clara Cescato. Editora da Universidade de São Paulo: São Paulo, 1996.
*
*
*

*
**
***
**
*